Discurso durante a 84ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Decisão do PDT de indicar candidato próprio à Presidência da República, com o lançamento do nome de S.Exa.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Decisão do PDT de indicar candidato próprio à Presidência da República, com o lançamento do nome de S.Exa.
Aparteantes
Eduardo Azeredo, José Jorge, Leonel Pavan, Pedro Simon, Ramez Tebet, Sergio Guerra.
Publicação
Publicação no DSF de 21/06/2006 - Página 20859
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • REGISTRO, DECISÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT), INDICAÇÃO, ORADOR, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • COMENTARIO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT), DEFESA, AUSENCIA, CANDIDATURA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, POSSIBILIDADE, COLIGAÇÃO, ESTADOS.
  • ELOGIO, DECISÃO, HELOISA HELENA, SENADOR, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEFESA, IDEOLOGIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE (PSOL).
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, CANDIDATURA, ORADOR, DEFESA, PROPOSTA, IDEOLOGIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT), ALTERNATIVA, TRANSFORMAÇÃO, PAIS, ELIMINAÇÃO, CORRUPÇÃO, MELHORIA, EDUCAÇÃO.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Boa-tarde, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores.

Ontem, o meu Partido, o PDT, tomou uma decisão. Não foi uma decisão fácil. Eu diria que foi uma decisão extremamente difícil. Para se ter uma idéia, personalidades importantes do Partido tomaram posição contrária, durante os debates, à decisão que foi tomada. Personalidades como Alceu Collares, como Matheus Schmidt, como Jackson Lago, o próprio Osmar Dias - que não estava presente, mas se manifestou -, o nosso colega Senador Jefferson Péres, em alguns momentos, também se manifestou, enfim, personalidades pelas quais qualquer um de nós tem o maior respeito. E por isso mesmo tivemos que levar em conta a opinião de cada um deles - e levamos em conta; e eu, pessoalmente, quero dizer que tenho por eles o respeito e duvidei, sim, se eles não estariam com a posição correta de defender que o Partido não tivesse candidato. Eles tinham argumentos muito fortes. Não lutaram em defesa própria, mas em defesa de uma visão estratégica que, para eles, parecia melhor para o Partido: a idéia de o Partido não ter candidato a Presidente, para, com isso, tem a possibilidade de fazer coligações diferentes em cada Estado. Essa foi a posição de pessoas pelas quais qualquer um de nós tem o maior respeito. E eles defendiam o interesse maior do Partido.

Entretanto, depois de uma disputa muito forte, por uma imensa maioria, os convencionais do Partido decidiram que devemos, sim, ter um candidato a Presidente da República. Não foi uma decisão fácil. Foi - nós sabemos - uma decisão arriscada. Arriscada porque todas as regras são feitas neste País para que os partidos não sejam nacionais; para que os partidos sejam regionais; para que, em cada Estado, o partido se comporte de uma maneira diferente; para que, em cada Estado, seja feita uma aliança diferente. As regras estão aí para isto: a verticalização, a cláusula de barreira. Tudo isso fez com que passássemos a defender - nós, o Brasil - a idéia de que partido só tem de brasileiro o nome. Na verdade, o partido é estadual.

O PDT decidiu romper com isso. Decidiu correr o risco de lançar um candidato com pouco tempo na televisão, com poucos prefeitos, com poucos Parlamentares e, mesmo assim, ir em frente com a candidatura. Por quê? Porque achamos que está na hora de agir do ponto de vista eleitoral ao mesmo tempo que do ponto de vista político e ideológico. Está na hora de acabar com a separação das duas coisas. Está na hora de evitar pensamentos como estes: “Eu tenho uma ideologia, mas, na hora da eleição, eu me comporto de maneira diferente”. “Eu tenho uma política, mas, na hora da eleição, eu a deixo de lado e faço alianças com quem tem políticas diferentes”.

Chegamos à conclusão de que vale a pena olhar lá na frente correndo os riscos implícitos na eleição de 2006.

E por que essa decisão, Sr. Presidente? Porque está na hora de os eleitores brasileiros - o País tem mais de 100 milhões de eleitores - terem a chance de ouvir alternativas diferentes para o Brasil.

