Discurso durante a 53ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Questionamentos sobre a entrevista publicada pelo jornal O Globo, com o Sr. Sílvio Pereira.

Autor
Almeida Lima (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SE)
Nome completo: José Almeida Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Questionamentos sobre a entrevista publicada pelo jornal O Globo, com o Sr. Sílvio Pereira.
Publicação
Publicação no DSF de 09/05/2006 - Página 15221
Assunto
Outros > IMPRENSA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ACUSAÇÃO, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), TENTATIVA, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, ENTREVISTA, EX-CHEFE, SECRETARIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ANUNCIO, DENUNCIA, NOME, AUSENCIA, PUBLICAÇÃO, NECESSIDADE, ESCLARECIMENTOS.
  • CRITICA, ENTREVISTA, TENTATIVA, DEFESA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PRESIDENTE DA REPUBLICA, RESPONSABILIDADE, CORRUPÇÃO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. ALMEIDA LIMA (PMDB - SE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o jornal O Globo e o Sr. Silvio Pereira nos devem e ao povo brasileiro uma explicação. O que foi publicado no domingo pelo jornal O Globo, na verdade, é uma armação. Uma armação para bobos, para mim, não! E tenho certeza que não é uma armação que vai colar para o povo brasileiro.

No sábado, divulga-se uma entrevista para o domingo, como se a entrevista fosse um libelo acusatório e publica-se uma peça de defesa. Atentem para o que o jornal O Globo diz no sábado, na sua página 2: “Mensalão: uma entrevista imperdível amanhã”.

Entre outras coisas, o jornal O Globo diz assim: “Na entrevista feita pela repórter Soraya Aggege, da sucursal de São Paulo, descobre-se ainda o papel relevante de um nome que nem o marqueteiro Duda Mendonça responsabiliza em seu depoimento”.

Onde está isso na reportagem do domingo? Por que o jornal O Globo não publicou? Que nome é esse?

            O jornal O Globo vem com três páginas, Senador José Agripino, com três páginas. Anuncia que será uma entrevista bombástica, imperdível; compromete-se, inclusive, a apresentar um nome que nem o Duda Mendonça apresentou.

            Lemos a reportagem. Nós a marcamos com muito cuidado, com muita atenção e não encontramos nada! Para mim, isto aqui é uma farsa, como farsa é o comportamento do Sr. Silvio Pereira, em uma demonstração de um teatro mambembe, quando, ao final da entrevista, deu um chilique, quebrou o apartamento e tomou anotações. Isso não existe!

Ou o jornal O Globo tem informações para prestar e se arrependeu e não as prestou ou ainda vai prestá-las. Mas é preciso uma explicação, porque é o próprio O Globo, Senador Antonio Carlos Valadares, que diz aqui: “Descobre-se ainda o papel relevante de um nome que nem o marqueteiro Duda Mendonça responsabilizara em seu pronunciamento”.

E, nessas três páginas de O Globo, onde está esse nome, que eu não sei? Esse nome não aparece em canto nenhum! De um dia para outro, o que foi que aconteceu, Srª Presidente? Sei que V. Exª não sabe, evidentemente, nem poderia saber, é lógico. Mas O Globo sabe!

Ora, trata-se de uma farsa, de uma manobra diversionista. É, na verdade, como disse e repito, uma peça mambembe de defesa, uma peça ordinária, a cargo do Sr. Silvio Pereira. Diz ter receio da entrevista diante de seus colegas?! Pede para não publicar, diz que pode correr risco de vida, ameaçou se matar?! Foi tudo encenação irresponsável diante da Nação brasileira, que já gostaria de vê-los - inclusive Silvio Pereira - na cadeia. A reportagem é pura fantasia.

A jornalista - e, portanto, o jornal O Globo - precisa vir a público e dizer o que aconteceu nessa reportagem. Apresentaram uma entrevista como sendo um libelo, uma peça acusatória, mas, na verdade, aqui diz: “O ex-Secretário-Geral exime o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva de responsabilidade no esquema e afirma que, em 2004, já Ministro, o ex-Presidente do PT, José Dirceu, não recebia Marcos Valério, nem gostava da situação”. Só para os bobos. Para mim, não.

Adiante: “Não me conformo de o PT pagar todo o pato. Se investigassem a fundo realmente, veriam isso. E o Governo nada fez de errado”.

A entrevista é para se defender, quando diz que vem exatamente para esclarecer todas as questões. Adiante, ele fala: “Cada Deputado da base queria um cargo federal nos Estados. Tinha ainda de dar uma cesta ao PMDB”. Eu nunca vi tratar cargos assim. “Seriam 50 cargos.” Dentro de uma cesta para o PMDB.

Adiante diz, referindo-se a Delúbio: “Ele não é corrupto. Não é.” Quem é, finalmente, corrupto neste País? Não é o Silvio Pereira, não é o Delúbio. “Quem decidia tudo isso? Não havia uma decisão, não é como vocês pensam.” Sim, e quem, então?

Mais adiante, diz: “Nos Correios, quem operava de fato era o PMDB. Eduardo Medeiros não foi indicado por mim”.

