Discurso durante a 158ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Registro de visita feita hoje ao Banco Central, por parlamentares do PFL e do PSDB, a fim de buscar informações sobre os dólares do episódio do dossiê contra a candidatura Alckmin e Serra. Destaque para a importância de um segundo turno nas eleições presidenciais e esperança de que o Presidente Lula revele a origem dos dólares apreendidos pela Polícia Federal, no debate de hoje à noite na TV-Globo.

Autor
José Jorge (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: José Jorge de Vasconcelos Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Registro de visita feita hoje ao Banco Central, por parlamentares do PFL e do PSDB, a fim de buscar informações sobre os dólares do episódio do dossiê contra a candidatura Alckmin e Serra. Destaque para a importância de um segundo turno nas eleições presidenciais e esperança de que o Presidente Lula revele a origem dos dólares apreendidos pela Polícia Federal, no debate de hoje à noite na TV-Globo.
Aparteantes
Heráclito Fortes, João Batista Motta, Sergio Guerra.
Publicação
Publicação no DSF de 29/09/2006 - Página 29635
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, VISITA, SENADOR, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), OBJETIVO, OBTENÇÃO, INFORMAÇÕES, ORIGEM, DINHEIRO, UTILIZAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), AQUISIÇÃO, DOCUMENTO, PREJUIZO, CANDIDATURA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
  • NECESSIDADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ESCLARECIMENTOS, POPULAÇÃO, ORIGEM, DINHEIRO, CORRUPÇÃO, GARANTIA, DEMOCRACIA, ELEIÇÕES, REGISTRO, INFERIORIDADE, EVOLUÇÃO, INVESTIGAÇÃO, POLICIA FEDERAL.
  • EXPECTATIVA, PARTICIPAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEBATE, TELEVISÃO, ESCLARECIMENTOS, CORRUPÇÃO, SOLICITAÇÃO, POPULAÇÃO, ATENÇÃO, DISCURSO, CHEFE DE ESTADO, ANALISE, PESQUISA, OPINIÃO PUBLICA, ELEIÇÕES, POSSIBILIDADE, RESULTADO, SEGUNDO TURNO, PEDIDO, ELEITOR, VERDADE.
  • LEITURA, TRECHO, LEGISLAÇÃO ELEITORAL, CASSAÇÃO, REGISTRO, CANDIDATURA, ELOGIO, JUSTIÇA FEDERAL, QUEBRA, SIGILO BANCARIO, SIGILO, TELEFONE, ACUSADO, CORRUPÇÃO, COMENTARIO, ORADOR, RISCOS, IMPUGNAÇÃO, CANDIDATO, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • ACUSAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, AMEAÇA, POLITICA, DEMOCRACIA, BRASIL, MANIPULAÇÃO, POPULAÇÃO, DENUNCIA, ORADOR, PROTEÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • REGISTRO, RECUSA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEBATE, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
  • REGISTRO, CONFIRMAÇÃO, PRESENÇA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEBATE, TELEVISÃO, MOTIVO, PREPARAÇÃO, SEGUNDO TURNO, ELEIÇÕES.
  • REGISTRO, DADOS, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), INFERIORIDADE, CRESCIMENTO, PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB), BRASIL, COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, IMPRENSA, AMBITO INTERNACIONAL, PERDA, LIDERANÇA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AMERICA LATINA, MOTIVO, CORRUPÇÃO, INCOMPETENCIA, ANALISE, HISTORIA, CHEFE DE ESTADO.

            O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, esta manhã, os Senadores Tasso Jereissati e Heráclito Fortes tiveram de ir à sede do Banco Central para tentar conseguir informações sobre a origem do dinheiro usado para comprar o dossiê contra a candidatura Alckmin e Serra, R$ 1,75 milhão em dinheiro vivo.

            Esse gesto, quase um grito por justiça, é o último recurso da Oposição para alcançar a verdade que assombra o Governo Lula: a origem dos recursos que financiaram o crime, que está sendo escondida da população brasileira até o próximo domingo, quando ocorrerá o primeiro turno da eleição.

            Isto é, foi praticado, há uma semana, um grave crime eleitoral por dois petistas que apóiam a candidatura do Presidente Lula à reeleição e a do Senador Mercadante ao Governo do Estado. Um deles é o tesoureiro da campanha em Mato Grosso - onde fica a sede da Planam e onde se desenvolvem suas operações -, e o outro, assessor da coordenação geral da campanha do Presidente Lula aqui em Brasília. Os dois foram presos após serem pegos em um hotel com R$ 1,75 milhão em espécie. Isso ocorreu já há quase 15 dias e ainda não se sabe a origem desse dinheiro. A Polícia Federal até agora não fez esclarecimento algum sobre essa questão.