Temos - e eu considero uma sorte para o Brasil - a sorte de ter uma candidata como Heloísa Helena para Presidente - ou para Presidenta, como alguns gostam de dizer. Eu acho extremamente positivo, porque Heloísa Helena vai trazer uma proposta, vai trazer uma bandeira, vai trazer aquilo que o seu Partido, o P-SOL, considera que é o certo, com todos os riscos de que muitos dos atuais parlamentares deles não voltem, que outros líderes não se elejam, que ela própria, que teria o mandato consagrado, não volte para esta Casa. Mas eles vão defender princípios, eles vão defender bandeiras...

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Com o maior prazer, Senador José Jorge. Um minuto só.

Eles, do P-SOL, vão defender bandeiras, vão defender propostas, vão correr o risco. O PDT vai fazer isso também. Da mesma maneira que o PSDB e o PFL estão juntos, com uma coerência muito grande, e vão defender bandeiras. Da mesma maneira que o PT do Presidente Lula vai defender também as suas bandeiras.

Chegamos à conclusão de que é preciso ter um discurso alternativo. Nem as propostas que, com o todo respeito, como eu já manifestei, a Senadora Heloísa Helena defende e que, a nosso ver, estão muito além do que é possível hoje; nem aquele discurso muito parecido que vamos ter entre o candidato do PT e o candidato do PSDB e do PFL, porque, sem julgar nada do que é correto ou não, mas são propostas, a meu ver, presas ao presente, não olhando o longo prazo, e presas a dar jeito nas dificuldades brasileiras e não olhar as transformações de que o Brasil precisa.

Defendemos que são necessárias transformações profundas no Brasil, mas que elas têm que ser feitas com respeito às forças que dificultam rupturas bruscas. Defendemos que é preciso transformar com responsabilidade, que é preciso construir uma sociedade diferente, sem correr o risco de destruir aquilo que já foi feito.

Alguém tem que dizer isso. Os jovens estão caindo no acomodamento. Hoje, temo dizer que os jovens não estão nem mesmo sequiosos de uma proposta alternativa. Seria ótimo que eles estivessem. Talvez, hoje, eles nem estejam mais dando importância a propostas alternativas. Temos de despertá-los. Que pelo menos fique uma bandeira a mais de que este Brasil pode mudar daqui para a frente. Não tínhamos o direito de aceitar mesmo as reflexões tão profundas quanto àquelas das pessoas que eu já li aqui e pelas quais temos tanto respeito, como Alceu Collares, Matheus Schmidt, Jackson Lago.

Decidimos pelo lado mais difícil: ter uma candidatura própria e defender algumas bandeiras que, talvez, não estejam hoje em julgamento. E que não temos o direito de esperar mais quatro anos para que voltem.

