Discurso durante a 57ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemorações pela passagem dos cento e oitenta anos do Senado Federal.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemorações pela passagem dos cento e oitenta anos do Senado Federal.
Publicação
Publicação no DSF de 12/05/2006 - Página 16107
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, SENADO, REGISTRO, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, SENADOR, ABOLIÇÃO, ESCRAVATURA.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Renan Calheiros, Presidente da República em exercício, Srª Drª Ellen Gracie, Presidenta do Supremo Tribunal Federal, Sr. Presidente do Senado em exercício, Senador Tião Viana, Senador José Sarney, ex-Presidente da República e ex-Presidente do Senado Federal, Senador Antonio Carlos Magalhães, ex-Presidente do Senado Federal, Srs Embaixadores, Srªs Embaixadoras aqui presentes, servidores e servidoras desta Casa, sem os quais seria muito difícil estarmos comemorando estes 180 anos, e Professor Hélio Jaguaribe, a quem dirijo um cumprimento muito especial, não tanto porque ele é o professor de toda a minha geração, mas também porque é bisneto do ex-Senador Visconde de Jaguaribe, que, durante sua participação no governo, fez com que virasse realidade a Lei do Ventre Livre.

Sr. Presidente, essa referência me traz a lembrança de que hoje comemoramos 180 anos do Senado e que depois de amanhã nós poderemos comemorar 118 anos do dia em que os Senadores receberam flores, jogadas pelo povo. Naquela ocasião, o Senado, em um dia apenas, aprovou a Lei da Abolição, segundo as atas que podemos ler, graças ao registro daquela época, e creio que não havia nenhuma Senadora.

É bom lembrarmos deste dia, porque 180 anos é um longo tempo para uma Casa de um País tão jovem, pouquíssimo tempo se comparado aos 2.500 anos do Senado romano, apesar de todas as idas e vindas daquele Senado, mas um longo tempo. Creio que só a Justiça é uma instituição mais antiga do que o Senado. Nesta Casa, nesses 180 anos, aquele foi um dia muito especial: o dia em que os Senadores receberam flores.

Mas, independentemente daquele dia, foi nesta Casa que se construiu o grande pacto entre os Estados brasileiros. Foi aqui que, graças ao Parlamento, à discussão, realizamos a construção da independência, que não teria sido possível sem o trabalho de unificação e pactuação que aqui se fez ao longo de todos os anos. Mas também não nos devemos esquecer de que, ao longo desses anos, nós fizemos a pactuação entre os Estados e fizemos, de uma maneira ainda incompleta, a pactuação social do Brasil. Nós ainda não completamos a abolição da escravidão, nós ainda não completamos a República. Ainda somos um país em que os descendentes dos escravos e outros que não o são vivem à margem da sociedade e também somos uma república onde há uma classe imperial. Não é à toa que aqui, Srª Presidente, nós nos tratamos por nobres Senadores e nobres Senadoras; não nos tratamos por cidadãos Senadores ou cidadãs Senadoras, porque não completamos a república.

Por isso, hoje é um dia de comemoração, sem dúvida alguma, Presidente da República Renan Calheiros, mas é um dia também para, primeiro, lembrarmos o que não fizemos e também para olharmos para frente e sonhar, sonhar com o dia em que voltaremos a ter a agilidade que tivemos no 13 de maio de 1888, quando, em um dia, aprovamos uma lei.

Temos saudades daquela agenda, da agenda da integração social, e temos saudades também das flores. Mas não é hora de voltar, e sim de nos comprometermos com a possibilidade de completar a república e a abolição. É hora de reafirmarmos o compromisso que devemos ter com todo esse passado. Saudades nós temos de pessoas, de instituições nós incorporamos o que elas foram e reafirmamos os nossos compromissos: o compromisso com a independência deste País, com a convivência federal entre os Estados e, sobretudo, o compromisso com a integração social deste País, quebrando o apartheid social que temos, completando, assim, a república.

Hoje é um dia para rememorar, mas é, sobretudo, Senador Antonio Carlos Magalhães, um dia para reafirmarmos o nosso compromisso com o futuro pela emancipação, pela defesa da Nação. Ao mesmo tempo, temos o direito de hoje ser o dia em que voltamos a sonhar, a sonhar com flores que temos o direito de querer que um dia o povo volte a jogar sobre nós.

Penso que o povo está pronto para jogar flores; nós, aparentemente, não estamos prontos para recebê-las, pela agenda, pela lentidão e, sobretudo, pelo fato de não estarmos colocando na agenda central aquilo que se fez 118 anos atrás com a Lei da Abolição - incompleta, devo dizer. Não estamos colocando na nossa agenda diária, no dia-a-dia, o compromisso pela integração social do País.

Sr. Presidente, vamos reafirmar os nossos compromissos e vamos sonhar. Vamos sonhar com flores, pois a história do Brasil é longa, e ainda vamos ter a oportunidade de mostrar ao povo que merecemos - e ele está ansioso para jogar flores outra vez na cabeça de seus Senadores e Senadoras. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/05/2006 - Página 16107