Discurso durante a 183ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Importância da residência médica e a greve dos médicos residentes.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MOVIMENTO TRABALHISTA.:
  • Importância da residência médica e a greve dos médicos residentes.
Publicação
Publicação no DSF de 11/11/2006 - Página 34315
Assunto
Outros > MOVIMENTO TRABALHISTA.
Indexação
  • REGISTRO, HISTORIA, FORMAÇÃO PROFISSIONAL, ORADOR, MEDICINA, SOLIDARIEDADE, MOVIMENTO TRABALHISTA, MEDICO RESIDENTE, GREVE, MELHORIA, SALARIO, CONDIÇÕES DE TRABALHO, DEFESA, NEGOCIAÇÃO, ASSOCIAÇÃO DE CLASSE.
  • QUALIDADE, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), MANIFESTAÇÃO, COMPROMISSO, DEFESA, INTERESSE NACIONAL, DEBATE, OPOSIÇÃO, AUSENCIA, INTERESSE SOCIAL, CARGO PUBLICO.
  • REPUDIO, CORRUPÇÃO, POLITICA NACIONAL, NECESSIDADE, RECUPERAÇÃO, DEMOCRACIA, BRASIL, REPUTAÇÃO, CLASSE POLITICA, EXPECTATIVA, REFORÇO, LEGISLATIVO, JUDICIARIO, OPORTUNIDADE, MANDATO, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, APERFEIÇOAMENTO, POLITICA SOCIAL, BOLSA FAMILIA.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Ilustre Presidente Serys Slhessarenko, Senadores e Senadoras presentes na Casa, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado da República, um grande Senador, Cícero, um grande orador da História, disse: “Nunca fale depois de um grande orador”. E eu vou falar depois de uma bela professora, Senadora e grande oradora. Mas temos de realizar esse desafio.

Senador Tião Viana, tenho minhas crenças e as confesso.

Sou cristão. Minha mãe era Terceira Franciscana, de uma ordem religiosa dedicada à pobreza, Serys. O pai de minha mãe era um grande empresário, um grande industrial, mas ela se tornou Terceira Franciscana. Daí meu nome Francisco. Não tem nada de Mão Santa. Minhas mãos são iguais as do Zezinho, humanas, trabalhadoras, honradas, mas o povo assim me denominou. E estou fazendo 40 anos como cirurgião. Fui porque quis para a minha cidade.

Tenho aquele sentimento de Sêneca. Sêneca, o grande filósofo, não era nem da grande Atenas, nem da grande Esparta, Professora Serys - digo professora porque professora é muito mais do que Senadora, mestre igual a Cristo - Sêneca era de uma pequena cidade e dizia: não é uma pequena cidade, é a minha cidade. Portanto, fui para a minha Parnaíba porque quis.

Senador Tião Viana, eu, pessoalmente, nunca soube o que era desemprego. Sei porque fui político e tive que enfrentar esse problema. Deus foi muito bom comigo: sempre tinha uma fila de empregos para eu escolher. Muito jovem e estudante de Medicina, era monitor de Fisiologia e ensinava, Tião Viana, o curso de Biologia. Daí essa maneira minha de falar; nunca fiz oratória. Veio a ditadura, Tião Viana, e o professor de Fisiologia, Professor Serra, um homem bom que talvez já esteja no céu, foi preso.

Eles diziam que o homem era socialista, comunista, mas não; ele era um homem culto que lia Karl Marx. Eu sei que, de repente, eu, como monitor, substituí o Professor Serra. Como monitor, eu já dava aula, Tião Viana; já tinha certa experiência. Fazia prova no quinto ano. E não fiquei porque não quis. Eu queria fazer cirurgia. Daí eu valorizar a educação e a residência médica, o que foi muito oportuno.

Eu estava e continuaria mesmo em Fortaleza. Era estagiário do Pronto-Socorro Municipal e tinha tirado o primeiro lugar; ficaria lá.