Passo a palavra aos dois Senadores que pediram apartes: inicialmente, ao Senador Ramez Tebet, que foi o primeiro; depois, ao Senador José Jorge, para quem terei o maior prazer de passar a palavra.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - Senador Cristovam Buarque, vou pedir licença a V. Exª não para discutir o que foi debatido na convenção do seu Partido, o PDT. Não quero discutir isso aqui neste plenário, nem é hora, nem tenho o direito, porque essa foi uma decisão eminentemente partidária do PDT, ou seja, se deveria ou não ter candidato à Presidência da República, para poder ter coligações ou seja lá o que for nos Estados, inclusive até mesmo talvez pensando na cláusula de barreira. Eu não sei, não é esse o fato. Pedi o aparte para cumprimentar o PDT, porque, uma vez que decidiu ter candidato, quero dizer que o Partido vai muito bem representado para as urnas, já que V. Exª vai levar mensagem ao povo brasileiro, tenho certeza, pela pouca convivência que temos aqui no Senado - pouca não, muita convivência; mas é que eu gostaria que fosse maior a nossa convivência aqui no Senado da República; é por isso que digo pouca. Conviver com V. Exª é aprender sempre mais, e quero aprender, quero me imbuir de idéias, quero aceitar idéias, quero discutir idéias, quero discutir o que é bom para o País. E sei que V. Exª vai ocupar o tempo de televisão, vai para a praça pública, vai debater uma proposta para o Brasil, e isso é que é importante. Sei que V. Exª tem uma alta predileção, e todos nós temos, mas V. Exª, por exemplo, é entre os Senadores aquele que mais aborda o que é melhor, como deve ser a educação no nosso País. Sei que, além desse tema, V. Exª vai trazer outros, vai forçar o debate a respeito do futuro do nosso País. Quando digo futuro, V. Exª sabe que me refiro àquilo que possa ser feito daqui para frente, porque o que passou passou, não voltará jamais, como diz a canção. Há muita coisa do passado que não passou e não passará nunca, que são as idéias dos homens que têm convicção ao defendê-las, que acreditam naquilo que defendem. Essas têm perpetuidade, sim, contribuem para o presente e haverão de contribuir para o futuro. Segundo o ditado, as idéias não morrem jamais. Tenho certeza de que, ao lançar a sua candidatura, V. Exª vai honrar a confiança do seu Partido e vai fazer uma grande campanha, porque vai defender idéias, vai defender projetos possíveis de serem realizados no nosso País. Muito obrigado a V. Exª. Que seja muito feliz. Parabéns ao PDT.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Eu que agradeço a manifestação e quero pedir ao Presidente que me dê um tempo a mais, depois de conceder o aparte aos Senadores que o solicitaram.

Concedo o aparte ao Senador José Jorge.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Meu caro Senador Cristovam, em primeiro lugar, gostaria de dirigir minhas palavras aos convencionais do PDT. Acho que o PDT acertou em ter um candidato próprio, porque, como V. Exª sabe, com a verticalização, estamos com muita dificuldade para lançar candidatos nacionais, inclusive até para fazer coligações. O PPS ontem resolveu não fazer coligação, por questões estaduais. Então, é preciso ter coragem para se coligar em nível nacional e para lançar um candidato. O PFL teve essa coragem quando se coligou com o PSDB, assim como o PDT, porque vai mostrar sua proposta em nível nacional e discutir aquilo que propõe para o País. Penso que será a última vez que haverá a verticalização, mas o PDT deu um passo certo. E quero dizer que o partido de V. Exª deu o segundo passo correto quando o escolheu para candidato, porque as condições que o PDT terá para fazer campanha serão difíceis, porque não terá um tempo grande na televisão, não tem uma estrutura política muito grande. Assim, V Exª é o candidato ideal, porque tem uma proposta simples para o Brasil. E essa proposta V. Exª já a defende há muitos e muitos anos, quando esteve no Governo, como Governador do Distrito Federal, e mesmo quando esteve sem mandato, como intelectual. Enfim, V. Exª sempre defendeu uma coisa muito simples, que são o investimento na educação e a preocupação com aqueles mais pobres, porque, como V. Exª diz, aboliram a escravatura, mas ela ainda existe. Qualquer um de nós sabe a proposta de V. Exª, porque não é complexa e porque o povo pode entendê-la. Acho que o PDT acertou duas vezes: quando resolveu ter candidato próprio e quando o escolheu, porque, para as condições que o PDT terá, V. Exª é o candidato ideal para, com pouco tempo, talvez com pouca estrutura, fazer chegar a sua proposta a todos os rincões do País. Sem dúvida, terá muito apoio e dará uma grande contribuição para elevar o nível da campanha. Meus parabéns ao PDT principalmente, mas também a V. Exª. Muito obrigado.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Senador José Jorge, agradeço a referência ao PDT, mas, na segunda parte do seu aparte, quando se refere a mim, a sua afirmação fica sob suspeita pela velha amizade que temos desde a velha Escola de Engenharia de Pernambuco. Eu o recebo, com muito prazer, como colega hoje e como amigo desde tanto tempo.

Concedo o aparte ao Senador Eduardo Azeredo.

