Discurso durante a 184ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Saudação ao lançamento da revista cultural Piauí, uma mostra de reconhecimento da grandeza e da história do Piauí.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA. MOVIMENTO TRABALHISTA. DROGA.:
  • Saudação ao lançamento da revista cultural Piauí, uma mostra de reconhecimento da grandeza e da história do Piauí.
Publicação
Publicação no DSF de 14/11/2006 - Página 34417
Assunto
Outros > IMPRENSA. MOVIMENTO TRABALHISTA. DROGA.
Indexação
  • ELOGIO, ESCOLHA, NOME, PERIODICO, HOMENAGEM, ESTADO DO PIAUI (PI), IMPORTANCIA, HISTORIA, MEIOS DE COMUNICAÇÃO.
  • REGISTRO, GRAVIDADE, CRISE, GREVE, RESIDENCIA MEDICA, INSUFICIENCIA, SALARIO.
  • SOLIDARIEDADE, ESCRITOR, ESTADO DO PIAUI (PI), MORTE, FILHO, VITIMA, EFEITO, DROGA.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Marco Maciel, que preside esta sessão de segunda-feira, 13 de novembro, Srªs e Srs. Senadores presentes na Casa, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, quis Deus que estivesse na Presidência desta Casa hoje o Senador Marco Maciel, de currículo vasto, do tamanho do Brasil. O fato é muito oportuno porque o meu pronunciamento trata de cultura e órgãos de comunicação. E V. Exª, Sr. Presidente, é um dos poucos políticos que conseguiram entrar na Academia Brasileira de Letras, entidade que não poderia ser perfeita, pois é constituída por homens. Errare humanum est. Assim, na sua história, cometeu sua maior indignidade ao não receber o maior dos homens públicos deste País - Juscelino Kubitschek de Oliveira - depois de suas publicações Por que Construí Brasília e Meu Caminho para Brasília, seus discursos proferidos durante sua vida pública como Prefeito, Deputado Federal, Governador do Estado de Minas Gerais, Presidente da República e como Senador cassado.

Senador Marco Maciel, V. Exª, além de ser membro, expoente desta Casa, integra a Academia Brasileira de Letras. O Brasil deu um passo avante na cultura.

Senador Marco Maciel, há pouco, precisamente no mês de outubro, nascia no Brasil uma nova revista cultural cujo nome é Piauí. Este assunto chegou ao nosso homem de comunicação e da alegria Jô Soares, que entrevistou o seu diretor Ênio Vergueiro e outros responsáveis pelo nascer dessa revista chamada Piauí.

Primeiro, ele indagava o porquê desse nome. Muitas são as interpretações e explicações. Mas diria, Senador Antonio Carlos Magalhães, que é pelo fato de o Piauí ser diferente. Somos simplesmente diferentes - essa é a verdade -, como sempre fomos. Hoje, somos o nome de uma conceituada e jovem revista que nasce neste País.

Hoje, passei o dia a ler. Tinha recebido muitos e-mails sobre a sua existência. O Senador Arthur Virgílio, inclusive, foi o primeiro a se congratular pela escolha do nome Piauí para a revista.

Piauí é um nome indígena que significa “peixe pequeno”, que dá no nosso Estado. No Piauí, há 19 rios - 6 perenes, Marco Maciel -, lagoas e zonas onde jorra a água, fora dezenas de açudes que construí quando governei aquele Estado. Mas não é bem por aí. Somos diferentes mesmo. Quero dizer que muita gente deu, justamente quando era Governador, motivo de processo contra uma editora que tirou o Piauí do mapa do Brasil. A ignorância é audaciosa; não é como o desdouro.

Senador Alvaro Dias, este País tem 506 anos. Foi descoberto por portugueses. Tivemos as capitanias hereditárias, os governos gerais. Os filhos, os imperadores, a filha, o próprio Rei de Portugal vieram aqui governar. Aí nasceu a República com o Marechal Deodoro, o baiano Rui Barbosa, que escreveu a página mais bela nesta Casa. E atentai bem, brasileiros e brasileiras: Rui Barbosa, que teve 32 anos, só foi governo com Deodoro, com Marechal Floriano. Quiseram meter outro militar e ele disse: “Tô fora!” Ofereceram-lhe de novo o Ministério da Fazenda. Senador Alvaro Dias, e ele disse: “Eu não troco a trouxa de minhas convicções por um ministério.” E saiu faceiro da campanha civilista.