            Tenho dito aqui, Senador Marco Maciel, que, mais que a Polícia Federal, quem deveria dizer de onde veio esse dinheiro era o Presidente Lula, porque a Polícia Federal, evidentemente, tem dificuldades em saber, mas o Lula não, porque todos os envolvidos nesse caso - o Sr. Jorge Lorenzetti e os demais, inclusive o Freud Godoy - são amigos íntimos do Presidente. Bastaria o Presidente Lula promover uma reunião, talvez até um churrasco com o Sr. Lorenzetti, e perguntar de onde veio o dinheiro, esclarecendo, depois, esse fato à Nação brasileira.

            Então, estamos atrás da Polícia Federal e do Banco Central para tentar identificar isso antes das eleições, por uma razão muito simples: se a eleição for realizada no domingo, sem que se saiba a origem desse dinheiro, ela estará viciada; não será feita dentro dos moldes que se espera de uma eleição em um País democrático.

            O que os dois Senadores citados conseguiram apurar foi que a Polícia Federal e o Ministério da Justiça ainda não pediram informações sobre a origem do dinheiro. Isto é, passadas duas semanas do flagrante envolvendo os amigos de Lula, a Polícia Federal ainda não pediu ao Banco Central para identificar de onde veio esse dinheiro, mesmo porque cerca de um terço do dinheiro estava em notas de dólar, no valor de US$ 250 mil.

            Os avanços da Polícia Federal, nesse período, foram pífios. Os jornais de hoje informam que o homem-da-mala do mais novo escândalo do Governo é o coordenador da campanha de Aloizio Mercadante, Hamilton Lacerda. Outro petista! Mais um petista envolvido.

            Na realidade, acredito até que o Sr. Hamilton Lacerda esteja envolvido, pois ele foi à revista IstoÉ para negociar a entrevista dos Vedoin e, depois, a matéria contra Serra e Geraldo Alckmin. Ele pode até estar envolvido. Agora, não se pode culpar somente a campanha do Senador Mercadante por uma razão simples: entre as principais pessoas envolvidas estão Valdebran Padilha, Gedimar Passos, Jorge Lorenzetti, Oswaldo Bargas, Expedito Veloso, Freud Godoy, e nenhum deles é de São Paulo. De todos os envolvidos, nenhum está diretamente ligado à campanha do Senador Mercadante, exceto esse Hamilton Lacerda. Os outros são ligados à campanha do Presidente Lula. O Freud Godoy é assessor direto de Lula; o Sr. Jorge Lorenzetti, além de amigo de Lula, é Diretor do Banco do Estado de Santa Catarina, que é um banco federal, e é, como todos sabem, o churrasqueiro de Lula. Aparentemente, foi ele quem deu a ordem para fazer a operação.

            Diga-se de passagem, hoje a Internet já está mostrando que o Sr. Jorge Lorenzetti, finalmente, pediu demissão do Banco. Quer dizer, também é culpado, tanto que pediu demissão. Então, o Sr. Jorge Lorenzetti já pediu demissão; o Sr. Expedito Veloso já pediu demissão; e todos eles vão saindo do Governo. Eram todos funcionários do Governo que estavam sendo utilizados para comprar dossiês, com dinheiro vivo, para prejudicar as candidaturas do Ministro Serra e do Governador Geraldo Alckmin.

            Então, foi ele, Hamilton Lacerda, de acordo com as notícias da Polícia Federal, quem entregou a mala com o dinheiro ao advogado Gedimar Pereira Passos e ao empresário Valdebran Padilha, no hotel Ibis, em São Paulo, no último dia 14.

            Pelo que a Polícia Federal tem dito à mídia, esse dinheiro chegou por intermédio do Sr. Hamilton Lacerda, o que se descobriu pelo fato de ele ter sido filmado pelas câmeras do hotel. Todos os hotéis têm câmeras nos corredores, e ele foi visto com uma mala de dinheiro, entregando-a aos Srs. Gedimar Pereira Passos e Valdebran Padilha.

            Agora, é preciso saber de onde veio esse dinheiro; se veio somente da campanha de São Paulo ou se veio da campanha nacional, porque, se for só de São Paulo, não há por que essas pessoas todas participarem. Na realidade, se houve uma participação específica da campanha do Senador Aloizio Mercadante, também houve da campanha nacional. Não foi uma operação paulista, mas brasileira.

            Além disso, quase nada se sabe. De onde veio o dinheiro? Esta é a grande pergunta. Nós queremos saber a verdade. Para que a eleição seja realizada, nós temos que saber de onde veio o dinheiro. Queremos saber a verdade.

            O Presidente Lula, pelo que se noticia, finalmente decidiu ir ao debate de hoje. Vai participar do debate na Rede Globo. Espero que ele use essa oportunidade para dizer ao povo brasileiro de onde veio esse dinheiro. Imagino que, hoje pela manhã, ele deve ter chamado o Sr. Lorenzetti, o Sr. Valdebran, o Freud, todos esses seus assessores, exigido um esclarecimento - se é que ele não já sabia; é o que imagino - e que vá dizer isso na televisão ao povo brasileiro.