O Sr. Eduardo Azeredo (PSDB - MG) - Senador Cristovam Buarque, também quero cumprimentá-lo pela sua candidatura lançada ontem. V. Exª tem todos os predicados necessários e toda uma formação para realmente fazer uma campanha de alto nível, uma campanha que interessa ao Brasil. Evidentemente, eu, sendo do PSDB, estarei com a candidatura de Geraldo Alckmin, Governador de São Paulo. Mas fico muito feliz em ver que a campanha se enriquece com a presença de V. Exª. A presença de V. Exª vai trazer para o debate uma causa fundamental, que é a questão da educação. É uma causa que foi abraçada desde o início da sua vida pública - na verdade, desde o seu início profissional. Pude testemunhar isso naquela época em que éramos colegas Governadores. Hoje aqui, como colegas no Senado, testemunho, mais uma vez, a sua luta permanente a favor da educação. Esse é um ponto que nos une muito, e espero que esse ponto seja realmente muito discutido nessas eleições. Se houver debate de idéias e propostas exeqüíveis, realmente será um bom momento para a população se politizar melhor, sem essa questão realmente mais rasteira, que não interessa à população. O bom é que tenhamos propostas, e isso V. Exª tem de sobra. Desejo-lhe felicidades, cumprimentando o PDT pelo lançamento da sua candidatura.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Agradeço ao Senador Eduardo Azeredo, velho amigo.

Concedo o aparte ao Senador Leonel Pavan.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Hoje podemos falar que as eleições em nosso País tomam um outro rumo, começam a ser discutidas por pessoas mais bem preparadas. Há V. Exª, a Heloísa Helena, o Geraldo Alckmin e o próprio Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Mesmo sendo da Oposição ao PT, reconheço que são pessoas que têm condições de fazer um amplo debate no sentido de discutir projetos quem venham trazer melhores condições de vida ao povo brasileiro. O José Jorge disse que o PDT acertou. Eu vim do PDT, que tem uma história do trabalhismo, e acho que o PDT acertou na escolha do seu nome, mas gostaria que o PDT estivesse conosco, estivesse apoiando o Geraldo Alckmin. Como não foi possível, o PDT, em função da verticalização, lança um nome com reais chances também de disputar o segundo turno: foi Governador da Capital do Brasil, tem história, tem experiência, conhece o cheiro do povo, podemos dizer, conhece os caminhos e, num debate, saberá defender o que é melhor para a sociedade brasileira. Ficam aqui os nossos cumprimentos. Fico feliz de saber que o glorioso PDT terá à sua frente, depois de Leonel Brizola, uma figura carismática, competente como V. Exª.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Muito obrigado, Senador Leonel Pavan. Quem tem o seu nome é pedetista em qualquer Partido que for, ao se chamar Leonel.

Concedo o aparte ao Senador Sérgio Guerra, pedindo, Sr. Presidente - sei que V. Exª já vem estendendo o meu tempo -, um tempo maior para concluir.

