Discurso durante a 39ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apelo ao Presidente da República pela preservação da Varig. Registro de carta dirigida por um aluno mineiro ao Ministro da Educação, propondo soluções para resolver a crise na educação, após leitura do editorial, intitulado "Vergonha Nacional", publicado pelo jornal O Estado de Minas.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE TRANSPORTES. EDUCAÇÃO.:
  • Apelo ao Presidente da República pela preservação da Varig. Registro de carta dirigida por um aluno mineiro ao Ministro da Educação, propondo soluções para resolver a crise na educação, após leitura do editorial, intitulado "Vergonha Nacional", publicado pelo jornal O Estado de Minas.
Publicação
Publicação no DSF de 12/04/2006 - Página 11879
Assunto
Outros > POLITICA DE TRANSPORTES. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • CONCLAMAÇÃO, SENADOR, ASSINATURA, DOCUMENTO, ELABORAÇÃO, ORADOR, SOLICITAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EMPENHO, PRESERVAÇÃO, EMPRESA DE TRANSPORTE AEREO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), SITUAÇÃO, INSOLVENCIA, ALEGAÇÕES, IMPORTANCIA, EMPRESA, SIMBOLO, NACIONALIDADE, BRASIL, RECONHECIMENTO, AMBITO INTERNACIONAL.
  • COMENTARIO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, CARTA, AUTORIA, ADOLESCENTE, ESTUDANTE, PUBLICAÇÃO, JORNAL, ESTADO DE MINAS, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), DESTINATARIO, FERNANDO HADDAD, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), PROPOSTA, SOLUÇÃO, CRISE, EDUCAÇÃO, BRASIL, NECESSIDADE, REFORÇO, EDUCAÇÃO BASICA, AMPLIAÇÃO, DESTINAÇÃO, LIVRO, BIBLIOTECA, ESCOLA PUBLICA, PRIORIDADE, ENSINO, LINGUA PORTUGUESA, MELHORIA, QUALIDADE, ENSINO PUBLICO, OFERECIMENTO, SALARIO, COMPATIBILIDADE, DIGNIDADE, PROFISSÃO, PROFESSOR.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Paulo Paim, fico satisfeito de estar falando aqui sobre um assunto pelo qual eu sei que V. Exª tem todo carinho - aliás, pelos dois assuntos sobre os quais vou falar nestes dez minutos.

O primeiro diz respeito ao que está acontecendo com a Varig, empresa que o seu Estado criou para honrar o Brasil. O que vem acontecendo no Brasil, nestes últimos dias, aliás, nos últimos meses e anos, com a saúde da Varig, mostra uma deformação na maneira como estamos raciocinando.

Todos vêem a crise da Varig como uma crise financeira da empresa; não se está vendo que é muito mais que isso, é a crise de um símbolo nacional. Não é apenas uma empresa a mais que entra em falência; não é mesmo uma empresa importante, por ser do ramo dos transportes, que está em crise.

Vemos que o argumento da defesa do nada fazer é sempre no sentido de que, na hora em que a Varig desaparecer, outras entrarão e voarão como ela. Não é assim. Ainda que isso acontecesse, que pudesse haver uma passagem natural da Varig para outras empresas, não seria o mesmo. Estaria desaparecendo um dos raros símbolos deste País com presença internacional. Tirando os nossos jogadores de futebol, um escritor que temos de transcendência mundial, como Paulo Coelho, o Brasil é muito carente de uma presença simbólica firme no cenário mundial. E, entre esses símbolos, eu diria que nenhum, nenhum tem a força, o papel e a imagem da Varig.

Não vim aqui defender uma empresa que deve estar em situação de dificuldade por irresponsabilidade de seus dirigentes. Não venho discutir nem defender uma empresa. Não venho defender os irresponsáveis que causaram essa situação, pois penso que devam ser punidos. Venho defender um símbolo nacional. Assim como não venho defender também uma empresa que faz o transporte. Isso, com algum sacrifício, substituímos. Mas a marca, o símbolo, a presença, a história dessa empresa não vamos substituir por outra, a não ser esperando os longos anos que a Varig levou para se transformar nessa empresa simbólica no seu ramo e simbólica da presença do Brasil lá fora.

Por isso, quando o Senador Pedro Simon, na segunda-feira desta semana, fez um discurso sobre a Varig, fiz daqui um desafio para que nós, Senadores, elaborássemos um documento ao Presidente da República, insistindo que o Governo não tratasse a Varig como apenas uma empresa; que percebesse nela algo mais do que uma empresa.

Se acontecer de fato o que todos estão prevendo, se de fato acontecer o fim da Varig, que espero não aconteça, o Presidente Lula vai ter essa marca na sua história. O Presidente Lula, Senador Paulo Paim, ficará na história como o Presidente do instante em que um símbolo nacional saiu do ar. Na verdade, não apenas como imagem, mas literariamente. Não podemos deixar que isso aconteça.

Sugeri ao Senador Pedro Simon que fizéssemos um documento ao Presidente da República. Ele pediu que eu fizesse; eu o fiz e quero pedir a sua assinatura e a de outros Senadores para que possamos, terça-feira, encaminhar, Senador Aelton, para o Presidente da República, afirmando a Sua Excelência que pode contar com o Senado no que for preciso. Esse é um assunto.