Depois diz: “Se a direção do PT me chamar para ser ouvido, eu vou. Por que não me chamam? Liguei para o Berzoini e disse...” E, posteriormente, nós vemos declarações do Berzoini dando demonstração de que está com raivinha do Silvio Pereira.

Tudo encenação, Srs. Senadores! Nada disto aqui é verdadeiro! Isto aqui, na minha terra, conhecemos como ópera bufa. Isto é para enganar os tolos, os idiotas, os imbecis! Isto não dá para enganar e não vai enganar o povo da minha terra, o povo de Sergipe!

“Quem mandava? Quem mandava eram Lula, Genoíno...” Mas ele diz aqui em relação ao PT. Quem não sabe disso? Quem mandava no PT era essa gente mesmo.

O jornal O Globo, em um sábado, anuncia uma entrevista imperdível e refere-se a fatos e revelações novas, mas nada disso é publicado na matéria. Adiante, ele diz: “Os fundos ficaram por conta do Marcelo Sereno e do Delúbio. Os maiores ficaram com o Gushiken, mas não houve nada de errado com os fundos”. Onde houve algo errado?

Fala em Genoíno, em Mercadante, em Dirceu, em Lula. Nenhuma palavra contra nenhum desses senhores.

Adiante diz:

           Na verdade, eu não sabia que a história do carro tinha vazado (para a imprensa). Eu soube na ante-sala da CPI. Chamei o (Eduardo) Suplicy e perguntei a ele, só a ele, o que eu deveria fazer. Ele me disse: ‘Fala a verdade’. E eu falei.

Essa é uma peça de absolvição! “A repórter argumentou que não poderia omitir as informações obtidas, já que ele havia concordado com a publicação e feito revelações importantes”. Isso é o que diz a matéria escrita pela jornalista Soraya. Quais são as revelações importantes? A de R$1 bilhão? Todo o mundo já sabia disso. Ou mais de R$1 bilhão. A história do Opportunity, a história do Banco Econômico, isso já é do conhecimento de todos!

Ao final, o jornal publica o perfil do Sr. Land Rover, que é o Sr. “Silvio Land Rover Pereira”. O Land Rover foi devolvido, e o sonho dele é ter um restaurante. Quem ler, Srª Presidente, o perfil do Sr. Silvio Pereira na reportagem, se entender que ele não fez nada, chora. Chora! Chora, pois isto aqui é a peça de um grandioso advogado de defesa no júri. É para fazer qualquer jurado chorar. Quem ler essa peça aqui... “Virei um cara do bando dos 40”, é o que ele diz.

Ora, “tem muita gente importante envolvida nisso”. Sim, quais são as pessoas? Sim, porque um dos importantes é ele, inclusive. Ele é o próprio importante envolvido nessa questão.

Portanto, Srª Presidente, não devemos manter maiores considerações a respeito dessa entrevista. No entanto, devemos exigir do jornal O Globo que publique a entrevista que prometeu. Esta não é a entrevista que foi prometida. O que foi prometido no sábado, publicado pelo próprio jornal O Globo, na página 2, não é o que está publicado no domingo. Não dá para enganar a população brasileira. Não dá.

Portanto, acho que o jornal O Globo entrou em uma enrascada e dela deve sair. É preciso que se diga isso a um dos maiores jornais do País, com toda a legitimidade que o jornal tem de informar, com a liberdade que possui.

E quem cobra o faz com a legitimidade de quem Parlamentar é, que foi eleito, de forma direta, democrática e legítima pelo seu Estado, Sergipe.

Exige-se que esse veículo de comunicação, o jornal O Globo, cumpra o papel de informar corretamente a população brasileira.

Repito: foi anunciado um libelo, foi anunciada uma peça acusatória, e o que veio foi uma defesa mambembe. Foi dito: “O caderno das anotações foi jogado contra a parede do apartamento”. Não posso concordar que uma jornalista tão competente tenha esquecido os fatos principais ou os maiores fatos dessa entrevista. Como não recebeu de volta o caderno, esqueceu de publicar. Não posso compreender isso. Não compreendo e não aceito isso.

            Espero que o jornal trate dessa questão...

(Interrupção do som.)

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Senador Almeida Lima, V. Exª já usou a palavra por catorze minutos, mas lhe vou conceder mais um minuto.

O SR. ALMEIDA LIMA (PMDB - SE) - Concluo, Srª Presidente.

Sem tecer maiores comentários, apesar das anotações que fiz e da leitura apurada que fiz de toda a entrevista, marcando seus textos item por item, espero que o jornal O Globo retorne pelo menos com uma notinha de quatro palavras, cumprindo aquilo que prometeu a seus leitores no sábado, inclusive a citação de um nome que Duda Mendonça não teve coragem de divulgar. Foi assim que foi publicado na nota de O Globo de sábado, antecipando a entrevista do domingo.

A população brasileira exige isso, a liberdade de imprensa está aí, e o direito à informação é um direito sagrado que o povo tem. E o jornal tem a obrigação de informar.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/05/2006 - Página 15221