Discurso durante a 12ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

A questão das desigualdades regionais.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. POLITICA NACIONAL.:
  • A questão das desigualdades regionais.
Aparteantes
Mozarildo Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 24/02/2007 - Página 2839
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. POLITICA NACIONAL.
Indexação
  • DEFESA, DIGNIDADE, EXERCICIO, ATIVIDADE POLITICA, ANALISE, MENSAGEM (MSG), FILOSOFIA, RELIGIÃO, HISTORIA, CONCLAMAÇÃO, GOVERNANTE, CRIAÇÃO, EMPREGO.
  • DENUNCIA, GRAVIDADE, AUMENTO, DESIGUALDADE REGIONAL, BRASIL, REGISTRO, DADOS, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE), ESPECIFICAÇÃO, COMPARAÇÃO, RENDA PER CAPITA, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), MUNICIPIO, ESTADO DO MARANHÃO (MA), OMISSÃO, GOVERNO, DESRESPEITO, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, SEMELHANÇA, ABANDONO, SEGURANÇA PUBLICA.
  • REGISTRO, PERDA, BRASIL, OPORTUNIDADE, PERIODO, CRESCIMENTO, ECONOMIA INTERNACIONAL.
  • COMENTARIO, GOVERNO ESTRANGEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, VENEZUELA, RESULTADO, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, CRESCIMENTO ECONOMICO, COMPARAÇÃO, SITUAÇÃO, BRASIL, EXCESSO, CORRUPÇÃO, SUPERIORIDADE, PREÇO, COMBUSTIVEL, FALTA, SEGURANÇA PUBLICA, QUALIDADE DE VIDA, PERDA, INDICE, AMERICA DO SUL.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Gilvam Borges, que preside esta sessão de sexta-feira, 23 de fevereiro, Senadoras e Senadores presentes na Casa, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação social do Senado. Professor Pedro Simon, acredito, como V. Exª, em Deus; acredito no estudo que busca sabedoria; acredito no trabalho que faz as riquezas.

Na minha formação, Senadora e Professora Serys Slhessarenko, impressionou-me muito a filosofia de Ducros, filósofo francês. Dizia ele, Senador Mozarildo Cavalcanti, que há três maneiras de sermos ignorantes: uma, não sabermos nada - dessa todos nós estamos livres -; outra, saber mal o que se deve saber; a terceira, e mais perigosa, é saber aquilo que não se deve saber. Procuro saber o que devo saber.

Foi longa e sinuosa a minha chegada aqui. Pode haver outros vultos, como o tão preparado Rui Barbosa, cujos ensinamentos também sei. Só há um caminho: a lei, a justiça e a salvação. Sei, porém, que a lei e a justiça são feitas por homens. Errare humanum est. Muito erra a justiça, porque é feita por homens. Homens são sujeitos passíveis de erros.

           Quero dizer que, cumprindo o mesmo princípio, eu me fiz cirurgião, estudando o que tinha de saber, e aqui estou. Acredito no estudo. Acredito também em Deus, na religião e em todos os caminhos que levam a Deus. A nossa religião, cristã - o catolicismo é um segmento -, aí está e respeita as outras religiões. São boas todas as que conheço. À mesma coisa me dediquei, quando, de chofre, o povo me fez Prefeito da minha cidade, Deputado, Governador e Senador.

           Entendo a humanidade, entendo Cristo, julgado. Entendo Sócrates, Joana D’arc e outros; Juscelino Kubitscheck aqui, cassado, afastado. Eu entendo as coisas. E estou combatendo o bom combate.

           Então, da mesma maneira que fui acreditado, Pedro Simon, às vezes, dá certo. O médico cirurgião era Juscelino Kubitscheck, e nós estamos aqui no sólio. Acusado ele foi; humilhado ele foi; julgado ele foi; abandonado ele foi; desprezado ele foi. Mas são os nomes do passado que me fixam a fazer política. E não abdico. Abdicar a política, ó, Gilvam Borges, seria abdicar a luta! Abdicar a luta, seria abdicar a vida!

