Discurso durante a Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Receio de que o apoio do PMDB possa transformar o Presidente Lula em um "super Chavez", comparando o Presidente Lula ao Presidente Hugo Chavez, da Venezuela.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Receio de que o apoio do PMDB possa transformar o Presidente Lula em um "super Chavez", comparando o Presidente Lula ao Presidente Hugo Chavez, da Venezuela.
Aparteantes
Cristovam Buarque, Gilvam Borges.
Publicação
Publicação no DSF de 10/02/2007 - Página 1568
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • ANALISE, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), BALANÇO, HISTORIA, BRASIL, REPUDIO, AMIZADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, VENEZUELA, INFLUENCIA, AUTORITARISMO.
  • COMENTARIO, LIVRO, AUTORIA, ROBERTO JEFFERSON, EX-DEPUTADO, CRITICA, FALTA, ETICA, MORAL, CONDUTA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
  • REGISTRO, POSIÇÃO, IGREJA CATOLICA, CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, GOVERNO FEDERAL, PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO, AUMENTO, GASTOS PUBLICOS, PROPAGANDA.
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, FALTA, EMPENHO, GARANTIA, SEGURANÇA PUBLICA, CONTENÇÃO, VIOLENCIA.
  • REPUDIO, REALIZAÇÃO, PARCERIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PREJUIZO, LIBERDADE, DEMOCRACIA, BRASIL.
  • CRITICA, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, NEGAÇÃO, IMPORTANCIA, REALIZAÇÃO, LEITURA, SUGESTÃO, CHEFE DE ESTADO, AMPLIAÇÃO, RELEVANCIA, JUDICIARIO, LEGISLATIVO, GARANTIA, ESTABILIDADE, GOVERNO.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Alvaro Dias, que preside esta sessão de sexta-feira, 9 de fevereiro, Senadoras e Senadores que estão na Casa, brasileiras e brasileiros aqui presentes e aqueles que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, Senador Gilvam Borges, desculpe-me antecedê-lo, mas Cícero, o grande orador romano, ensinou: “Nunca fale depois de um grande orador”. E eu me sentiria inibido em falar depois de V. Exª.

Então, estamos aqui. Quis Deus estar o Senador Camata presente, um lutador do PMDB. Senador, preocupo-me com este País. Somos de Deus, nesta Casa temos ali a imagem de Cristo. A criação deste Poder foi uma inspiração de Deus. Moisés, o grande líder, ungido por Deus, não falava assim tão bonito como o Senador Gilvam Borges. Ele tinha um irmão, Aarão, que falava por ele. Moisés recebeu a dura missão de libertar seu povo e aceitou-a. Não queria saber se o faraó era forte, se tinha exército, se tinha mar. Ele foi. Mas quis desistir, porque Deus tinha entregado-lhe as leis, as Leis de Deus. Eu queria que esse Governo aprendesse pelo menos uma: não roubar. Só uma das dez. Ó, PT!

Mas, Senador Camata, ele quis desistir, porque partiram para a vida mundana, para as facilidades, para os bezerros de ouro da vida, encantados com o poder como os de hoje estão. Ele quis largar tudo, mas ouviu uma voz - ele tinha esse privilégio: “Busque os mais experimentados e construa um conselho, que eles o ajudarão a carregar o fardo do povo”. Os mais experimentados! Aí nasceu a idéia do Senado, melhorada na Grécia, na Itália, na França e melhorada no Brasil com Rui Barbosa, com Petrônio Portella, do meu Piauí, enfrentando a ditadura com inteligência, com firmeza. Quando fecharam esta Casa com os canhões de guerra, eu estava ao lado dele, Camata. E à imprensa ele disse só uma frase (ele era a autoridade da moral, Gilvam): ”É o dia mais triste da minha vida!”. Essa frase chegou aos generais, que mandaram reabri-la. “É o dia mais triste da minha vida!”.