            Então, peço que todos assistam hoje, com a maior atenção, ao debate, as palavras do Presidente Lula. Tenho certeza de que ele, como Presidente da República e candidato à Presidência, não quer chegar ao dia da eleição carregando esse fardo.

            Lula diz que as pesquisas estão favoráveis. Realmente, as pesquisas ainda são favoráveis ao Presidente Lula, mas já foram mais favoráveis. Vemos uma clara tendência de crescimento de Alckmin e de a eleição ir para o segundo turno, o que, aliás, é bom para a democracia brasileira, porque, com o segundo turno, haverá tempo de esclarecermos de onde veio esse dinheiro. Então, o Presidente Lula terá que esclarecer de onde veio o dinheiro e que não houve participação dele nisso. E, se houve, ele não poderá mais ser candidato, porque estamos no meio de um processo eleitoral.

            Trouxe, Sr. Presidente, esta última lei referente ao processo eleitoral, a Lei nº 11.300, de 2006, que versa:

Art. 22. (...)

(...)

§ 3º O uso de recursos financeiros para pagamentos de gastos eleitorais que não provenham da conta específica de que trata o caput deste artigo implicará a desaprovação da prestação de contas do partido ou candidato; comprovado abuso de poder econômico, será cancelado o registro da candidatura ou cassado o diploma, se já houver sido outorgado.

§ 4º Rejeitadas as contas, a Justiça Eleitoral remeterá cópia de todo o processo ao Ministério Público Eleitoral (...)

            Então, na verdade, isso é gravíssimo. O fato de se estar num processo eleitoral com R$ 1,75 milhão em dinheiro, para comprar um dossiê contra os adversários, pode resultar em cassação da candidatura. E nós não queremos isso. Nós não queremos ganhar no “tapetão”. Nós queremos ganhar na eleição. Mas para isso é preciso que o Presidente Lula esclareça o episódio até o próximo domingo. Hoje já não haverá mais campanha eleitoral depois do debate.

            Ele dizia: “Não, não posso dizer, porque a Oposição vai querer tirar proveito eleitoral”. Nós não temos mais condições de tirar proveito, porque a campanha eleitoral termina hoje à noite, antes do debate. O debate é a última etapa da campanha e, portanto, o Presidente Lula não terá prejuízo algum em revelar ao Brasil, hoje, pela Rede Globo, com audiência altíssima, a verdade sobre esse dinheiro. É isso que o Brasil espera dele hoje. Se ele não fizer isso, se ele for ao debate e não fizer isso, será melhor que não vá, porque vai ficar incompleta a sua participação no debate.

            Do Poder Judiciário e do Ministério Público não se pode reclamar. Eles têm cumprido com lisura suas funções constitucionais. A Justiça Federal já decretou a prisão dos seus principais envolvidos, inclusive do secretário particular de Lula, Freud Godoy. Aliás, Senador Sérgio Guerra, nunca houve um Presidente, aqui no Brasil, para ter tantos amigos com prisão decretada ao mesmo tempo. São seis amigos dele que tiveram a prisão decretada. Diga-se de passagem, eles só não estão presos porque a legislação eleitoral não permite que alguém seja preso uma semana antes da eleição. Eles estão soltos, mas, na próxima terça-feira, serão presos exatamente para que se comece a esclarecer esse fato.

            É verdade que o delegado da Polícia Federal de Mato Grosso reclamou da prisão. Eu até disse aqui ontem que é a primeira vez que vejo um delegado reclamar de prisão de criminosos. Primeira vez, porque a prisão não afeta a investigação, não piora a investigação em nada; se não melhorar, pelo menos piorar não piora.

            Agora, também os sigilos telefônico e bancário dos criminosos foram quebrados pela Justiça e há esperança de que do exame do material possa emergir toda a trama criminosa.

            Dois foram pegos com dinheiro na mão. Esses dois são criminosos, porque estavam, dentro de um processo eleitoral, tentando comprar um dossiê. É crime eleitoral e crime comum. Eles estão presos e começaram a dizer quem foram as pessoas que os mandaram fazer isso: Freud Godoy, Lorenzetti...

            Também há outros dois. O Diretor do Banco do Brasil, Sr. Expedito Veloso, que, diga-se de passagem, também foi demitido, esteve em Mato Grosso e participou das ligações. Ele já foi qualificado como participante do processo.

            Precisamos saber para quem esse pessoal ligou. Quebrando os sigilos telefônico e bancário deles, verificaremos quem foram aqueles outros que participaram da trama. A Justiça Federal fez muito bem em quebrar os sigilos bancário e telefônico dessas pessoas.

