Discurso durante a 18ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas ao fraco desempenho econômico do país em 2006.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA DE DESENVOLVIMENTO.:
  • Críticas ao fraco desempenho econômico do país em 2006.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Heráclito Fortes.
Publicação
Publicação no DSF de 06/03/2007 - Página 3791
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA DE DESENVOLVIMENTO.
Indexação
  • CRITICA, FALTA, MORAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), INCENTIVO, CORRUPÇÃO, RESPONSABILIDADE, GOVERNO FEDERAL, AGRAVAÇÃO, CRISE, SEGURANÇA PUBLICA, ESPECIFICAÇÃO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), IMPUNIDADE, CORRUPÇÃO, SONEGAÇÃO, PREJUIZO, SOCIEDADE, PROTESTO, INCOMPETENCIA, ATUAÇÃO, CHEFE DE ESTADO.
  • ANALISE, QUALIDADE, BOLSA FAMILIA, SUGESTÃO, CONGRESSO NACIONAL, APERFEIÇOAMENTO, POLITICA SOCIAL, GOVERNO, REPASSE, PREFEITO, GOVERNADOR, RESPONSABILIDADE, AUMENTO, RECURSOS, COORDENAÇÃO, BENEFICIO, FAMILIA, POBREZA, OBJETIVO, AMPLIAÇÃO, VALORIZAÇÃO, TRABALHO.
  • ACUSAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, FALSIDADE, LANÇAMENTO, PROGRAMA, ACELERAÇÃO, CRESCIMENTO, ECONOMIA NACIONAL, INCAPACIDADE, CONCLUSÃO, OBRA PUBLICA, ESTADOS.
  • CRITICA, DESCUMPRIMENTO, GOVERNO FEDERAL, CONCLUSÃO, OBRAS, HOSPITAL ESCOLA, PONTE, ESTADO DO PIAUI (PI), SOLICITAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ACELERAÇÃO, EXECUÇÃO, OBRA PUBLICA.
  • SUGESTÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, VALORIZAÇÃO, PODERES CONSTITUCIONAIS, AMPLIAÇÃO, DEMOCRACIA.
  • ELOGIO, MICHEL TEMER, JURISTA, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB).

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Senador César Borges, que preside esta reunião, Srªs e Srs. Senadores aqui presentes, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, vou falar de riqueza e obras do nosso Nordeste. Se eu me prender à Bahia - sei que na Roma tivemos 12 césares por muito tempo -, vinte minutos seriam muito pouco para relatar o que o César baiano fez hoje.

Senador Heráclito Fortes, esse negócio de riqueza é uma ambição. Entendo que todos nós somos filhos de Deus, e filho de Deus é para ser rico e ter prosperidade. Mas o que entendo é esse Brasil aí, que travaram mesmo. O Presidente Lula, ó Suplicy, está travado esse parceiro. Sei que V. Exª, Suplicy...Temos que destravar isso. E V. Exª é de São Paulo. E São Paulo era tida como a capital do trabalho, a locomotiva. Mas o trem descarrilou, e não está puxando mais nada essa São Paulo.

Suplicy, vim do Rio de Janeiro. O povo vibrou: o Madureira venceu o Flamengo.

Gilvam Borges, estudei lá no Rio de Janeiro nos anos 60, antes de o PT ter nascido. Nos anos 60, antes do PT. O PT é negócio de 25 anos. Então, não tinha ainda esse exemplo ruim do PT na nossa formação moral, Suplicy.

O Madureira ganhou.

Mas, naquele tempo, Gilvam Borges, eu já ia ao futebol. Minha formação cirúrgica é de lá, do Rio de Janeiro, Hospital Servidor do Estado, Ipase. E a minha admiração, como todos do Brasil, o meu encanto era o futebol do Rio.

Lembro-me, Senador Eurípedes, de 1950, Fluminense - de torcedor só tinha eu e o Chico Buarque; hoje parece que existem mais uns dez torcedores do Fluminense: Castilho, Píndaro e Pinheiro; Jair, Edson e Bigode; Telê, Didi - aquele do folha seca - Carlayle, Orlando e Quincas. E o reserva do Castilho era o Veludo, moreno como o nosso Senador Eurípedes. Veludo foi da Seleção também. E a vibração, a euforia. Zezinho!

