Discurso durante a 60ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Anúncio da realização, no Amapá, do lançamento, pela TV-Tucuju, no próximo dia 29, da primeira novela de televisão, intitulada "Mãe do Rio", tratando da cultura amazônica.

Autor
Gilvam Borges (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: Gilvam Pinheiro Borges
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
TELECOMUNICAÇÃO.:
  • Anúncio da realização, no Amapá, do lançamento, pela TV-Tucuju, no próximo dia 29, da primeira novela de televisão, intitulada "Mãe do Rio", tratando da cultura amazônica.
Aparteantes
Garibaldi Alves Filho.
Publicação
Publicação no DSF de 17/05/2006 - Página 16735
Assunto
Outros > TELECOMUNICAÇÃO.
Indexação
  • ANUNCIO, LANÇAMENTO, PROGRAMA, TELEVISÃO, REALIZAÇÃO, EMISSORA, TELEVISÃO ABERTA, ESTADO DO AMAPA (AP), PROMOÇÃO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, DESENVOLVIMENTO CULTURAL, REGIÃO AMAZONICA.
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, PROGRAMA, TELEVISÃO, INDUSTRIA CINEMATOGRAFICA, PAIS, DIVULGAÇÃO, HISTORIA, CULTURA, MUSICA POPULAR, ARTISTA, FLORESTA, REGIÃO AMAZONICA.
  • CONVITE, PARTICIPAÇÃO, SENADOR, IMPRENSA, SERVIDOR, CONGRESSO NACIONAL, EXIBIÇÃO, PROGRAMA, TELEVISÃO, AUDITORIO, SENADO.

O SR. GILVAM BORGES (PMDB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o motivo que me traz a esta tribuna me enche de satisfação, alegria e justo orgulho não só como homem público e representante do bravo Estado amazônico - o Amapá -, mas sobretudo na qualidade de simples cidadão amazônida, integrado desde sempre em suas peculiares, pujantes e vigorosas tradições e manifestações culturais. É que tenho o prazer de anunciar a todos os brasileiros a realização no Amapá de um feito inédito na história da cultura da Região Amazônica que espero venha a se multiplicar e a contagiar os demais Estados vizinhos do Norte no sentido de encetarem também novas e similares iniciativas.

Refiro-me ao lançamento, pela TV Tucuju, canal 24 de Macapá, dirigida por Geovani Borges, afiliada da Rede TV, com estréia marcada para o próximo dia 29 de maio, da primeira novela de televisão - intitulada “Mãe do Rio” - escrita e inteiramente produzida na Amazônia, contando com recursos, tanto materiais e financeiros quanto humanos, exclusivamente locais, desde sua autoria, roteiro e direção, tarefas compartilhadas por mim mesmo, pelo jornalista Joseli Dias e pela professora Ângela Nunes. A responsabilidade pela sonoplastia foi de Erick Barreto e de Erinho Guedes; pela fotografia, de Alex Silveira, Joni Bigoo e professora Ângela Nunes; pela musicalização, de Osmar Júnior; pela edição, de Joquinha Costa, Elivaldo Costa e Reginaldo; pelas câmeras, de Lennon Lameira; e, pela finalização, de Oscar Zani. Até seu competente casting de atores, a maioria é de amadores e outros egressos dos palcos, mas nenhum com experiência anterior de vídeo, cinema ou televisão.

Merecem ser nominalmente citados pelo talento e pela dedicação revelados na composição de seus personagens e observados com atenção em suas futuras atuações.

São eles:

Eluza Ramos, Agesandro Rego, Antonio de Pádua, Nilson Borges, Miguel Marinho, Pirex, Eduardo Antunes, Antonielle Moura, Adriana Raquel, Carlos Lima, Rute Moura, Lorena Chaulfloun, Sol Pelaes, Zaide Soledade, Amadeu Lobato, Débora Bararuá. Jackson Amaral, Joana Barreto, Almeida Canuto, Paula Cantão, Ari Menezes, Elisângela Santos, Jéssica Lamara, Nelcy Gomes, Kledison Mamed, Maria Rosa Dias, Diulen Reis, Alcemy Araújo, Disney Silva, Fernando Chaves, Niviane Souza, Carmito Pinheiro, Elisa Pimentel, Álvaro Braga, Suely Mattos, Alexandre Alcolumbre, Erick Costa, José Geicir, Ana Claúdia Silva, Natacha Dantas, Iza Carolina, Andréia Barreto, Dalton Borges, Michele Ataíde, Douglas D’nnelly, Pâmela Duarte, Lana Costa, Livaldo Rocha, Camila Voguel, José Geicir, Flávio Soares, Tatiana Gama, Eduardo Barreto, Eduardo Garcia, Paulo Chaves, Kelita Morena, Thaysa Santos, Adilana Moura, Emily Nayara, Vinício Barreto, Nariane Souza, Luiza Costa, Henrique Pinheiro, Ruan Patrick Dias, Gabriel Tavares, Gabriela Dias, Priscila Pris, Hana Borges, Sarah Lima, Yuri Lorhan, Josiane Ribeiro, Vivian Ribeiro, Carol Miranda, Rita Flexa e Yasmin Dias.