            Enquanto isso, o Governo Federal nada faz. Ao contrário: em vez de ajudar e aplaudir a iniciativa do Judiciário, o Presidente veio a público para dizer que a prisão é jogada política.

            Ora, meus amigos, foram encontrados dois petistas da campanha nacional do Presidente Lula com o equivalente a R$ 1,75 milhão dentro de uma mala, para comprar um dossiê. A Justiça Federal manda prender essas pessoas a pedido do Ministério Público Federal, e o Presidente Lula diz que isso é uma jogada política! Jogada política de quem? Deve ser dele mesmo, porque foram eles que fizeram toda essa falcatrua.

            A Oposição não tem nada a ver com isso; é vítima disso. Ela não tem nada a ver com a prisão, com nada; foi a Polícia Federal que os prendeu, a partir de gravações do telefone do Vedoin, que estava sendo gravado com autorização da Justiça Federal.

            Além de agredir um dos Poderes da República, Lula ameaça as instituições, pois declarou o seguinte: “Eu, às vezes, me pergunto se o estrago será para quem está pedindo a prisão dessas pessoas, porque a impressão que tenho é que há precipitação nos fatos”. Quer dizer, há precipitação. Qual é a precipitação? Nós estamos em cima da eleição. Eles são pegos com o equivalente a R$ 1,75 milhão e há precipitação? Não há precipitação nenhuma; pelo contrário, o que há é uma investigação muito vagarosa. Se o Judiciário e o Ministério Público são precipitados, o que dizer do ritmo impresso pela Polícia Federal na operação do delito eleitoral? A passo de tartaruga, não chegaremos à verdade nem antes do segundo turno, no dia 29 de outubro.

            Outro exemplo de desapreço pelas instituições é a iniciativa do Partido dos Trabalhadores em reclamar, junto ao Conselho Nacional do Ministério Público, da atuação do Procurador da República Mário Lúcio Avelar. O Conselho foi criado na reforma do Judiciário - eu fui o Relator da matéria - para investigar e punir os Procuradores que abusarem de suas funções. Ora, o Procurador Mário Lúcio Avelar, na verdade, não abusou de nada; ele apenas pediu a prisão das pessoas que estão envolvidas nesse processo, inclusive de algumas que já prestaram depoimento na Polícia Federal e confessaram o seu envolvimento, além dos dois que foram presos com o equivalente a R$ 1,75 milhão.

            Então, o Presidente Lula culpou o Presidente do PT, Ricardo Berzoini, um dos envolvidos. O Presidente Lula disse que foi ele, com um bando de pessoas desqualificadas - não me recordo agora o termo exato usado -, quem, na realidade, comandou o processo.

            Não somos nós que estamos dizendo, não foi a Oposição que falou; foi o Presidente Lula que disse que foi o Ricardo Berzoini, tanto que o Presidente Lula o tirou da coordenação da campanha.

            Então, o Presidente Ricardo Berzoini é, praticamente, réu confesso, porque, quando foi ouvido pela imprensa, ele disse: “O Presidente Lula falou, está falado”. Quer dizer, o Presidente Lula tem razão em tirá-lo da coordenação da campanha por ele estar envolvido com esse “dossiegate”, pois é ele, um dos envolvidos, que vai ao Ministério Público reclamar contra o Procurador.

            Queremos, portanto, dizer da solidariedade da sociedade brasileira ao Procurador e pedir ao Conselho Nacional do Ministério Público que arquive, que nem examine essa representação, porque ela realmente não tem razão de ser.

            Depois de acusado pelo próprio Lula de chefiar os “meninos aloprados” - essa foi a expressão que o Presidente Lula usou -, Berzoini deveria repensar o seu ímpeto acusatório, em especial atacando um Procurador da República concursado e sobre cuja reputação não repousa qualquer mancha, ao contrário do Ministro Berzoini, que é um dos acusados, e do próprio PT, porque todos os jornais do Brasil, em todos os artigos, reclamam hoje da forma criminosa como o PT vem tratando a política brasileira, inclusive colocando as instituições democráticas em risco, como está acontecendo agora com esta eleição.

            Segundo o artigo da Lei que aprovamos neste plenário, na última reforma eleitoral, “o crime de utilização de recurso fruto de caixa dois ficou bastante agravado. Essa já é uma lei nova, aprovada este ano. O texto que aprovamos diz: “O uso de recursos financeiros para pagamentos de gastos eleitorais que não provenham da conta específica de que trata o caput deste artigo implicará a desaprovação da prestação de contas do partido ou candidato. Comprovado o abuso de poder econômico, será cancelado o registro da candidatura ou cassado o diploma, se já houver sido outorgado”.

            Imaginem, Srs. Senadores, se isso tivesse ocorrido com um candidato a Governador. Vamos pensar que dois assessores de um candidato a Governador, em um Estado qualquer do Brasil, fossem pegos com R$ 1,75 milhão para comprar um dossiê contra um adversário. No outro dia, todos iriam achar que a candidatura desse Governador deveria ser impugnada.

