Discurso durante a 162ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre as eleições no Estado do Amazonas.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Comentários sobre as eleições no Estado do Amazonas.
Publicação
Publicação no DSF de 05/10/2006 - Página 30243
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, PERDA, ELEIÇÕES, ORADOR, CANDIDATO, GOVERNADOR, ESTADO DO AMAZONAS (AM), COLIGAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), PARTIDO POPULAR SOCIALISTA (PPS), MANUTENÇÃO, ETICA, CONDUTA, PARTICIPAÇÃO, DEBATE, TELEVISÃO, AUSENCIA, ACUSAÇÃO, ADVERSARIO, ESCLARECIMENTOS, COMBATE, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AGRAVAÇÃO, CORRUPÇÃO, IMPROBIDADE, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.
  • QUESTIONAMENTO, ATUAÇÃO, ASSESSOR, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, AQUISIÇÃO, DOCUMENTO, FAVORECIMENTO, VITORIA, ELEIÇÕES, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), POSSIBILIDADE, IMPEDIMENTO, POSSE, CHEFE DE ESTADO, MOTIVO, DESCUMPRIMENTO, LEGISLAÇÃO ELEITORAL.
  • REGISTRO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA, APOIO, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, IMPEDIMENTO, RISCOS, FAVORECIMENTO, ECONOMIA, GOVERNO ESTRANGEIRO, GARANTIA, VALORIZAÇÃO, REAL.
  • COMENTARIO, PREVISÃO, VITORIA, SEGUNDO TURNO, ELEIÇÕES, GERALDO ALCKMIN, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), COMPROMETIMENTO, ELIMINAÇÃO, CORRUPÇÃO, INCENTIVO, CRESCIMENTO ECONOMICO, MELHORIA, FUTURO, PAIS.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, antes de mais nada, presto contas ao Senado e à Nação.

Disputei eleição por meu Partido em coligação com o PPS, coligação intitulada “Muda Amazonas” - o Amazonas precisa mudar -, e não obtive êxito, não me elegi Governador de meu Estado. Volto, então, ao Senado para cumprir os quatro anos e três meses de mandato que tenho pela frente com a mesma coerência e integridade.

V. Exª, Senador Jefferson Péres, seria o candidato de minha preferência, mas V. Exª optou por não disputar, e resolvi, eu próprio, improvisar minha candidatura. Entendi que foi o gesto certo, o gesto necessário àquele momento. Sabia da preferência polarizada pelos dois adversários principais, 77% nas pesquisas espontâneas, mas me decidi, assim mesmo, a enfrentar essa luta - enfrentava uma máquina econômica de um lado e uma máquina econômica e oficial de outro. Quando se estimulava a pesquisa, era mais arraigada ainda a presença de ambos na cena.

Tentei mostrar, e creio que consegui, que era possível apresentar propostas sérias e vencer - e venci - os debates de que participei, os poucos debates que permitiram que acontecessem nessa eleição. E os venci sem insultos pessoais, apresentando teses para serem discutidas pela sociedade amazonense, mostrando claramente o compromisso com a ética, com a seriedade. Um acusava o outro de malfeitos, de malversações, mas nenhum dos dois se atrevia a me acusar de coisa alguma. Então, entrei na eleição limpo e saí limpo como nela entrei. Dela saí limpo como nela, limpo, ingressei.

Entendo o fato eleitoral como normal, como corriqueiro. As eleições não oferecem o resultado do empate, não se empata em eleição, perde-se ou ganha-se, e essa eu perdi, perdi com minhas teses, com minhas convicções.

Houve pessoas que me disseram assim: “Puxa, Arthur, você tinha o Estado onde a preferência pelo Presidente Lula era a mais esmagadora entre todos os demais Estados das Regiões Norte e Nordeste, onde ele venceu”. Diziam-me que eu havia me mostrado o antilula ao longo de meus anos de Senado e de Governo Lula. Eu não me arrependo disso. Estou aqui de volta para dizer que combati Lula porque ele errou administrativamente, porque fez uma política externa desastrosa, porque fez o governo mais corrupto da história republicana brasileira. Disse isso às vésperas do pleito, estou dizendo agora e direi enquanto eu tiver essa idéia. E não vejo que ele possa mudar minha convicção sobre o governo dele, isto é, de que ele gerencia e preside o governo mais corrupto da história republicana brasileira.

Se isso é o bastante para me derrotar na outra eleição, perderei a outra eleição, mas não deixarei de dizer aquilo que vem do meu coração, aquilo que vem da minha alma, aquilo que vem da minha fé, aquilo que vem da minha convicção. Portanto, cumpri estritamente com meu dever.

Não nasci para fazer da política trampolim para coisa alguma, nem nasci para surfar as ondas do oportunismo, até porque surfista da política não sou e porque entendo que não teria sentido a dedicação a uma carreira tão dura, pessoalmente tão exigente, familiarmente tão sacrificante, se não fosse para fazê-la com honra, com decência.