A novela, ambientada principalmente no Amapá, apresenta tomadas externas em várias locações da Região Amazônica, como Rondônia, Acre e a própria cidade de Manaus.

Consta de 60 capítulos, previstos para três meses de exibição, em dois horários diários, às 19 horas e às 23 horas.

Com isso, creio ter a TV Tucuju de Macapá produzido acontecimento da mais alta significação para o gênero da telenovela.

Trata-se de fato de grande importância para a indústria da cinematografia em televisão no Brasil e para a cultura brasileira.

Não é difícil acreditar que, vencendo as barreiras do mercado, “Mãe do Rio” será sucesso de público e de crítica e alcançará certamente o largo círculo de expectadores do Brasil e do exterior, tão carentes de informação e arte autênticas na televisão.

Pela primeira vez, fora do eixo hegemônico Rio/São Paulo, concebeu-se e produziu-se totalmente uma telenovela.

Os roteiristas, o argumento, o elenco, a trilha sonora, a filmagem, a produção, tudo ficou a cargo da audaciosa, talentosa e inventiva gente do Amapá, a qual, com esse trabalho pioneiro e original, abre novos horizontes para a televisão brasileira.

“Mãe do Rio” é um tributo à cultura amazônida. Seu argumento baseia-se na construção multissecular do Boto, que conduz a novela, acolhendo realidade e imaginário, figuras lendárias e o dia-a-dia da gente dessa região exuberante, de rios e de matas, densas florestas, igarapés piscosos, de paixões e enfrentamentos.

Região cobiçada e de cobiça.

A trilha sonora, como se disse, compõe-se de letras e músicas produzidas na região, sendo que dez delas foram especialmente compostas para “Mão do Rio”. Essa origem das músicas dá-lhes perfeita conformação ao ambiente da novela.

O telespectador se surpreenderá com a paisagem humana e geográfica da novela: o povo da Amazônia, o seu viver ribeirinho, a palafita, os peixes, o seu falar, as suas mulheres, suas expectativas e suas lutas.

A filmagem é excepcional, com enquadramentos criativos e verdadeiramente cinematográficos, apoiando-se no cenário magnífico que a natureza ali montou em seu paciente e lento trabalho.

O elenco desincumbe-se com eficiência e arte de sua missão. Seus atores conhecem, desde sempre, o argumento: vivem a vida que representam. Eles revelam inequívoco talento e estavam prontos e maduros na distante Macapá - para muitos brasileiros, mas, para nós, perto e querida, porque sempre estamos ao seu encontro - para receber a câmara de televisão, destinada a revelá-los para o Brasil e para o mundo.

O Boto deflagra o movimento da telenovela, deixando o grande rio e, metamorfoseando-se em homem, com seu chapéu mágico, símbolo de sua humanidade, ele sai para cumprir o seu inexorável destino de sedutor. Vem, numa aparição súbita, a que não se pode resistir, engravida a bela cabocla e volta a imergir para sua vida aquática.

É a natureza que se mistura com nossas vidas.

O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. GILVAM BORGES (PMDB - AP) - Permito um aparte a V. Exª.

O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Senador Gilvam, eu não vou efetivamente tomar o tempo de V. Exª. Quero apenas me congratular com essa iniciativa, ousada, eu diria, porque a novela que está sendo produzida lá no próprio Estado de V. Exª, no Amapá, vai concorrer com todo um elenco de novelas que são produzidas no Sudeste do País e, naturalmente, vai ser prestigiada pelo público local, que não vai deixar de valorizar o que é da terra; mas espero que conquiste também audiência mais ampla. Como V. Exª está dizendo aí, o esforço feito por todos merece isso.

O SR. GILVAM BORGES (PMDB - AP) - Agradeço o aparte de V. Exª.

É o símbolo do profundo vínculo que nos liga às águas e ao seu mundo, aos seus mistérios inescrutáveis.

É o destino traçado pela parca amazônida, pela Mãe do Rio, a Rainha-Sereia, representação do destino que, na história, se traça a partir do momento de intervenção do Homem-Peixe na vida de Rosa. E Rosa, com sua maturidade física, com sua beleza, sua beleza, sua graça, com suas curvas caboclas, com sua sensualidade, na plenitude de sua própria vida, não havia de resistir a esse sedutor chamado da natureza.

Depois dele, tudo é novela, novela que se passa na maravilhosa e legendária Amazônia, cujo próprio nome se deve às famosas mulheres que habitavam as margens do Temodhon, na antiga Capadócia, mulheres decididas e guerreiras, que só aceitavam os homens como seus escravos e para isso arrancavam os olhos dos próprios filhos ou os tornavam claudicantes.

Cada Amazona arrancava o seu seio direito para facilitar o uso do arco e, para perpetuarem a sua lenda, faziam amor com os homens dos povos vizinhos que julgassem os mais sedutores.

