Discurso durante a 170ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Destaque para o debate sobre os valores éticos e morais, diante do processo eleitoral do segundo turno à Presidência da República.

Autor
Almeida Lima (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SE)
Nome completo: José Almeida Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Destaque para o debate sobre os valores éticos e morais, diante do processo eleitoral do segundo turno à Presidência da República.
Publicação
Publicação no DSF de 19/10/2006 - Página 32451
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ANALISE, IMPORTANCIA, SEGUNDO TURNO, NECESSIDADE, ATENÇÃO, POPULAÇÃO, COMENTARIO, VOTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REELEIÇÃO, ESCOLHA, CONTINUAÇÃO, CRISE, ETICA, PAIS, QUESTIONAMENTO, MOVIMENTO TRABALHISTA, SEM-TERRA, PARALISAÇÃO, INVASÃO, PROPRIEDADE RURAL, SUSPEIÇÃO, MOTIVO, VINCULAÇÃO, PERIODO, ELEIÇÕES.
  • CRITICA, POLITICA SOCIAL, GOVERNO FEDERAL, TENTATIVA, MANIPULAÇÃO, POPULAÇÃO, BAIXA RENDA, COMENTARIO, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OFICIALIZAÇÃO, CORRUPÇÃO.
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, VINCULAÇÃO, OPOSIÇÃO, PRIVATIZAÇÃO, COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, INTERNET, PRETENSÃO, GOVERNO FEDERAL, LICITAÇÃO, JAZIDAS, MINERIO, REGISTRO, VENDA, PARTE, REGIÃO AMAZONICA.
  • REGISTRO, COMPROMISSO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), AUSENCIA, PRIVATIZAÇÃO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), CRITICA, GOVERNO BRASILEIRO, ACEITAÇÃO, DECISÃO, PAIS ESTRANGEIRO, BOLIVIA, ESTATIZAÇÃO, PRODUÇÃO, PETROLEO.

O SR. ALMEIDA LIMA (PMDB - SE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Senadora Serys Slhessarenko, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, meu querido povo brasileiro, povo sergipano, vivemos, na presente quadra, no presente momento, instantes de reflexão, de embate político, ideológico, um debate sobre os valores éticos e morais diante do processo eleitoral, em segundo turno, que se avizinha e que vai culminar exatamente com o ato eleitoral no próximo dia 29.

Retorno à tribuna, mais uma vez, com este assunto por considerá-lo candente, extremamente importante para a vida de todos nós, brasileiros. Nesta oportunidade, quero convocar, se é que posso, o povo brasileiro, mais uma vez, à reflexão.

É um momento gravíssimo o que vivemos. À parte o debate, com muito fervor até, é preciso chamar o feito à ordem - mais uma vez uso esse jargão forense, já que sou advogado - para estabelecer algumas considerações que entendo indispensáveis a todos nós brasileiros para o esclarecimento deste momento, a fim de que todos possamos compreender melhor os fatos que nos cercam e a importância da decisão que teremos de tomar no próximo dia 29.

Brasileiros, nosso País, o Brasil, é grandioso, é uma Pátria querida, adorada por todos nós, independentemente de cor, de condição social, de partido político, de ideologia, e temos a obrigação de escolher o melhor para a nossa Nação, para o nosso povo.

E, quando assim me expresso, tenho consciência - é verdade - de que todos nós que temos já uma decisão para o dia 29 imaginamos ser a decisão a mais acertada, mas não custa, mesmo diante da convicção que cada um possui, colocar-se de forma aberta espiritualmente para ouvir mais uma palavra, como eu tenho, diariamente, pelas centenas de e-mails que nós, Senadores, recebemos, lido documentos, artigos, opiniões, manifestações a favor de “a”, contra “b”, a favor de “b” e contra “a”.

Quem sabe até mesmo eu, que tenho uma posição que entendo consciente, firmada, diante de uma observação, de um argumento, não possa mudar de opinião?

