Discurso durante a 30ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifesto em defesa dos pequenos produtores rurais.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA.:
  • Manifesto em defesa dos pequenos produtores rurais.
Aparteantes
César Borges.
Publicação
Publicação no DSF de 30/03/2006 - Página 9964
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • CRITICA, POLITICA AGRICOLA, GOVERNO FEDERAL, DEFESA, IMPORTANCIA, VALORIZAÇÃO, TRABALHO, CAMPO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Magno Malta, que com brilho preside esta sessão de 29 de março, Srªs e Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, tudo muda. Se tomarmos banho em um rio hoje, amanhã a água terá mudado, será nova.

Senador Jonas Pinheiro, Cícero, lá no Senado romano, como grande orador, chegou à conclusão: nunca fale depois de um grande orador.

Senador Paulo Paim, eu vou falar depois do grande homem, orador e Senador Jonas Pinheiro. Pelo contrário, as coisas mudam. Ele é que me inspirou ao tema, mas ninguém melhor, e nós conhecemos os 81 Senadores, ninguém tem mais a cara do campo, a cara da produção, do que o Senador Jonas Pinheiro nesta Casa.

Entendo isso, Senador Jonas Pinheiro, porque estive no seu Estado e vi a deferência e o carinho que o homem do campo tem com V. Exª. Senadora Heloísa Helena, ele clamava pelo apoio que deve ser dado ao campo.

Senador Magno Malta, V. Exª me apresentou com o passado de prefeitinho, de que muito me orgulho, Governador do Estado. Mas quero levar ao PT uma experiência bem maior do que a minha, que é bem maior do que toda a experiência do PT.

Franklin Delano Roosevelt, Senador Magno Malta, foi apenas quatro vezes Presidente dos Estados Unidos; na guerra, no pós-guerra, na recessão. Ele ensinou... Ó, Lula, aprenda pelo amor de Deus! eu lhe disse que o núcleo duro era burro. Isso eu disse há três anos. Nenhum deles chegaria aqui. Profeta. E acabou o núcleo duro, que acabou nos envergonhando, plantando corrupção. Atentai, Jonas, a primeira carta, de que Heloísa Helena sempre fala, para mostrar que a corrupção já estava na carta e também na agricultura. Nesta terra, tudo que se planta dá. Desde aí, atentai Magno Malta, o Piauí, Arthur Virgílio, é que veio derrubar a corrupção com um caseiro. E agora apresento aqui uma solução.

Franklin Delano Roosevelt disse - atentai bem, Magno Malta - que as cidades podem ser destruídas porque elas ressurgirão do campo. Mas, se o campo for abandonado, como está, destruído, como está, as cidades perecerão. Ele disse de fome, mas essa violência é isso. O homem do campo não tem condições de sobreviver e vem enfrentar a vida na cidade grande.

Senador Magno Malta, o Senador Jonas Pinheiro apresentou os números e retratou a gravidade, a realidade, a seriedade, a dedicação, o amor, o sofrimento da agricultura, e a dívida rural. E nós o que precisamos fazer?

Ah, se o Presidente do Congresso, e V. Exª, que está aí deixasse nessa cadeira a coragem que lhe passou pela genética a santa Dada... Nós precisamos de coragem porque está avacalhado o Congresso brasileiro. Nunca dantes esteve tão desmoralizado, porque não obedece à lei e à Constituição.

Senadora Heloísa Helena, está na Constituição que nós podemos derrubar o veto do Presidente. Cadê a coragem do Presidente deste Congresso? Ah, se Deus nos permitisse e V. Exª passasse uma semana na Presidência!

Atentai bem! Este Congresso estendeu uma dívida do homem do campo. Ó, Magno Malta, eu sei o que é isso. Não sabem esses que vivem e se locupletam com o mensalão.

Senadora Heloísa Helena, de repente, eu fui prefeitinho da minha cidade. Eu tinha Cheque Ouro do Banco do Brasil. Heloísa Helena, pergunte à minha Adalgisa, sua amiga. Senadora Ana Júlia Carepa, ela disse que nossa família nunca passou tanta dificuldade como quando eu era Prefeito. Atentai bem! Deus me permitiu ser um bom cirurgião. Como, naquele tempo, as tabelas eram boas, eu ganhava bem. De repente, dediquei-me à Prefeitura e deixei de ter os vencimentos de cirurgião. Eu tinha o Cheque Ouro. Pergunte a Adalgisinha, Heloísa Helena, como foi para colocar as contas em dia: foi tempo, foi difícil e foi com o sacrifício dela e da minha família. Eu era Prefeito e médico-cirurgião. Estou dizendo como é difícil pagar dívida, Senador Jonas Pinheiro.

Ó Lula, V. Exª tem o “Tacamoto”, o “Hacamoto”, esse desgraçado para pagar a sua conta. Eu não tinha um “Hacamoto” na minha vida. Eu lá vou decorar o nome dessa miséria?

Senadora Heloísa Helena, pergunte à sua amiga o que passei para pagar um cheque ouro - um, dois, três.

Agora sofrem os trabalhadores rurais, que nos alimentaram, que produziram o que comemos na nossa mesa farta. Eles entraram nessa esparrela de banco. Foi o banco que fez aquele negócio de judeu, aquela guerra de confusão. Banqueiros, como a Senadora Heloísa Helena diz, são gigolôs do dinheiro.

Senador César Borges - atentai bem! -, esse pessoal não paga porque não pode. Esse pessoal da zona rural... Vocês viram o caseiro, pessoa honesta e honrada da zona rural. O Francenildo, do Piauí, com seis ou sete anos, plantava feijão e milho. Esse pessoal é trabalhador, é honrado.