Por que o nome Piauí? Já éramos grandes. Antes este Brasil se tornou grande - e aí está Antonio Carlos Magalhães testemunhado -, tudo foi pacífico, de pai para filho: “Filho, antes que algum aventureiro coloque a coroa na cabeça, coloque-a. Você fica com o sul e eu vou ficar com o norte”. Seria País Maranhão. Essa era a determinação de D. João VI. E o Piauí foi o primeiro Estado que enfrentou uma batalha sangrenta, em 13 de março de 1826, para expulsar os portugueses do Brasil.

Então, brasileiros e brasileiras, quando vocês virem esse mapa grandão, lembrem-se de que devem isso ao Piauí, aos piauienses, com aliados cearenses, que expulsamos na Batalha de Genipapo: os portugueses foram para o Maranhão, que era ligado a Portugal. O nome do País seria Maranhão.

A Bahia nos seguiu, em 2 de julho. Eles também tiveram uma batalha sangrenta e expulsaram do norte os portugueses. Mas tudo começou no Piauí.

A República foi outro fato muito importante. E Jô Soares, no programa dele, Marco Maciel, reprisava vários pronunciamentos meus em que eu pronunciava, com muita grandeza, o nome “Piauí”. Ele dizia para os donos, os editores, os idealizadores da revista que o Mão Santa, com certeza, iria divulgar muito essa revista e que ele nunca tinha visto se falar tanto no Piauí neste Senado. Estamos aqui para ligar a comunicação.

Senador Antonio Carlos, da Bahia, atentai bem: quando este País era um império, o primeiro órgão de comunicação que surgiu no Piauí tinha o nome de A Ordem. Um jornalista de Barras, David Caldas - daí Barras ser chamada de “terra dos governadores”, porque já deu cinco deles -, idealista, pegou o jornal A Ordem, que o português Saraiva havia criado, e mudou o seu nome para Oitenta e Nove. Atentai bem: 17 anos antes, no Piauí, em Teresina, circulava o jornal Oitenta e Nove.

Hoje, Senador Alvaro Dias, esse nome pareceria nome de cachaça, mas não era. Era aquele piauiense e jornalista que inspirava o povo brasileiro a fazer o que tinha ocorrido na França: o grito de igualdade, liberdade e fraternidade, que fez com que caíssem os reis. Há 17 anos, no Piauí, circulava o jornal Oitenta e Nove. Ele foi o profeta da República. Foi esse jornal do Piauí que saiu circulando.

            E justamente 100 anos depois, em 15 de novembro de 1889, é que se deu a República. Deodoro, o Exército e tal.

            Mas foi lá, no Piauí, onde isso ocorreu. Então, é o reconhecimento da nossa grandeza e da nossa história.

E atentai bem: vocês poderiam dizer que o Mão Santa está com uma história velha. História velha, uma ova! Ô, Marco Maciel! Nós somos diferentes e a melhor gente deste Brasil!

Durante o período da ditadura militar, só um jornalista teve a maior bravura. Só um! Só um: Carlos Castello Branco. Castelinho, do Piauí, representava os anseios. Ainda hoje, o jornal repetia sua crônica de Castello.

Essa é a tradição da independência e da coragem que eu trago aqui. É em função desta que eles têm certeza de que eles podem comprar tudo, com mensalão e tudo mais, mas não podem comprar o Mão Santa, porque o Mão Santa é do Piauí, Piauí de vergonha! Essa é a verdade. E tenho a consciência de dizer: aprendam.

Eles querem fazer disso aqui Cuba, e nós não deixamos. De Venezuela, de Chávez, e nós não deixamos. A Oposição é significativa. Sou orgulhoso de ser Oposição. Rui Barbosa se eternizou como oposicionista. Ele teve poucos anos de governo: com Deodoro e Marechal. Presidentes, nós tivemos muitos. Ninguém se lembra de dez, nem nós, Senadores, sabemos nome de dez. Nem o Marco Maciel, que é da Academia de Letras, mesmo ele com o Fernando Henrique. E ele não podia esquecer... Mas, Rui Barbosa, todo mundo sabe. Ele foi um bravo, Senador.

Mas por que Piauí, Antonio Carlos Magalhães? Rui Barbosa ganhou as eleições no Piauí. É... nós somos diferentes!

            Luiz Carlos Prestes, um militar brilhante, saiu com a Coluna Prestes. Ia tomar Teresina. Não tomou. Prendemos Juarez Távora, seu companheiro.

Estamos aqui. É esse Piauí que é reconhecido com essa revista.

Antonio Carlos Magalhães, andei lendo aqui. Isso aqui é típico do nordestino, a geladeira com o pingüim e tal.

Trata-se de uma revista como a Seleções. Senador Geraldo Mesquita, como a revista Seleções: multicultural, temas variados, revista independente, publicada em inglês, espanhol e português. Seleções!

