Discurso durante a 22ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem às mulheres pelo transcurso do Dia Internacional da Mulher.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem às mulheres pelo transcurso do Dia Internacional da Mulher.
Publicação
Publicação no DSF de 09/03/2007 - Página 4728
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, MULHER, LEITURA, TEXTO, OBRA LITERARIA, AUTORIA, MÃE, ORADOR.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Senador Alvaro Dias, que preside esta sessão, Srªs e Srs. Senadores presentes na Casa, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo Sistema de Comunicação do Senado Federal, Senador Paulo Paim, hoje é um dia consagrado a homenagear as mulheres, mas eu entendo que deveriam ser todos os dias.

Está entrando o Senador Demóstenes Torres, que é maior do que o orador grego, porque o grego era gago, e este não, fala mais bonito.

Esse negócio de discurso escrito, vou dizer por que não gosto de fazer e não fiz. Senador Paulo Paim, eu governava o Estado do Piauí, quando chegava um piauiense ilustre, parnaibano, na minha cidade, o Assis Brasil. Um dos melhores escritores desta Pátria. Alguns de seus livros são Beira Rio Beira Vida, Pacamã e A Filha do Meio Quilo. Inclusive Beira Rio Beira Vida foi premiado. Eu, cansado, no Centro Cultural da Praça do Saraiva, aceitei um discurso do meu secretário de Governo, Professor Celso Barros, um dos homens mais culto que conheço, o Richelieu do meu governo. Li, não fiquei satisfeito, embora reconheça a obra literária de um dos homens mais intelectuais, que foi Deputado Federal, e outro dia foi homenageado pela OAB Federal. Mas não era a minha cara. E o Assis Brasil também ficou meio decepcionado, porque a imagem era outra.

Um ano depois, ele estava na cidade de Parnaíba - que é a cidade dele, cujo romance mais importante é Beira Rio Beira Vida, que conta a vida do navegador do rio, do cenário ribeirinho, um tratado social muito importante -, eu inaugurava um poliesportivo e condecorava aquele filho ilustre e falei do coração. Senador Paulo Paim, eu senti a diferença. Esse escritor mandou uma carta, agradeceu, disse que eu ia ser Senador, disse que podia ser até Presidente, e vi a emoção de um homem daqueles, o retrato. Eu procuro falar sempre do coração, porque testemunhei a diferença. Uma das páginas mais lindas foi a que o Assis, que é escritor nomeado, viu, e o outro eu sei que era uma peça literária de grande valor. Mas não era a carta.

Mas eu tenho que falar da mulher. Hoje, um assessor me deu um discurso. Um homem muito inteligente, muito mais brilhante do que eu. Quando eu li, ele dizia que eu tinha de fazer uma saudação à mulher do Presidente da República - com todo o respeito à encantadora Primeira-Dama -, à do Vice-Presidente - é o mesmo nome, hoje é que eu vi - e à do Presidente da Câmara. Eu disse: “Olha, isso não é a minha cara. Não é. Não dá”. Ela merece ser homenageada, e o Presidente vai homenageá-la.

E chega o Senador Magno Malta. Deus quis colocá-lo ali. Eu falo do coração. Primeiro, Senador Magno Malta, Deus escreve certo por linhas tortas. Ele o colocou aí, e agora eu sei que o tempo é infinito, vai daqui à mulher que está no céu, Dadá, que é a mãe de Magno Malta. Deus já está dando tempo aqui, já me tranqüilizou.

Senador Magno Malta, qual é a sua religião mesmo?

O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco/PR - ES) - Sou evangélico.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Evangélico. Cristão. Estamos no mesmo. Gosto muito de Deus porque Deus fez Adalgiza para mim. Ela é que tenho que homenagear, a minha mulher. Portanto, já não dá o discurso do assessor. Gosto de Deus porque ele fez Adalgizinha para mim.

Mas, antes dela, há uma mãe. E eu sei que toda mãe...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Senador Magno Malta, pela sua cara, V. Exª já me concedeu dez minutos.

Senador Magno Malta, vendo o Dia Internacional da Mulher, a mãe... Eu sempre disse, e está aqui. Não vou cansá-lo. Conheço o Regimento, e não vou... Está aqui, nas minhas mãos. Aqui eu digo que não sou mão santa. Nunca fui. São mãos humanas de um médico-cirurgião que Deus guiou para salvar uma vida aqui outra acolá. Mas o Piauí sabe que elas são honradas, são dignas, e estão estendidas para os pobres.

Senador Alvaro Dias, eu digo aqui, em um dos impressos, que sei que não sou mão santa, mas sei que sou filho de mãe santa. Minha mãe - sei que todas elas são - era terceira franciscana. Essa é uma ordem do...

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Sr. Presidente, me dê logo dez minutos. Sei que de grão em grão a galinha enche o papo, mas me dê logo dez minutos.

O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco/PR - ES) - Senador Mão Santa, leia o poema que sua mãe escreveu para V. Exª.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Pois sim. Vou resumir.

O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco/PR - ES) - Não é para V. Exª resumir. Estou pedindo que leia o poema também.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - São três. Eu vou sintetizar.

Um deles, de quando eu era criança. Ela era escritora. Escreveu um livro à vida, chamado A Vida um Hino de Amor, publicado pela Editora Vozes.

Meu querubim. Só vou ler uma estrofe. Criança, a imagem dela.

Meu filho

Ao Francisco

Filho! Tu és o enlevo e a amor de minha vida.

Dos sonhos que sonhei, tu és a realidade!

És a visão formosa e abençoada, descida

Do céu para aumentar a minha felicidade!