Camata, isso é coisa de Deus; inspiração dada a Moisés: o Senado. Façam leis boas e justas, como as leis de Deus. Então, devemos levar em consideração. Está aqui: “Os bispos recomendam a revisão de salários”. Atenção, estão preocupados com a política. Os bispos! Que beleza, Camata.

Onde está a OAB? Onde está a ABI? Onde está a UNE dos nossos tempos? A brava UNE? Os sindicatos estão entregues ao seu criador.

Camata, quis Deus V. Exª estar aí. Pode até ser. Eu me preocupo. Isso foi melhorando e o homem criou essa democracia representativa. Não podia ser aquela da Grécia em que cabia ao povo lá decidir cada questão. E lá onde se escreveu “liberdade, igualdade e fraternidade”, e desse grito caíram todos os reis absolutos, estão querendo ressurgir os poderosos absolutistas, os Chávez, símbolo - a história se repete.

E criou-se um partido para nos trazer. E nós enfrentamos, Camata - atentai bem, foi Deus que colocou V. Exª, um dos independentes do PMDB, um homem de muita moral -, a ditadura, e fomos até felizes, porque, na França, onde começou, cabeças rolaram pelas guilhotinas. E nós, “Independência ou Morte”, e não houve nenhuma morte; a República. Saiu dela um gaúcho, tipo Paim, muito competente, um trabalhador honesto e honrado, que dedicou-se ao trabalhador: Getúlio Vargas. Mas voltamos a ressurgir a democracia. Eu não sei onde o Gilvam estava, o nosso Alvaro Dias não sei se tinha nascido, mas eu nasci por aí, no meio da guerra, daquela confusão. E surgiu um líder nesta Pátria, que disse: ”O preço da democracia é a eterna vigilância.”

Aprendam, brasileiras e brasileiros! Meus jovens, os velhos se lembram: “O preço da democracia é a eterna vigilância”. E combateu, não ganhou eleições, como Rui Barbosa, evitando ditaduras. Rui Barbosa foi isso, ó Gilvam. Eu acredito na História, ela é para ensinar, para orientar, para que não caiamos nos erros, Camata. A História é para isto: vigilância. E nós estamos caindo, se não acordamos nesta Casa, em uma ditadura.

O Presidente da República - eu aprendi de Petrônio a não agredir os fatos - ganhou as eleições, utilizou as armas deles, porque nós sabemos que transformou, fez milagre, o PT, Partido dos Trabalhadores, em PB, o “Partido dos Banqueiros”. Aqui, hoje, Alvaro Dias disse... Quantos bilhões foram pagos aos bancos?

O SR. PRESIDENTE (Alvaro Dias. PSDB - PR) - Quinhentos e onze bilhões de dólares.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Olha, o Presidente pagou US$511 bilhões e gastou-se no serviço social. Então, transformou o PT, o trabalho, “comerás o pão com o suor do seu rosto”, o trabalho de Deus - Deus deu uma mensagem para que se trabalhasse -, e todos os Partidos com essa palavra cresceram. O PTB nos levou a isso.

Atentai bem, e agora transformaram o PT no PB, transformaram a inspiração do professor e mestre Cristovam Buarque do Bolsa-Escola em “bolsa-esmola”. Eu fico, ô Presidente Lula - permita-me -, com Luiz Gonzaga. Eu o conheci. Lá na minha Parnaíba, ele cantava com uma sanfona, em cima de um posto de gasolina, não tinha palanque, quando eu era menino. Camata, eu sou mais Luiz Gonzaga. Um filósofo cristão, Tomás de Aquino, disse: “Quem canta, reza duas vezes”. E Luiz Gonzaga é isto, é um salmista do Nordeste. Davi dedilhava e fazia os salmos que nos orientam. E ele disse: “Uma esmola que se dá a um homem são ou mata ele de vergonha ou vicia o cidadão”.

O Sr. Gilvam Borges (PMDB - AP) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. MÃO SANTA (PMDB -PI) - Concederei daqui a pouco, pois quero aprender.