Mas ali foi uma desgraça, porque, nos anos 50, quando eu começava a vibrar, Suplicy, não tinha PT, era tudo na paz, era tudo no amor.

O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges. PMDB - AP) - Senador Mão Santa, por gentileza.

Eu quero comunicar ao Senador Suplicy que a Mesa vai garantir - se S. Exª assim o desejar, porque foi citado sobre o PT - que S. Exª se manifeste, pedindo ao orador um aparte.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - E é muito oportuno e deve. Todo mundo quer ouvir o Suplicy. Até eu. Estou contando a história. Talvez, ele é tão jovem, não sei se tinha nascido ainda. Mas a gente andava no Rio de Janeiro e não tinha negócio de bala perdida não! Não tinha bandido não! Tinha malandro, e era gostoso - eu não sei se eles gostavam... Não tinha PT.

E o pior é que travou na riqueza mesmo, mas naquilo que é mais importante: na felicidade do povo brasileiro. A Cidade Maravilhosa não é mais aquela cidade maravilhosa. A gente anda aterrorizado, com medo um do outro. A gente vê um polícia, a gente treme. Cadê a crença? Esse é o Brasil de hoje. A Colombo, símbolo da alegria, dos jovens... O César Borges é novo, mas eu fui muito à Confeitaria Colombo cinco horas da tarde tomar chocolate com as meninas do Sul. Isso não é costume do Piauí não! Lá a gente tomava era caldo de cana mesmo, no Piauí. Mas, com as garotas, eu ia às cinco horas e entrava pela noite. A Confeitaria Colombo fecha às cinco horas da tarde para não ter assalto. Sábado e domingo nem pensar; o centro do Rio fecha. Mas era aquele Rio que eu me lembro e eu quero o esforço do Suplicy... São Paulo, capital do trabalho.

E o futebol e tal, e o Brasil não ganhou... A Copa do Mundo foi uma decepção. Foi o Uruguai. Silêncio no Maracanã. Ghiggia. Dois a um. Todos nós esperávamos, e o Brasil...

Mas eu continuava a torcer pelo meu Fluminense, que me fez esquecer do Brasil. Havia 12 times. Niterói tinha um time de futebol: Canto do Rio. César Borges, começava o futebol, o campeonato. Naquele tempo, o Rio encantava a todos nós. Era Capital Federal. Ninguém sabia quem tiraria o primeiro lugar. Eu e Chico Buarque sós, era pouquinha a torcida, ainda hoje. Eu era Fluminense, mas tinha o Vasco, esse Flamengo aí do povo, o Botafogo; mas, último lugar, Canto do Rio! Isso era uma certeza.

Ô, Suplicy, e agora, no campeonato mundial, universal das riquezas... É a globalização. O chato é que o campeonato de futebol é de quatro em quatro anos. Mas esses dados da comunicação, da riqueza, tudo repousa na economia.

Sabe o nosso Suplicy que o Adam Smith já foi inspiração para Napoleão Bonaparte. É... A economia que pautou... “Não tem nenhuma liberdade...”. Não é... Chegou Albano Franco, homem que entende de muito dinheiro... “Não tem nenhuma liberdade antes da liberdade econômica". E Adam Smith já existia. Até o Napoleão fazia riqueza e já governava com isso.

            Agora, o campeonato, Gilvam Borges! Gilvam Borges, você na Presidência, com o telefone e com o mundo, é para ver a Bolsa de Valores para ver se o tema é verdade?

Gilvam Borges, o campeonato da economia, para a desgraça do Governo, é anual. Todos os anos, estoura. A copa do mundo é de quatro em quatro anos, e poderia ser escondida pelos goebbels, pelo Duda Mendonça, pela mídia. Mas estoura em todo o mundo. É o campeonato das riquezas, que é o mais importante. O mais importante é a riqueza. Temos de entender até religiosamente. Acho que o erro do nosso País foi esse. São Paulo, que era a capital do trabalho, não é mais um local...

