Discurso durante a 36ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre o artigo intitulado "O vento das mudanças", de autoria de S.Exa.

Autor
Almeida Lima (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SE)
Nome completo: José Almeida Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Considerações sobre o artigo intitulado "O vento das mudanças", de autoria de S.Exa.
Publicação
Publicação no DSF de 07/04/2006 - Página 11289
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • EXPECTATIVA, ELEIÇÕES, PROVOCAÇÃO, RENOVAÇÃO, CAMARA DOS DEPUTADOS, BENEFICIO, MELHORIA, ATUAÇÃO, CONGRESSISTA, ERRADICAÇÃO, CORRUPÇÃO, CONGRESSO NACIONAL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. ALMEIDA LIMA (PMDB - SE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, pessoas de minha relação pessoal e outras de todo o País que lêem os artigos de minha autoria sob título, em série, “O vento das mudanças”, têm comentado que não serão simples ventos que vão provocar as mudanças nos costumes políticos e sociais demandadas pela maioria do povo brasileiro. Compreendo e sei que essas pessoas têm razão. Não que eu estivesse a imaginar o contrário; elas é que concluíram que eu imaginava que esses ventos tivessem o poder de promover as mudanças radicais que considero indispensáveis e que são objeto de minhas reflexões. Não!

Mas para que vocês que me enobrecem com a leitura desses artigos possam compreender melhor o meu pensamento, necessário se torna que eu exteriorize um pouco do meu ser, os meus sonhos e as minhas esperanças, pelos quais luto e continuarei lutando sempre, mesmo que me considerem um romântico sonhador, por representarem o alimento de minha alma, o néctar indispensável para que eu continue jovem e sempre vivo. Sem eles, a minha vida seria inútil e sem razão de ser. Vivo pelos meus sonhos, vivo pelos meus projetos, vivo pelas minhas esperanças de construir uma sociedade livre, igualitária e fraterna, símbolos maiores do Iluminismo, fundamento doutrinário da Declaração Universal dos Direitos Humanos e da Revolução Francesa, que atendeu às expectativas da vida que se vivia, pelas circunstâncias da época, representada pela luta vitoriosa contra um sistema de poder político, econômico e social de aliança entre a aristocracia rural, originada na Idade Média, e o poder dos absolutistas, que, juntos, oprimiam o povo que começava a sair do campo para viver nos burgos (arrabalde das cidades), e que veio a se constituir na chamada burguesia nascente, que era desprovida de qualquer direito ou bem além da própria vida, muito menos de liberdade e de igualdade, ou de tratamento fraterno.

Mas quero me reportar, nos dias de hoje, é a outra liberdade e igualdade, àquela que, além de ser um direito expresso nos textos das leis, representam possibilidade concreta de ter e de possuir para a própria felicidade, e não uma quimera impossível de ser sentida e vivida. Ser livre para ir e vir e ser igual diante da lei não representam o desejo; este deve estar explícito na liberdade como direito e na possibilidade de vivenciá-la, assim como a igualdade está não apenas no texto da lei, mas na possibilidade concreta de fazer uso dela, como freqüentar uma escola de qualidade e ter uma boa assistência à saúde, ter o direito à recreação e à moradia dignas.

Portanto, com 52 anos de idade, venho da geração dos anos 60, quando Martin Luther King proclamava: I have a dream - eu tenho um sonho. Venho de uma geração que lutou pela paz, que contestou e protestou contra a opressão e os opressores deste País e do mundo, que acompanhou a Revolta Estudantil na Europa, principalmente na França, e que viu a brutalidade americana contra o povo vietnamita. Sou da geração que ouvia as músicas dos garotos de Liverpool e que hoje, procurando ser contemporâneo do tempo - desculpem o pleonasmo -, e não apenas um saudosista, continuo protestando e lutando com todas as forças e com todos os instrumentos de que disponho, inclusive com o mandato de Senador da República, contra todas as formas de opressão, mas, também, como no passado, ouvindo músicas que alimentam a minha alma e, nestes dias de início de um novo século, quarenta anos depois, não mais os Beatles, mas a banda Scorpions e a sua música Wind of Change - Vento das Mudanças -, de onde vem o nome e a inspiração para os artigos que escrevo. Ouça-a, vendo o clipe e fazendo a leitura de sua letra traduzida para o português. Aí você vai encontrar a minha alma. Faça assim e você compreenderá melhor o meu ser. Daí eu poder afirmar que tenho consciência de que não serão os ventos frescos de uma manhã de outono no Hemisfério Sul ou de primavera no Hemisfério Norte que nos farão alcançar as mudanças que todos nós precisamos para uma vida digna e fraterna, sem ódio e sem guerra.