Aqui, num dos primeiros artigos, sabem que é? Vou ler só um tópico, para V. Exªs virem como é interessante. Li e a considerei boa, estou com os dois primeiros números. “Um horror, grande mundo, um silêncio profundo”.

Trata-se do Roberto Jefferson, esse Roberto que andou por aqui. Mas é interessante. Eu só vou ler a parte que diz respeito ao Congresso.

Atentai bem, Geraldo Mesquita! É interessante o artigo dele. Esse Roberto Jefferson é muito interessante. Diz:

Dos políticos que admira, põe no topo Fernando Henrique Cardoso. ‘Fernando Henrique Cardoso’ - diz ele - ‘te faz importante, te chama, te seduz, busca a sua opinião. Ele, o Presidente da República; você apenas líder do partido.

É a relação do romance, em oposição à relação do PT, que é a da prostituta.

Mas ele vai mais adiante aqui, para nós:

            Segundo Jefferson, para sobreviver em Brasília é necessário ter relações, palavra empenhada e não ser pequeno. O que significa ‘não ser pequeno’? ‘Significa não sucumbir à pequena negociata, ao dinheiro miúdo para aprovar essa ou aquela emenda.’

É interessante ler.

Há também um artigo da Trip que reconhece a grandeza do Piauí. Era um sistema de comunicação que já ia... Mais adiante há um jornalista piauiense, que edita aqui na Câmara um programa de televisão, que é justamente:

“Queima Raparigal, do Piauí!”

O Piauí, pátria de Mário Faustino e Torquato Neto, não foge à regra. Que o diga o jornalista e escritor Paulo José Cunha, autor da Grande Enciclopédia Internacional do Piauiês.

Ele produz um programa importante na TV Câmara Federal.

O interesse é que a revista é muito oportuna. Tem uma reportagem, Senador Marco Maciel... Hoje, os médicos residentes estão em greve no País. É uma greve séria, Senador Geraldo Mesquita. A Residência é a única coisa séria na estrutura de formação do médico brasileiro.

Eu o fui, sou orgulhoso de tê-lo sido. E acho que foi a parte mais importante da minha vida.

Os médicos, com um currículo de seis anos, adentram, internam-se e dedicam-se em um hospital para sua formação. E nessa revista, parece que antecedendo, há um diário: “Ganhei a primeira cruz no meu bisturi”. Ele é um médico residente contando seu diário, sua luta. Com 27 anos de idade e quatro de residência, o cirurgião capixaba Jório de Barros se divide entre o Hospital Federal, de Andaraí, na Zona Norte carioca, e o Hospital da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Ele chega a ganhar um salário de R$ 1.400,00. O pai é urologista, a irmã é radiologista, e ele mostra a luta desses jovens que estão aí.

Senador Geraldo Mesquita, observe que um engraxate - com todo respeito - ganha muito mais do que esses médicos. Esses médicos residentes ganham um pouco mais de R$1.000,00, mas trabalham. Eu trabalhei muito, dava treze plantões por mês, fora os plantões noturnos. E são eles que sustentam o hospital.

O que eles exigem é um salário que lhes dê dignidade, porque eles precisam se vestir, se movimentar, comprar livros que são caros. E também que os hospitais tenham responsabilidade, porque eles se entregam ali por uma honestidade profissional, pois eles querem aprender. Então, que os hospitais que oferecem residência se responsabilizem pela formação dos médicos e não os utilizem como uma mão-de-obra barata e irresponsável.

Então, acho que essa revista é muito necessária e que o País deve ler a reportagem de um médico residente, a ideologia, o sonho, a pureza, a coragem, o ideal do jovem médico e as dificuldades que ele passa hoje. Esta é a medicina real.

Quero agradecer ao Jô Soares, que o foi o primeiro a divulgar e propagar essa revista cujo nome é grandioso. Sem dúvida alguma, ela vai marcar página na nossa vida.

Senador Marco Maciel, eu diria como Gonçalves Dias: Todos cantam sua terra, também vou cantar a minha; nas débeis cordas da lira hei de fazê-la rainha. Isso foi Gonçalves Dias (sic). Mas, no Piauí, Adalberto Costa e Silva, Presidente da Academia de Letras, filho do poeta Da Costa e Silva, esse poeta que fez o hino do Piauí diz:

Piauí, terra querida, Filha do sol do equador, pertencem-te a nossa vida, nosso sonho, nosso amor! Na luta, o teu filho é o primeiro que chega. Essa é a nossa História.

Mas esse Costa e Silva é o pai do seu colega Adalberto Costa e Silva, que foi embaixador do Itamaraty com muito brilho. O pai dele, nosso poeta, disse assim: “Minha terra é um céu, se há um céu sobre a terra.” Da Costa e Silva.