            Agora, na verdade, não está havendo um exagerado contra o Presidente Lula; está havendo uma proteção ao Presidente Lula. Como ele é um candidato a Presidente, como é o atual Presidente, ninguém, nem nós da Oposição, - eu imaginava que também ninguém do Governo - tem interesse em que a eleição fique sub judice, para que o País não fique como o México, em que um lado ganha e o outro não aceita.

            É necessário que os perdedores aceitem. Quando Lula ganhou, na eleição passada, no segundo turno, todos aceitamos: “tudo bem, vamos bater palmas para Lula, vamos para a oposição”. Esta eleição tem que ser assim. Para isso, é necessário que esse pessoal respeite as regras democráticas, respeite as regras de convivência.

            Concedo um aparte ao Senador Sérgio Guerra.

            O Sr. Sérgio Guerra (PSDB - PE) - Senador José Jorge, é importante o seu discurso de hoje. Chamo a atenção para o comentário, feito há poucos minutos, de que o Presidente está sendo preservado, está sendo protegido. Rigorosamente, a história deste ano e de parte do ano passado é uma história que os fatos já caracterizaram com muita clareza para um bom entendedor. Com relação à primeira denúncia e à evidente relação do Planalto com ela, no primeiro momento, a Oposição afirmou que queria o esclarecimento dos fatos e que não prejulgava ninguém. O que desejávamos era que as CPIs fossem instaladas. O PT teve uma enorme resistência à instalação dessas CPIs. Somente o aparecimento de novos fatos sobre esse primeiro episódio do mensalão e episódios correlatos é que fizeram com que o Congresso, no plural, fizesse a instalação da CPMI dos Correios. A resistência foi muito forte. Desde o primeiro instante, as Lideranças mais responsáveis do Congresso Nacional preservaram o Presidente da República. Todos pediram - e se empenharam para isso - que o Presidente esclarecesse a participação do Planalto e do Governo no episódio, o que não aconteceu. A partir de um determinado momento, o Presidente Lula começou a dizer que aqueles episódios que caracterizaram desvio de procedimento e corrupção eram habituais na vida pública brasileira. Lembro-me bem de uma entrevista em Paris em que o Presidente Lula, sentado em uma cadeira dourada, disse que tudo aquilo era conseqüência de um ambiente eleitoral e político que já vinha de muitos anos no Brasil. Foi uma explicação que um Presidente da República, de qualquer Partido, com o mínimo de responsabilidade e compromisso democrático, não podia dar. O tempo e os fatos foram evoluindo, e o Presidente e os seus foram se envolvendo nesses fatos de forma mais óbvia a cada dia. Demorou muito para que Lideranças como os Senadores José Jorge, Jorge Bornhausen, Arthur Virgílio, Tasso Jereissati e outros indicassem o Presidente da República como o centro da responsabilidade por esses atos. A posição de S. Exªs não foi apressada. Ela se deu com o tempo, com vagar, reflexão e respeito às instituições. Não é essa a contrapartida do PT. A campanha de Geraldo Alckmin para Presidente e José Jorge para Vice-Presidente tem uma característica essencial: tem sido moderada, tem sido legal, não tem sido agressiva, nunca foi ofensiva a ninguém, muito menos ao Presidente da República. De outro lado, a campanha do Presidente Lula, no primeiro momento, fez uma espécie de comemoração de atos econômicos falsos e de atos sociais também enganadores. No segundo momento, o Presidente começou em outro padrão, aquele utilizado no auge da crise do mensalão. Qual padrão? Rico contra pobre, povo contra as elites. Ele, Lula, o protetor dos pobres; nós, a Oposição, os defensores da elite e dos privilégios. Nada mais falso, nada mais antidemocrático, nada mais irresponsável do ponto de vista da Nação e da democracia, nada mais insincero. O Presidente não respeitou a democracia, nem o padrão de comportamento da Oposição e agora não respeita as regras da campanha eleitoral.