Presto contas, portanto, Sr. Presidente, dizendo que volto com a mesma posição. Não há nada que me faça mudar.

Do lançamento da minha candidatura para cá, apareceu esse escabroso caso que nem o outro Freud, o da Psicanálise, explica: o envolvimento do Freud palaciano e de seus asseclas nesse episódio lamentável da compra de um dossiê com dinheiro sujo, o que, para mim, é suficiente para, na eventual hipótese de uma vitória do Presidente Lula - na qual já não creio, da qual descreio -, impedir sua posse, em função da clara agressão à Lei Eleitoral brasileira.

Por muito menos saiu daqui o Senador João Capiberibe, por muito menos! Por muito menos saiu desta Casa o Senador João Capiberibe, por muito menos saiu da Presidência da República o Senador eleito, ainda não empossado, Fernando Collor de Mello, com tudo o que foi constatado sobre seu governo.

Sr. Presidente, eu era o que sou e espero, no futuro, ter coragem moral para ser o que sou. Era o que sou e espero, Senador Mão Santa, no futuro, ser exatamente o que sou hoje, independentemente das conveniências, de saber se é melhor assim ou se é melhor assado; ou seja, minha vida pública é como minha vida pessoal, uma linha reta. Vou numa linha reta, não sou cobra para fazer movimentos sinuosos, mas, ao contrário, comporto-me mais como o leão quando tem de enfrentar algo ou alguém, jamais como a cobra sinuosa, que faz movimentos sibilinos, aqueles movimentos de vaivém, aqueles movimentos que, na verdade, mostram mais a face da traição do que propriamente a da coragem e a da coerência.

Foi com a coragem e com a coerência que enfrentei, no Estado onde o Presidente Lula era mais popular, essa eleição. Não me arrependo. Plantei a semente da decência. Mostrei que era possível se fazer, sim, o enfrentamento a esse poder tão avassalador que V. Exª conhece muito bem; mostrei que era possível e necessário fazer esse enfrentamento. Fiz esse enfrentamento e colhi o resultado que o povo do Amazonas quis me dar em determinada época, em determinado momento de sua trajetória histórica. Não questiono o povo, apenas a ele me curvo.

Se não me curvo ao poderoso do Palácio, se não me curvo à corrupção que ele pratica, se a denuncio sem parar, até porque tenho o compromisso de denunciar a corrupção, se denuncio a ineficiência administrativa e se mostro que estou em sintonia com a maioria do povo brasileiro - povo que optou por dar o segundo turno e que, sem dúvida alguma, haverá de conceder a vitória a Geraldo Alckmin, para que se ponha cobro a um quadro de absoluta desmoralização a que está sendo submetido este País no exterior -, eu não poderia ser diferente em meu Estado. Sendo assim, cumpri com meu dever.

Sr. Presidente, para ilustrar apenas e para encerrar, tenho aqui uma nota da Folha de S.Paulo, do dia de hoje, 4 de outubro: ”O Governo Kirchner disse que não gostou da notícia de que haverá segundo turno no Brasil. Ele teme o efeito contágio”. Ele teme o efeito que puna - e aí vou falar como cidadão livre - sua própria irresponsabilidade. Considero o Sr. Néstor Kirchner um presidente muito pouco responsável, pois teve tudo para dar um jeito na situação econômica da Argentina, mas, ao contrário, apenas adiou, com medidas paliativas terríveis, a crise que se abate sobre aquele país e que vai mostrar, dentro de poucos anos, que seu governo não foi bom para a Argentina.

Mas, muito bem, eles dizem que o petista é mais previsível e mais comprometido com o projeto argentino.

Sr. Senador Jefferson Péres...

O SR. PRESIDENTE (Jefferson Péres. PDT - AM) - Senador Arthur Virgílio, estou-lhe concedendo mais dois minutos de tolerância.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Pois não. Não preciso mais do que isso, Senador.

Preste atenção V. Exª! Diz Kirchner que Lula é mais comprometido do que Alckmin com o projeto argentino para o Mercosul.

Mais adiante, na mesma matéria da Folha, diz-se que o mercado de valores, a bolsa Argentina, também está inquieto com Alckmin. Mais ainda, a União Industrial Argentina (UIA) diz que uma eventual vitória de Alckmin seria um risco para a economia do seu País. Ou seja, o real mais desvalorizado favoreceria as exportações brasileiras. E eles não querem isso; eles querem um real mais valorizado, que, portanto, favoreça a vida econômica da Argentina. E diz a UIA, que é a Fiesp de lá, que Lula é visto como um homem comprometido com a industrialização da Argentina.

Voto em Alckmin, porque Alckmin é comprometido com o futuro deste País, com o crescimento deste País e com a moralização dos costumes políticos deste País, do meu País.

E, portanto, Sr. Presidente, com a sensação de que cumpri meu dever lá, volto a cumprir meu dever cá. E cumprirei meu dever, com ou sem mandato - o meu dever de brasileiro -, onde quer que esta Pátria precise de mim.

Muito obrigado.

Era o que eu tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/10/2006 - Página 30243