Portanto, isso que vejo em mim, admito, possa também acontecer em cada um dos brasileiros. E àqueles que nos ouvem, que nos vêem neste instante, peço a todos os senhores e senhoras um pouco de atenção, porque minha convicção impõe que eu venha à tribuna alertar a Nação brasileira no sentido de que a vitória do candidato à reeleição, Lula da Silva, é a eleição da crise, é a perpetuação da crise que vivemos. E não acredito que nós, brasileiros, desejemos que esta crise, como se encontra, venha a perdurar por mais quatro anos. Entendo que eleger Lula é eleger a crise. Eleger Lula é optar pelo confronto.

Recebi pela internet - e tenho certeza de que inúmeros dos Srs. Senadores e dos brasileiros receberam - filmetes onde aparece o Presidente Lula da Silva em sala de reuniões com a presença do Sr. Bruno Maranhão, aquele que comandou a invasão à Câmara dos Deputados, e com o ex-Ministro cassado, José Dirceu. E quando Sua Excelência, o Presidente, percebeu que estava sendo filmado, procurou esconder-se, sair pelo canto da parede.

Será que já resolvemos o problema da reforma agrária? É claro que não! Mas pergunto a cada um dos senhores, a cada um dos brasileiros: por que esses movimentos, que fazem a opção pelas ocupações, pelas invasões, pela depredação, até mesmo pela justificativa de que este Governo não dá continuidade ao processo de reforma agrária, suspenderam esses atos? Por que interromperam essas ocupações e invasões? Tenham certeza de que foi pelo processo eleitoral; tenham certeza de que foi para estabelecer uma falsa calmaria.

No entanto, o confronto está previsto, sobretudo porque o Governo Lula não atende à reforma agrária, pleiteada há décadas, trabalhando a questão de forma acanhada se comparado a governos anteriores. Eleger Lula é desejar a divisão do Brasil. Tenham certeza desses fatos! Não é outro o comportamento do Presidente Lula. É a divisão do Brasil entre os pobres do campo, os pobres da cidade, que precisam do Estado e do Governo, em programas que venham estabelecer, sobretudo, a sua independência, a independência dessas pessoas, e não a sua subalternização, como Sua Excelência promove neste instante.

Precisamos dividir a riqueza do País, mas esta não é a preocupação deste Governo. Ele se voltou para o campo e para os pobres, para o Bolsa-Família, para enganá-los logo a seguir, usando-os como instrumentos, porque perdeu o apoio da classe média, dos trabalhadores urbanos, dos servidores públicos, dos intelectuais, diante de suas falsas promessas. Essa guinada com o Bolsa-Família para o campo não decorre da vontade de estabelecer a sua independência ou de lhes dar condições. Não; porque, se esse fosse o seu propósito e o seu objetivo, ele não daria 100, 200, 300 vezes mais do que gasta nesses programas de juros aos banqueiros nacionais e internacionais.

Não tentem “tapar o sol com a peneira”, pois não vão conseguir!

Povo brasileiro, quando eu digo que a vitória de Lula é a eleição da crise, que a eleição de Lula é a eleição do confronto, é para que tenham consciência os senhores de que a Oposição não se vai acomodar diante da eleição de Lula da Silva para mais quatro anos de mandato. Não pensem os senhores que iremos colocar essa crise embaixo do tapete, como se está tentando colocar toda a sujeira deste Governo.

Não! Este não é o País que nós queremos. Não é isso o que queremos para a Nação brasileira, e não se pode construir uma nação quando se colocam na lama todos os valores éticos e morais que o nosso povo acalenta e deseja há muito tempo.

Se alguns cometeram erros no passado recente ou mais remoto, isso não justifica os erros do presente. E assim digo pela autoridade que tenho, política e moral, como quem fez oposição ao Governo passado; assim falo pela autoridade política e moral, porque já fui Executivo em uma capital, a do meu Estado, Sergipe, cuja administração e seus registros me honram bastante.

Tenham certeza, portanto, sem qualquer tentativa de pregação do apocalipse, de que o Governo que aí está, reeleito pelo povo brasileiro, será a legitimação e a oficialização da corrupção; será o sepultamento dos valores morais; será a validação de tudo quanto este Governo tem feito. E vejam o desespero - e registro que não acredito nessas pesquisas e tenho razão para não acreditar - diante do resultado do primeiro turno.

A campanha do candidato Lula da Silva agora mostra as privatizações, como se o futuro Governo fosse privatizar o Banco do Brasil, a Caixa Econômica e a Petrobras.