Estou preocupado. E a ditadura, e a vigilância, e o chavismo estão aí. Camata, foi Deus quem o colocou aí, do mesmo jeito que chamou Moisés, porque V. Exª tem, hoje, muito mais força, é um homem extraordinário. Mas, Camata, estou preocupado, porque o PT, o Presidente, com todo o respeito, é um orador elegante, duro... É o meu jeito, cada um tem um jeito, é como Garrincha, que jogava bola do jeito dele, e eu não vou mudar. Mas eu me preocupo, porque o Lula é esperto, o Presidente Lula da Silva é esperto, se não fosse, não estaria aí. E ele chegou à conclusão que eu tinha chegado, Camata.

Mozarildo, levamos para onde vamos a nossa profissão. V. Exª é médico. Eu fiz um diagnóstico clínico, com olho clínico: esse PT não é coisa boa. Mas será que eu errei no diagnóstico. Sou médico há 40 anos e nós temos isto, Mozarildo, olho clínico, superficial, seis anos. Será que eu errei? Posso ter errado, embora eu tenha 40 anos. O Mozarildo está entendendo. Fiz esse diagnóstico clínico. Mas hoje eu estou feliz, Camata. Fui buscar os exames laboratoriais, as imagens, para a conclusão e confirmei a tese com a biópsia. E está aqui, está aqui, brasileiros e brasileiras, o livro do Roberto Jefferson, Nervos de Aço - um retrato da política e dos políticos no Brasil. Ele traz e evidencia com todos os exames dizendo que o PT é isso mesmo. E o Lula sabe que o PT está purulento, necrosado. Está aqui, comprem e leiam. Eu não o conheço pessoalmente, vi-o nesse episódio a que o Brasil assistiu, e eu tinha até uma mágoa, porque ele foi a minha cidade fazer campanha contra um filho meu. Mas aqui estão os exames complementares. Mozarildo, você o conhece! Ele é do seu Partido, não é? O PT é isso, e o Lula sabe disso mais do que nós.

O Lula quer o PMDB. Mas o PMDB, Lula, é do povo! Foi o PMDB que fez renascer a democracia. O PMDB é de Ulysses, é de Tancredo, é de Teotônio, é de Ramez Tebet, é de Juscelino, cassado e humilhado; é de Marcos Freire. O PMDB é do povo.

Ulysses, encantado no fundo do mar, disse-nos: “Ouçam a voz rouca das ruas”: o povo. O PMDB não pode ser do Lula. Governabilidade tem. Nunca um Líder do PMDB pediu impeachment. Pediu para afastá-lo. Nunca ouvi isso.

Governabilidade tem, mas, se entregarem o PMDB... Ó, traidores da Pátria e do Partido!

Está ali o livro de Tarcísio Delgado, contando os 40 anos da história do Partido. Eu o li, obra fantástica! Não teve nenhum Presidente melhor do que esse que está aí, não. Não teve! Acontece que ele administrou nas turbulências! Nunca vi tanta serenidade, tanta dignidade, tanta inteligência, tanta firmeza no direito como o Presidente Michel Temer. Camata, aumentou, aumentou, porque ele governou nas turbulências. Foi às bases, estimulou, chamou os militantes. Era uma confusão, e eu participei dela. Olha, com as nossas convenções aprendi até Direito! Acho que já tenho direito a ter um diploma de advogado, porque era liminar para cá, para lá, quando davam seis horas, havia um curso de Direito. Uma confusão! E Michel Temer... Eu desafio... Eu li as histórias, sou mais ligado.

Quando surgi na política - eu, médico da Santa Casa -, o Quércia foi candidato, e eu o apoiei. Ele não foi para o segundo turno, mas me deu a estrutura de marketing que ele tinha. E estamos aqui.

O Jarbas! Esse extraordinário Líder do Nordeste! O Nassau brasileiro que governa Pernambuco. É mais íntimo. Michel Temer, conheço; foi Governador. Nós nos orgulhamos. Atirem a primeira pedra! A indignidade.

Ó Camata, acompanhei. Eu queria eleição direta.