Deus disse: “Comerás o pão com o suor do teu rosto.” É uma mensagem para os governantes sobre como conseguir trabalho. O apóstolo Paulo - vou dar um livro sobre o apóstolo Paulo para o meu amigo Suplicy - disse que quem não trabalha não merece ganhar para comer. Isso é do apóstolo Paulo. Não sei se a renda mínima de V. Exª está contra ou a favor. É por aí. Estou citando os líderes da Humanidade.

Senador Gilvam Borges, só não somos o Canto do Rio no campeonato mundial de economia porque há um Haiti. Se o Haiti não existisse, o Brasil seria o Canto do Rio na economia. Todo ano é o último, todo ano é o último. Por quê? As coisas são simples. Rui Barbosa já dizia, Senador Gilvam Borges: “Vamos cultivar o trabalho. Vamos dar primazia ao trabalho. O trabalhador e o trabalho vêm antes. São eles que fazem as riquezas.”

O que houve aqui, no domínio do PT, foi um cultivo a quem tem dinheiro, aos banqueiros. Então, montou-se um sistema muito forte, muito seguro.

Lula está sentado: é o rei e um banco. Não é um banco como o PT pensa, de dinheiro, não; é um trono, uma cadeira, de quatro pernas. Ô, César Borges, V. Exª, que é engenheiro, então, daí está forte mesmo.

O trono dele tem quatro pernas: uma, a primeira, que salta aos olhos - em 506 anos -, nunca dantes se viu tanta corrupção neste País. Nunca! Nunca! Nunca! Gosto de História. Estudei muito História com a professora Maria da Penha. Nunca dantes! É a primeira perna do trono do Lula, em que ele está sentado. A segunda perna é a sonegação. Só os pobres pagam imposto. Os ricos não pagam. Desperdício! É muita farra. Quem nunca come mel se lambuza. Foi essa gente do PT. Eu nunca vi. Nem Luís XIV, o L’Etat c’est moi, porque ali só era ele; agora é cada um. E a outra perna é a incompetência extraordinária, porque este País, Senador Albano Franco, tem uma história. Fomos mais competentes até do que os franceses, Gilvam Borges. Eles fizeram a democracia. O povo nas ruas, “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”. Caíram os reis, mas lá vem um tal de Danton, um Robespierre, guilhotina, milhares de cabeças rolaram. Aqui fomos mais hábeis. Veio um momento de exceção. O militar queria logo fazer, mas esse que está ali... Deodoro e Floriano iam meter o terceiro militar, e ele disse: “Estou fora”. Mas nós lhe damos o Ministério da Fazenda. “Não troco a trouxa de minhas convicções por um Ministério” - Rui Barbosa.

Esse foi o grande ensinamento, brasileiras e brasileiros, esse Congresso que está acabado aí, mendigando ministérios. E mendigamos aquilo que entendemos que é superior. É o povo que é soberano.

O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges. PMDB - AP) - Senador Mão Santa, o Senador Eduardo Suplicy está solicitando um aparte.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Sim. Quero ouvir S. Exª. Quero um debate qualificado com S. Exª. Pelo contrário, orgulha-me, mas me deixe terminar.

Aqui tivemos um período de exceção do extraordinário homem trabalhador, Getúlio Vargas, que prestigiou o trabalho e o trabalhador, a Previdência Social.

Tivemos mesmo um período militar, mas houve homens que prestaram culto à honestidade. Bastaria citar uns como os piauienses: João Paulo dos Reis Veloso, Ministro da ditadura militar, mas sobre o qual nunca houve uma acusação de corrupção; Petrônio Portella, o jornalista que buscava liberdade do Piauí; Castello Branco.

Mas fomos construindo, melhor do que os franceses, a democracia, e aqui está esta democracia. Porém, temos de valorizar mais o trabalho.

Entendo a idéia do nosso extraordinário Senador Eduardo Suplicy. Entendo! Nem o apóstolo Paulo foi contra ela, porque ele dizia que há três valores: fé, esperança e amor, que é caridade. Então, entendo essa Bolsa-Escola, transformada em Bolsa-Esmola como uma caridade, mas temos de ter um debate qualificado.

