Discurso durante a 27ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Defesa do caseiro Francenildo e aguardo das próximas eleições que trarão alterações no poder.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.:
  • Defesa do caseiro Francenildo e aguardo das próximas eleições que trarão alterações no poder.
Aparteantes
José Jorge, Osmar Dias.
Publicação
Publicação no DSF de 28/03/2006 - Página 9534
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.
Indexação
  • DEFESA, IDONEIDADE, EMPREGADO DOMESTICO, TESTEMUNHA, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, VITIMA, DIFAMAÇÃO, PERSEGUIÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
  • COMENTARIO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, AUTORIA, LEONEL BRIZOLA, EX GOVERNADOR, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ANALISE, CONDUTA, FALTA, ETICA, MINISTRO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF).
  • EXPECTATIVA, ELEITOR, UTILIZAÇÃO, VOTO, ELEIÇÕES, COMPROVAÇÃO, FRUSTRAÇÃO, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Papaléo Paes, que preside esta sessão, Srªs e Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros aqui presentes e os que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado. Senador Osmar Dias, todos temos saudades do Boris Casoy. “Isto é uma vergonha”, ele dizia.

Atentai bem, Senador Papaléo Paes. V. Exª tem na lembrança o discurso comovente e verdadeiro das mulheres que choraram por Cristo. Senador Paulo Paim, a mulher de Pilatos não chorou. A Adalgizinha dele disse: Pilatos, tenha coragem. Esse homem é bom, é justo. Verônica, com a coragem que não teve Pilatos, homem, venceu o cerco militar e enxugou o rosto de Cristo. E lá estavam as mulheres a chorar - três. Senador Osmar Dias, dos homens amigos de Cristo, nenhum apareceu. Nem o pai, nem Pedro, nem os amigos, nada, mas as mulheres. E aqui, Senador Paulo Paim, a história se repete. E, naquele instante, Senador Papaléo Paes, o vitorioso foi Herodes. O vitorioso, momentaneamente, foi Herodes. Cristo foi derrotado. E a história se repete.

Senador Osmar Dias, Francenildo, humilhado, do Piauí, igual a Cristo. E as mulheres, reproduzindo aquelas três Marias, a coragem, a sensibilidade das mulheres, porque têm vergonha as mulheres. Eis o jornal do Piauí, é de um empresário - aliás, esse jornal nasceu quando governei o Piauí, fomos os libertadores da imprensa. Ele é de Paulo, o empresário Paulinho, muito amigo do Presidente José Sarney e do Senador Edison Lobão. “Mães choram com desejo do caseiro de ir para longe do País”. Isso é uma vergonha! A ausência de Boris Casoy é uma vergonha! Todo mundo sabe que foram os bancos, que pagaram a mídia e pressionaram. Lula, és a vergonha da História do País! Mães choram ida do caseiro Francenildo para fora.

Nunca dantes este País... Eu sei História, ó, Lula! Eu sei que bandido aqui tem muito, porque, já na descoberta, na época das capitanias hereditárias, gente que tinha dinheiro e não tinha bom caráter, que tinha até cumprido pena, foi mandada para cá para tomar conta.

Eu sei, mas nunca dantes tanta indignidade, Senador José Jorge. Atentai bem. Este País, que esse meninozinho, olha a vida, a avó. Olha, como me lembro da vó Sinhá, da Dindinha, da vó Inhazinha! Quem recorda a avó? A avó chorando, igual àquelas três mulheres que choravam a justiça de Cristo.

Ele é, ele era um pobrezinho, como tem aí no Brasil. De vergonha que Lula perdeu. Fome Zero não sei, não, Lula, mas vergonha zero está na sua cara. Isso não existe. Está aqui a avó chorando e a mãe. Esse menino - está aqui a avó contando - não pôde nem ser registrado pela mãe biológica, está aqui. Por quê? Porque todo mundo sabe que uma mãe solteira sofre discriminações. E a avó? Lembro-me da minha avó Inhazinha, da minha avó Sinhá. A avó o registrou para a filha não ficar carimbada “mãe solteira”. Isso é muito natural na nossa cultura, de que agorinha falou o nosso Marco Maciel, a nossa cultura, Gilberto Freyre, Casa-Grande & Senzala. Então, isso é cultura. Pegou da mãe legal, da lei. A mãe biológica é a filha. E choram.

Atentei bem, brasileiras e brasileiros. Quanta vergonha! Zero na cara do Lula. Atentai bem. Olha o que elas dizem. Antes desse imbróglio que vocês conhecem, o que fazia esse sofredor, como Jesus, lá da Nazária. Oh, Osmar Dias, quis Deus V. Exª estivesse aqui. Nazária é a zona rural de Teresina. É a que alimenta, a que planta, a que produz e cria. V. Exª - e ninguém mais do que V. Exª - conhece o homem do campo, a sua pureza e identidade.

