Discurso durante a 92ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestação de pesar pelo falecimento do pai dos Senadores Osmar Dias e Alvaro Dias. Considerações sobre a situação da empresa aérea Varig. A crise da agricultura na Região Sul. Leitura da matéria intitulada "Bancos têm lucros com petista", publicada no jornal O Globo.

Autor
João Batista Motta (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/ES)
Nome completo: João Baptista da Motta
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA DE TRANSPORTES. POLITICA AGRICOLA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. ELEIÇÕES.:
  • Manifestação de pesar pelo falecimento do pai dos Senadores Osmar Dias e Alvaro Dias. Considerações sobre a situação da empresa aérea Varig. A crise da agricultura na Região Sul. Leitura da matéria intitulada "Bancos têm lucros com petista", publicada no jornal O Globo.
Aparteantes
Mão Santa, Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 30/06/2006 - Página 22015
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA DE TRANSPORTES. POLITICA AGRICOLA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. ELEIÇÕES.
Indexação
  • VOTO DE PESAR, MORTE, PAI, ALVARO DIAS, OSMAR DIAS, SENADOR.
  • COMENTARIO, OMISSÃO, GOVERNO FEDERAL, CRISE, EMPRESA DE TRANSPORTE AEREO, VIAÇÃO AEREA RIO GRANDENSE S/A (VARIG), EFEITO, AUMENTO, PREÇO, PASSAGEM, PAIS.
  • ANALISE, CRISE, AGRICULTURA, REGIÃO SUL, AUMENTO, DESEMPREGO, PAIS, CRITICA, POLITICA CAMBIAL, PREJUIZO, PRODUÇÃO AGRICOLA, EXPORTAÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO.
  • LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), COMENTARIO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, GOVERNO FEDERAL, FAVORECIMENTO, BANCOS, BANQUEIRO.
  • EXPECTATIVA, ORADOR, ELEIÇÃO, EX GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), PRESIDENTE DA REPUBLICA, SOLUÇÃO, CRISE, PAIS.

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PSDB - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, inicio meu pronunciamento com um voto de condolências à família dos Senadores Alvaro e Osmar Dias.

Alvaro Dias, ex-Governador do Paraná, é um dos Senadores mais atuantes desta Casa e, infelizmente, passa por essa grande dor. Espero que Deus console a todos de sua família.

Sr. Presidente, quero mostrar a esta Casa e àqueles que nos vêem e nos ouvem por meio da TV Senado aquilo que podemos chamar de “efeito Varig”.

O Governo desprezou a Varig, abandonou o seu problema e não tem coragem de enfrentá-lo, como não tem coragem de enfrentar problema algum que apareça. O resultado terrível é o seguinte: uma passagem de Brasília para o meu Estado, que, há poucos dias, custava entre R$200,00 e R$300,00, hoje, custa R$1.488,22. Se se quiser viajar para Marabá, no Estado do Pará, do outro lado, gastam-se R$1.547,00. Isso quer dizer que um cartel está sendo formado. Já não há vagas nos aviões, estão todos superlotados! E a Varig, que contrabalançava esse mercado com a sua concorrência, infelizmente, está, assim como os seus funcionários, em situação delicadíssima.

Enquanto isso, vamos, então, viajar de carro. Só que também nas estradas não se pode trafegar, Presidente Marcos Guerra. As estradas, a cada dia, pioram. A tão propalada recuperação falhou. Não há mais operação tapa-buraco neste País. As estradas estão todas esburacadas, sucateadas; estou me referindo às rodovias federais, que são as principais do País. Mas, se o cidadão tiver coragem de enfrentá-las, há outro problema. Antigamente, havia muitos assaltos à noite. Hoje os assaltos estão ocorrendo à luz do dia! Os brasileiros não têm condições de pegar a estrada, com sua família, para fazer uma viagem. A cada dia que passa, Senador Paulo Paim, as coisas pioram. E quanto às providências? Não há nenhuma.

Sr. Presidente, outro assunto que me chama a atenção e que quero tratar aqui foi veiculado pelo programa Bom Dia Brasil, da Rede Globo, dia 27, portanto, há três dias: a crise da agricultura na Região Sul do País - tenho, aqui, o DVD no bolso. A reportagem mostra que, com a falência da agricultura, está ocorrendo demissões nas indústrias de caminhões e tratores do Sul do País; além disso, vê-se o desespero dos metalúrgicos desempregados naquela Região! Um fato lamentável! Alerto à Rede Globo que isso não acontece apenas no Sul do País, não; está generalizado por todo o País! No interior, onde há agricultor, há também a mão maléfica do Governo Federal, há desespero, há dor.

O Ministro demissionário, Roberto Rodrigues, deixou a Pasta apontando o câmbio como o responsável pela sua saída do Ministério, levando a pecha de “Ministro da crise na agricultura”.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - V. Exª me concede um aparte?

