Discurso durante a 19ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas à medida provisória que doa recursos para reforma agrária na Bolívia.

Autor
Flexa Ribeiro (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Fernando de Souza Flexa Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Críticas à medida provisória que doa recursos para reforma agrária na Bolívia.
Publicação
Publicação no DSF de 07/03/2007 - Página 4285
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, POLITICA EXTERNA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, FINANCIAMENTO, REFORMA AGRARIA, PAIS ESTRANGEIRO, BOLIVIA, PREJUIZO, BRASIL, NEGOCIAÇÃO, PREÇO, GAS, DENUNCIA, DESPEJO, BRASILEIROS, HABITAÇÃO, PROXIMIDADE, FRONTEIRA.
  • DESAPROVAÇÃO, OMISSÃO, SUBORDINAÇÃO, GOVERNO BRASILEIRO, DESRESPEITO, SOBERANIA NACIONAL.
  • COMENTARIO, PUBLICAÇÃO, IMPRENSA, PREJUIZO, BRASIL, NEGOCIAÇÃO, PREÇO, ENERGIA ELETRICA, PAIS ESTRANGEIRO, PARAGUAI, APREENSÃO, AUSENCIA, VANTAGENS, PAIS, DEFESA, SOBERANIA NACIONAL, CONTINUAÇÃO, LIDERANÇA, AMERICA LATINA.

O SR. FLEXA RIBEIRO (PSDB - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Eduardo Azeredo, Srªs e Srs. Senadores, ocupo a tribuna hoje para falar, por meio da TV Senado e da Rádio Senado, ao meu querido povo do Pará. Quero tratar de um assunto sobre o qual fiz uma referência en passant, quinta-feira, desta tribuna.

Trata-se da doação que pretende fazer o Presidente Lula ao Governo boliviano. E para isso utilizo um artigo do Estado de S. Paulo que tem como título “Financiando a reforma agrária boliviana”. Este artigo demonstra bem, Senador Azeredo, Senador Mão Santa, Senador Renato Casagrande, da Base do Governo, a intenção do Presidente Lula em relação aos Países vizinhos na América do Sul, principalmente aqueles que desrespeitam a soberania da Nação brasileira.

Diz o artigo:

Para um governo que nunca se pejou de fazer descaradas concessões ao companheiro Evo Morales, jamais escondendo o que considera ser do “interesse nacional” a prosperidade de um governo populista que é apêndice do regime do coronel Hugo Chávez, e está fazendo do solapamento dos interesses brasileiros na Bolívia uma especialidade, a administração Lula tratou com notável pudicícia a edição da Medida Provisória (MP) 354. Sua ementa é telegráfica e não deixa transparecer do que se trata a MP: abre crédito extraordinário em favor do Itamaraty no valor de R$ 20 milhões.

Seu texto é igualmente hermético, esclarecendo que o crédito atenderá à programação constante de um anexo. O anexo, por sua vez, estabelece que o dinheiro será usado “na relação do Brasil com Estados estrangeiros” e “nas relações-negociações com os países membros do Mercosul”.

Se o contribuinte brasileiro não estiver firmemente determinado a conhecer o destino que o governo dará ao seu dinheiro, não ficará sabendo que os R$20 milhões são para promover a reforma agrária na Bolívia.

R$20 milhões não são dinheiro de bolso. Equivalem à verba anual do Programa de Desenvolvimento Integrado e Sustentado do Semi-árido, que beneficia o Nordeste brasileiro.

É importante que a Nação brasileira saiba disso. Quer doar para a reforma agrária na Bolívia o mesmo valor que, em um ano, o Governo Lula aplica no Programa de Desenvolvimento Integrado e Sustentado do Semi-árido.

Continuando:

Equivalem também a quatro vezes o que gasta por ano o Programa Paz no Campo, que financia o treinamento de mediadores de conflitos no campo ou a criação de ouvidorias agrárias no Brasil.

E aí temos essa violência lamentavelmente solta no campo. O meu querido Estado do Pará tem como uma chaga essa violência no campo, sendo que, nesta semana, inúmeras propriedades foram invadidas pelo MST lá.

Parece que aguardavam apenas o resultado da eleição e a posse do Presidente Lula para retomarem as invasões, de forma muito mais acelerada e com muito maior freqüência.

Mas os R$20 milhões da MP 354 serão uma generosa contribuição do governo brasileiro à Bolívia, ‘com o propósito de prestar assistência na implantação da política fundiária da reforma agrária do governo boliviano’ e ‘viabilizar a regularização migratória e fundiária e a sustentabilidade de famílias brasileiras que se dedicam a atividades extrativistas e à pequena agricultura em território boliviano’.

Traduzindo em miúdos: o presidente Evo Morales, depois de desapropriar as reservas de gás e petróleo da Petrobras sem pagamento de compensações, de assumir graciosamente o controle das duas refinarias que a empresa tem na Bolívia e de estabelecer unilateralmente - pois de fato foi isso o que aconteceu - o preço do gás vendido para o Brasil...