Aprendi que para o deleite de um vôo de cruzeiro, acima dos 10 mil metros de altura, temos que enfrentar as turbulências da subida e que, muitas vezes, a paz, lamentavelmente, só é conquistada pela guerra. Que não cheguemos a tanto, mas necessário vai se fazer, com certeza, algumas tempestades, que não cheguem a ser tsunamis, mas que tenham a força necessária para arrebatar corações frios de gente sem alma e despudorada, criminosa até, e que usa o poder, e que concentra a riqueza não para a sua felicidade, mas para retirar a felicidade dos outros. Que se imponham as mudanças demandas pela sociedade, de preferência de maneira que reeduque os ignóbeis para esse novo convívio, se possível for, mas, caso contrário, que sigam na correnteza para jamais servir de obstáculo à felicidade dos outros.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estamos em um ano de eleições, momento propício para as mudanças. Já que a Câmara Federal, pela grande maioria de seus membros, não deseja obedecer à vontade que vem das ruas, que as ruas lhes carreguem na grande tempestade que deverá ser a avalanche de votos de todo o povo brasileiro. Se a maioria dos Deputados não opera as mudanças que a sociedade está a exigir, que a maioria do povo estabeleça a mudança radical pelo voto, levando para o limbo da história todos que continuam, insistentemente, a lhe agredir através de votos que não cassam corruptos confessos, de zombarias pelas danças debochadas, de mentiras que cometem iniqüidades contra pobres caseiros e do mau uso do seu dinheiro em festanças e foguetórios que objetivam enganar os incautos com circo, mesmo sem dar o pão.

A maioria dos Deputados que compõem a nobre Casa Legislativa - a Câmara Federal - não conhece o processo histórico, não conhece o processo de mudanças. Parece que nunca sentiu a ira do povo, que nunca enfrentou uma avalanche - não a das tempestades, muito menos a das guerras; eu não me reporto a estas -, mas tenho certeza de que, nunca, em tempo algum, sentiu o processo social destruir as suas ambições e as suas pretensões de poder, poder político e poder econômico.

Mas tenho certeza, Sr. Presidente, Srªs Senadores e Srs. Senadores, que, em outubro próximo, esses Parlamentares sentirão o peso da vontade popular, por não atender aos seus desígnios e às suas vontades. Tenho a esperança de ver a Câmara dos Deputados renovada em mais de 70%, como decorrência da ignomínia que praticam diante da população brasileira, de quem são representantes.

Não há representantes sem representados. Nós temos os representados, que é o povo brasileiro. O que, na verdade, não pode existir são os representados cujos representantes não tenham a dignidade de cumprir aquilo que se constitui a vontade daqueles que outorgam o instrumento procuratório, o instrumento do mandato popular.

O que a Câmara dos Deputados vem fazendo não é apenas no sentido de aniquilar a atual legislatura pela sua não-reeleição, mas para desmantelar tudo que ainda resta da classe política deste País, diante da desonra que tem cometido contra o povo. Não é possível que assim continuem a proceder, acima de tudo, em função de um fundamento: o da necessidade, no Estado Democrático de Direito, em uma democracia representativa, de termos representantes. E os representantes não podem ser escolhidos senão por meio de partidos, em escrutínio secreto. Como se pode, então, querer destruir a classe política que está exatamente na base, ao lado do povo, na consecução desse processo de representação popular?

Os Srs Deputados que agiram, no dia de ontem, de forma desrespeitosa à população brasileira, e que o fizeram em escrutínios secretos em relação a outros Parlamentares, não enxergam o mal que estão criando para eles próprios em seus Estados.

E trago o exemplo do que ocorreu em meu querido Estado de Sergipe. Um jornalista se dirigiu a um Deputado Federal e perguntou como ele votou na deliberação pela cassação ou não do Parlamentar “A” ou do Parlamentar “B”. O Deputado respondeu que o voto é secreto. Todos já sabem, e a população toma conhecimento, que esse “o voto é secreto” é o indicativo mais preciso e mais certeiro de que ele votou pela indignidade da representação popular, de que ele votou pela não-cassação daqueles que, de forma espontânea, sem qualquer pressão, confessaram que são “mensaleiros”, que receberam dinheiro de origem suja, confessaram que são corruptos.

Como é que podemos conviver então, Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srª Senadora Heloísa Helena, numa sociedade em que o Parlamento passa a não ter o menor crédito diante da opinião pública?

Espero que a sociedade brasileira compreenda o momento em que nos encontramos; procure conhecer a história de cada um dos Srs. Parlamentares, tanto na Câmara Federal, como aqui no Senado da República, pois só conhecendo seu passado, sua história, de coerência ou de incoerência, que poderemos salvar aqueles que procuram representar com dignidade o povo brasileiro.

Não podemos tratar todos como farinha do mesmo saco, por isso, faço, neste instante, um apelo ao povo brasileiro. É preciso estabelecer a distinção, é preciso conhecer para poder distinguir. Ao distinguir, os senhores e as senhoras, brasileiros e brasileiras, em outubro próximo, estarão garantindo, de forma consciente, cívica e patriótica, a continuidade da esperança neste País, para a convivência num Estado democrático de direito, que venha a se desenvolver em bases sólidas e de respeito à ética e à moral pública, e não nas condições em que vivemos nos dias de hoje.

Muito obrigado, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/04/2006 - Página 11289