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PSDB - ES) - Concedo o aparte ao Senador Paulo Paim, com muito prazer.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador João Batista Motta, se V. Exª me permitir, vou falar dos três assuntos tratados por V. Exª, mas prometo ser breve; sei que o nosso Presidente vai ser tolerante nesta tarde de quinta-feira. Em primeiro lugar, quero dizer que tenho esperança de que a falência da Varig não seja decretada. Ainda ontem, falava com o Presidente da Anac, Sr. Milton Zuanazzi, também gaúcho, que me dizia que a Anac deu sinal verde, dentro da legalidade, com um critério muito rigoroso, para que, efetivamente, o Volo pudesse se apresentar como o futuro comprador da Varig, numa parceria com a VarigLog e com os trabalhadores da Varig, possibilitando que a empresa volte a voar. O Volo, nesses últimos dias, já depositou cerca de US$20 milhões antecipadamente para que a Varig continue no cumprimento de suas responsabilidades financeiras. O próprio presidente da Varig tem dito que vê com simpatia a proposta do Volo. Por outro lado, é provável que seja aberto novo leilão para que o Volo, inclusive em parceria com o consórcio dos trabalhadores, possa adquirir a Varig. O que queremos é isto: que haja outros acionistas e que ela volte a voar normalmente. Sei também que a BR Distribuidora está garantindo, por um tempo maior, o combustível. Por isso, tenho esperança. Digo sempre que coragem e otimismo caminham juntos, e sei que esta é uma marca de V. Exª, que ainda nos dá essa chama de esperança. Que essa chama continue acesa a iluminar os aeroportos e os céus do País, ratificando a expectativa de todos nós. Concordo com V. Exª quando afirma que, se a Varig parar de voar, os preços das passagens aéreas vão disparar. Na verdade, disse V. Exª, já dispararam!

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PSDB - ES) - E o povo vai pagar.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - O povo vai pagar. A segunda questão de que trata V. Exª, com a qual também estou preocupado - e confesso até já ter marcado uma audiência com o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, coisa que raramente faço, mas o fiz devido à gravidade dos fatos; S. Exª vai receber grande parte do PIB gaúcho -, é a relacionada ao calçado, ao agronegócio, à metalurgia - até porque também sou metalúrgico e V. Exª me deu o gancho - e também às situações de máquinas agrícolas e caminhões, já que está ocorrendo demissões nessa área. Por último, quero dizer que sempre tive e continuo a ter muito respeito pelo Ministro Roberto Rodrigues. Ele foi um grande Ministro. Lamento a saída dele. Todas as vezes que precisei fazer contato com o Ministério, ele sempre me atendeu de pronto. Nunca houve uma única vez em que eu não pudesse falar com o Ministro Roberto Rodrigues. Lamentei muito a saída dele, repito. Tenho a certeza de que o Ministro Roberto Rodrigues sempre estará a serviço do País. Desculpe-me tomar parte do tempo de V. Exª, durante este aparte, para fazer uma pequena homenagem ao Ministro Roberto Rodrigues. É que S. Exª merece.

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PSDB - ES) - Senador Paulo Paim, eu conheço V. Exª e sei dos seus propósitos, que são os mesmos que os nossos. Nós queremos o bem deste País; não queremos o mal do Presidente Lula e sequer desejamos isso a nenhum outro presidente. O que queremos é que este País entre nos trilhos. Gostaria que o Ministro Roberto Rodrigues tivesse sido apoiado; queria que o Ministro Roberto Rodrigues pudesse ter implantado aquilo que ele sempre sonhou, mas que não teve a oportunidade de fazê-lo neste Governo. Ele não foi prestigiado o suficiente para fazer o que era necessário por nossa agricultura. Ele aponta como a pior causa da crise da agricultura o problema do câmbio: o dólar desvalorizado e o real valorizado. Quando o Presidente Bush pediu à China para valorizar a moeda chinesa, eles disseram que não; que queriam exportar e não importar. E não deram atenção aos Estados Unidos. Nós, fizemos o contrário. O Ministro Roberto Rodrigues não é o único a apontar o dólar e o câmbio como causa maior do problema. Todas as industriais deste País, todos os agricultores, todos os exportadores sabem que o dólar, no preço que está, é o responsável por essa crise. O mais interessante, Senador Paulo Paim, é que só o Presidente Lula não vê. Será que não vê mesmo? E por que o Ministro da Agricultura também não vê?

Outro dia, em um discurso, o Presidente disse que não se mexe em câmbio por decreto. Então, por que o Governo interferiu no mercado, há alguns dias, quando o dólar começou a subir, ou melhor, quando o real começou a baixar? Por que o Governo Federal então fez tal interferência? Por que é que ele não quer que se mexa no câmbio? O certo, Senador, é que deve haver algum interesse oculto por trás dessa política.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador João Batista Motta...