E vou fazer uma sugestão, para então dar a palavra a S. Exª. Fui Prefeitinho. Governei o Estado do Piauí. Acredito em Deus, no trabalho, no estudo, que leva à sabedoria. E eu diria o seguinte, Senador Gilvam Borges: essas bolsas, está certo, foram dadas. Foi um ato de amor e caridade de Sua Excelência o Presidente da República, mas temos de adaptá-las, ter o debate qualificado. E é simples. Sou cirurgião, sei resolver as coisas. Às vezes dá certo, Senador Eduardo Suplicy. Sei que V. Exª é economista, mas Juscelino era um médico, como eu, cirurgião, e deu certo. Estamos por aqui.

Vou dizer como temos de fazer: temos de atualizar essas bolsas; passe todas para os prefeitos, porque os prefeitos é que estão próximos. E vamos melhorá-las. Cada prefeito aumente 5%, e os governadores de Estado, 10% a 15%. Quer dizer, vamos melhorar, porque o dinheiro é pouco, mas vamos orientá-los a um trabalho. Porque o prefeito, está certo, é aquele que está recebendo aquilo que é humilhante. Porque o Lula do Nordeste é o Presidente, mas sou mais Jarbas, que chegou aí. Sou muito mais o Luiz Gonzaga - sou mais, sou do Nordeste -, o nosso rei da música. O salmo era uma música. E Luiz Gonzaga, do seu Nordeste, disse: “A esmola que você dá a um cidadão são ou mata ele de vergonha ou vicia o cidadão”.

            Então, que isso, no debate que V. Exª começou, e vai...

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) -... e a paz. Mas queria que fosse passado para os prefeitos, e que o prefeito adicionasse mais 5%, e os governadores, mais 10%; mas que orientassem àquele cidadão um trabalho. Não um escravo... Duas horas em uma creche, zelando por um grupo, uma praça pública, dar situação. Mas não fugir o povo do trabalho, porque acho que o exemplo arrasta.

Palavra sem exemplo é um tiro sem bala. E, se os pais de família derem o exemplo aos filhos de não irem ao trabalho, vamos tirar o troféu do Haiti, vamos ser o último lugar na economia mundial.

Com a palavra o extraordinário e generoso cidadão, Senador da República, Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Mão Santa, sinto iniciar...

(Interrupção do som.)

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Preciso de som aqui, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges. PMDB - AP) - Senador Suplicy, o tempo do orador está esgotado, mas, como V. Exª aguardou por bastante tempo, a Mesa concede três minutos para o seu aparte e a conclusão do nobre orador, Senador Mão Santa.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Muito obrigado, Sr. Presidente Gilvam Borges. Senador Mão Santa, sinto informar ao Senado Federal que o ex-Secretário-Geral e ex-Presidente da CNBB D. Ivo Lorscheider morreu há pouco no Rio Grande do Sul. Ele havia sido submetido a uma operação desde 25 de fevereiro devido a complicações decorrentes de uma cirurgia no estômago. Então, solicitei seja preparado o devido requerimento de pesar, com maiores informações a respeito, para que ainda nesta sessão possamos prestar a homenagem a este extraordinário Cardeal, líder e Presidente da CNBB, que, ao longo destes anos todos, muito contribuiu para a democratização do Brasil, a defesa dos direitos humanos e a superação dos problemas com os excluídos em nosso País. Como V. Exª, ele sempre foi um defensor das proposições de São Paulo. Sei perfeitamente que V. Exª sempre ressalta São Paulo, quando diz ser importante que todos pudessem trabalhar, ganhar o dia-a-dia de seu sustento por meio do suor do seu trabalho. Também foi São Paulo quem disse, na Segunda Epístola aos Coríntios, que devemos todos sempre seguir o exemplo de Jesus, que, sendo tão poderoso, resolveu se solidarizar com os mais pobres, de tal maneira que com eles conviveu e morou. Então, para que haja justiça, igualdade, é necessário que todo aquele que colheu muito não tenha de mais, e todo aquele que colheu pouco não tenha de menos. A proposição de se garantir a todos uma renda, como um direito de partilhar da riqueza da Nação, é algo de bom senso que mais e mais os economistas têm estudado. Chegam à conclusão de que, inclusive para o objetivo que é o de V. Exª, de que todos tenham direito ao trabalho, a garantia de uma renda básica a todos, incondicionalmente, ajuda muito nesse sentido. Com respeito aos problemas que hoje existem, seja no Piauí, seja no Rio de Janeiro, seja em Minas Gerais ou em qualquer lugar do Brasil, em decorrência da administração de um programa tão positivo como o Bolsa-Família - mas que ainda tem problemas na sua administração -, tais problemas poderão ser superados na medida em que passarmos, como diz a lei, para o estágio da renda básica incondicional. Nos três minutos que tenho, não vou completar toda a dissertação a respeito, mas cumprimento o Senador Mão Santa por estar aqui sempre trazendo o seu questionamento. Quero dizer a V. Exª que, hoje, mesmo que a taxa de crescimento do PIB tenha sido 2,9% no ano passado, dadas as condições de baixa inflação, a menor desde 1999, de diminuição da taxa de juros - possivelmente, nesta semana deverá baixar a taxa básica de juros na reunião do Copom de quarta e quinta-feira - e outros elementos - não me vou estender mais -, tenho a convicção de que estamos prestes a viver um quadriênio de crescimento sustentável, com melhoria da distribuição da renda, das condições de emprego. Teremos maior oportunidade de levar adiante o nosso debate. Obrigado pela oportunidade.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradeço-lhe o aparte.