O outro é que venho pedir, pela primeira vez no Senado, para inscrever nos nossos livros uma matéria que li no jornal Estado de Minas - um jornal que se tem de respeitar não apenas como veículo de comunicação, mas também pelo trabalho que faz na área de educação dos jovens daquele Estado, com um programa muito sério de leitura de jornais nas salas de aula; um jornal que merecia esse discurso em si.

Mas há pouco tempo o jornal fez um editorial chamado “A vergonha nacional”. Não era a vergonha nacional de deixar a Varig desaparecer; não. A vergonha nacional desse editorial era a vergonha nacional da educação. No entanto, não vim pedir para incluir o editorial do jornal. Acho que mereceria também, mas não vou pedir. Venho pedir a inscrição nos nossos Anais da carta de uma criança de 16 anos, um adolescente, em relação ao editorial.

            A professora Maria Helena Vilaça Bastos colocou, no dia seguinte à sua publicação, como tema de discussão na sua sala, o editorial “Vergonha Nacional” e pediu que cada um de seus alunos, do segundo ano do ensino médio, fizesse uma carta ao Ministro da Educação. E ela tomou uma das cartas e mandou para o jornal. É a carta desse menino, chamado Diego Turbino Dutra, de 16 anos, do segundo ano do ensino médio do Colégio Frederico Ozanam, de Belo Horizonte, que peço seja incluída nos Anais, por meio do meu discurso.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - V. Exª será atendido na forma regimental, com certeza absoluta. V. Exª ainda dispõe de cinco minutos.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Muito obrigado. Dá tempo sim, porque é uma carta curta, com a síntese feita pelos jovens.

Diz o Diego, dirigindo-se ao Ministro Fernando Haddad:

Senhor ministro, depois da leitura do editorial sobre a triste situação do ensino nacional, proponho três ações para solucionar o grave problema:1) incentivar a base do ensino, a partir da pré-escola [vejam que sabedoria de um menino de 16 anos], colocando à disposição dos alunos livros indispensáveis, permitindo que, desde pequenos, crescesse neles o interesse pela leitura; 2) destinar mais recursos para as bibliotecas das escolas públicas, pois um livro no Brasil custa em média R$30 a R$40, o que não está ao alcance da maioria dos alunos; 3) priorizar o ensino de português, pois para ler é preciso “saber ler” e, para isso, são necessárias escolas que possam oferecer, no mínimo, um ensino de boa qualidade, sem esquecer, é claro, a necessidade de oferecer aos professores todas as disciplinas e um salário digno.

Vejam como começamos a ter, no Brasil, uma preocupação de crianças não só com a sua sala de aula, mas com a educação no País inteiro. Não foi uma reivindicação específica, corporativa, daquilo que ele, Diego, precisa na sua escola. Foi, sim, uma proposta ao Ministro. E é possível fazer isso, Sr. Presidente. Não é difícil! A primeira coisa é fazer como o Diego, que descobriu que o problema da educação não é municipal em Belo Horizonte: ou ele é tratado de maneira federal, nacional, para todos os estudantes do Brasil, para o futuro do Brasil, ou não vamos ter solução.

Em segundo lugar, essa percepção de que começa na pré-escola. Se verificarmos quantos discursos são feitos, veremos que a maior parte traz como tema as universidades. Se verificarmos, discursos do Presidente da República versam sobre universidade: criação de universidade, ProUni. E a pré-escola que o Diego está propondo aqui? Depois da pré-escola, vem o ensino fundamental. Não haverá neste País uma boa universidade enquanto todas as crianças não terminarem o ensino médio, e os melhores deles e delas conseguirem entrar no vestibular pelo seu mérito, mas não apenas pré-selecionados pelas escolas onde estudaram - todas com o mesmo padrão, todas com o nível equivalente de qualidade.

Ao ler esse editorial e essa carta, como repercussão do editorial, fiquei com a esperança de estar, de fato, surgindo no Brasil o sentimento da importância da educação, algo que não havia. No Brasil, nós, todos, nunca colocamos a educação como valor fundamental. Mesmo uma família que paga uma boa escola para o filho está menos interessada na escola do que o salário que ele vai ter depois de formado, e quando o menino ou a menina escolhem ser filósofo ou filósofa, professor ou professora, com baixos salários, os pais se assustam; os pais querem que escolham carreiras que lhes vão dar dinheiro - não é educação pela educação e, sim, a educação como meio de aumentar a renda.

Então, ao ver uma professora levar esse editorial, ao vê-lo publicado num jornal importante do Estado de Minas, ao ver uma criança fazer uma carta ao Ministro levando essa idéia, começo a acreditar que está chegando a hora de se colocar a educação em primeiro lugar, com o apoio da população brasileira inteira e não apenas da vontade de um ou outro governante.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. CRISTOVAM BUARQUE EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas: 

“Vergonha Nacional” (Radiobras:<http://clipping.radiobras.gov.br>)

“Espaço do Leitor” (Estado de Minas)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/04/2006 - Página 11879