A mulher do Governador Virgílio Távora era minha prima, Luiza Távora. Você sabe como é, Senador Tião Viana, ela tinha oferecido para o primo um bico: eu ficaria na faculdade, estagiava no Pronto-Socorro, e também o Haroldo Juaçaba me convidou. Meu pai tinha boa situação financeira, e eu tinha um pequeno DKW em Fortaleza. Então estava certo de ficar lá porque Fortaleza é encantadora. Mais encantadora do que Fortaleza são as cearenses. Daí eu valorizar isto. Tenho uma história diferente do Lula, com todo o respeito à universidade da vida, que ele enfrentou e em que ele aprendeu.

Estou lendo um livro do Ricardo Kotscho, que me entrevistou quando Governador. Tudo o que o Tião diz eu cumpro. Ele disse: “Leia”, e eu estou lendo. Aquela vida difícil de estrangeiro, a ditadura. Mas, Tião Viana, como é a vida e por que eu dou valor.

Serys, então eu estava certo que ficaria em Fortaleza; era novo, só a Adalgisa ganhou das cearenses, mas que elas têm os atrativos, têm.

Mas, atentai bem: eu ficaria como professor na faculdade, porque eu tinha sido monitor e haviam prendido o principal assistente como comunista, o que ele não era. Ele nunca doutrinou; ele era um homem culto. Mas, na ditadura, havia isso. Então eu estava valorizado. Ficaria no pronto-socorro, tinha residência médica, era professor de cursinho, e a minha prima Luiza Távora, mulher do Virgílio - sabe como é - queria me agradar.

Tião Viana, olha o destino. O Professor Antero Coelho - vou fazer 40 anos e vou à festa -, um homem iluminado, tinha um carinho por mim porque tinha sido meu professor de Biologia no cursinho pré-universitário e depois, de cirurgia. Esse homem andou pelos Estados Unidos, Chile, era um intelectual e foi o primeiro reitor da Unifor, de Fortaleza. Mas, na época, ele era meu professor e eu estava no sexto ano, Tião, já certo de que ficaria em Fortaleza.

Você, Tião, é novo e não se lembra do DKW. Ô carro bom! Fortaleza é encantadora; os bicos, eu já tinha; eu era novo... Mas esse professor passou por mim e perguntou: “Moraes - não tinha nada de Mão Santa - o que você vai fazer?” Tião Viana, já contei o que me prende à universidade. Atentai ao que é um conselho. Daí o valor muito maior que dou ao Professor Tião Viana do que ao Senador Tião Viana. Ele passou - eu estava com um colega - e disse: “Moraes, o que você vai fazer?” Aí eu lhe contei sobre as propostas e que tinha uma residência no Hospital dos Servidores do Estado. Eu nunca me esqueci disto, Tião Viana. Ele me olhou e disse: “Ô, Moraes, você é casado, vai casar, está precisando trabalhar?” Eu, na minha espontaneidade, que a Serys conhece, disse: “Não, professor, ninguém precisa de mim, não. Eu sou o mais novo. Meus irmãos me dão as coisas. Ninguém está precisando de mim”. Sabe o que ele disse? “Vá-se embora. Se você ficar aqui... O Professor Haroldo o está convidando para ser médico residente no hospital dele porque você tem boa educação, bons costumes e é bom para ele. Mas, se você não cortar o cordão umbilical, você ficará sempre dependente. Você tem de se libertar e de ser livre. Vá para o Hospital dos Servidores”. Olhe o que ele disse, Tião, com tanta ênfase: “Mesmo que você não estude, que não faça nada, só andando lá, por osmose, você vai evoluir muito, vai ganhar muito, vai aprender muito. Vá-se embora”.

Serys, diante desse aconselhamento do Professor Antero Coelho, titubeei e fui. E realmente foi a melhor coisa que fiz na minha vida: a residência médica, Tião Viana.

