Discurso durante a 22ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem à Campanha da Fraternidade da CNBB de 2006.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IGREJA CATOLICA. POLITICA SOCIAL.:
  • Homenagem à Campanha da Fraternidade da CNBB de 2006.
Publicação
Publicação no DSF de 23/03/2006 - Página 9098
Assunto
Outros > IGREJA CATOLICA. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, IGREJA CATOLICA, DEBATE, INCLUSÃO, PESSOA PORTADORA DE DEFICIENCIA, COMENTARIO, TRADUÇÃO, SESSÃO, LINGUAGEM, SURDO, EXPECTATIVA, APROVAÇÃO, PROJETO, EXTENSÃO, PROVIDENCIA, DISCURSO, TRANSMISSÃO, TELEVISÃO, SENADO.
  • GRAVIDADE, VINCULAÇÃO, DEFICIENCIA, MISERIA, VIOLENCIA, BRASIL, OMISSÃO, ATENDIMENTO, SAUDE PUBLICA, CONCLAMAÇÃO, CONSCIENTIZAÇÃO, IGREJA CATOLICA.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, Dom Celso de Queirós, grande figura e símbolo brasileiro Lars Grael, grande atleta Clodoaldo da Silva, Senador João Alberto Souza, cito a presença - não sei se ainda está aqui -, por uma questão pessoal de amizade a ele e à família, de Dom Luciano e, em nome dele, cumprimento todos os demais representantes da CNBB.

Todos os anos - quero que vocês, da CNBB, saibam - fico esperando, curioso, qual será o tema da Campanha da Fraternidade e, a cada ano, fico com a esperança, Dom Celso, de que já não haja nenhum tema para que a CNBB possa chamar a atenção de nós, brasileiros, ou até de que se possa dizer que alguns daqueles problemas já foram resolvidos. Mas não conseguimos. Parece que a lista das tragédias, das misérias, é infinita. Felizmente, a CNBB desperta o brasileiro para o assunto da fraternidade com algum tema. Este ano, serão focalizados os portadores de deficiência. E já surtiu um efeito, Dom Celso, porque hoje está sendo traduzido em linguagem de sinais o discurso dos Senadores, o que não acontece no dia-a-dia.

Peço até aos Senadores e ao Vice-Presidente, que a Mesa possa acelerar a apreciação de um projeto da Senadora Heloísa Helena, para que todos os discursos do Senado transmitidos pela televisão sejam traduzidos.

Ao esperar a oportunidade do meu pronunciamento, lembrava-me de uma visita que Dom Helder Câmara fez à casa de meus pais, quando eu trabalhava com ele, ainda muito jovem. Nessa ocasião, Dom Helder teve contato com um irmão meu portador de gravíssima deficiência mental. Não esqueço o olhar de Dom Helder. Era um olhar diferente. Esse olhar é o primeiro ato da fraternidade. Nós olhamos, em geral, para os portadores de deficiência de uma maneira que carece de fraternidade. O segundo ato são os gestos de fraternidade, os gestos de ajuda. Primeiro, de reconhecimento, como um semelhante, um igual e, segundo, usando a energia que temos, seja ao ver, ao ouvir ou ao caminhar, ajudando-o a compensar a sua deficiência.

Tenho certeza de que a campanha deste ano ajudará o Brasil a despertar, como ajudou o Marcos Frota, ao representar um papel em uma novela. Precisamos disso e também precisamos lembrar que, no Brasil, a deficiência dos indivíduos, em grande parte, vem da falta de responsabilidade social.

No Brasil, diferente de outros lugares, o deficiente não é deficiente por razões naturais, mas por razões sociais. São deficiências, como a cegueira e a deficiência mental, causadas pela fome na primeira infância. São as deficiências causadas por acidentes de um trânsito irresponsável. São as deficiências causadas pela violência. Grande parte dos portadores de deficiência de locomoção no Brasil são vítimas de tiros. É a deficiência por falta de assistência médica no momento certo. Não me refiro a erros, que é uma causa de um indivíduo sobre o outro, mas à causa social, que é a falta de assistência no momento certo.

Por isso, acrescento como uma das preocupações deste ano a deficiência que causa as deficiências: a deficiência moral. O Brasil é administrado em vez de ser cuidado. Isso tem a ver com aquele olhar de Dom Helder. Uma coisa é administrar, que exige um tipo de olhar; outra coisa é cuidar, que exige um olhar completamente diferente. A deficiência moral é incompatível com o cuidar, mas a administração é compatível com a deficiência moral. Pode-se ser um ótimo administrador e não ter o sentimento da moral daquilo que faz. Porém, se a pessoa cuida, não tem como ser imoral. A mãe que cuida do filho, o irmão que cuida do irmão são sempre regidos pela fraternidade, porque não sofrem da deficiência moral.

Nós precisamos despertar o Brasil não apenas para o olhar diante dos portadores de deficiência; não apenas chamando a atenção para os gestos de solidariedade, de fraternidade de cada indivíduo, mas peço que a CNBB, que talvez já tenha pensado, use este ano para despertar o Brasil diante da falta de fraternidade que decorre da única realmente grave deficiência, que é a deficiência moral, como muitos de nós olha o Brasil, olha os brasileiros. Por isso, não conseguimos transformar uma sociedade em uma grande família, não conseguimos transformar o País em uma grande Nação e terminamos sendo uma fábrica de deficiências, de geração, de produção de deficiências.

Mas está em tempo de dar uma virada na história do Brasil. Tenho certeza de que a CNBB, este ano, pode nos ajudar, como nos ajudou nos anos anteriores.

Era isso, Sr. Presidente, o que eu tinha a dizer. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/03/2006 - Página 9098