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PSDB - ES) - Com satisfação, Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - V. Exª é de Vitória, Espírito Santo. Acho que é o Divino Espírito Santo que pousa em sua inteligência, pois sua argumentação é tão lúcida e tão forte. Muitos meses atrás, fui a uma recepção no valoroso Estado do Piauí. Sou do PMDB de verdade, do PMDB de história, que não se vende. Chegando ao nosso cerrado, na cidade de Uruçuí, onde há um entreposto de beneficiamento da soja da Bunge, levada em meu Governo, Senador, fiquei perplexo, pois, ao saltar no aeroporto, vi, nos carros, adesivos com a cara barbuda de Lula. Pensei até que o povo tinha errado, que era o Governador do Piauí, do PT, mas aí eu me aproximei e li - isso lá entre os que produzem, no cerrado do Piauí. O adesivo tinha a cara do Lula, mas tinha a frase do povo do Piauí, com a sua coragem: “Lula, a maior praga da agricultura do Brasil”.

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PSDB - ES) - Obrigado, Senador Mão Santa.

Sr. Presidente, espero receber a bondosa compreensão de V. Exª porque eu estava aqui me referindo à situação calamitosa em que se encontra o homem do campo, às empresas que não podem exportar, aos empregos que estão sendo transferidos para outros países, principalmente para a China, e aos empregos que estão sendo cancelados neste nosso querido Brasil. Enquanto outros países crescem hoje a taxas maiores, nós ficamos marcando passo e deixando para fazer o crescimento econômico no dia em que o mundo não viver o momento que está vivendo hoje: um momento de progresso.

Sr. Presidente, para terminar, preciso dizer quem são os beneficiários dessa política e quem está levando vantagem neste País hoje, mas não vou fazê-lo com as minhas palavras. Vou ler uma matéria do jornal O Globo, cujo título diz o seguinte: “Bancos têm lucros recordes com petista”.

Em seu governo, banqueiros ganharam mais.

O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem-se apresentado como uma espécie de “pai dos pobres”, mas poderia ser chamado de padrinho dos banqueiros. Foi em seu Governo que os bancos alcançaram os maiores lucros, em 2004 e 2005. No ano passado, quatro dos cinco maiores bancos do país atingiram marcas históricas. O Bradesco contabilizou o maior ganho entre as instituições financeiras de toda a América Latina: R$5,514 bilhões [Senador Paulo Paim, V. Exª pode estar entendendo que são milhões. Não, são bilhões]. O Itaú lucrou R$5,2 bilhões; o Banco do Brasil, R$4,1 bilhões; a Caixa Econômica Federal, R$2,073 bilhões; o Unibanco, R$1,838 bilhões; e o Santander Banespa, R$1,643 bilhões.

Pesquisa do Banco Central indicou que, juntos, os bancos lucraram em 2005 R$28,3 bilhões, montante mais de quatro vezes maior que o investido no Programa Bolsa Família no ano passado (R$6,5 bilhões) e suficiente para a construção de 1,4 milhão de casas populares. Segundo especialistas, o lucro recorde dos bancos foi resultado da combinação da política de altas taxas de juros, com a expansão da oferta de crédito.

Sr. Presidente, coitado do nosso País! Graças a Deus, teremos eleições este ano. A Senadora Heloísa Helena é candidata à Presidência da República, assim como o Senador Cristovam Buarque e o ex-Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. São todos experientes, religiosos, pessoas de família, enfim, pessoas excelentes. Geraldo Alckmin, além disso, já provou ser um grande gerente, um grande administrador. Provou o respeito que tem com o dinheiro público. Milhares de brasileiros ainda não o conhecem, mesmo ele tendo mais de 20 anos de vida pública...

(Interrupção do som.)

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PSDB - ES) - E por que, em muitos lugares deste País, ninguém conhece o ex-Governador Geraldo Alckmin? Senador Mão Santa, porque ele não gastou o dinheiro do povo para se promover por todo o Brasil; ele não distribuiu ambulâncias pelo Brasil afora como fez, no passado, Paulo Maluf, nem deu presentes a ninguém por este País.

Portanto, Sr. Presidente, que Deus ilumine o povo brasileiro, para que possamos ter, no ano que vem, um grande gerente para este País, um homem honesto, um homem direito, um homem trabalhador; um homem que, por certo, não deixará as estradas deste País na situação em que estão hoje, e nem deixará o câmbio fazer que os nossos agricultores, os nossos homens que vivem no campo, responsáveis pelo equilíbrio da balança de pagamentos, fiquem abandonados, desprezados, para que este País possa crescer.

Que Deus nos ilumine e que o povo saiba e vote em um homem de garra, de peito e de respeito como Geraldo Alckmin.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/06/2006 - Página 22015