           E, aqui, nós estamos numa dedicação à nossa consciência, ao povo e à luta. Eu sei que é difícil. Pedro Simon leu a Bíblia e ouviu falar na porta estreita. Eu estou na porta estreita. Muitos escolhem a porta larga da corrupção, da bandidagem, da safadeza, da imoralidade. Rui Barbosa está ali para ensinar os que não aprendem, os aproveitadores, os indignos. Não troco a trouxa das minhas convicções por um ministério. Aprendam, abutres! Aprendam! Perdi eleições e ganhei, mas nunca perdi, Pedro Simon, a vergonha e a dignidade. Rui perdeu até mais do que nós.

           Mas, para entender, aqui estamos, e me debruço a estudar. Estudar aquilo que é a riqueza. Daí isso se contrapor aos princípios da nossa religião católica. Nos primórdios, chegaram aqui e disseram: É mais fácil um camelo entrar no fundo de uma agulha do que um rico se salvar. Que pregação! A indolência, a preguiça. Acredito naquela voz que diz: Comerás o pão com o suor do teu rosto - o trabalho. E Paulo? Atentai bem, Pedro Simon, há um livro muito interessante que elege os cem maiores homens da humanidade. O historiador coloca Paulo na frente de Cristo e defende sua tese. Por que? Porque Paulo viveu mais, lutou mais; escreveu, pregou, lutou. Cristo viveu 33 anos. O autor apresenta suas razões.

           O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Um equívoco sério dele.

           O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Não estou ouvindo a participação de V. Exª.

           O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Um equívoco sério dele.

           O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Sim, do autor. Não o estou justificando. Esteja Paulo antes ou depois, não os classifiquei; estou reproduzindo o livro, que é bom que tenham. E o autor dá suas justificativas. É muito ousado o sujeito fazer uma classificação de um a cem. Mas ele ousou. Platão já dizia: seja ousado, seja ousado, mas não em demasia.

           Talvez ele não tivesse lido Platão - ousadia com prudência -, mas classificou.

           Estando à frente ou atrás de Cristo, Paulo disse: quem não trabalha não merece ganhar para comer. Juntando-se essa mensagem à de Cristo, tem-se uma mensagem aos governantes, para que propiciem trabalho. O trabalho é que faz a riqueza, é o que vem antes de tudo.

           Então, a riqueza é bendita. Surgiram Lutero, Calvino. Calvino viu que o trabalho é bem-vindo. O trabalho faz a riqueza, e a riqueza faz o bem. E multiplicaram-se essas outras religiões cristãs. Calvino, na sua lucidez, prega o respeito ao trabalho e à riqueza que vem do trabalho e não da corrupção, que ecoa.

           Foi Ulysses que disse: “A corrupção é o cupim da democracia”. Pedro Simon, V. Exª nunca viu, na sua vida, tanta corrupção como neste mar que aí está! Não é mar, Pedro, é oceano, é o universo em que vivemos. Corrupção, sonegação - os poderosos não pagam -, desperdício, incompetência! A máquina administrativa do Dasp de Getúlio companheiros incompetentes esmolambaram. Mas uma coisa que nunca vi errar, Senador Gilvam Borges, é o ditado, a sabedoria popular: “É mais fácil tapar o sol com uma peneira do que esconder a verdade”. Goebbels, mídia, Globo... “Isto é uma vergonha!” Tiraram do ar Boris Casoy, mas, na verdade, está aí.

           Estudei um livro muito interessante de Economia. Acredito no estudo. Tem uns que não acreditam, que lêem uma página do livro e dizem que dá uma canseira. Eu acredito. Penso que o estudo busca a sabedoria. Ó Pedro Simon, está no Livro de Deus, sabedoria é ouro. História da Riqueza do Homem, de Leo Huberman. E outro, Riqueza das Nações, de Adam Smith. E eu trago a verdade aqui para o Brasil.

