Discurso durante a 22ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem à Campanha da Fraternidade da CNBB de 2006.

Autor
Flexa Ribeiro (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Fernando de Souza Flexa Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IGREJA CATOLICA. POLITICA SOCIAL.:
  • Homenagem à Campanha da Fraternidade da CNBB de 2006.
Publicação
Publicação no DSF de 23/03/2006 - Página 9102
Assunto
Outros > IGREJA CATOLICA. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • HOMENAGEM, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, IGREJA CATOLICA, DEBATE, INCLUSÃO, PESSOA PORTADORA DE DEFICIENCIA, REGISTRO, HISTORIA, ATUAÇÃO, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), IMPORTANCIA, CONSCIENTIZAÇÃO, DIREITOS, COMBATE, DISCRIMINAÇÃO, INCENTIVO, SOLIDARIEDADE.

O SR. FLEXA RIBEIRO (PSDB - PA. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, conforme calendário litúrgico da Igreja Católica, estamos, até a Páscoa, no período da Quaresma. Para todos os católicos, esse é um tempo de penitência e de reflexão. Para os brasileiros, em particular, é também tempo da Campanha da Fraternidade.

Há 42 anos, sob a inspiração do Concílio Vaticano II, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB vem promovendo anualmente essas campanhas, sempre na Quaresma, oferecendo, não só aos cristãos, mas a todas as pessoas de boa vontade, uma oportunidade para refletir e agir.

Se, inicialmente, as campanhas estiveram mais voltadas à vida interna da Igreja, desde muito cedo assumiram o objetivo de trazer à atenção da sociedade temas que procuram aumentar nossa consciência dos problemas mais relevantes que afetam nossa vida coletiva. Família, violência, fome, ecologia, trabalho, educação, exclusão - todos esses temas, entre outros, já foram trazidos à discussão pelas Campanhas da Fraternidade.

Este ano, Sr. Presidente, não foi diferente. O tema escolhido foi “Fraternidade e Pessoas com Deficiência”, convidando-nos a refletir, particularmente, sobre o problema da exclusão. O lema da Campanha “Levanta-te, vem para o meio”, foi retirado do Evangelho de Marcos e lembra as palavras que Cristo dirigiu a um homem com a mão atrofiada, a quem, em seguida, curou. Para além dessa pertinente referência ao episódio da cura na sinagoga, o lema da campanha nos lembra o imperativo da inclusão, trazer para nosso meio aqueles que, por uma razão ou por outra, acabamos empurrando para as margens e deixando de fora. “Levanta-te, vem para o meio” não é só uma injunção dirigida aos portadores de deficiência, para que assumam sua dignidade e exijam o respeito de que são merecedores; é também um imperativo dirigido aos demais, para que estendam suas mãos e acolham a todos em seu meio.

Não se trata, portanto, apenas, de refletir: as Campanhas da Fraternidade são, também e sobretudo, um apelo à ação. Primeiro, ver e julgar a situação: é preciso abordar a realidade, ter uma dimensão do problema, considerá-lo à luz dos princípios ético-religiosos que fundamentam essas campanhas. Depois, é preciso agir, transformando em prática concreta o imperativo da fraternidade.

E fraternidade, Sr. Presidente, não nos podemos esquecer, é o valor comunitário mais elevado. Já os antigos filósofos gregos enfatizavam a importância da amizade como cimento da pólis. Na nossa tradição cristã, o valor da fraternidade ganha uma dimensão ainda mais saliente. O amor cristão, a caridade, eleva a fraternidade a um nível sublime: pois outra não é a mensagem do próprio Cristo senão a de que devemos nos amar uns aos outros assim como Ele próprio nos amou.

A revolução norte-americana e a revolução francesa, no século XVIII, popularizaram o lema “liberdade, igualdade e fraternidade”. De lá para cá, ainda lutamos para conquistar, para nossas sociedades, o que prometem esses valores. Todos conhecem a dificuldade de equilibrar as exigências de liberdade e de igualdade. Avançamos muito, no que diz respeito às garantias de liberdade. Lutamos ainda, com grandes dificuldades, para garantir a igualdade. Ao longo dessas lutas, o valor da fraternidade tem funcionado como um fiel da balança.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, com suas Campanhas da Fraternidade, que já constituem, com seus 42 anos, uma tradição importante, a Igreja Católica mostra claramente sua face humanista, preocupada com os grandes temas que afetam nossa vida comum. A bem da verdade, essa bela iniciativa da CNBB já adquiriu uma dimensão tal, que ultrapassa os limites da própria Igreja Católica: basta lembrar que, no ano passado, como também no ano 2000, a Campanha foi ecumênica, envolvendo diversas congregações cristãs.

Reforçar nossos laços comuns, nos fazendo recordar dos deveres da fraternidade, é uma forma especialmente proveitosa de cumprir o que prometem as religiões: “religar-nos”, ao nos fazer ver e compreender melhor nossa humana condição, nossas fragilidades, mas, ao mesmo tempo, nossa força, quando agimos em comunidade.

A Campanha da Fraternidade deste ano, ao lembrar que uma eventual deficiência em nada tira a dignidade que cada um de nós possui sempre integralmente, ao trazer, por intermédio do exemplo de Cristo, lembrado no lema da Campanha, o imperativo de estender a mão e incluir em nossa comunidade a pessoa com deficiência, faz justiça à longa tradição ética e social de que é depositária a Igreja Católica.

Congratulo-me, portanto, com a CNBB por mais essa edição da Campanha da Fraternidade, fazendo votos para que a campanha continue, como nos últimos 42 anos, sempre se renovando, sempre iniciando esse movimento de reflexão e renovação, neste período da Quaresma, que culmina justamente na celebração do renascimento, na Páscoa.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/03/2006 - Página 9102