Garotinho, um extraordinário homem, um extraordinário Líder! Deixem de besteira! Criticar um homem que surge, pobre, analista, radialista; Prefeito da sua cidade por duas vezes, Governador, elege a mulher! Ele quis, mas não deu certo.

Esse Germano Rigotto, dos gaúchos - o que por si só já é uma grandeza histórica. Terra de Getúlio, de João Goulart, de Brizola, que escreveu um tijolaço, atingindo outros gaúchos que não têm dignidade. É, Camata! Brizola, santo, eterno, probo! Eu queria dizer que, nessa tempestade toda, Rigotto não deu certo.

Itamar, esse homem pai d’égua que ajudou a destruir a inflação, o monstro! Ele e Fernando Henrique conseguiram domar a inflação - só fazendo um DNA poderemos saber quem foi o pai, se foi FHC ou se foi Itamar! Não conseguiu.

Pedro Simon, para ter um final político decente, jamais poderá ir contra Michel Temer. Jamais! Acompanhei Michel Temer. Respeitosamente, eu o apóio. Ele apoiou a decência.

Não sei, Camata, mas creio que esse PMDB tem governabilidade. Vai ter! Mas não entregaram para ele pegar. Ele sabe dos micróbios que existem no PT, eles estão aqui evidenciados.

Está aqui a Igreja de Deus, ó Alvaro Dias!

            O maior alvo de críticas foi o Presidente Lula. O Presidente da CNBB, Dom Geraldo Majella, chamou o Governo de neoliberal e disse acreditar que o Presidente sabia do mensalão. A política social do Governo também foi atacada pela entidade. “Existem necessidades não devidamente contempladas. O fato é que a superação da pobreza, a geração de emprego, a segurança, tudo isso precisa de nova atenção das políticas públicas”. O alto custo das campanhas políticas também é criticado.

Ô Camata, no Piauí, vi gente gastar dinheiro! Se eu tivesse aquele dinheiro, eu ganharia a Presidência do mundo! Seria eu Presidente do mundo, se eu tivesse o dinheiro desse Partido.

Um Governo montado, ô Gilvam! Ninguém derruba um tamborete. Ele tem quatro pernas. A democracia tem três. Está caindo no Brasil, mas o PT é estruturado em quatro pernas, Mozarildo: corrupção; sonegação, segunda perna; desperdício, terceira perna; e incompetência.

Camata, milhares e milhares daquilo que Getúlio fez com o Dasp do funcionário público: tiraram pessoas da hierarquia administrada para colocar companheiros. E a máquina está aí.

Ô Gilvam, segundo Norberto Bobbio, o mínimo que um governo tem de oferecer ao seu povo é a segurança à vida, à liberdade e à propriedade. Pergunto: temos isso? Vivemos hoje, Camata, sem civilização. É uma barbárie!

Refleti sobre o que se deu ontem, no Rio de Janeiro. Uma criança arrastada. Isso é o dia-a-dia. Aliás, não é o dia-a-dia, é o hora a hora do Brasil, é o minuto a minuto, a violência.

Vai haver governabilidade, mas entregar o PMDB é dar ao Lula o diploma de super Chávez. Super Chávez vai ser mais forte.

O PT está aqui descrito por Roberto Jefferson. Já estão aí com o negócio de plebiscito. Com essa máquina, fazem a terceira eleição, a quarta, a quinta, como o Chávez está pregando que o poder deve ser eterno. Ele nem disse como o nosso poeta, que “o amor seja eterno enquanto dure”. Ele disse que o poder é eterno, e é essa a nossa preocupação, Camata, com o nosso PMDB.

Mas, por que ir contra Michel Temer? Qual o pecado dele? Ter dignidade; ter vergonha; ser firme; auscultar as bases; respeitar os companheiros; não entregar o Partido; defender o Partido, que é do povo, que é da história? Esse é o futuro, e estamos preocupados.

E o Brigadeiro Eduardo Gomes, que fez renascer a democracia, disse: “O preço da democracia é a eterna vigilância”.