Por que digo isso? Por que ilustro esta minha fala com essa referência helênica? Para mostrar que a Amazônia é, desde seu batismo, a um só tempo, lendária e real, e traz no seu ventre, por isso mesmo, os elementos essenciais da telenovela.

A Amazônia, pela sua grandiosidade e exuberância, parece, assim, por natureza, vocacionada a remeter aos mitos fundadores da épica helênica, sendo, ela própria, uma referência mítica aos olhos do mundo.

Assim, nada mais oportuno que, ao se tentar traduzir a região em linguagem ficcional, se tenha recorrido à rica mitologia local para a condução da narrativa.

E, ao mesmo tempo, ao se focalizarem imagens e aspectos do cotidiano da gente ribeirinha, em suas atribulações, sonhos e desejos na luta pela difícil sobrevivência no dia-a-dia, retratada em sua simplicidade e esperanças, pôde-se, também, de modo incidental, ajudar a esclarecer a opinião pública não-amazônica acerca de outros mitos, estes nocivos, redutores e portadores de representações simplificadoras sobre a região, que a descrevem como “Pulmão do Planeta”, “Celeiro do Mundo”, “Eldorado” e demais expressões do tipo, que só obscurecem o fato de que, embora vasto e portentoso seu ecossistema, o modo de vida amazônida se assenta numa floresta tropical extremamente frágil e ainda exposta à ânsia de poder e dominação predatórias.

Quer, portanto, a “Mãe do Rio” promover e veicular sua mitologia originária, sadia e enraizada nas tradições populares e, simultaneamente, contribuir na dissipação de mitos artificiais, equívocos e desinformação que vêm alimentando o imaginário coletivo sobre nossa realidade.

Em suma, parece-me que essa telenovela pioneira dos amazônidas oferece abundantes elementos tanto de entretenimento e prazer estético quanto matéria para reflexão de seus espectadores e, assim, tem tudo para cumprir seu papel de produto cultural honesto e bem-acabado.

É esse o motivo que me leva a acreditar que, em nossa Amazônia e no nosso querido Estado do Amapá, pode vir a acontecer um novo pólo telenovelístico do País.

À legião de “telecéticos”, que me olharão espantados, direi: quem acreditaria que se poderia, em Macapá, produzir uma telenovela para três meses de exibição?

Nada resiste, porém, a tanto encantamento.

A propósito, aproveito o ensejo para convidar a todos, colegas Senadores, imprensa, servidores desta Casa e do Congresso Nacional, a assistirem...

(Interrupção do som.)

O SR. GILVAM BORGES (PMDB - AP) - ...amanhã, no auditório Petrônio Portella, aqui ao lado, à exibição de algumas cenas e trechos dos primeiros capítulos de “Mãe do Rio”, essa novela concebida para revelar o Amapá e a Amazônia ao País e ao mundo, com todos os ingredientes de sua cultura, mas também para revelar aos amazônidas e aos amapaenses, em particular, seu próprio e insuspeitado potencial criativo e empreendedor, derrubando um último mito tão prejudicial à sua auto-estima, o de que a produção de uma telenovela de qualidade seria monopólio das maiores emissoras de TV do Sudeste do País.

Por todas essas importantes revelações, um tributo à “Mãe do Rio”.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, servidores desta Casa...

(Interrupção do som.)

O SR. GILVAM BORGES (PMDB - AP) - ...a coragem de vir a esta alta Casa e apresentar amanhã, às 12 horas e 30 minutos, os primeiros capítulos da nossa querida novela “Mãe do Rio” é um desafio.

Garanto a vocês que não faremos vergonha; faremos melhor do que as novelas mexicanas, e mostraremos o Amapá e a Amazônia ao Brasil e ao mundo. Quem um dia não acreditou amanhã acreditará ao ver uma bela fotografia, um roteiro excelente, um tratamento de cinema, uma edição perfeita. Trata-se de um material de primeira, no qual trabalhamos durante dois anos.

Sr. Presidente, o Amapá vem aqui para se mostrar culturalmente, mostrar sua gente, seus valores. É um enredo perfeito. Pena que não esteja aqui o Senador Gilberto Mestrinho, que por muitos anos representou a figura do Boto. É bom que, amanhã, ele esteja aqui para ver essa figura aquática encantadora, que seduz as mulheres ribeirinhas e transforma as noites da Amazônia, dentro das florestas e às margens dos rios e igarapés, nas danças sedutoras, com a esperança e a magia da copulação e do acasalamento sensual.

Portanto, o Senador Gilberto Mestrinho, que, por muitos anos, foi rotulado o grande Boto da Amazônia, haverá de nos prestigiar.

Convido todos os Senadores a ver essa mostra amanhã. Foi um grande trabalho, foi um grande desafio. No dia 29, estaremos no Amapá para lançar esse trabalho, com a presença de muitas autoridades. O Amapá se orgulha da sua gente, dos seus artistas, da sua cultura. O povo da Amazônia está feliz.

Se V. Exªs não forem, vou ficar um pouco decepcionado, pois me esforcei tanto!

Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/05/2006 - Página 16735