Então, o que fazia esse menino? Olhe, é interessante. Olhe o meu filho, disse Maria, ele, o que fazia? Ele plantava. Trabalhou com seis, sete anos na roça. Começou com seis, sete anos. Todos conhecem a nossa história. Todos rezam e querem ajudar Francenildo. A nossa vida está como uma novela. E ela conta e chora, porque o Francenildo telefonou, dizendo que quer ir-se embora, porque nunca pensou que sofreria tanta humilhação e tanta perseguição.

Senador Papaléo Paes, Gilberto Freyre está morto.

A Caixa Econômica era um patrimônio.

Eu era menininho, e meu pai me dava surra. Está na Bíblia que aquele que não usa vara é porque não gosta. Eu tenho é gratidão.

Senador Osmar Dias, não sei se V. Exª e o Senador Alvaro Dias receberam alguma chicotada, mas eu recebia surra de cinturão. Meu velho pai, que está no céu, Senador Paulo Paim, dizia: “Quem rouba mente”. Faltou a essas pessoas um pai como o meu. Roubam, mentem, humilham, perseguem.

Lula, não sei se Vossa Excelência está sendo, ao menos, pai para o Lulinha, pois nem sabe a riqueza dele. Eu não sei.

Senador Osmar Dias, meu pai pegava a pequena poupança e dizia: “É o presente do seu aniversário. Vamos depositar na Caixa Econômica”, fazendo nascer em mim, como em todos, a confiança na Caixa Econômica. Como podemos ter confiança numa instituição avacalhada, desmoralizada, com gangues, com bandidos?

Oh, Senador Paulo Paim. Oh, Francenildo, você não vai embora, não. Esta Pátria é a Pátria amada, e você é piauiense. Nós não vamos mandar nem esses pilantras para fora. Agora, uma coisa eu digo: lugar de ladrão não é na política, não é na Justiça, não é no Congresso. É na cadeia!

O Sr. Osmar Dias (PDT - PR) - Senador Mão Santa, V. Exª me concede um aparte?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Concedo um aparte ao Senador Osmar Dias.

O Sr. Osmar Dias (PDT - PR) - Senador Mão Santa, apenas para concordar com V. Exª de que é realmente vergonhoso o que está acontecendo nesse episódio do caseiro, tão vergonhoso quanto a dança da Deputada, na Câmara dos Deputados, para comemorar a pizza que resultou daquela votação da cassação do seu companheiro de partido. Acho que o Congresso precisa ter também, Senador Mão Santa, vergonha na cara. Hoje, quando saí de Curitiba, um cidadão me cobrou na rua, dizendo: “Ou o Congresso cassa aqueles que cometeram improbidade e corrupção, ou a população vai acabar quebrando o Congresso”. É um alerta, Senador Mão Santa. Precisamos, aqui no Congresso Nacional, fazer aquilo que nos cabe também, cobrando do Governo Lula aquilo que ele não tem feito em relação a todos esses escândalos que têm ocorrido.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradecemos a participação de V. Exª. Este País tem de meditar. E o partido de V. Exª escreveu aqui a mais bela página de coragem.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - V. Exª me permite um aparte, Senador Mão Santa?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Leonel Brizola... Atentai bem! Essa Justiça calou um homem comum e verdadeiro, que trabalhava desde 6, 7 anos - e eles contando a vida aqui de quem trabalha - na rocinha, plantando! Ontem, a mãe-avó mostrava a roça, o feijãozinho que ele plantava, a horta que ele aguava, as galinhas que ele alimentava, e depois veio para cá; trabalhou muito, trabalhou em supermercado, foi office-boy, atingiu o seu ápice: caseiro. Homem de bem, porque o proprietário, Senador Papaléo Paes, que é um homem de êxito financeiro, tem uma casa daquela, não ia agüentar um homem desonesto por oito anos com carteira assinada, não. Desonestos são esses que calaram, a Justiça!

Osmar Dias, parabéns ao seu partido! O seu partido tem história.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - V. Ex.ª me permite um aparte?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - A fraude de Nelson Jobim que calou Leonel Brizola aqui antes de morrer.

Francenildo, esses da Justiça são condenados por Leonel Brizola. Não vou cansá-lo, mas vou deixar para V. Exª reproduzir nos anais a verdade. Não vamos aceitar esse abuso... O fim de Brizola! Se as instituições políticas e jurídicas deste País aceitarem que isso fique sem conseqüência, então estará estimulada a prática de todo tipo de fraudes, porque nenhuma poderá ser maior do que a que se fez contra a lei das leis.

Brizola previa isso - e estamos aqui.

