Discurso durante a 57ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações a respeito da nacionalização dos hidrocarbonetos na Bolívia. Entraves para o desenvolvimento do Brasil.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Considerações a respeito da nacionalização dos hidrocarbonetos na Bolívia. Entraves para o desenvolvimento do Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 12/05/2006 - Página 16245
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, DESPREPARO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EXERCICIO, FUNÇÃO, DENUNCIA, INCOMPETENCIA, GOVERNO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DEBATE, DECISÃO, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, BOLIVIA, NACIONALIZAÇÃO, GAS NATURAL.
  • DEMONSTRAÇÃO, APREENSÃO, ATUAÇÃO, GOVERNO ESTRANGEIRO, AMERICA LATINA, ESPECIFICAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, VENEZUELA.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Gilvam Borges, Srªs e Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros aqui presentes e os que nos assistem pela TV Senado, o nosso Senador Carreiro tem 30 anos no Senado. Chamei o Carreiro para invocar o Maranhão. Lá, há o museu do Padre Antonio Vieira.

José Maranhão é Senador. A única mágoa que tenho dele é que devia ser José Piauí!

O Sr. José Maranhão (PMDB - PB) - (Intervenção fora do microfone.) Mas a Paraíba não deixa!

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Pois é!

O Padre Antonio Vieira, que viveu no Brasil, disse que um bem nunca vem só, vem acompanhado de outro bem. Mas, por analogia, um mal, Senador Tasso Jereissati, vem acompanhado de outro mal. O mal é o Governo que está aí, atrasado, incompetente, despreparado.

Senador Gilvam Borges, Napoleão, o francês, com todo o respeito ao Senador que representou o Piauí nesta Casa, disse que a maior desgraça, Senador Cristovam Buarque, é exercer um cargo para o qual não se está preparado.

Foi o Lula! Foi o Lula! Não estava preparado.

Atentai e vede! Eu disse que ninguém - e o Cristovam Buarque era de lá e conhece muitas histórias - do núcleo duro chegaria aqui. Senador Geraldo Mesquita deve pensar: “Esse Mão Santa é doido! Ninguém do núcleo duro!”

O núcleo duro já acabou. Acabou! Eu disse que nenhum entraria aqui. Por que, Gilvam? Atentai bem! Tudo o que se passou aqui foi correto, e o Brasil é testemunha.

Hoje, Geraldo Mesquita, comemoram-se os 180 anos do Senado. Até o Presidente Sarney foi no rumo, mas ele não sabe direito a origem disso, não.

Deus invocou, lá, nos Estados Unidos. Foi Deus quem criou isso.

Gilvam Borges, ocorreu o seguinte: Moisés foi ungido por Deus, que disse: “Liberte seu povo!” Ele, com sua crença, não querendo nem saber se havia faraó, exército, Mar Vermelho, foi. Quarenta anos. Aqui, são 180 anos. É um bocado de tempo: fome, deserto, sede.

Atentai bem! Moisés recebeu as leis. E esta é uma Casa onde se fazem leis. A lei é uma inspiração divina. A lei. Mas o povo foi atrás do bezerro de ouro, como o Lula, voando, tirando fotografias das pirâmides do Egito! Ele nem sabia o que era aquilo, pensava que era para ele e a Marisa tirarem fotos! Foram os governantes do Egito, Gilvam, propiciando trabalho.

“Comerás o pão com o suor do teu rosto”. Aquilo era para isto: trabalho. É o que não tem neste País. Sim, mas houve uma hora em que Moisés fraquejou e quis desistir, Geraldo Mesquita. Aquebrantado o povo, ele ouviu uma voz divina: “Busque os mais velhos, os mais experimentados, setenta deles, e eles lhe ajudarão a carregar o fardo do povo”. Aí nasceu a idéia do Senado, onde legislam os mais velhos, os mais experimentados.

Essa instituição foi melhorada na Grécia, em Roma. A instituição Senado tem mais de dois mil e quinhentos anos. Na França, surgiu pelo povo, que gritou nas ruas: “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. Fez cair os reis, e apareceram, inspirado em Montesquieu, esses senados modernos, melhorados - e foi melhorando ainda mais. Na Inglaterra, há a Câmara dos Lordes - que somos nós aqui -, os intelectuais, e a dos Comuns. É um sistema bicameral, como este. É para isso que serve. Lamentamos o que acontece neste instante. Os mais experimentados, muitos deles foram Prefeitos, e Lula não o foi; muitos foram Governadores de Estado, e Lula não o foi. Como eu disse, Senador Heráclito Fortes, a maior desgraça é exercer um cargo para o qual não se está preparado.

Cadê o Partido deles, o PT? Já desistiram. Eram esses que tinham de levar para Lula o que se discute aqui. Esse é o sentido do Senado. Está vazio. Cadê o PT?

Esta é a Casa do debate. Parlamento vem do verbo “parlar”. É do debate que nasce o consenso, o melhor caminho. Mas a Bolívia...

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Senador Heráclito e Professor Cristovam Buarque, o livro O Mundo é Plano está em primeiro lugar na lista dos mais vendidos no The New York Times. O mundo não é mais redondo! Não é negócio de Bolívia, nem porque é vizinho o Uruguai, não! O mundo, hoje, é todo plano! É uma aldeia global. Devemos ter esse entendimento e saber de história.

Representei este Senado na Venezuela e percebi isso. Lula está igual ao Jamanta, aquela personagem da novela - a que já vou assistir -, pois não sabe de nada e nada viu. É o “Lula Jamanta”. Eu fui lá e vi, Senador Efraim Morais. Sabe o que eles falam lá? “América Bolivariana”, diz esse Chávez. Eu vi; eu estive lá: “América Bolivariana”.