Estamos vigilantes. Não como o Chico Vigilante, do PT, mas como piauienses bravos, que, desde 23 de março, foram aos campos de batalha para expulsar os portugueses que nos dominavam pela liberdade.

Então, eram essas as palavras que eu queria dizer.

Atentai bem para os bispos, professor Cristovam Buarque.

Concedo um aparte a esse grande Líder do PMDB, Gilvam Borges, e, em seguida, ao grande mestre deste País, Cristovam Buarque.

O Sr. Gilvam Borges (PMDB - AP) - Senador Mão Santa, V. Exª é comparado aos grandes filósofos, entre os quais Francis Bacon. René Descartes afirmou: “Penso, logo existo”. V. Exª ergue a mão e, por meio da TV Senado, faz belas orações e um belo discurso. V. Exª tem uma mão santa, a do lado direito, mas a outra fica segura no pensamento e no desejo de construir um Brasil melhor. Portanto, como o tempo também já está bastante avançado, deixo para aparteá-lo em outra oportunidade. Congratulo-me com o seu pronunciamento.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Sairei daqui para, atentamente, aprender com o seu pronunciamento.

Concedo um aparte ao mestre, professor Cristovam Buarque.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Mão Santa, como sempre, seus discursos são presentes e atentos. Essa idéia dos plebiscitos - dos quais sou um grande defensor -, passando por cima do Congresso, é um perigo. É a democracia direta do líder carismático com as massas, sem a intermediação dos seus representantes, que são os Parlamentares. Esse é um passo para as piores ditaduras, aquelas em que os regimes autoritários têm as massas ao seu lado. As ditaduras que não têm apoio das massas caem, mas aquelas que têm esse apoio ficam por muito tempo. Quero chamar a atenção para notícia que li no jornal O Globo, há dois dias, e que passou despercebida: um líder do PT, o Partido dos Trabalhadores, criticou a possibilidade de o Ministro Tarso Genro integrar a Justiça. Veja que coisa, Senador Mão Santa: um líder do Partidos dos Trabalhadores criticou essa possibilidade, dizendo que se o Tarso Genro vive fazendo briga interna no PT, imagine se tivesse a Polícia Federal nas suas mãos. Veja bem: há o medo de que Tarso Genro, sendo Ministro da Justiça, use a Polícia Federal contra essa tendência do próprio PT. Então, imagine o que vai caber para os outros Partidos. Há um risco nesse sentido: a mistura de partido, governo e Estado. Essa é a preocupação que devemos ter hoje. A democracia não se desfaz somente com o regime militar. Ela, muitas vezes, desfaz-se também com o regime civil, que mantém o Congresso e a liberdade de imprensa, mas que controla tudo. O discurso de V. Exª é um alerta para que prestemos atenção, antecipando-nos ao que pode estar em marcha, talvez sem que o Presidente Lula queira, deliberadamente, mas levado pela dinâmica das forças sociais e políticas.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Professor Cristovam Buarque, trato-o como professor porque considero que esse é o maior título. A sociedade e a civilização chamam o professor de mestre, como Cristo, mas não chamam assim o presidente, o rico ou o banqueiro. V. Exª é o mestre.

Mozarildo, ligue-se a nós. Mozarildo é o defensor maior da Amazônia. Se aquilo chegar a ser, algum dia, um país, S. Exª deve ser o primeiro presidente da Amazônia.

Presidente Lula, com todo apreço, Vossa Excelência disse que não gosta de ler, que dá cansaço ler uma página de livro, que isso é pior que fazer uma hora de esteira, mas a vida ensina. Vossa Excelência tem uma inteligência brilhante, pois chegou à Presidência e é um grande líder.