Até vou fazer um pedido ao Presidente Lula: está aí um homem que tem virtudes para ser Ministro.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Mão Santa, com a devida permissão do Presidente, é apenas um aparte telegráfico.

O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges. PMDB - AP) - Senador Heráclito Fortes, se houver a permissão do Senador Mão Santa para um aparte, concedo a V. Exª dois minutos.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Bem menos que isso, Sr. Presidente, apenas para fazer um registro.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - É um prazer, Senador Heráclito.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Eu sabia que o Senador Mão Santa era torcedor roxo do Fluminense, quase que solitário - não tanto. E sabia da parceria do Chico Buarque também como torcedor histórico do Fluminense, no final da década de 50. Só não sabia que Chico Buarque, que se inspirou na sua paixão pelo Fluminense, que é a mesma paixão do Senador Mão Santa, tinha uma paixão que incluía na sua música “Bom Tempo”, que era a busca pela Joana, aquela Joana que não lhe deixava mentir. Quero saber se V. Exª, Senador, também entrou nesse tríduo. Na década de 50, a paixão era exclusiva pelo Fluminense, ou V. Exª disputava também com Chico Buarque a paixão pela Joana?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Não, não, Senador Heráclito Fortes, sou apaixonado pela Adalgisa há muito tempo.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª há de convir que a Adalgisa não era nascida na década de 50. Quero defendê-la.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Pois ela nasceu aí, e é por isso que o mundo diz que é o ano santo; justamente coincidiu com o nascimento dela.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Mas amá-la com a idade que tinha na década de 50 era, no mínimo, um sacrilégio.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Quanto à minha idade, creio que tenho 38 anos - não sei do Senador Suplicy -, porque só considero os anos de casado. Antes eu era uma pedra, um vegetal, não tinha vida.

Atentai bem, Suplicy! Primeiro V. Exª foi buscar Cristo. Deus mandou o trabalho: comerás o pão como hóstia. Colocou-o na casa de um operário para ver o exemplo do pai trabalhando, para ajudar o pai no trabalho. E nós seguimos Cristo, Eduardo Suplicy, não pelos discursos - V. Exª discursa muito, assim como o Senador Gilvam Borges -, mas por obras.

Tiago disse: fé sem obra já nasce morta. Se Cristo tivesse ficado só com os discursos Dele, os bem-aventurados, os que têm fome e sede de justiça, o Pai-Nosso não seguiríamos. Seguimos porque Ele fez obras, Gilvam. Ele fez cego enxergar; fez aleijado andar; limpou os corpos dos leprosos; tirou o demônio dos endemoninhados; multiplicou peixes, pães e vinho para festejar os momentos de alegria pelas obras.

Esta é justamente aqui a minha crítica final a este Governo. PAC - “Propaganda Aumentada e Criminosa”.