O Sr. Sérgio Guerra (PSDB - PE) - Queria afirmar, como outros o fizeram hoje, os nossos melhores votos para uma boa campanha para Presidente da República. A gente, em Pernambuco, conhece o Senador Cristovam há muitos anos, o seu equilíbrio, a sua coerência, a sua capacidade de ser afirmativo sem ser agressivo. É um político dos que honram a vida pública brasileira, e entra numa luta difícil, por um Partido pelo qual tenho imensa simpatia, Partido que tem origem no trabalhismo, que foi desenvolvido por Leonel Brizola e que abriga quadros de excelente qualidade. Entre esses quadros, está o Senador Cristovam Buarque. Essa campanha é desigual, pois reeleição e PT não combinam senão no sentido do desequilíbrio, da disputa que não respeita as regras, que não presta atenção ao conteúdo do que deveria ser a democracia no Brasil. O que está acontecendo hoje é uma deslavada propaganda oficial, que ocupa quase 80% do tempo de exposição dos candidatos com a figura do Presidente da República. Os outros candidatos - Geraldo Alckmin, Cristovam Buarque e Heloísa Helena - ocuparão menos de 20% desse tempo. O Presidente, na nossa região, não faz uma semana, inaugurou, pela segunda vez, uma ferrovia que, neste instante, liga coisa nenhuma a coisa nenhuma, para a qual estão contratados perto de 30 milhões de obras, num programa de R$5 bilhões. O Presidente fez grande propaganda de que reabriu a Sudene, e não reabriu Sudene nenhuma. O Presidente está duplicando a BR-101 e, em nosso Estado, que deve ter uns duzentos quilômetros de rodovia, não há, seguramente, dez quilômetros de obra real. O Presidente já fez a transposição das águas do rio São Francisco, e não existe uma obra no vale do São Francisco em andamento. Esta é a regra: as grandes obras não são verdadeiras, e as obras que existiam estão paradas. Todavia, a força dessa propaganda, a massificação dessa propaganda e a falta total e completa de responsabilidade, no sentido democrático, é algo que surpreende o Brasil e com o qual vai se confrontar agora o candidato Cristovam Buarque. Tenho certeza de que o seu valor, a sua inteligência, a sua capacidade de argumentação e de convencimento farão desta eleição a mais democrática. A resistência a esse domínio desproporcional, desigual, e que produz uma falsa popularidade será mais forte com sua palavra, pela sua história, pelo conhecimento que tem de fatos brasileiros, inclusive recentes, pela sua postura como Senador e pelas propostas que terá como candidato à Presidência da República. Sempre desejei que se estabelecessem regras que permitissem uma composição do PSDB com o PDT, mas compreendo perfeitamente as razões do PDT para ter o seu candidato. Nossos votos são para que sua campanha seja a melhor e para que, no final, vença quem tenha mais capacidade de chegar aos brasileiros com palavra firme, com o exemplo da sua vida, sem contestações históricas como as que promove, diariamente, o Presidente Lula. Um candidato de 30 anos se transforma no Presidente diferente do candidato. Ao tomar posse, renuncia às convicções que subscreveu a vida toda. No Governo, produz a partidarização no mau sentido, com a chamada coligação da crise de instituições que nunca antes foram penetradas por interesses grupais, na formação de um Governo que, em vez de fazer a reforma política, fez o “mensalão”. E não fez reforma alguma para o País da qual se possa tomar nota: nem reforma tributária, nem reforma da Previdência, nem reforma agrária, nem reforma nenhuma. Fez a política de sempre, com vícios ainda mais amplos e com ortodoxia nunca antes conhecida, em um consenso que mais ninguém hoje defende, nem o Fundo Monetário Internacional. Tenho a convicção - que não é de hoje, mas que vem de muitos anos - de que vamos ter um grande candidato à Presidência da República.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Agradeço ao Senador Sérgio Guerra os elogios que fez a mim, mas tenho de diminuí-los, pela grande amizade que temos. O Senador José Jorge foi meu colega de turma de Engenharia. Tive a honra de ser professor de Economia Internacional do Senador Sérgio Guerra. Hoje, S. Exª é professor de Política.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - V. Exª é o mais velho.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Senador Sérgio Guerra, fico feliz por receber esses comentários de V. Exª, que é coordenador da campanha de Geraldo Alckmin. Digo a V. Exª e ao Senador José Jorge, candidato a vice-Presidente, que vejo em Geraldo Alckmin um homem honrado, que demonstrou muita competência gerencial. Não deixarei de reconhecer isso pelo fato de eu ser, como ele, um dos candidatos.

Concedo um aparte ao Senador Pedro Simon.