           O Paulo Brossard, lá do Rio Grande do Sul - não sei se você gostava dele ou se ele gostava de você, não me interessa -, disse que a Oposição não precisa pedir licença para fazer oposição. Ele disse que chegou a um milhão de votos. Então, tinha que falar para um milhão de bocas. E falava três horas, três e meia, igual a Santo Estevão, aquele em quem jogaram pedra. Mas Petrônio regulou e ele passou a falar em uma hora, e ele dividia o discurso. E como serviu! E não foi só isso, não. 

           Palavras que não são seguidas de obras já nascem mortas - Tiago, não é, Senador Crivella? E Paulo Brossard veio aqui para a arena, deu o seu nome para Vice-Presidente do General Euler, depois do 1974 de Ulysses. Mas, antes, Pedro Simon, eu já estava na luta em 1972. Sei que a sua é anterior, mas eu, como diz o caboclo, não foi nas coxas que fui feito. 

           Em 1972, com esse seu PMDB, conquistávamos contra os canhões - era Alberto Silva Governador da ditadura, soldado da revolução, da cidade mais importante, a minha cidade de Parnaíba. O ano de 1972 é antes de 1974, de Ulysses. Sei que V. Exª é antes.

           Quero lhe dizer a verdade: fui Deputado Estadual. O povo me tirou de uma sala de cirurgia, um templo, Senador Gilvam Borges, de trabalho, onde essas mãos, guiadas por Deus, salvavam um e outro acolá. E eu, Deputado Estadual, vi um homem que foi Senador: João Lobo. Não sei se V. Exª se lembra,. ele era Deputado comigo. Atentai bem Pedro Simon, atentai bem: o passado é para ser vivido e o presente está enegrecido, está envergonhado. João Lobo foi Senador e, depois, quando eu era governador, dirigiu a companhia energética. Eu o coloquei porque ele era amigo do Fernando Henrique Cardoso e eu precisava desse vínculo. Gilvam Borges, eu o ouvi dizendo, entre os anos 80 e 82: há dois Brasis. o Brasil do sul, rico, e o do Norte e Nordeste. Dois Brasis. Lá eles ganham o dobro da gente. Pedro Simon, do sul, ganhava o dobro de nós, em 1980.

           Ô Pedro Simon, ó Presidente Sarney, acorda! Acorda! João Lobo disse em 1980 que há dois Brasis O sul, simbolizado, ganha o dobro. E no Nordeste, dois nordestes. Naquele tempo, os ricos: Bahia e Pernambuco. Gilvam, aí tem dois nordestes. Piauí, Maranhão e Paraíba ganham somente a metade. Então, naquele tempo, o João Lobo, o sábio, o Senador do Piauí, disse que a diferença era de quatro vezes, Crivella. Sarney, acorda! Renan, acorda!

           O IBGE está aí, não é meu. De quem é o IBGE? É do Governo. Crivella, são os dados, os números. Pedro Simon, a cidade de maior renda é Brasília. Maior renda pessoal. A menor? No Estado do Maranhão. É nove vezes maior. Era apenas quatro.

           João Lobo despertava, e eu acordei. Presidente Lula da Silva, eu estou para ensinar mesmo. Sabe quem foi Emerson, Presidente Lula da Silva? Ralph Waldo Emerson, filósofo norte-americano. Mozarildo, ele disse: toda pessoa que eu encontro é superior a mim num particular e, nesse particular, eu procuro aprender.

           É isso, Presidente Lula: da Silva, nove é mais que o dobro de quatro, Pedro Simon. Esta é a desigualdade que emociona, que comove, que entusiasma e que faz lutar, Mozarildo.

           Ô Gilvam. Você é macho!

           Pedro Simon, não sou contra, não. Sou a favor de Deus, do povo de Deus, da democracia.

           Prove-me que não é - õ Presidente Sarney - nove vezes! E é o Maranhão! Tirei o Piauí da lanterna, fui Governador e passei dos índices, todos melhores do que os do Maranhão, o povo do Piauí trabalhando e lutando com dignidade, esse povo que me trouxe. Está o colégio do Piauí tirando o primeiro lugar - a universidade e a inteligência. Ganhamos dos índices da Paraíba, de Alagoas, quase todos, Senador Renan, o Piauí, acreditando em Deus, no estudo, no trabalho e na honestidade, sofrendo na porta estreita, na estrada estreita; sofrendo, calado. É duro, Pedro Simon, não sei qual a sua estrada. A minha é essa e posso dizer.