Mitterrand viveu como Vossa Excelência. Aliás, foi derrotado algumas vezes para a Presidência da República. Mitterrand perdeu para Giscard d’Estaing, grande estadista, que governou por sete anos, do Partido de Charles de Gaulle. Este, vindo ao Brasil, disse: “Este não me parece um país sério”. É verdade, ele disse isso mesmo. Esse negócio de estar em dúvida não existe. O governo era militar. Ele estava no Itamaraty e foi apresentado a vários generais. Ele olhou para um deles e disse: “Este não me parece um país sério”. Por quê? A França só tem quatro generais e, em guerra, cinco. Ele disse isso mesmo. A história é verdadeira, Cristovam.

Giscard d’Estaing era seu discípulo e governou por sete anos, brilhantemente. Ganhou no primeiro turno e, no segundo, fez junções - há muitos partidos, como no Brasil de hoje. Ele foi de uma felicidade doida, ô Cristovam, e ganhou a eleição ali. Havia desemprego, como no Brasil, e ele pensou o seguinte: se é de oito horas o turno do funcionalismo, darei apenas cinco e as outras, a milhares e milhares. Ele resolveu ali e ganhou.

Giscard d’Estaing deu o maior ensinamento na política. Ao entrevistá-lo, perguntaram o que ele iria fazer. Ele respondeu: “Vou ser vereador na minha cidade”. Veja a valorização do Poder Legislativo.

Mitterrand foi reeleito e, depois de 14 anos, no fim do mandato, teve câncer. Professor Cristovam Buarque, ele não podia mais escrever, então convidou um intelectual como V. Exª, um amigo que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, para ajudá-lo na confecção de seu último livro, que eu li.

Ô, Gilvam, você está nessa base? Eu estou do lado do PMDB livre e independente, com Roriz, com o Líder do Nordeste, Jarbas Vasconcelos, com Geraldo Mesquita, Garibaldi e Almeida Lima. Nós somos do PMDB independente, do PMDB livre, do PMDB do povo. Não somos do PMDB do Lula. Atentai bem!

Eu pediria que chegasse ao Presidente da República o que Mitterrand deixou escrito. Ele não gosta de ler, então não precisa ler o livro do Mitterrand, apenas esta parte. Mozarildo, ele disse que deixava esta mensagem aos governantes futuros: se ele voltasse ao poder, o mais importante seria fortalecer os contrapoderes - o Executivo e o Judiciário.

Rui Barbosa disse que a Justiça é o caminho e a salvação. Aristóteles, que a coroa da Justiça deve brilhar mais que a do reis e ficar mais alta que a dos santos. Também se deve fortalecer o Poder Legislativo para que faça leis boas e justas, como as de Deus.

Chávez avacalhou o Poder Judiciário. Eu conheço a Venezuela. Eu sabia, eu previ isso. Na Venezuela, o povo agride até o prédio, a estrutura física do Judiciário, porque seu arquiteto foi diferente. Aqui não foi Niemeyer? Se fosse contratado outro arquiteto, este teria outra concepção. O povo agride! Ele desmoralizou. Invadiu o Poder Legislativo, que era bicameral como o nosso, juntou, reduziu e deixou um pequeno percentual da Oposição, que se reúne no tempo. Aqui, estamos caminhando para isso.

Eu me preocupo, porque o PMDB, em 1974, tinha coragem para lutar com Ulysses, mas a nossa luta é anterior. Em 1972, no PMDB com o qual eu sonho, um grande líder parnaibano, Elias, conquistou a Prefeitura da cidade de Parnaíba, no Piauí. Antes de Ulysses e de 1974.

Miterrand - atentai, gravai e levai para o Presidente - fortaleceu os contrapoderes. Aí está o equilíbrio. E o Brigadeiro Eduardo Gomes que, como Rui, - Rui está ali porque ele era Governo: ministro de Deodoro, ministro de Floriano, e, quando quiseram meter um terceiro ministro militar, Rui Barbosa disse que estava fora. Ofereceram-lhe o Ministério da Fazenda. E ele afirmou: “Não troco a trouxa de minhas convicções por um ministério” - e foi à luta.

Encerro a minha fala revivendo Eduardo Gomes, da UDN - União Democrática Nacional, que disse: “O preço da democracia é a eterna vigilância”.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/02/2007 - Página 1568