Sr. Presidente, insisto em dizer que preciso de mais um tempo para concluir minha fala.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Amanhã é o segundo aniversário da morte do Dr. Brizola. Tenho certeza de que, onde estiver, ele estará feliz em ver V. Exª disputando esse cargo. Sabemos nós todos que Brizola se esforçou para dar força para o Lula. Na primeira eleição de Lula, no primeiro turno, ele fez uma quantia insignificante de votos no Rio Grande do Sul. No segundo, com o apoio de Brizola, ele estourou com 80% dos votos no Rio Grande do Sul. O esforço que o Dr. Brizola fez no sentido de que Lula fosse adiante ficou no máximo de se candidatar a vice-Presidente com o Lula. Ultimamente, o Dr. Brizola estava muito ácido e duro com a figura de Lula. Vou ser muito sincero. Eu discordava do Dr. Brizola. Achava que, dentro do seu estilo, como ele tinha jogado tudo no Lula e não tinha acontecido aquilo que ele queria, ele estava partindo para um combate que não traduzia a verdade. Não me parecia que Lula era aquilo que o Dr. Brizola falava. Hoje, eu vejo que era. Lamentavelmente, o Dr. Brizola tinha muito mais visão, tinha um alcance muito maior do que eu. E o que ele dizia que seria a candidatura de Lula, eleito Presidente, é o que está aí. Por isso, acredito que ele estaria muito feliz com V. Exª candidato a Presidente. Que não se diga, prezado amigo Cristovam, que o PDT do Rio Grande do Sul tem restrições a V. Exª. É que há uma ansiedade no PDT do Rio Grande do Sul, um grande partido, com grandes lideranças, com grandes nomes - Matheus Schmidt é um grande Presidente, e Collares uma das maiores lideranças deste País. Eles estão ansiosos, na angústia de que, de repente, de repente, não se cumpra a cláusula de barreira. E penso que se deve fazer tudo no sentido de facilitar que isso aconteça. Com todo o carinho que tenho pelo PDT do Rio Grande do Sul, principalmente pelo Collares e pelo Matheus, mas eles estavam equivocados. Não vejo onde o nome de V. Exª pode impedir que a cláusula de barreira seja atingida pelo PDT e que o PDT leve adiante. Pelo contrário, V. Exª tem todas as condições, em primeiro lugar, junto com a Senadora Heloísa Helena, de dar uma tônica diferente a esta campanha, onde não tenhamos apenas um monólogo - parece diálogo, mas não é - entre o PSDB e o PT, onde os quatro anos que aí estão são a continuação dos oito anos que já se foram. V. Exª e a Senadora Heloísa Helena terão condições de apresentar uma proposta à altura do povo brasileiro. V. Exª é um grande intelectual. Lá em Pernambuco, já na luta pela defesa das causas da democracia, o nosso velho MDB, com Jarbas Vasconcelos, com Fernando Lyra, com Marco Maciel, com Miguel Arraes, veio para cá. No início da reconstrução da democracia, com Fernando Lira, lá estava V. Exª na chefia do gabinete, como estivera V. Exª na Universidade de Brasília, em uma iniciativa fantástica de um homem que defende as mesmas idéias que V. Exª e eu, o imortal Darcy Ribeiro. V. Exª se preparava e preparava uma equipe de professores e de intelectuais, buscando a consolidação da democracia. V. Exª terá uma grande responsabilidade. Grandes foram as qualidades do trabalhismo. Eu também vim de lá, não do PDT, porque, infelizmente, divergia do Dr. Brizola. Hoje, quando estou em um Partido em cujo comando, à exceção do Presidente, há uma legião estrangeira que eu não sei o que quer, fico a me perguntar se valeu a pena todo esforço e toda a divergência. No velho PTB, estávamos lá com o maior que era Pasqualini, com as idéias... Eu digo a V. Exª: releia Pasqualini antes da sua campanha. Pegue dois dias, há os textos que o Senado publicou. Releia Pasqualini. Meu querido Senador, hoje, eu não conheço no Brasil ninguém que tenha o alcance, que tenha a profundidade do social como o querido e velho Alberto Pasqualini. V. Exª tem a missão. O Dr. Brizola foi um grande líder, apaixonado. É impressionante neste Brasil, se nós olharmos, meu querido Cristovam, de 45 para cá as figuras que chegaram à Presidência da República, à exceção de Juscelino, e as que não chegaram. Se olhássemos as biografias de uns e de outros, nunca diríamos que Brizola não chegou, que Ulysses não chegou, que Teotônio não chegou, que Tancredo não chegou, que Covas não chegou e que Sarney, Collor e Fernando Henrique chegaram. V. Exª terá essa missão. Brizola tinha realmente grandes sonhos para este País. É claro que o discurso e a bandeira de V. Exª terão que ser atualizados num mundo onde querem que tudo seja uma unanimidade global, quando sabemos que essa unanimidade global não soma, não traz vantagens para países como o Brasil. Mas, quando vemos um homem como Lula, com suas idéias, com seu passado, com sua biografia, com sua história, ser apontado como governante de um regime do Terceiro Mundo dos mais elogiados, admirados, respeitados pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Mundial, vemos quão longe estamos daquilo que deveria ser. V. Exª haverá de levar atrás de si um grande contingente, um percentual impressionante que não aceita o que está aí, nem o PT, nem o PSDB. V. Exª tem um caminho aberto pela sua capacidade, pela sua competência. Tenho certeza que o PDT e meus companheiros do trabalhismo do Rio Grande do Sul haverão de entender, compreender, por meio de diálogo com V. Exª, que as bandeiras de V. Exª são as que eles defendem. Eu acredito que V. Exª prestará um grande serviço a este País. Meu fraterno abraço, prezado companheiro.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Muito obrigado, Senador Pedro Simon.