            Os seus comitês se juntam para montar uma operação fraudulenta e criminosa, que a Polícia Federal faz questão, não por sua vontade própria, mas seguramente por influência superior, de não desvendar até o dia das eleições. A origem do dinheiro, como disse o Senador José Jorge, todos já sabem. Menos nós e o povo. Mas não há dúvida de que o restrito ambiente do Presidente sabe disso. Os que estão envolvidos são seus amigos, são da sua intimidade. No entanto, não aparece o responsável verdadeiro por esses recursos e onde o crime começou a ser estruturado, para que, no final, fosse surpreendido. Penso que nós, da Oposição - que vamos para o segundo turno e que desejamos ganhar no segundo turno -, vamos chegar ao segundo turno com uma política segura, crítica, honesta, consistente com o que sempre fizemos e com aquilo que dizemos. Que tenhamos absoluta clareza neste instante, a clareza que o nosso candidato pernambucano a Vice-Presidente da República tem hoje de expor as idéias com moderação e absoluta segurança. Não estamos preocupados com o debate com o Presidente Lula. O Presidente Lula é que está preocupado com o debate. Vamos para um debate, provavelmente hoje à noite, em que os candidatos da Oposição - no plural - não podem ser defensivos, porque não há como serem ofensivos em relação a eles, mas em que o Presidente da República não terá alternativa, não por conta dele, mas por conta dos fatos que o envolvem, senão a de ser constantemente defensivo. Não tenho a menor dúvida - é uma opinião pessoal - de que seu discurso será populista. Dirá que está sustentando os pobres, que não está servindo aos ricos, que os ricos não gostam dele - e como gostam. Gostam até demais, não os ricos, mas os muito mais ricos. Os que são ricos demais estão muito satisfeitos com o Presidente da República. Não estão satisfeitos com o Presidente da República os que produzem tecidos, por exemplo, os que têm confecções, porque estão tendo que fechar suas fábricas. Os que produzem calçados, que empregam milhares e milhares de trabalhadores, estão tendo que fechar suas fábricas. Os profissionais da agricultura e do agronegócio, que seguram a economia deste País, estão tendo seus negócios rigorosamente inviabilizados. Uma parcela grande da indústria brasileira é obrigada a exportar, não porque é bom negócio exportar, mas porque não tem como vender para o mercado interno, porque nem proteção econômica a política externa deste Presidente é capaz de fazer. Entram aí, às toneladas, resultados de acordos desastrosos de produtos chineses de outra origem, normalmente falsificados. Proteção do ponto de vista de fronteira não existe, nem contra o contrabando, nem contra o contrabando de armas. É um País completamente desmantelado e um Governo absolutamente populista. O Presidente da República é lamentável, deplorável. Só vimos isso uma vez, à época do Presidente Collor. Nada com Getúlio Vargas. É uma comparação infeliz essa do Presidente Lula com Getúlio Vargas - não cabe, não faz o menor sentido. O Presidente Getúlio Vargas teve uma história no Brasil, foi um brasileiro de notáveis qualidades. O Presidente Lula teve uma história no Brasil para, depois, jogá-la fora em três anos de Governo, abandonando o seu discurso, os seus compromissos e promovendo o Governo mais antidemocrático de que se tem notícia nos últimos anos. Vamos tranqüilos. Hoje, a propósito, quero até desmentir notícia publicada na Folha de S.Paulo, no Painel, motivada, seguramente, por uma incompreensão. Há cerca de 15 ou 20 dias, encontrei a Senadora Heloísa Helena, nossa amiga, num debate numa rede de televisão de São Paulo. Eu disse que gostaria de encontrá-la, e a Senadora disse: “Vamos nos ver por aí”. Não nos encontramos depois. Foi um gesto de elegância e de tranqüilidade, dela e nosso. Com o Senador Cristovam, converso desde criança, fui seu aluno, mas não conversei com o Senador Cristovam Buarque nos últimos vinte dias e com nenhum dos dois sobre debates. Não cabia, nem cabe discutir. O que cabe fazer é dar voz, no debate, à consciência do Brasil, que exige que o Presidente da República do Brasil esclareça, de fato, o que jamais foi capaz de esclarecer: o seu envolvimento, o envolvimento do seu Governo e dos seus aliados nesses episódios; o nome dos traidores, que ele nunca disse quais eram. Ao contrário, os que podiam ser traidores ele já recompôs no plano das suas solidariedades e grupos. Isso é o que existe aí. Tudo isso é uma fraude. Supor que o povo brasileiro só tem barriga, que não tem consciência não é idéia da Esquerda. É idéia da Direita, da Direita mais extremada, mais conservadora, que não tem a consciência popular do Brasil. Subestimar os nordestinos, achar que a sua pobreza vai fazer com que - e apenas ela - o Presidente da República se eleja Presidente é uma imensa subestimação. Seguramente, vamos ter uma grande votação no primeiro turno e, no segundo turno, vamos ganhar também no Nordeste. Os brasileiros vão votar depois de um amplo e alongado esclarecimento, com o Presidente se expondo e não se escondendo. Não vai adiantar esse discurso “eu defendo os pobres; vocês são dos ricos” quando os bancos fazem o maior lucro da sua história. Nada contra o lucro dos bancos, mas tudo contra aqueles que fazem demagogia e não falam a verdade. Vice-Presidente José Jorge, a sua eleição é muito importante para Pernambuco, nosso Estado, muito importante para o Nordeste e, pela sua vida no Congresso e no Senado, muito importante para a democracia. Será seguramente um elo entre o Presidente Geraldo Alckmin, o Brasil real e este Brasil parlamentar aqui, que só fez ser desautorizado, desmoralizado por uma relação de cumplicidade e de promiscuidade com o Executivo. Parabenizo V. Exª pela sua palavra de hoje. Estamos no caminho certo, todos juntos, para a vitória.

