Discurso durante a 162ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a notícia de uma possível internacionalização da Amazônia.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SOBERANIA NACIONAL.:
  • Considerações sobre a notícia de uma possível internacionalização da Amazônia.
Publicação
Publicação no DSF de 05/10/2006 - Página 30349
Assunto
Outros > SOBERANIA NACIONAL.
Indexação
  • REGISTRO, NOTICIARIO, ANUNCIO, PROJETO, SECRETARIA, MEIO AMBIENTE, PAIS ESTRANGEIRO, INGLATERRA, INTERNACIONALIZAÇÃO, FLORESTA AMAZONICA.
  • CONTESTAÇÃO, DECISÃO, GOVERNO ESTRANGEIRO, DESRESPEITO, SOBERANIA NACIONAL, ENCAMINHAMENTO, REQUERIMENTO DE INFORMAÇÕES, ITAMARATI (MRE).

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Sem apanhamento taquigráfico) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em nenhuma oportunidade, dei atenção às repetidas notícias sobre uma possível internacionalização da Amazônia. Agora, no entanto, leio na Folha de S.Paulo informação que, ao menos, exige uma explicação.

A notícia relata suposto projeto do Governo Britânico, divulgado no final de setembro, na cidade de Monterrey, México, pelo Secretário de Meio Ambiente do Reino Unido, David Miliband. O objetivo seria a privatização da grande área da floresta amazônica e contaria com o aval do Primeiro-Ministro da Grã-Bretanha, Tony Blair.

Já não se trata, portanto, de mais uma dessas frenéticas notícias que circulam pelo mundo, principalmente na Internet. Agora, seria um projeto de Governo, do Governo britânico - e isso exige pronta reação do Brasil.

A sinistra idéia, a ser verdadeira, representa clara intromissão na soberania brasileira. A notícia foi publicada pelo jornal Daily Telegraph, informando que o anúncio foi feito em evento de que teriam participado representantes “dos 20 países mais poluidores do mundo”.

Por trás de tudo isso, adianta a notícia, estaria aquele milionário sueco-inglês Johan Eliash. Há algum tempo, ele conseguiu comprar duas grandes áreas no Amazonas. E garantiu que prosseguiria na idéia amalucada de comprar toda a Amazônia, avaliando que, para isso, seriam necessários US$50 bilhões.

De espiroquetas desse tipo estamos cansados! É hora de dar um basta!

A notícia a que me refiro foi publicada ontem. Hoje, ainda na Folha, saiu um desmentido, meio pálido, é verdade. Não convence. Eis o que diz o noticiário:

O Governo britânico negou ontem que tenha planos para privatizar a Amazônia e que pretenda incluir o assunto na pauta de uma reunião internacional sobre mudança climática iniciada ontem em Monterrey, México.

O fato é que, na véspera, a notícia era outra, com o anúncio feito pelo Secretário de Meio Ambiente do Reino Unido.

É bom que cessem com essas maluquices!

Que não venham, pois, com esse inaceitável plano! Que não venham, mesmo! A Amazônia tem dono e, por isso, é bom que esses tresloucados projetos sejam logo descartados. É inaceitável essa idéia de considerar a Amazônia como área da humanidade e coisas assemelhadas.

Por tudo isso, estou encaminhando à Mesa requerimento de informações ao Itamaraty, para que a nossa Chancelaria esclareça se há veracidade nesses planos.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

Governo inglês divulga plano para privatizar a Amazônia.”

“Governo do Reino Unido nega "privatização" da Amazônia.”

            Governo inglês divulga plano para privatizar a Amazônia.

            Da Redação

            O governo inglês, por meio de David Miliband, secretário de Meio Ambiente britânico, divulgou na semana passada no México um plano para transformar a floresta amazônica em uma grande área privada. O anúncio foi feito em um encontro realizado na cidade de Monterrey, segundo informou o jornal "Daily Telegraph". O evento reuniu os governos dos 20 países mais poluidores do mundo. 
A proposta inglesa, que conta com o aval do primeiro-ministro Tony Blair, visa a proteger a floresta, segundo Miliband. O próprio político admitiu que a idéia está em seu estágio inicial e que será preciso discutir as questões de soberania da região com o Brasil. O plano prevê que uma grande área da Amazônia passaria a ser administrada por um consórcio internacional. Grupos ou mesmo pessoas físicas poderiam então comprar árvores da floresta.

Governo do Reino Unido nega "privatização" da Amazônia

            EDUARDO GERAQUE

            DA REPORTAGEM LOCAL

            MARCO AURÉLIO CANÔNICO

            DE LONDRES

            O governo britânico negou ontem que tenha planos para privatizar a Amazônia e que pretenda incluir o assunto na pauta de uma reunião internacional sobre mudança climática iniciada ontem em Monterrey, México.

            A declaração havia sido dada pelo secretário do Ambiente do Reino Unido, David Miliband, ao jornal "Daily Telegraph". Segundo o jornal, Milliband propunha uma "privatização completa da Amazônia" contra emissões de gases-estufa pelo desmate e admitia que a idéia poderia levantar "questões de soberania" com o Brasil.

            "Isso não está sendo discutido em Monterrey", disse à Folha Penny Fox, porta-voz do Departamento do Ambiente britânico.

            O governo brasileiro atacou a idéia. "Se alguém tem essa intenção não tem muito conhecimento do que é a Amazônia. Hoje 75% da região pertence ao Estado. São áreas que não podem ser vendidas", disse Tasso Azevedo, diretor do Serviço Florestal Brasileiro. Ele afirmou que nos últimos três anos foram investidos R$ 100 milhões na proteção da selva.

            Os interessados em ajudar na proteção de uma das maiores reservas de biodiversidade do mundo, explica Azevedo, podem colaborar de várias formas. Uma delas é ajudar o fundo do Programa de Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa). "Até agora, apenas empresários brasileiros colaboraram com essa iniciativa. Recursos estrangeiros também seriam muito bem-vindos", afirmou o representante do Ministério do Meio Ambiente.

            Um dos apontados como autor da idéia de comprar grandes nacos da Amazônia é o multimilionário inglês Johan Eliasch, nascido na Suécia. Recentemente, ele adquiriu uma área de 400 mil hectares de floresta no território brasileiro.

            "Ele comprou uma região que está certificada para a exploração de madeira. Há áreas bem mais ameaçadas". Segundo Azevedo, o plano de combate ao desmatamento feito pelo Brasil pode ser ajudado de várias outras formas, não com a "privatização" da floresta.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/10/2006 - Página 30349