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges. PMDB - AP) - Senador Mão Santa, eu queria que V. Exª fosse sincero com a Mesa, e, assim, as concessões serão feitas. V. Exª necessita de mais quantos minutos para encerrar o seu pronunciamento? Dez minutos mais está bom para V. Exª?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Serei breve, Sr. Presidente. Cristo fez o Pai-Nosso em um minuto, e eu tentarei me inspirar em Cristo.

Atentai bem, Senador Suplicy! Por isto é que nós o seguimos: pelas obras de Cristo. E esse Governo cria a “Propaganda Aumentada e Criminosa”. Tinha propaganda enganosa. Agora, o PAC é propaganda.

Eu queria que o Presidente Lula da Silva... Atentai bem, Suplicy, a uma mensagem do General Oregon, herói mexicano, que diz: prefiro o meu adversário que me leva à verdade ao amigo, aliado, puxa-saco, que me leva às falsidades. Então, digo: vamos terminar as obras inacabadas que estão no País. Senador Gilvam, faça uma reflexão sobre as obras inacabadas do seu Estado; Suplicy e César Borges também. Eu e Heráclito vamos dizer: vamos terminar as inacabadas do Piauí: Porto de Luis Correia. São US$90 milhões encravados...

(Interrupção do som.)

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Cristo disse: “Faça-se a luz”. Porto de Luis Correia. O Piauí tem 66 Km de litoral. São US$90 milhões encravados, faltam 10 milhões. E é uma palavra de Lula, que foi lá, se banhou, e disse que ia terminar.

A estrada de ferro central do Piauí, Heráclito Fortes. V. Exª viu como foi atraído Alberto Silva. Um engenheiro ferroviário foi lá e disse que em 60 dias - ele levou o Alberto, que até me abandonou - terminaria a estrada de ferro que ligaria Teresina, Piripiri, Parnaíba e Luis Correia. Nenhum dormente! Levou o Alberto Silva e os votos do Piauí. E levou, levou...

Palavra; temos de ter palavra, Presidente da República!

O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges. PMDB - AP) - Senador Mão Santa, V. Exª dispõe de mais dez minutos, pelo tema tão importante e relevante.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Mão Santa, dormentes são os que acreditaram na proposta do Governo. Fique certo disso.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Exato, Heráclito. Estão lá aqueles Tabuleiros Litorâneos em Guadalupe, para promover o desenvolvimento da agricultura irrigada, mas acontece que a luz, a energia, é a mais cara do mundo, e os agricultores não conseguem competitividade. Então, está um fracasso.

Gilvam Borges, há um hospital universitário. Olha, uma líder do PT que está no céu, na estrela que tinha, Trindade, morreu aqui reivindicando esse hospital. Abriram-no, mas enganaram. É um ambulatório, onde não se interna doente e onde se fazem apenas umas “consultinhas”.

Hospital Pronto Socorro de Teresina. Heráclito Fortes foi Prefeito de Teresina e o iniciou, por volta dos anos 1989, 1990.

            Firmino Filho, extraordinário prefeito, concluiu o hospital. Faltam os convênios federais para manutenção. O Presidente Lula da Silva foi lá - o Governo é do PT -, prometeu, Senador Heráclito, e o hospital com que V. Exª sonhou está fechado por falta de compromisso da Presidência, o pronto-socorro municipal.

Ponte sobre o rio Poti. Senador César Borges, falo com V. Exª, que é engenheiro. Era uma ponte para comemorar os 150 anos de Teresina. Teresina, construída pelo baiano Saraiva; Teresina, no coração do Piauí! Teresina já fez 154 anos e está lá o esqueleto da ponte.

Senador César Borges, olhe para cá.

Senador Heráclito Fortes, eu fiz, no mesmo rio Poti, uma ponte em 87 dias; V. Exª fez uma em 100 dias. Eu, brincando, contratei para 90 dias; e o cabra, com medo de eu não pagar, fez em 87. Mas é a mesma coisa! V. Exª me inspirou. Foi uma competição pelo progresso de Teresina que eu fiz com V. Exª. A ponte era para comemorar os 150 anos, mas Teresina já vai fazer 155 anos! E o esqueleto da ponte está lá... Maior e mais forte que o esqueleto é a mentira que este Governo representa, enganando o povo! Está lá...