Por isso tudo, o Piauí é homenageado, e nós estamos aqui. E quis Deus... Está aí o Senador Marco Maciel, um homem muito de Deus. O Marco Maciel, se tivesse entrado mesmo na vida sacerdotal, com certeza teria sido o primeiro Papa brasileiro pela sua formação e tal. Senador Marco Maciel, não sei se está escrito na Bíblia esse negócio: Deus escreve certo por linhas tortas. Nunca ouvi dizer, mas o povo diz, e a voz do povo é a voz de Deus. Então está lá, e isso fica para o Crivella discutir com o Magno Malta se é verdade.

Queria fazer uma homenagem num momento difícil. Ninguém sabe, Geraldo Mesquita, os desígnios de Deus, são insondáveis e misteriosos. Senador Antonio Carlos Magalhães, queria prestar uma homenagem a um homem, num momento difícil, um filho dele sofreu um dano, nessa era da droga. Atentado, morre um, e o filho de menor envolvido. Nesses dias todos, eu quis telefonar, não sabia, é o tipo da coisa difícil. Eu tinha em mente prestigiar esse homem que, sem dúvida nenhuma, é o maior escritor piauiense vivo. Ele simboliza o Carlos Castelo Branco. É Zózimo Tavares, que sofreu esse drama. Eu não queria falar, queria apenas sugerir a revista que o solicitasse. Está aqui um dos livros escrito por ele: O Piauí no Século XX, Zózimo Tavares. Possui muitos livros: Falem mal, mas falem de mim; Pra seu governo; O pulo do gato; Meus senhores, minhas senhoras; Filosofia barata; O velho Jequitibá.

Cordel também ele tem vários e inéditos: Mapismo, Água Branca-Nossa História e Sociedade dos Poetas Trágicos.

Mas eu não queria... Era uma maneira de dizer para a revista buscar o que há de melhor, hoje, no Piauí. Não na sua história, não no seu nome, que é bonito - Piauí, ô nome, um bocado de vogal, tudo casada, juntinha, com grandeza!

Sugeri a ele interpretar a nossa história e o nosso sentimento, mas ele, tão autêntico, nesse momento de sofrer, fez uma carta e tornou-a pública. Eu não sabia. Era o tipo de drama, como chegar, como dar a solidariedade. É a droga, a droga que entra na sociedade, os tóxicos, que, no nosso tempo, não havia, Antonio Carlos Magalhães.

A primeira vez que vi maconha, Senador Geraldo Mesquita, eu já tinha sido Deputado Estadual. Foi em 1983. Nasci em 1942. Eu já era médico e tremi ali quando vi.

            A sociedade era pura. Tinha cabaré? Tinha. A gente ia? Ia. E era uma fonte de cultura, Marco Maciel, porque, naquele tempo, Cristovam Buarque, para namorarmos, para pegarmos na mão, para darmos um beijinho, era difícil. Tínhamos que aprender a dançar, não havia televisão para vermos, não havia escola de música... Era uma fonte de cultura, as meninas lá, íamos bailar, mas esse negócio de tóxico não havia na nossa geração. Eu vi em 1983, ainda me lembro de que tremi, porque já tinha sido Deputado Estadual, era médico, nasci em 1942 e, agora, ele aí, nessa irresponsabilidade.

Mas ele escreveu uma carta à sociedade. Lerei somente o final, que traduz. Sugiro a essa revista que peça permissão a ele e a publique na íntegra. Ele estava sofrendo com um filho menor de idade quando houve esses envolvimentos. Ele termina a carta dizendo:

Aceite com resignação o sofrimento que já começou e que ainda lhe espera na privação de sua liberdade. Tire lições dessa tragédia. Nunca esqueça que o sofrimento da família que foi vítima de seus comparsas é bem maior do que o seu e do que o nosso. Junte suas preces às nossas e ore por eles!

Não me pergunte quanto custou chegar até aqui, pois enxugo minhas lágrimas com o amor e o carinho que tenho por você.

Deus te abençoe!

Os desígnios de Deus, Senador Marco Maciel, são insondáveis e misteriosos. Talvez um homem de tanta valia, de tanta cultura e de saber, nesse sofrimento, para se engajar cada vez mais contra esse estado habitual e normal que está sendo a criminalidade, quase sempre motivo da droga.

Essas são as nossas palavras. Que possamos repetir aqui: “A minha terra é um céu, se há um céu sobre a terra”, como disse o poeta dos poetas piauiense, Da Costa e Silva, referindo-se ao Piauí, terra querida.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/11/2006 - Página 34417