Professor Cristovam, atentai bem! Não vou dizer a V. Exª para aprender, porque V. Exª sabe tudo, mas relembre nossa História, quando D. João VI disse: “Filho, pegue a coroa e a coloque em sua cabeça antes que um aventureiro a coloque antes de ti”. Esse aventureiro, Lula, era Simon Bolívar, que estava fazendo a independência em todas as Américas, que saiu da Venezuela conquistando e fazendo as repúblicas. Então, a história e a cultura deles é diferente da nossa.

Petrônio Portella ensinou-me, Senador Heráclito, a não agredir os fatos. Este é o fato: fomos colonizados por portugueses. Havia o sonho religioso - essa é a verdade - e o sonho de buscar riquezas, o ouro. Eles têm outra cultura, também têm a cultura religiosa e a da busca de ouro e de glória. Eles brigam mesmo!

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Mão Santa, V. Exª me permite um aparte?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Somos pacíficos. “Independência ou morte!” Nenhuma morte. Essa é a nossa cultura. Essa é a cultura de um País hegemônico. Vamos cuidar.

Aí o Jamanta saiu por aí, e o Dirceu, traquino, colocou-o num avião para ser o líder das Américas, o líder do mundo. É a ignorância audaciosa. Essa não é a nossa cultura hegemônica.

D. Pedro I, nove anos; D. Pedro II, quarenta e nove anos no poder. Atentai bem, pois isso é importante, Senador Heráclito Fortes! Sabe o que ele disse? Esta instituição funcionava, era o Poder Moderador. Atentai bem, Senador Gilvam Borges! Ele disse: “Se eu não fosse Imperador, eu queria ser Senador”. D. Pedro II disse isso. Ele vinha assistir às reuniões; deixava o cetro e a coroa e vinha beber saber. Lula foge daqui como o diabo foge da cruz!

Já concederei um aparte a V. Exª, Senador Heráclito Fortes.

Lamento dizer o seguinte: o Brasil só ganhou mesmo do Haiti, porque eles estão em guerra civil. Nós não temos trabalho, não temos oportunidade e não temos progresso. Atentai bem! Todo mundo está indo - diz o autor - para a Índia, para a China e para a Rússia, que estão crescendo 10%. Nós, há anos, não crescemos. Qual a oportunidade desses jovens?

A Índia não tem riqueza natural, mas estão explorando a riqueza. Muitas são as maravilhas da natureza, mas a mais maravilhosa é o homem, o saber, o cérebro. Engenheiros estão fazendo curso de Inglês. Quando V. Exª recebe um telefonema, Senador Gilvam Borges, V. Exª está pensando que é de um brasileiro? Não é, não! É call center da Índia. Eles falam em português e oferecem propostas de turismo e de investimentos na rede bancária, porque eles se atualizaram e criaram oportunidades de trabalho com salários sem complicações.

Na Austrália, para abrir uma firma, gastam-se dois dias. É louco quem quiser ser empreendedor no Brasil! Ó Deus, está louco quem quiser ser empresário no Brasil! São 76 impostos. Os juros são os mais altos do mundo! Há complicação por parte dos delegados de trabalho. Para se fechar uma firma no Brasil, são mais de 10 anos. Na Austrália, em dois dias, abre-se uma firma. Esse é o mundo moderno. Esse mundo aqui ficou complicado e difícil.

Senador José Maranhão, tive um Secretário de Indústria e Comércio muito bom, no Piauí. Inclusive, foi presidente das indústrias no Piauí.

O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges. PMDB - AP) - Senador Mão Santa, apelo a V. Exª que conclua, devido ao tempo avançado e em consideração aos outros oradores.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Ele me encontrou e disse o seguinte: “A vida fora do Governo está difícil”. Está difícil! Está bom para o Lula, para o Planalto, para o PT. E para nós aqui?

Essa é a verdade, e a verdade se torna a vergonha quando a corrupção é outro mal, além da maior carga de imposto, dos maiores juros do mundo, das maiores complicações. É a corrupção que destrói o progresso e tira a oportunidade de todos.

Um mal nunca vem só. Há desemprego. Basta que eu diga que detemos a insignificante participação de 1% do desenvolvimento e que devemos perder ainda mais. O Brasil estava na 57ª posição em desenvolvimento, mas passou para a 65ª posição.

Um quadro vale por dez mil palavras. Senador Heráclito, atentai bem! O filho do Vice-Presidente da República, Josué Gomes da Silva, tem US$100 milhões para aplicar. Disse que, no Brasil, não há jeito. Ninguém está querendo investir neste Brasil complicado, neste Brasil que não progride. Essa é que é a verdade. Um de nossos principais empresários, filho do Vice-Presidente, descarta qualquer possibilidade de investir em sua própria terra, mas se deve ainda constatar que o Sr. José Gomes da Silva não é uma voz isolada. O investimento ele faz em outros países.

São estas as nossas palavras.

Que este Senado alerte o povo, como nós alertamos. O primeiro a chamar José Dirceu de José Maligno fomos nós, aqui. Há três coisas que só fazemos uma vez na vida: nascer, morrer e votar no PT. O Senado estancou a “cubanização” que haveria neste País.

Cumprimento todos os que debatem o problema do nosso relacionamento com a Bolívia. Como médico, sei que o importante é a causa, a origem, a etiologia. O importante é que o Presidente da República não entendeu o significado das palavras de Rui Barbosa quando disse que a primazia tem de ser do trabalho, do trabalhador. O trabalhador vem antes porque é ele que faz a riqueza. Lula ajoelhou-se aos banqueiros, que são os que estão bem neste Brasil.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/05/2006 - Página 16245