           Quero dizer aqui: busquem o IBGE: Brasília, ilha da fantasia, a maior renda per capita, e o Maranhão nove vezes menor.

           Pedro Simon, de que adiantou? O Mozarildo hoje falou mais do que todas as árvores que há na Amazônia. E o Gilvam, com o entusiasmo e a solidariedade, lhe deu tempo, muito tempo. Mas eu também tenho lutado, e, no entanto, aumentou essa diferença, Pedro Simon. De quatro, passou para oito vírgula tanto, quase nove - aproximo porque o negócio melhorar não melhora. Quem está acostumado com isso? Para ser verdadeiro, não é nove, mas é oito vírgula tanto.

           Então, o que adiantou estar na Constituição que se tem que diminuir a desigualdade? Transformar o Bolsa-Escola em Bolsa-Esmola? Pedro Simon, não acredito! A esmola eu dou, eu acredito. Olha, ando com dinheiro pouco para, quando encontrar um esmoleiro ou um aleijado, eu dar. A minha mãe era da Ordem Terceira Franciscana, entendeu? Mas não acredito que isso vá diminuir essa diferença; acredito que vá aumentar. Acredito em estudo, que diminuiu no Brasil todo. Acredito no trabalho, e estão aí as estatísticas: aumentou o desemprego. E acredito no estudo, Pedro Simon. Ô Pedro, Pedro, seu nome é igual ao daquele que titubeou diante de Cristo. V. Exª não pode! Prefiro: não, não conheço. Esse problema, você conhece. Isso não vai diminuir.

           Norberto Bobbio, que estudou isso, disse, Mozarildo: “O mínimo que se tem de exigir de um governo é segurança.” Segurança à vida. Pedro, olha o caso do João Helio. Aquilo foi uma barbárie, Pedro!

           Pedro, viajo com minha Adalgisa para Buenos Aires e andamos de mãos dadas às quatro horas da manhã. Pedro, convido-o a andar de mãos dadas com a Ivete ou o Lula com a encantadora D. Marisa, na Cinelândia, na rua do Ouvidor, onde eu ia namorar - Adalgisa não tinha nascido - com colegas gaúchos, Léo Gomes e outros amigos com suas namoradas. Íamos tomar o chocolate das cinco horas, costume gaúcho. Não era do Piauí, mas ia pela companhia. Hoje, a Confeitaria Colombo fecha às cinco horas da tarde, porque não pode permanecer aberta. Ô Crivella, há assalto. O Passeio Público, a Praça Paris, e bem aí, na Argentina, a gente anda. No Chile, Pedro, vi a população dizer: “A polícia daqui não é corrupta”. Brasileira e brasileiro, V. Exª tem a coragem de dizer isso, Pedro? Nós vivemos uma barbárie. Mas isso tudo...

           O Sr. Mozarildo Cavalcanti (Bloco/PTB - RR) - Senador Mão Santa...

           O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Dar-lhe-ei o aparte. Foi o discurso de V. Exª que me entusiasmou, defendendo o Amazonas.

           Aí, vi que nem tudo está perdido, que há ainda homens como Brossard, como Marcos Freire, como Ramez Tebet, como Teotônio, seu irmão gêmeo de ideal; como Ulysses: “Ouça a voz rouca das ruas”. Pedro Simon, a gente entende as coisas. O que é uma cidade? Era a Igreja,. dona de todas as terras. O “cara” morar nas terras dos antigos católicos, eram dez por um. Aí, eles resolveram que não dava, a exploração era demais. Saíram para longe, e saíram outros, e vamos aqui cada um trabalhar. Assim, começaram as primeiras, por abuso do poder e da Igreja. Não falo na Inquisição, porque essa é pior ainda; falo das terras de Deus.