Política está no sangue. A residência médica do Hospital dos Servidores do Estado era a melhor. Meus maiores colegas de vida são dois gaúchos: um, de Dom Pedrito, Léo Gomes, que nunca mais vi - às vezes, ele me telefona; quando sou eleito para algum cargo, ele me cumprimenta -, e Jaime Pieta, que foi presidente do HSE. Mas a vocação política é tamanha que, além dos plantões que eu dava no hospital, como médico residente... Ô, Tião Viana, daí eu senti na pele. Eram 13 plantões por mês.

Dava o plantão, Serys, e, às 7 horas, entrava numa sala de cirurgia para cumprir a agenda e auxiliar um cirurgião. Treze plantões! E ainda dava mais plantões porque eu tinha a idéia fixa de voltar para o meu Piauí. Não voltei por necessidade de emprego, não; voltei por amor às minhas origens, às minhas raízes, como V. Exª fala do Mato Grosso, como o Senador Tião Viana fala do Acre. As raízes!

Tião Viana, além desses plantões, eu dava um como voluntário com o Jaime Pieta na Maternidade Carmela Dutra, que havia no 7º andar. Porque eu ia para o Piauí e tinha que saber um pouco de obstetrícia. Entendeu, Senador Tião Viana? Ia como voluntário. Na realidade, nós dávamos mais plantões. Porque toda sexta-feira com Beethoven Matos, com Louro, com aqueles que escreveram o “vade mecum” da obstetrícia, o Grelle, Senador Tião Viana. Então, eu dava plantão voluntário com eles.

O Jaime Pieta era candidato a médico presidente do Hospital dos Servidores do Estado. Éramos uns 300 médicos de toda especialidade. Serys, a eleição nacional era no Hospital dos Servidores do Estado. Havia um paulista na chapa - eles haviam feito chapa única. E eu não gosto desse negócio. Olha, Senador Tião Viana, foi a maior vitória. Andando com Pieta, nos plantões à noite, eu disse: “Rapaz, amanhã, haverá essa eleição. E nós não vamos deixar esses paulistas ganharem aqui no Rio, não”. Porque, naquele tempo, eu vestia a camisa do Rio de Janeiro, Senador Tião Viana. E ele: “Mas como? A reunião é amanhã e já está tudo chapa batida”. Eu disse: “Não; nós vamos é ganhar. Como é que nós vamos perder uma eleição no nosso torno, aqui no HSE? Não vai ser aqui a eleição?” Ele disse: “Não, mas não dá”. Eu disse: “Não dá como?

Nós temos candidato. Ele perguntou: “Quem?” E eu disse: Você! Você não estava fazendo campanha para ser médico residente deste hospital? É só amanhã nós arregimentarmos todos os residentes do hospital, e esse paulista não terá voto para ganhar de você. Você é o candidato. Se iam votar em você para médico residente aqui...

Senador Tião Viana, houve a eleição, e Jaime Pieta* venceu o paulista, que já tinha ido para tomar posse. Eu acompanhei de perto essa Associação dos Médicos Residentes, Senadora Serys Slhessarenko. Os dirigentes dela eram puros e identificavam os hospitais que podiam dar residência médica. Essa Associação é pura, é composta de médicos residentes, e seus conselheiros são todos professores e ex-médicos residentes. É uma instituição pura. Eu acompanhei o Jaime. Eu fiz dois anos de residência, e ele ficou no terceiro. Hoje ele é ginecologista em Porto Alegre - encontrei-o outro dia em uma viagem -, o irmão dele é Prefeito de Guarulhos. Jaime Pieta é uma pessoa fabulosa. Então, os hospitais eram classificados pela Associação dos Médicos Residentes. O médico residente trabalhava muito, mas havia uma exigência, que deveria haver docentes responsáveis pela residência, pois a contratação de residentes não poderia significar apenas mão-de-obra barata e responsável como queriam muitos hospitais privados. Era um trabalho sério e qualificado, Senadora Serys Slhessarenko.