Senador Magno Malta, fui médico-cirurgião de uma Santa Casa, trabalhava no antigo Funrural. Abdicávamos do convênio para manter o hospital filantrópico da Santa Casa. Quando eu saía, via lá o pobre trabalhador rural com uma galinha, um peru, um carneirinho. No convênio, nós dispensávamos o recurso para ficar no convênio nas Santas Casas. É um povo que paga, é um povo honrado e honesto. Mas entrou nessas esparrelas aí de bancos. Então, estão aí com dívidas.

Este Congresso não foi só aquela dança macabra da safadeza do mensalão, não. Noites indormidas, a CAE, Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, Comissão de Agricultura. Estudamos um ano: vai para a Câmara, volta; só quatro se curvaram ao núcleo duro e burro, hoje desmoralizado, do País. Só quatro contam. Todo mundo votou: aprovado. Todo mundo deste Congresso numa negociação justa, correta, tem que ter uma carência.

Ó, Lula! Está precisando do quê? De massa encefálica. Pensa que é só botar cocar, chapéu, não sei o quê? Cabeça não é só para isso não, Lula! Botar boné! É para ter inteligência, Lula! Saiu daqui... três anos. Então, tiramos a carência. Se o ruralista não está pagando, ele precisa de carência, Lula! Engana-se todo mundo! Fostes para o cimento de São Paulo, nunca plantastes! Então, ele precisa de tempo para colher, para ganhar um dinheiro e pagar. Essa é a verdade. Nós colocamos a carência. Eles tiraram a carência. Então, não vão pagar. Nós colocamos uma taxa de juros para aqueles que devem até 50 mil reais, 1,5%; entre 50 e 100 mil, 3%; mais de 100 mil, 5%.

Não se pode servir a dois senhores. Eles não servem ao trabalho, ao trabalhador; eles servem ao dinheiro, aos banqueiros. Acabaram com isso tudo. César Borges, olhai a grandeza em que se fortaleceu a República para servir o povo! Só nos resta ter a coragem de derrubar o veto do Presidente da República. E por que não derrubamos? Senador Jonas, Senador Paim, eu governei o Estado do Piauí. Derrubaram muito veto meu. Daí a democracia. Temos que entender que os Poderes são independentes e harmônicos. Então falta coragem a este Congresso! Ou então eles que façam uma medida provisória que se emende aí. Todos nós devemos colocar emendas, modificando, aproximando aquela que serve ao homem do campo. Sabe o que vai acontecer, César Borges? Vão executar, vão tomar as fazendas dos pobres coitados, os carros-de-boi, os móveis. Que humilhação o homem do campo vai sofrer, no campo, produzindo e alimentando a todos nós há 30 anos, o carro-de-boi no leilão, a fazenda sendo executada...

Com a palavra esse homem do Nordeste, Senador César Borges.

O Sr. César Borges (PFL - BA) - Prezado amigo Senador Mão Santa, eu queria, primeiro, auxiliá-lo a não mais esquecer o nome de Paulo Okamotto.

O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco/PL - ES) - Senador Mão Santa, Senador César Borges, vou conceder mais um minuto a V. Exªs.

O SR. César Borges (PFL - BA) - Basta V. Exª decorar, como médico, que ele é doador universal, então é “O”, Okamotto. É “O” positivo, sempre está doando para pagar as contas do Presidente Lula. Começa e termina com “o”.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Um instante, a D. Dadá deu uns conselhos ao Senador Magno Malta. E minha mãe disse: “Tire coisa ruim de sua cabeça!”

O SR. César Borges (PFL - BA) - Não, mas V. Exª voltará a esta tribuna muitas vezes para falar Okamotto, porque Okamotto tem muito o que contar de suas relações espúrias com o Presidente da República, de como ele pagou essas contas do Presidente. Em segundo lugar, quero me solidarizar com V. Exª quando defende os pequenos produtores do Nordeste, mas lamento que dificilmente V. Exª atinja o coração do Presidente Lula, que, como disse V. Exª, está cimentado. Não é mais coração de nordestino, mas um coração simplesmente de cimento que ele adquiriu, lamentavelmente, no ABC paulista.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - É, sempre contestei. Eu dizia que o núcleo duro estava errado. Na cabeça, o que pensa é o encéfalo, que é mole, oxigenado. Mas a queda do dólar, a elevada taxa de juros, a ausência do seguro rural, o leite... O leite, que é um símbolo, a vaquinha do campo, custa 35 centavos de real! Que política tem este País? E a água Perrier nos bacanais? Quantos litros de água Perrier naquela casa malsinada, de bacanais, de lobbies? Custa R$6,75. O leite? É R$0,35. Isso traduz o desrespeito ao trabalho no campo.

Os Estados Unidos, Senador César Borges, são fortes não pela produção de carro, de relógio - japonês faz; é porque eles têm seiscentos milhões de toneladas de grãos do campo.

Agora o Piauí, Magno Malta, que trouxe a verdade!

Presidente, vou terminar com a mensagem do Piauí.

Senador Jonas, Heráclito, fui ao sul do Estado, em Uruçuí, do nosso Deputado Francisco Filho, que é Prefeito. Os caras me receberam em carros que tinham adesivo com a cara do Lula. Digo: está errado esse negócio. Olhei ali um bocado de carro com a cara. Digo: estão querendo me gozar. Eu me aproximei e li. Estava escrito: “Lula, a maior praga da agricultura”

 


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/03/2006 - Página 9964