Por diversas vezes, o Presidente da Petrobras, o Presidente Lula, o Ministro das Relações Exteriores, o Ministro da Fazenda deram declarações de que o preço do gás não seria majorado para o setor produtivo nacional. E o que vemos? Agora o Sr. Evo Morales aumenta o preço do gás e o Brasil aceita passivamente esse aumento.

Senador Eduardo Azeredo:

O presidente Evo Morales lembrou ao presidente Lula que faz parte de seu programa de governo expulsar os agricultores brasileiros que ocupam terras nos Departamentos de Bani e Pando, tenham ou não tenham eles títulos legítimos da terra.

O presidente Lula, como se sabe, dá ao relacionamento brasileiro com a Bolívia a marca da caridade cristã. As reservas de petróleo e gás são nacionalizadas e as tropas de Evo Morales ocupam as refinarias da Petrobrás? Lula manda a empresa investir mais e substancialmente no país. O preço do gás é ditado por Evo Morales, a despeito da vigência de um contrato? Lula manda ressuscitar um projeto de pólo gás-químico, ao custo módico de US$3 bilhões.

Agora, a moeda de troca é a tranqüilidade de 7 mil famílias brasileiras que se instalaram na Bolívia - muitas há mais de 60 anos - e lá produzem parte substancial da riqueza agrícola do país. Mas o curioso é que o governo Lula não toma as cautelas necessárias para que essas famílias sejam deixadas em paz. Aliás, cerca de 200 delas já receberam ordem de despejo - e nenhuma compensação.

A falta de esperteza não se revela na tramitação da MP 354. Essa medida foi editada em 22 de janeiro, logo depois da visita de Morales a Brasília. Embora recente, ela foi acrescentada a outras, que ameaçavam obstruir a pauta de votações da Câmara, e votada na quarta-feira à noite. Raras vezes se viu tanta presteza.

O mesmo expediente o governo brasileiro não revela em obter de Evo Morales o compromisso formal de que as famílias brasileiras não seriam espoliadas de suas terras e bens. A propósito, estudo feito pela assessoria do senador Arthur Virgílio, líder do PSDB, concluiu que as leis bolivianas simplesmente proíbem a compra de terras por estrangeiros. O governo brasileiro, portanto, estaria dando R$20 milhões - que serão administrados e liberados pela embaixada em La Paz - a Evo Morales, sem a mínima garantia legal possível de ‘regularização migratória e fundiária’ das famílias brasileiras.

É obrigação do governo Lula preocupar-se com as 7 mil famílias brasileiras radicadas na Bolívia. Também é sua obrigação preocupar-se com os 200 mil bolivianos que vivem e trabalham irregularmente no Brasil.

Senador Eduardo Azeredo, a continuar dessa forma com o Brasil sempre cedendo aos governos de Evo Morales e Hugo Chávez...

Há outra notícia aqui que muito já preocupa a Nação brasileira. A jornalista e economista Mirian Leitão tem um texto em que fala sobre o preço da amizade e alerta a Nação brasileira para o que pretende o Paraguai em relação a Itaipu. Diz a jornalista:

A briga com o Paraguai em torno das receitas de Itaipu promete ser um grande imbróglio, se ocorrer. O Paraguai sempre teve inúmeras vantagens com a usina: uma delas é pagar menos que o Brasil pela energia e receber mais. No ano passado, recebeu US$520 milhões e o Brasil, US$430 milhões. A Eletrobrás pagou, em média, US$31,95 pelo megawatt/hora, e a Ande, empresa paraguaia, pagou US$19,2.

O SR. PRESIDENTE (Eduardo Azeredo. PSDB - MG) - Senador Flexa Ribeiro, peço a V. Exª que conclua. Mas, antes, quero dizer que realmente é muito preocupante, e esperamos que o Senado decida com soberania sobre essa medida provisória de doação de vinte milhões à Bolívia.

O SR. FLEXA RIBEIRO (PSDB - PA) - Como dizia, para concluir, a empresa paraguaia Ande pagou apenas US$19,2 por megawatt/hora. Quase metade ou 80% a mais o Governo brasileiro pagou, os brasileiros pagaram. Nós pagamos pela energia gerada por Itaipu, que é uma hidrelétrica binacional.

Senhores telespectadores, meus brasileiros e minhas brasileiras, é importante que o Brasil tome uma posição de altivez pelo destaque que tem na América do Sul. É, sem sombra de dúvida, sempre foi e continuará sendo o País líder da América do Sul. Não há por que deixar de ter boas relações com os nossos vizinhos, muito pelo contrário, as relações têm de ser amistosas.

A diplomacia brasileira deve ter essa relação com a Bolívia, a Venezuela, o Paraguai e o Uruguai, mas não podemos, em hipótese nenhuma, ficar de joelhos, e o povo brasileiro suportando todos esses ataques econômicos que são feitos em nome da menor condição econômica desses países vizinhos.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Agradeço a generosidade de V. Exª.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/03/2007 - Página 4285