           E eles foram, cooperavam uns com os outros, fizeram regras - é assim o mundo, ó Pedro -, que o homem, na sua sabedoria, chamou de leis, querendo imitar as leis de Deus. Mas era um respeitando os direitos, o trabalho e a dignidade do outro. Essas regras não atendem a quem está na favela, no Amazonas, no Piauí. A essa lei por que eles vão obedecer, se não atendem? Eles não têm o trabalho, que leva à dignidade, à educação e à saúde. Eles não têm a esperança, Crivella. Então, está aí a barbárie em que vivemos.

           O Sr. Gilvam Borges (PMDB - AP) - Senador Mão Santa, V. Exª conceda um aparte ao Senador Mozarildo.

           O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Vamos conceder o aparte. Aliás, estamos na tribuna - Padre Antônio Vieira disse que um bem nunca vem só; é acompanhado de outro bem - por causa do discurso vibrante de Mozarildo.

           Acho que o Amazonas deveria ser um país, porque lá está um desgoverno. Aquela votação, aquilo está um desgoverno, e V. Exª é um dos nomes. E está aí a União Socialista, antiga União Soviética. Andávamos lá, ó Pedro Simon, ó Crivella, e era uma fila para chupar um picolé, mas melhorou depois da divisão. Olhem os Estados no Brasil. Acho que a Amazônia tem de pensar em ser um país, e o Nordeste também. E o Maranhão tem de guiar. Está ali, chegou do Maranhão, ó Pedro Simon, são nove vezes de renda menor. O João Lobo já esbravejava, tremia de indignação, porque a diferença do Sul para nós, do Maranhão e do Piauí, era de quatro vezes. E aumentou. Mas me debrucei sobre A Riqueza das Nações, de Adam Smith e sobre a História da Riqueza do Homem, de Leo Huberman.

           Pedro Simon, tudo são ciclos - ciclos biológicos, ciclos de vida, ciclos, ciclos de grandeza. Ciclos na política! Houve o ciclo de Getulio Vargas, não é verdade? Agora, está o gaúcho, o ciclo de Pedro Simon. Tudo é cíclico. A economia também é cíclica, Pedro Simon. Então, nós vivemos um ciclo bom, de fartura, de riqueza: a Índia, a China, todo o mundo produzindo.

           O Sr. Gilvam Borges (PDMB - AP) - Senador Mão Santa, não se aborreça, mas é tão empolgante o pronunciamento de V. Exª que, em certos momentos, V. Exª esquece o aparteante, que está ávido, ansioso, para contribuir com o seu pronunciamento. Eu apelo para que V. Exª conceda um aparte ao nobre Senador Mozarildo Cavalcanti.

           O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Olhe, V. Exª, eu agradeço até. Mas acho que ele é o responsável pelo meu entusiasmo, pois, ao iniciar esta sessão, com igual entusiasmo, defendia a gente, a causa, discorrendo sobre a pobreza, as diferenças e a nossa desigualdade.

           Com a palavra este que - eu preconizo - pode ser o primeiro presidente daquilo que tem de ser um país, porque está abandonado. Com a palavra V. Exª.