Senadora Heloísa Helena, o Presidente Lula está preocupado com a Petrobras! Exatamente isso, Senadora, que trago aqui: “Agência Nacional de Petróleo abre licitação para vinte campos na sétima rodada”. E o Presidente Lula alerta ao povo brasileiro para não votar no candidato Alckmin porque ele vai privatizar a Petrobras. Quanta mentira! Sua Excelência procurou vender, na bacia das almas, os campos petrolíferos do País, inclusive os de Sergipe. E o Presidente Lula está preocupado com o patrimônio brasileiro!

Senadora, Senadores, está aqui nesta edição do Valor Econômico, Valor Online:

Governo pretende licitar mais de trezentas jazidas minerais em 2007.

Patrícia Nakamura, 16/10/2006.

O serviço geológico do Brasil, a antiga Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais, prepara, para o ano que vem, uma megavenda de seus direitos minerários. São áreas que estão há quase 40 anos em poder do órgão ligado ao Ministério de Minas e Energia.

O processo de licitação está sendo elaborado há cinco meses, mas a CPRM vem organizando informações sobre essas áreas desde 2003, de acordo com o presidente do órgão, Agamenon Dantas.

O patrimônio mineral à venda é composto por 331 áreas. Dessas, 258 já têm documentação pronta (sendo quatro delas dentro de reservas indígenas em Roraima). A venda será dividida em blocos, por região e por minério. O preço mínimo de cada área será divulgado apenas junto com os editais da licitação, prevista para ocorrer no primeiro semestre de 2007.

Brasileiros, atentem para o que eu acabo de ler.

E prossegue o artigo:

Não é apenas a CPRM que colocou à venda seus ativos minerais. No início do ano, a Petrobras pôs à venda suas jazidas de potássio no Amazonas, herança da extinta Petromisa. As empresas interessadas têm até meados de 2007 para fazer estudos de viabilidade.

É essa campanha da mentira que faz o Presidente Lula da Silva, que vai à televisão para falar em privatização. Outro dia, com meu voto contrário, o Senado e a Câmara, comandados pelo Governo, venderam a Amazônia, aqui, neste plenário, por meio da aprovação de um projeto do Governo autorizando a negociação de áreas da Amazônia. E vem o Presidente Lula falar de privatização!

É por esta razão, Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, povo brasileiro, que é preciso um pouco mais de reflexão; é preciso deixar as paixões de lado; é preciso ter uma conversa mais franca, uma conversa consigo próprio.

Os senhores e as senhoras, brasileiros e brasileiras, já não perceberam que a eleição de Lula é a perpetuação da crise? Os senhores e as senhoras não perceberam que não vamos colocar todo esse lixo embaixo do tapete? Não perceberam que será o confronto, o confronto mesmo, porque não nos vamos considerar derrotados diante do mal? Nós iremos reagir, sim, dentro da legalidade, da legitimidade político-constitucional; não iremos permitir um Presidente que vai para uma campanha mentir para o povo; falar que o adversário quer privatizar a Petrobras, quando ele, Lula da Silva, deixou que o Evo Morales roubasse a Petrobras dos brasileiros. Quem roubou a Petrobras dos brasileiros, na Bolívia, foi Evo Morales, amigo de Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado do senhor da Venezuela.

Ora, Senadoras e Senadores, povo brasileiro, é preciso reflexão; é preciso que haja um pouco de tranqüilidade. Não ponham em jogo questões menores de ordem pessoal. Em jogo está a vida do Brasil e dos brasileiros. Não será neste clima que poderemos conduzir o Brasil às reformas necessárias, à grandeza da nossa Nação. É bom pensar neste apelo que faço, nesta chamada à consciência, pois tenho certeza de que deste processo o povo brasileiro precisa sair com sabedoria, com inteligência. E não será com a perpetuação da crise que iremos dar ao Brasil as soluções que ele precisa; não é com o acúmulo de CPIs e de investigações.

O Brasil e o Congresso precisam deixar de lado essa pauta, após a sua apuração. Mas, se este Governo não for interrompido, a corrupção não parará, não estancará. Não teremos alternativa! Daí, alerto a todos: eleger Lula é eleger a crise!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/10/2006 - Página 32451