            O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Muito obrigado, Senador Sérgio Guerra. V. Exª falou muito bem, realmente tem razão em tudo o que disse. O Governo do Presidente Lula, a cada dia, se mete num escândalo novo e não esclarece da maneira devida - mais esconde que esclarece. Diz que quer explicar tudo, mas não explica nada, só confunde, só engana o povo brasileiro. Ele hoje vai para o debate - já foi confirmado. Ontem, todos nós da Oposição fizemos esse apelo para que ele fosse, mas acho também que só vale a pena ele ir se for para esclarecer de onde veio esse dinheiro da compra do dossiê. Se for para ele chegar lá e querer, mais uma vez, usar o seu charme pessoal, a sua palavra para enganar aquela massa da população menos escolarizada do Brasil, acho que não valeria nem a pena ele ir.

            O Sr. Sérgio Guerra (PSDB - PE) - Senador José Jorge, apenas uma rápida palavra: vai para o debate pelas razões que estão sendo aí relacionadas por V. Exª e pelo fato de que ele já sabe que está no segundo turno e que, não ir ao debate, agravaria ainda mais essa confirmação de que o segundo turno está garantido para a democracia no Brasil.

            O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - V. Exª tem razão. Na realidade, o Presidente Lula não foi a debate algum, não foi ao debate da TV Bandeirantes nem ao das duas outras tevês, a SBT e a Record, que cancelaram os debates porque já havia uma decisão do Presidente Lula de não ir. Os jornais O Globo e Folha de S.Paulo pretendiam promover debates em que seus principais colunistas fariam perguntas ao Presidente, mas ele não foi a nenhum dos dois. Todos os outros candidatos foram, mas ele não foi. Portanto, ele não se interessa pelo diálogo, ele não se interessa pelo debate.

            Ele está indo a esse debate hoje, mas não é atendendo ao apelo da Oposição, porque ele não tem esse espírito democrático. Ele vai, porque sabe que o segundo turno está chegando a galope. As pesquisas de ontem mostram que ele teria 53% dos votos válidos, mas mostram também que Geraldo Alckmin vem crescendo, e ele vem caindo, e que essas duas curvas vão se encontrar no dia da eleição, e, portanto, estamos caminhando para o segundo turno, apesar de as pesquisas ainda mostrarem essa pequena vantagem que ele ainda tem, de três pontos. Efetivamente, essa é a razão principal para que ele vá ao debate.

            O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Pois não, Senador.

            O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Vi há pouco, no blog do renomado jornalista Tão Gomes Pinto, que a decisão do Presidente Lula de ir ao debate foi produto, Senador Sérgio Guerra, de uma acirrada votação; um grupo a favor; outro grupo não, e ganharam por um voto. Tutelado, resolveu submeter-se a seu politburo. O marqueteiro não queria que ele fosse; outros queriam que ele fosse. Ele, então, dobrou-se à decisão desse grupo, e não à do povo brasileiro. Ora, a menos de 24 horas do debate, o Presidente da República tomar uma decisão dessa natureza mostra exatamente a maneira pela qual trata as questões nacionais. A participação em debates é uma obrigação e um dever do homem público, mas infelizmente a nossa legislação eleitoral ainda permite esse tipo de omissão. No aperfeiçoamento que será feito logo após as eleições - e tenho certeza de que o nosso Presidente, o Senador Marco Maciel, com sua experiência, dará uma colaboração importante -, temos de dar uma mexida na participação de candidatos no processo eleitoral, pelo menos tornando obrigatória a participação em debates. O que está acontecendo hoje, Senador José Jorge, é que se conhece mais o talento do marqueteiro do que o que há dentro da cabeça do candidato. O candidato esconde-se por trás da genialidade do marqueteiro - receba ele a remuneração por seu trabalho em dólar aqui ou lá fora, não importa, o que importa é o trabalho -, mas o candidato em si se protege. Depois, o País é que paga o preço. Parabenizo V. Exª pelo pronunciamento.

            O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Muito obrigado.

            É inacreditável, Senador. Se não fosse V. Exª dando voz às palavras dos jornalistas, eu não acreditaria. Não é possível que o Presidente da República, para ir a um debate, submeta-se à votação de seus assessores! Aliás, é preciso ver quem votou, se há algum envolvido, como o Lorenzetti.

            Concedo um aparte ao Senador João Batista Motta.