Fiz alguns pedidos ao Senador Tião Viana, pedidos puros e sérios. Eu não sou nada. Eu votei foi em Lula no primeiro mandato. Eu sou contra a corrupção, contra essa bandidagem, contra essa safadeza e pela verdade.

V. Exª foi vítima, e eu fui um dos primeiros a solidarizar-me com V. Exª.

Vi a Senadora Ana Júlia Carepa com os olhos cheios de lágrima, em cadeira de roda. Vitoriosa, ela me cumprimentou e abraçou - ela também foi vítima, e eu, do outro lado, desta tribuna, fui solidário.

Está aqui o Senador Aloizio Mercadante, que sempre respeitei porque penso que é um homem honrado, íntegro, correto e firme. Penso até que a idéia dele vai coroar o Bolsa-Família. Refiro-me àquele debate qualificado de que ele tanto falou, que ele sempre ensinou e pregou. É hora do debate qualificado sobre essas bolsas. É o que penso.

Eu sou do PMDB, mas do PMDB histórico, que foi contra a ditadura, do PMDB de Ulysses, de Tancredo, de Teotônio, de Juscelino, que foi cassado. É esse PMDB que represento. Não sou majoritário, nunca fui. Nunca a Liderança me indicou para nada, mas o povo me indicou para trazer a voz de Ulysses, para trazer a voz de Teotônio, para trazer a voz Tancredo e a de Juscelino.

Muitas vezes, Mercadante me chamou para dar quorum, e eu o atendi. Evidentemente, da tribuna, eu manifestava o meu voto de acordo com a minha consciência, mas 90% das matérias eram boas, e votei satisfeito. Votei a favor algumas vezes e poderia votar contra. A Senadora Serys votou, às vezes, a favor, mas se constrangia. Essa é a verdade.

Senador Mercadante, acredito em Deus, acredito na verdade, acredito no estudo, por isso o respeito que tenho por V. Exª, pelo Senador Tião Viana, pela Senadora Serys. Também acredito no trabalho. Acredito no estudo e posso dizer aqui que renunciaria se não... Penso que o Senador tem de ser o pai da pátria, e estamos aqui para ensinar.

Posso dizer que, fazendo uma reflexão sobre a História - não é mérito meu, mas da professora Maria da Penha que me ensinou História, e do professor Benedito Jonas; eles me ensinaram, e eu aprendi -, o Brasil passou por grandes transformações, Senador Mercadante.

Ninguém - assim o entendo - escolhe a época de governar. Houve o período das capitanias hereditárias, dos Governadores Gerais e dos reis. Cada época teve o seu significado. D. Pedro I tornou o Brasil independente. D. Pedro II garantiu a extensão e a unidade do Brasil. Olhem o mapa da América do Sul e da África, onde o território foi todo dividido. D. Pedro II garantiu a unidade ao Brasil, Nós, os piauienses, expulsamos os portugueses numa batalha sangrenta.

Professora Serys, a História se repete. Getúlio Vargas, com sua participação, valorizando o trabalho, escreveu a mais bela página de nossa História dando à mulher o direito ao voto. Valorizou a mulher e o trabalhador. Ele foi chamado o pai dos pobres e dos trabalhadores e teve a sua época. Depois veio Juscelino, cujo Governo foi marcado pelo otimismo, pelo desenvolvimento. A época do Presidente Sarney foi marcada pela redemocratização. Quanto a Fernando Henrique e Itamar, será preciso fazer exame de DNA - quem sabe é o Senador Mercadante - para saber quem combateu a inflação. Foi um dos dois, não interessa qual deles.

Houve também a participação da mulher - está aí a Senadora Serys como exemplo. A Princesa Isabel escreveu a mais bela página de nossa História, concedendo a liberdade aos escravos. Mas isso não aconteceu de um salto só, para se chegar a essa liberdade. Houve a Lei dos Sexagenários, a Lei do Ventre Livre e, depois, a Lei Áurea, que libertou os escravos. Todos participaram.