O Piauí é a solução, Presidente Lula! Nós temos 11 milhões de hectares de cerrado. Em um dia só, eu fiz chegar lá 300 famílias, a Cotrirosa, a Bunge... Agora não podem produzir porque não há estrada; a Transcerrado está pior do que eu deixei, quando a iniciei. Prometeu, não tinha.

Senador César Borges, a carcinicultura que iniciamos no Nordeste no nosso Governo. Quando deixei o Piauí, a pauta era igual à da carnaúba: mais de US$20 milhões. Baixou para US$3 milhões em razão dessas loucuras e da intervenção do Ibama, que chegou lá e multou todo mundo. Os empresários estão mortos, porque este Governo só sabe aumentar a carga de impostos. Essa é a preocupação.

Senador Heráclito, no passado, as pessoas nos gozavam, dizendo que a bandeira do Piauí era um couro de bode. Agora, o bode está desvalorizado, assim como o carneiro e o gado. Por quê? Porque não houve vacinação. Então, só pode ser comercializado lá. Vende-se um boi ou uma vaca de R$600,00 pela metade do preço, porque o Governo do Presidente da República fracassou na política sanitária.

Então, o que pediríamos agora, já que falamos tanto em Deus? Senador Gilvam, o Amapá hoje se engrandece, pois conta com o Presidente Sarney; com o nosso amigo, exemplo maior da ciência médica, Senador Papaléo, que faz da Medicina a mais humana das ciências; e também com V. Exª, na Presidência. Aproveitando a generosidade de V. Exª, vou gastar o que resta do meu tempo para abrir o Livro de Deus e pedir ao Presidente da República, em nome dos piauienses que sempre aplaudiram e acreditaram no seu nome, que conclua as nossas obras inacabadas. Está escrito no Livro de Deus: “Pedi e dar-se-vos-á”.

Lembro o General Oregon, mexicano, que disse: “Eu prefiro um adversário que me leve à verdade a um aliado puxa-saco e mentiroso, que só me leve à ilusão”.

Obrigado, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges. PMDB - AP) - Senador Mão Santa, V. Exª ainda tem mais cinco minutos.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Esses cinco minutos eu ofereço ao que há de melhor no Piauí, outro bravo Senador, que vai clamar pela verdade.

O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges. PMDB - AP) - Senador Mão Santa, V. Exª nunca foi de correr de tribuna. Por favor.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Se V. Exª quer, vamos prosseguir.

Gilvam Borges, agora V. Exª me deu uma oportunidade. Nós estamos aqui, Senador, pela democracia. Aprenda e chame para aprender todos esses Senadores que estão ausentes. Na democracia, que nasceu em Atenas, o povo era chamado a participar a cada instante. Assim, Senador Jarbas Vasconcelos, em Atenas, o povo era chamado. Por exemplo, o chamamento mais simples era para pessoas que não serviam - como aqueles políticos daqueles mensalões cultivados pela corrupção do PT, que transformou um mar de corrupção num oceano de corrupção. Quando queriam colocar alguém para fora, como não tinham máquina eletrônica nem papel, eles iam buscar uma ostra. Era o voto. Quando a ostra era do tamanho de uma montanha, aquele indivíduo era posto para fora. Já no nascedouro da democracia, expulsavam-se os corruptos e os maus elementos. Aqui, na nossa democracia cara, os maus elementos voltaram a este Congresso, e todos eles mais poderosos.

Mas é isto que quero dizer: no aperfeiçoamento da democracia, para acabar com a fase de L’État, c’est moi, uma inteligência, Montesquieu, dividiu o poder. E os poderes tinham que ser harmônicos e iguais.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Mão Santa, em socorro aos taquígrafos, em homenagem a eles, traduza, porque a dificuldade que eles terão... E o Regimento não permite...