Eu queria dizer o seguinte, antes de dar o aparte ao Senador José Jorge. Senador Papaléo, isso é importante. V. Exª é um homem de luta, homem justo e correto. Olha, acho que poucos que ocuparam a Presidência deste Senado têm as suas qualificações morais. V. Exª fez da ciência médica a mais humana das ciências.

Senador José Jorge, de Pernambuco, bravo: não admitimos isso com esse nordestino, o Francenildo. Ele não vai para fora, não. Vamos lutar.

“Um quadro vale mais do que mil palavras”. Atentai bem! Muitos anos já se passaram, mas fica na história. Áustria, Alemanha, Prússia. Um poderoso, Frederico da Prússia, viajando com todo o seu cortejo de aparatos militares, passa por uma fazenda e vê um moinho muito bonito. Aí, pára, param os militares. Ele gosta do moinho, chama o caseiro, o homem da fazenda, o simplório e diz: “Olha, quero adquirir esse moinho. Quero levá-lo e colocá-lo no meu palácio”. E o homem responde: “Mas, não está à venda. Essa terra foi fruto do trabalho dos meus avós, dos meus pais, e eu a preservo”. Disse o rei: “Mas quero levar; eu sou o Rei Frederico da Prússia”. Aí aquele caboclo - oh, meu Deus, lembrem de Rui, que tanto pregou a justiça - disse: “Majestade, ainda há juízes em Berlim”.

Meu Deus, posso dizer que ainda há justiça neste Brasil se estão estuprando a Constituição? E pior, Senador Osmar Dias: é canalhice. Peço às taquigrafas que registrem: é canalhice o nome.

Foram no pai biológico, que deu o dinheiro, fez o depósito, os inquisidores, os bandidos deste Governo;foram ameaçar o homem para ele dar a procedência dos R$10 mil que ele tinha dado em dinheiro para o filho.

Têm que se perguntar, Senador Osmar Dias, sobre os R$15 milhões do Lulinha; é o Okamotto. Senador Osmar Dias, eu o vejo quase Governador do Estado.

Lembro-me, Senador Papaléo Paes, de um crime organizado. Detectamos, e mandei prender. E havia uns ligados a ele no Palácio que eu governava. E vem o Ministério Público, o Governo, pedindo para quebrar o meu sigilo. Peguei de pronto um papel: vasculhe-se a minha vida financeira desde o primeiro cheque que dei no Banco da Lavoura, que nem existe mais, quando cheguei formado.

É assim, Lula, que um governo de vergonha tem que fazer: Vossa Excelência abrir as suas contas, a do Lulinha, a do Okamotto, e não devassar a do irmão piauiense, que esse irmão é muito mais forte que Vossa Excelência, porque ele tem as virtudes, o caráter e a honestidade do homem do Piauí.

Senador José Jorge, com a palavra, com a aquiescência desse extraordinário Líder, Senador Papaléo Paes.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Senador Mão Santa, manifesto minha solidariedade a V. Exª. O Presidente da Caixa está indo depor na Polícia Federal, exatamente para esclarecer aquilo que já deveria ter sido esclarecido há dez dias. Qualquer sistema eletrônico permite que rapidamente se dê esse esclarecimento. Quinta-feira fará duas semanas, e o Governo está procurando um bode expiatório, alguém, possivelmente do segundo escalão, que possa ser o Delúbio da quebra de sigilo fiscal, ou seja, aquele que vai assumir a responsabilidade pela falta de responsabilidade dos seus chefes. Então, Senador Mão Santa, entendo que essa quebra do sigilo, depois do mensalão, foi a coisa mais grave que o Governo fez, entre tantos fatos graves. Agora, tivemos a dança da Deputada, chamada “dança da pizza”, mostrando a seriedade com que estão levando essa questão. Toda a população brasileira viu aquele espetáculo deprimente, de madrugada, quando uma Deputada, que deveria ter zelo pelo seu mandato, se deliciava porque um companheiro não foi punido. Então, minha solidariedade a V. Exª.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradeço e incorporo o seu aparte ao meu pronunciamento, Senador José Jorge.

Senador Arthur Virgílio, acredito muito é no TJP, tribunal de justiça popular, que vai cassar essa gentalha toda, e em Deus, que condenará toda essa corja de malandros ao inferno.

Senador Arthur Virgílio, a mãe chorando ontem mostrava a terrinha onde ele plantava, aos 6 e 7 anos, o feijão, o milho; antes disso, ele era garçom, trabalhador, foi auxiliar de mercado, catador de milho e feijão na Nazária.

É como a vida de Cristo. Herodes foi momentaneamente vencedor; Lula e sua quadrilha são momentaneamente vencedores. Mas vem a eleição, com a riqueza da democracia e a alternância de poder nesse País, e vamos plantar vergonha.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR MÃO SANTA EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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            Matéria referida:

            - “A fraude de Nelson Jobim”.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/03/2006 - Página 9534