Votei contra o Lula. Neste País precisa haver Oposição. Eles sabem que não vão me comprar com um cargo. O Senado tem 180 anos, e só há o busto de um ex-Senador neste plenário, só um foi homenageado. Quantos passaram por aqui em 180 anos, Mercadante? Rui só fez parte do Governo, ajudou na libertação dos escravos, na República. Participou do Governo de Deodoro da Fonseca e de Floriano Peixoto, depois foi para a Oposição. Os militares queriam que ele continuasse - eram só militares -, mas ele não quis. Quiseram dar-lhe o Ministério da Fazenda de novo, e ele disse: “Não troco minha trouxa de convicções por um ministério”. Ele disse isso e passou 32 anos nesta Casa, quase todo esse tempo na Oposição.

Então, Mercadante -- atentai, iluminai--, o Brasil precisa ter Oposição. Permitam-me ser Oposição, mas com decência. Não somos oposição ao Brasil, ao povo; somos oposição à corrupção, ao mensalão, à falta de ética, à falta de vergonha. Esses Deputados mensaleiros que estão aí não deviam ser cassados; deviam ser enforcados. Eu busco Deus. Quanto mais têm... O Crivella pode pensar que entende mais do que eu, mas sei que Deus disse mais ou menos assim: “quanto muito se lhe é dado, mais lhe é cobrado”. Então, o povo já nos deu muito. Vivemos como príncipes tendo em vista as dificuldades que enfrentam os brasileiros.

Então, o Deputado, o Senador, a quem já foi dado muito, que entra nessas safadezas, recebe mensalão, ganha gorjeta em negócio de ambulância, deveria ser enforcado e não cassado, porque muito já lhe foi dado. E o pior é envolver todos nós, pois, só 5% das brasileiras e dos brasileiros acreditam no político. Eles envolvem pessoas puras como a Serys, como a Ana Júlia Carepa e tal.

Então, por tudo isso, sou radical. Eu acredito na história que represento. Ulysses disse que a corrupção é o cupim que corrói a democracia. E tenho crença nisso. Não acredito em democracia. Dizem que o Lula ganhou; ganhou, foi uma vitória pessoal dele, Mercadante, mas atentai bem, eleição não é democracia; é um ponto da democracia, talvez o mais importante. Não posso dizer que o coração é a maravilha do corpo humano, não posso dizer isso, Serys. Ele é importante, é vida. Botam até o centro do amor lá dentro, o que não tem nada a ver. Eleição talvez seja simbolismo, mas não é democracia. Lula ganhou a eleição, mas a democracia não está ganhando no Brasil. Não está, porque a democracia começou com o povo, que gritou liberdade, igualdade e fraternidade.

Caíram os reis. O rei seria Deus na terra. Deus seria o rei no céu. E nasceu isso. Mas acabou o absolutismo. A inteligência humana, a inteligência do homem, Montesquieu dividiu o poder. Democracia é essa divisão de poder. Melhorou o Congresso? Não melhorou, Mercadante. Apesar do esforço de V. Exª e da honra da Serys, este Congresso está enxovalhado e envergonhado.

Ô Mercadante, eu fui a sua São Paulo. Eu fui homenageado pela instituição Ulysses Guimarães. Parlamentar naquele tempo tinha razão. Ele juntava tudo que era assembléia, câmaras, porque a ditadura não o deixava falar. Era um meio de falar. E há essa instituição que não tem essa função, mas no nome ela vive. Os homenageados quase todos hoje são empresários para bancar a festa. Pinçam um ou outro político. Eu fui pinçado por essa sociedade Ulysses Guimarães, como Senador. E falei. Tinha mais de dois mil, Mercadante, na sua grande São Paulo; aliás, o organizador disse que eram duas mil cadeiras e depois botou mais. Eu fui e agradeci. E fui aplaudido.