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Montesquieu dividiu esse poder, mas eu daria ao Presidente Lula da Silva o ensinamento de outro francês, Mitterrand, que, no final de sua existência, escreveu um livro. E ele, Líder Jarbas, não podendo mais escrever, chamou um colega seu, companheiro e amigo, do Prêmio Nobel de Literatura. Lá está escrito que Mitterrand - que tentou várias vezes a Presidência, que a exerceu por sete anos, que se reelegeu -, no final de sua vida, com câncer, deu um grande ensinamento que passo ao meu PMDB e ao Presidente Lula da Silva, como um presente maior e contribuição a esse Governo. Faço minhas as palavras de Mitterrand, que disse que, se voltasse, faria tudo para fortalecer os contrapoderes.

Aí é que repousa a democracia: em fortalecer os contra-poderes. Que o Judiciário volte a ser como imaginou Aristóteles: “Que a coroa da Justiça brilhe mais do que a dos reis e esteja mais alta do que a dos santos”.

E o Legislativo? Que fizesse leis boas, inspiradas nas leis de Deus. Não é o que vemos hoje. Hoje, este Poder Legislativo não faz leis; este Poder se acocora; este Poder é dependente.

Como o povo não podia ser chamado a cada instante, criaram-se os partidos, e o partido é o povo. E, nesta nossa Pátria, um dos partidos que mais contribuíram com a história da democracia foi o meu, o PMDB. Estamos nessa luta, onde o PMDB é fundamental.

Senador Jarbas, de uma coisa eu sei: o Presidente da República, Lula da Silva, muito inteligente, vê que não pode continuar ancorado no PT, porque esse partido está putrefeito! Está aí o livro de Roberto Jefferson, que passei para o Jarbas. Está putrefeito! Está lá. Por que ele não processa o homem, pelas acusações, pelas citações?

Então, ele quer buscar um partido saneado, saneado pela memória, pela luta de Ulysses, encantado no fundo do mar, e de Teotônio, moribundo de câncer, no sentido de se pregar a redemocratização de Tancredo, que se imolou, de Juscelino, de milhares de cassados aqui, de Marcos Freire, do seu Nordeste, de Pernambuco, do nosso Ramez Tebet! Esse PMDB está aí, esse PMDB que queremos ter como salvaguarda da democracia! Entendemos que o Presidente Lula...

E ninguém vai agredir os fatos. Aprendi isso com o ensinamento de Petrônio Portella. Entendemos que ele é o Presidente da República, ganhou com as regras que estão aí, mas ele não me fez acreditar no seu Governo quando o País todo viu aquilo que foi, sem dúvida alguma, uma das páginas mais bem escritas da situação real e do porvir do Brasil, escrita pelo Senador Jarbas em seu último pronunciamento.

O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges. PMDB - AP) - Senador Mão Santa, sei que V. Exª agora que vai terminar e vou lhe dar mais dez minutos.

O SR. MÃO SANTA (PFL - PI) - Vamos encerrar, dizendo que estamos nessa luta da democracia e vamos fortalecer o PMDB, porque acho que o PMDB tem a sua missão histórica com o povo e com a democracia.

Quero, nestes dez minutos que roubo da sua noite, convidá-lo à reflexão, para que V. Exª analise e liberte o PMDB, porque escolheremos o nosso Presidente, não o Presidente da República Lula. Nosso Presidente é Michel Temer. Nós crescemos pela figura ímpar de um Presidente constitucionalista que é o nosso Michel Temer. Se esse PMDB cresceu, foi porque Michel Temer o levou às bases, fazendo as prévias. Se esse PMDB é acreditado, é porque a vida de Michel Temer, nosso comandante, de quem nos orgulhamos, é acreditado. Ele é um constitucionalista! Ele é um professor da Constituição, amante do Direito e da Justiça! A ele foi oferecido, como foi oferecido a Rui Barbosa, um Ministério; e ele, incorporando o espírito de Rui Barbosa, respondeu que não queria um Ministério, lembrando a célebre frase de Rui Barbosa de que “não trocaria a trouxa de suas convicções por um Ministério”. Vamos engrandecer a democracia com a eleição de Michel Temer, o melhor Presidente de sua história!

Nossos agradecimentos.

O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges. PMDB - AP) - Senador Mão Santa, V. Exª ainda dispõe de nove minutos.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Mas agradeço, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/03/2007 - Página 3791