           O Sr. Mozarildo Cavalcanti (Bloco/PTB - RR) - Senador Mão Santa, eu estava pacientemente esperando, porque, como obstetra, preciso ter paciência para esperar o parto sem me precipitar. O Senador Gilvam Borges é que realmente se impacientou. Mas quero voltar a dois pontos do pronunciamento de V. Exª: primeiro com relação às desigualdades regionais, uma coisa deve ser batida com intensidade. Não adianta falarmos aqui em eliminar as desigualdades regionais com o PAC, esse Programa de Aceleração do Crescimento, que não vai eliminar coisa alguma, porque é apenas um ajuntamento do que já está aí. O que deve acontecer é o órgão que existe para isso, que é o BNDES, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, cumprir a sua função. Ele, hoje, não cumpre a sua função; só investe no Sul e no Sudeste. Estão aí todos os números comprovando. Eu já fiz um pronunciamento a este respeito, e nós temos de cobrar. Na semana que vem, pretendo formular uma representação ao Procurador-Geral da República, para que ele, realmente, diga se isso está correto, se está cumprindo a sua finalidade. A Constituição estabelece que uma das finalidades da República é eliminar as desigualdades econômicas e sociais. O BNDES é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, mas não é mais isso. Ele é o Banco do Desenvolvimento do Sudeste - BDS. Quanto à segurança, nós, nesses dias, temos debatido esta questão. Li um artigo de um jornalista, afirmando que a situação levou o debate a uma simplificação, em que se diz apenas que a culpa é da pobreza; isto é, o bandido virou santo, porque o bandido é pobre. E, ao mesmo tempo, está se demonizando o pobre, dizendo-se que todo pobre é bandido, quando é o inverso. A maioria dos pobres é honesta, e o que se vê é que a maioria das pessoas que se diz rica pratica roubos homéricos. Então, precisamos discutir a questão sob um âmbito mais amplo, em profundidade - repito - combatendo, com urgência o que é urgente e debatendo em profundidade o que pode ser resolvido a médio e a curto prazo. O certo é que nem uma coisa e nem outra vêm sendo feitas adequadamente, não só no Governo passado do Presidente Lula, como também não estão sendo esboçadas neste que se iniciou agora. Precisamos que realmente o Congresso Nacional instale a comissão proposta pelo Senador Gerson Camata, uma comissão mista, Senado e Câmara, bem como uma outra, cujo requerimento já encaminhei, no âmbito da nossa Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, para que debata, como Comissão de Segurança Pública, todas as medidas referentes ao Legislativo, capazes de resolver o assunto. No entanto, o Judiciário, o Executivo Federal, o Estadual e o Municipal têm de se envolver. V. Exª abordou esses dois pontos que me sensibilizam muito. A eliminação das desigualdades regionais, inclusive, tem a ver também com a questão da insegurança, da bandidagem, que hoje impera. Por quê? Porque a migração para os grandes centros favorece inclusive a utilização dessas pessoas pelo narcotráfico.

           O SR. MÃO SANTA (PFL - PI) - Agradeço e peço à Taquigrafia para incorporar todas as palavras, pontos, vírgulas e intenções. V. Exª enriquece a classe médica, que representa muito bem, os Maçônicos e o povo da Amazônia. V. Exª é um homem de muita coragem. Ulysses disse que, sem coragem, desaparecem todas as outras virtudes. Então, todas as outras acompanham a coragem de V. Exª.

           Vou fazer uma comparação, Gilvam Borges, e, para isso, não vou buscar exemplos na Suíça, mas aqui, em um país vizinho. Nós vivemos uma barbárie, isso não é civilização. Está todo mundo atemorizado e preso. É um João Hélio a cada instante. Isso é uma barbárie! Vivemos um ciclo de riqueza e não o aproveitamos. Está todo mundo produzindo petróleo, a indústria cresce em toda parte, cresce a produção na China e no mundo todo. Atentai bem!

           Pois bem, vejamos o exemplo da Venezuela de Chávez. Por que o nosso Presidente, o querido Lula da Silva, não fala sobre o preço do petróleo? Mozarildo, o povo de sua Boa Vista, em Roraima, enche o tanque de gasolina do carro na Venezuela por cinco reais. Para fazer o mesmo aqui, gasta quase 150 reais. Um botijão de gás, no meu Piauí, custa quarenta reais; lá, cinco reais. Lula, Chávez teve coragem...

           O SR. PRESIDENTE (Marcelo Crivella. Bloco/PRB - RJ) - V. Exª tem mais dois minutos para concluir seu pronunciamento. Temos aqui vários oradores inscritos, e V. Exª sabe que são vozes importantes neste Senado. Como a sessão deve terminar às 13 horas, pedimos a V. Exª que conclua seu pronunciamento.

           O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Sei que V. Exª leu a Bíblia, já que é pastor. Ela diz: “Pedi e dar-se-vos-á”. Então, dê-me em dobro: peço-lhe quatro minutos.