Acho importante dizer que o senhor sabe que, se o PMDB tivesse sido escolhido, eu não estaria aqui como candidato do PDT. Provavelmente o PDT estaria junto com o senhor. V. Exª sabe que eu teria defendido isso.

Sr. Presidente, peço mais alguns minutos para dizer por que nós tomamos a decisão arriscada de termos candidato a Presidente. É que, no processo de discussão, além de ouvir todos aqueles que ali estavam, lideranças importantes que defendiam que não tivéssemos candidato, muitos de nós, convencionais, pensamos também no que pediriam a nós os 75 milhões de pobres, excluídos, que vivem neste regime de apartheid social brasileiro. Eles pediriam que tivéssemos ou não candidato? Claro que eles queriam ouvir a voz de alguém que defendesse a abolição do apartheid social no Brasil.

O que pediriam a nós os 15 milhões de analfabetos brasileiros adultos? Que abríssemos mão de uma candidatura para fazermos alianças regionais ou que mantivéssemos o arriscado desafio de termos candidato?

O que pediriam os quatro milhões de crianças que trabalham no lugar de estudar e os quarenta milhões que, ou não estudam ou têm escola de péssima qualidade?

O que pediria uma classe média desesperada por segurança, querendo não apenas promessas de mais cadeias para hoje, como também mais escolas para resolver o problema da violência no futuro?

O povo brasileiro, se pudesse entrar naquele cenário da Convenção, certamente pediria, sim, um candidato que trouxesse uma voz de esperança sobretudo à juventude - uma voz que não vai discutir a superficialidade.

Senador João Alberto, não vamos discutir a podridão da superfície que se vê pela corrupção. Queremos ver a ferrugem da estrutura social que impede este País de caminhar pelo século XXI como uma das nações ricas.

A podridão da corrupção tem que ser limpa, mas é preciso também enfrentar e corrigir a ferrugem que está nos ossos da sociedade brasileira. Não vamos querer apenas enfrentar o problema da corrupção no comportamento de políticos, mas também a corrupção nas prioridades das políticas no uso dos recursos públicos.

Inspirado, sobretudo, por essa grande figura do nosso partido que aqui está, o Senador Jefferson Péres, vamos propor uma concertação nacional. Vamos propor que neste País se perceba que nenhum partido sozinho é capaz de governar; que nenhum presidente é capaz de governar se passar por cima dos partidos. E, como os partidos são propriamente todos pequenos, só há uma maneira de caminharmos: por meio de um grande concertamento, na linha do que fala o Senador Jefferson Perés há tantos meses nesta Casa, procurando que construamos um Brasil diferente e não apenas um Brasil que corrija pequenos problemas.

Não queremos trazer aqui o debate de “jeitinhos”. Queremos trazer o debate de uma revolução, mas não uma revolução que destrói o que já foi feito e sim a revolução que constrói a partir do que aí existe; não a revolução que tenta dar saltos ao futuro, tampouco aquela proposta que fica presa ao presente. Queremos sim uma revolução que olhe e vá ao futuro, caminhando desde os dias de hoje com as restrições, com as limitações, com as dificuldades que temos. Foi isso que o PDT decidiu ontem, sabendo do risco que corre, mas consciente de que isso é o que o povo brasileiro precisa ouvir ao longo dos próximos meses.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente. Agradeço muito a V. Exª pela generosidade quanto ao tempo.


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