Ó, Serys, depois passaram a palavra aos Deputados Federais, gente boa de Campinas. Sabe o que um deles disse, Mercadante? O Mão Santa já falou, já agradeceu por todos nós. Depois, no uísque, porque in vino virtus, in vino veritas, ele dizia o seguinte: nós temos vergonha de botar o button, quando pegamos um avião para São Paulo, por causa do conceito do Congressista. Eu não! Eu ando com ele orgulhosamente. Mas hoje eu saí cedo para dar quorum e, com esse horário novo, não deu tempo de colocar.

É isso que nós queremos. Entendo que, como a Princesa Isabel, como todos os Presidentes, o Lula teve a clarividência.

Ô Mercadante, vamos entender: eu vim do Piauí, e o maior líder, Petronio Portella, disse para não agredir os fatos. O fato está aí: ele ganhou. Ele ganhou e ganhou bonito. Foi voto muito. Ganhou na minha cidade, ganhou no País todo, ganhou muito. Lógico que teve aparição.

Mas nós temos que fazer ganhar a democracia. Temos que melhorar este Congresso, frear as medidas provisórias. Temos que cassar e enforcar todos que fazem falcatrua, que fazem roubalheira, que não têm ética e não têm decência. Temos que valorizar o Poder Judiciário. É como diz Aristóteles: que a coroa da Justiça, ô Serys, esteja mais alta do que a dos reis e brilhe mais do que os santos. Como Cristo disse: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”.

Uma pesquisa, Mercadante, a gente aprende em campanha... Eu queria ter trazido, mas eu fiquei tão transtornado, ô Mercadante, quando no comitê de Alckmin eu vi que só 30% do povo brasileiro ”acredita” na Justiça e, nos políticos, só 5%. Graças a Deus eu sou médico que tem uma grande aceitação. E professor também tem, com toda justiça, Serys... Então é isto: nós temos que melhorar é tudo.

Olha, o Mitterrand... ô Professor Mercadante, todo livro que V. Exª indica eu leio. Outro dia eu li daquele americano, não é? Dick Morris, que V. Exª indicou e eu li. E eu quero lhe indicar um. Mitterrand, no fim de sua vida, escreveu um livro. Não escreveu porque ele estava quase moribundo de câncer, mas pediu a ajuda de um companheiro que ganhou o Prêmio Nobel. E ele, ô Professor Senador Mercadante, dava uma mensagem aos governantes: se voltasse a governar - ele que governou quatorze anos - iria fortalecer os contra-poderes. Fortalecer os contra-poderes! É isso que eu quero ensinar ao Presidente Lula. Ele não é Deus! Ele mesmo disse: eu sei. E eu quero passar isto que aprendi: fortalecer, moralizar, prestigiar este Poder e o Poder Judiciário.

Reconhecemos que ele avançou - como Princesa Isabel, como Getúlio, como quem venceu uma inflação - e foi mais: viu a sobrevivência neste País injusto, injusto. Injusto, Mercadante, quando sabemos que 10% dos ricos têm a metade da riqueza da Pátria; 10% dos pobres têm 1%.

Antes da liberdade, da igualdade e da fraternidade, está a sobrevivência, e a bolsa família atingiu isso. Que ele fique como estadista e ouça Mercadante o debate qualificado. Vamos aprimorar esse avanço da democracia que foi a bolsa família!

Essas são as nossas palavras e quero oferecer, como sempre, aos grandes Líderes do PT, a nossa contribuição à democracia e à Pátria.

O nosso voto não está vinculado. Sei que tem um PMDB que gosta muito de cargos. Eu gosto muito é da Pátria, da democracia, da decência e da dignidade.

V. Exªs terão o meu voto. Não gratuitamente. Mas por dever e obrigação à minha origem, que é o Piauí cristão; esse Piauí que procura escrever sua página sempre tentando elevar sua bandeira à Ordem e ao Progresso. Tanto isso é verdade que a nossa bandeira do Piauí tem as mesmas cores da bandeira do Brasil, com uma única diferença, Serys, é que lá só tem uma estrela. E essa estrela, sem dúvida nenhuma, representa a democracia, que temos que fortalecer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/11/2006 - Página 34315