           O SR. PRESIDENTE (Marcelo Crivella. Bloco/PRB - RJ) - V. Exª tem os quatro minutos.

           O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Ele atende!

           A Venezuela, Pedro Simon, a Venezuela do Hugo Chávez - ele teve coragem - cresce bem acima do Brasil, quase 10%, e os efeitos sociais são claros. Entre 2002 e 2005, a população venezuelana abaixo da linha de pobreza caiu de 49,4% para 37,1%, redução de 12,3%. Ele teve coragem, fez, tomou, baixou. Aqui, a Petrobras é usada numa farra política. Por que temos a gasolina mais cara do mundo? Nós não somos auto-suficientes?

           A Argentina é um paraíso. A Argentina está crescendo 10% ao ano. Sou louco pelo Rio de Janeiro, estudei lá, mas tenho medo de andar por suas ruas. Pois na Argentina, pego a Adalgisa e saio às 4 horas da manhã, namorando. Aqui quem tem coragem de fazer isso? Vá, Lula da Silva, com a sua encantadora Marisa, dar uma volta no Rio de Janeiro!

           E o Kirchner? A pobreza caiu de 45,4% para 26%, quase 20% em três anos. É bem ao lado! Hoje, a Argentina cresce quase 10%, quase igual à China. Olha, quando se vai lá se vêem muitos brasileiros a turismo. Eu vou lá, e perguntam: “O senhor é o Mão Santa?” - a TV alcança o povo! As pessoas têm medo de andar aqui, vai todo mundo para Buenos Aires.

           Deve ser igual o número de argentinos e brasileiros que andam por lá! E assim é, porque é impossível andar com tranqüilidade diante da barbárie que domina o País. Quanto ganha um soldado no Brasil? Discutem-se aqui salários altos, gigantes, astronômicos, mas e os pobres dos soldados ganham quanto?

           O Chile é um exemplo. Sabe o que eles dizem, Gilvam? Que Santiago é a Londres da América do Sul, que o Chile é a Inglaterra sul-americana. Há uma lei, Gilvam Borges, que estabelece que o chileno hoje tenha doze anos de estudos e fale duas línguas. Eles dizem: “A polícia aqui não é corrupta”. Quem é que consegue isso? Está aí a Argentina, o Chile, que é campeão, e o Uruguai, que tem o tamanho do Rio Grande do Sul. Cada um tem cinco bois, proporcionalmente, em qualidade de vida e civilização, paz. Graças a Deus, há o Haiti para que não fiquemos em último lugar, Pedro Simon. Em verdade, eu vos digo: nós estamos um pouco melhor do que o Haiti, que está em guerra.

           E Zózimo Tavares - é o Castelinho, Carlos Castello Branco -, num jornal do Piauí, diz o seguinte: “Estado afunda em dívidas”. É a corrupção angustiando o Governo. Médicos do Piauí podem fazer paralisação geral depois do carnaval; médicos acusam o Governo do Piauí de dar calote. Não se paga! A Maternidade do Hospital Universitário de Brasília está parada porque não tem neonatologistas. Aqui, Pedro!

           Então, são as nossas palavras. Pedimos, desde já

           Presidente Lula da Silva, essa é a realidade. O monstro que está aí é a violência. Faça como Fernando Henrique Cardoso, que, com Itamar, enfrentou o monstro da inflação e o matou, que enfrentou o apagão com a criação de uma câmara de gestão: fizeram um mutirão, e saímos do apagão. Temos de criar um mutirão contra a violência.

           Cícero, na Roma antiga, disse: “Pares cum paribus facilime congregatur”. Pedro Simon, violência atrai violência.

           Dizia o General Álvaro Obregón, do México, que preferia um adversário que lhe trouxesse verdades a aliados que lhe dessem a ilusão da bajulação. Pedro Simon, sou do PMDB de verdade, trago a verdade e falo, como Ulysses mandou, ouvindo a voz rouca das ruas.

           Era o que tinha a dizer.

           Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/02/2007 - Página 2839