            O Sr. João Batista Motta (PSDB - ES) - Senador José Jorge, é muito apropriada a afirmação de V. Exª quando se refere a abuso de poder econômico no caso do dossiê. O TSE hoje está com um problema muito grande nas mãos para resolver, que é justamente esse caso. Por quê? Tivemos um Senador, João Capiberibe, nosso colega aqui por mais de três anos, que teve seu mandato de Senador cassado - sua esposa teve o mandato de Deputada Federal cassado também. A acusação foi a compra de dois votos por R$27,00 cada um. Até aí não tem nada. De R$ 27,00 para R$1,7 milhão, há uma diferença grande, mas o crime é o mesmo. O mais importante é que, quem denunciou o Senador João Capiberibe, não o fez dizendo que tinha recebido de suas mãos os R$27,00. No depoimento de quem o acusou, está escrito que o dinheiro foi recebido da mão de assessores do Sr. João Capiberibe quando candidato. Recebeu, repito, da mão de assessores. Esses que foram presos com R$1,7 milhão não são assessores? São sim, senhor! Até agora não se apurou por quê? Temos certeza de que estão procurando patrono para o dinheiro, mas, se esse patrono aparecer, esse dinheiro terá de estar inscrito e contabilizado na campanha do PT. Mas, mesmo que esse dinheiro esteja contabilizado hoje na contabilidade do PT, com um patrono improvisado como dono do dinheiro ajudando o PT, por que o PT não disse até agora que esse dinheiro está registrado, que é dele e que se encontrava na mão do assessor no hotel? Então, não há saída, o crime está praticado: abuso de poder. Só me estou reportando a isso hoje, Senador, para que o povo brasileiro, aquele que nos está assistindo, faça uma reflexão e veja que não temos condições de manter esse pessoal tão inescrupuloso à frente do poder deste País. Muito obrigado.

            O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Muito obrigado, Senador João Batista Motta.

            Sr. Presidente, antes de encerrar, gostaria de comentar rapidinho duas notícias que saíram hoje.

            Esta aqui diz o seguinte: “Banco Central baixa de 4% para 3,5% a projeção de crescimento do PIB para este ano”.

            No ano passado, crescemos 2,3%, o que significa que, na América Latina, só crescemos mais do que o Haiti, que é um dos países mais pobres e está em guerra; o resto cresceu mais do que o Brasil.

            Todo começo de ano, dizem que vamos crescer mais de 4%, depois baixam para 4%, depois para 3,5%, e, daqui a pouco, vão baixar para menos de 3%. Portanto, está ocorrendo hoje o que aconteceu em todos os outros anos.

            Outra notícia, esta nova, diz o seguinte: “Lula perdeu a liderança para Chávez, diz The Economist”. A revista The Economist, uma das mais importantes do mundo, estampa na capa de sua edição desta semana uma foto do Presidente da Venezuela, Hugo Chávez, abraçando o Presidente Lula, na qual ambos sorriem. E a publicação britânica questiona: “Quem lidera a América Latina?”

            Em seu principal editorial, The Economist afirma que Lula, um líder dos pobres, “perdeu terreno para a corrupção, torpor econômico e para seu rival venezuelano”.

            Liderança na América Latina. Segundo a revista, ao ser eleito, há quatro anos, Lula parecia estar destinado a se tornar o porta-voz de uma nova, mais confiante e mais justa América Latina.

            The Economist afirma que não apenas o Brasil, a quarta maior democracia do mundo, tem aspirações legítimas de liderança regional e de um maior papel no mundo, mas a própria história pessoal de Lula o capacitava para assumir a liderança moral de uma nova e democrática esquerda latino-americana que parecia ter-se livrado da adesão, no passado, ao Estado todo poderoso.

            Passados quatro anos, Lula parece quase seguro de um segundo mandato, seja na eleição geral do dia 1º de outubro ou no segundo turno, um mês depois. Tristemente, entretanto, ele perdeu parte de seu brilho.

            Na verdade, o que essa importante revista diz é que o Presidente Lula está sendo abatido pela corrupção e pela incompetência, o que é a pura verdade, que já está se vendo de longe, já está se vendo do exterior.

            Sr. Presidente, talvez esta seja uma das últimas sessões do Senado, e eu queria encerrar dizendo que, na eleição de domingo, esperamos que todos os brasileiros compareçam e votem livremente. Esperamos também que, daqui até lá, saibamos de onde veio esse R$1,75 milhão que está sujando esta eleição, para que nós possamos votar e trabalhar para um segundo turno.

            É muito importante, para a democracia e para aqueles que pensavam em votar em Lula, que haja um segundo turno. Por quê? Porque, se não houver um segundo turno, esta eleição não terá a responsabilidade que deveria ter, uma vez que esse fato efetivamente sujou a eleição. Então, vamos todos votar, vamos todos praticar o regime democrático no Brasil e vamos para o segundo turno, para que, aí sim, possamos ter tempo para esclarecer melhor todas essas questões.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/09/2006 - Página 29635