Só a primeira estrofe. No meio da vida, eu, já com 30 anos. Não vou cansá-lo, mas é uma obra literária extraordinária. Mário Couto, faço um desafio aqui. Minha mãe tem um livro que escreveu, porque ficou viúva, Paim.

Maria! Todo mundo escreve sobre Nossa Senhora, mas ninguém como ela. Maria, a viúva, porque minha mãe ficou viúva, sofrimento que ninguém descreve. Mas isso é um livro.

Então, li a primeira estrofe, de quando eu era criança. E ela termina assim:

Às vezes a ralhar, repreendo-te queixosa:

“Tu és feliz demais!” E depois, mais paciente:

“Tu és um querubim nadando em vale de rosa!”.

Aí, a vida aos 30 anos, ela escreve outro. Eu tinha mais ou menos 30 anos, maio de 1971, já é a luta. Então, lá pelo meio - é grande, duas páginas... Vou-me concentrar só na vida de criança, e a vida é uma luta mesmo:

Não chores, meu filho;

Não chores, que a vida

É luta renhida:

Viver é lutar.

A vida é combate.

(Gonçalves Dias)

Mas minha mãe, lá no meio de seu poema - não vou ler, condenso os três -, diz:

Construindo um lar,

Edificaste uma “igreja doméstica”,

E, como esposo e pai,

Cumpres o sacerdócio familiar

Tão sagrado, tão útil à sociedade,

Tão agradável a Deus

Que, por isso, só tenho

Que te louvar.

Emociona-me também

Saber-te, de bisturi em punho,

Salvando vidas cada dia.

Mas, quando sei o que sofres,

Os tormentos que passas [na luta da vida: eu já era adulto],

Pelas incompreensões

E desilusões cotidianas,

Quando sofro por te ver sofrer,

Pelo que vês,

Pelo que escutas,

Pelo que não sabes calar,

Fico a soluçar

E a indagar

Se a vida é mesmo um hino de amor...

Esse poema é de seu livro A Vida um Hino de Amor. E, lá no fim, diz:

Filho, a minha fé me diz

Que eu ainda hei de ver-te

Instrumento de paz,

De misericórdia, de perdão.

Não li todo o poema. Graças a Deus, chegou o João Vicente Claudino, que é do Piauí.

Então, no fim de sua vida, minha mãe escreve uma das obras literárias mais importantes deste Brasil. Pedro Simon é encantado - daí a amizade -, porque ela era terceira franciscana: Meu testamento. Não vou ler todo, só o final. Ela escreveu no fim da vida, ó, Magno Malta. Dadá não escreveu, mas deixou as mensagens que vamos reproduzir. Já consegui até que um Senador do Piauí, que tem uma gráfica, publicasse.

Então, minha mãe escreveu no final da vida: Meu testamento, Paim:

Que meus filhos possam herdar de mim

Todo o bem dessa fé.

Que foi a minha luz,

Mais clara e mais querida,

Dessa esperança que foi a minha força

Dessa caridade,

Que me fez ver Deus

Em toda a natureza,

Em todas as pessoas,

Em tudo o que existe,

E Dele provém!

Caridade que é amor,

Amor que é a vida!

Essas são as saudações, e gosto mais de Deus por isso. João Vicente, Ele foi tão bom para mim: a mãe, a minha Adalgisa e a minha família. São três mulheres e um homem, por isso gosto de Deus. E os netos, quatro mulheres e três homens.

E se repete a cada instante. Façam uma reflexão: a mulher é mesmo mais digna, mais corajosa; tem muito mais vergonha e é muito mais forte do que nós. Este negócio de dizer “sexo forte” - sou médico e estudei Psicologia - é fraqueza nossa: forte é a mulher. Se fizermos uma reflexão sobre o maior drama da humanidade... Ó, Mário Couto, que veio do Pará e que diz que não vai parar de gritar em defesa do seu povo! Mário Couto, na história da humanidade...

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Magno Malta, olha a Dona Dadá...

O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco/PR - ES) - Vou-lhe dar mais dois minutos, para V. Exª “quebrar o galho” dos outros.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Mais dois minutos para terminar e um minuto para pedir as bênçãos de Dadá e de Jeanete, que estão no céu, as nossas mães.

Então, o maior drama da humanidade, sem dúvida nenhuma, foi a crucifixão de Cristo. Todos nós paramos. Os homens todos falharam: Anás, Caifás, Pilatos - político, como nós, fraquejou. A Adalgisinha dele falou: “Não faça isso, o homem é bom”. E ele: “Não, mas tenho de servir ao presidente de plantão, a Herodes”. E fraquejou. Todos! Pedro, o forte, o bravo, sabemos, três vezes negou. Os outros que se banqueteavam, os amigos, os leprosos que curou, os aleijados, os que tomaram vinho, que comeram pão e peixe, todos fraquejaram. Todos, homens. A mulher de Pilatos, Verônica, venceu os militares, e as três Marias, três mulheres.

Essa é a homenagem, essas são as nossas palavras e a nossa confissão. Gostamos, Magno Malta, de Deus, porque criou a mulher, o nosso encantamento maior.

O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco/PR - ES) - Obrigado, Senador Mão Santa. Mas V. Exª nem utilizou os últimos minutos que lhe dei. Não precisa voltar, já encerrou.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Já? Eu queria dar uma orientação, se V. Exª me permite. É um artigo de José Aristóteles, “A saúde da mulher”, que diz que este País tem de tomar vergonha e ter o hospital da mulher, como as civilizações - um hospital que faça o diagnóstico precoce do câncer, que diminua a mortalidade durante o parto e tudo mais. Então, essa é uma orientação.

 

*****************************************************************************

DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR MÃO SANTA EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

***************************************************************************

Matéria referida:

Poesia dedicada por sua mãe, Jeanete, a Francisco.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/03/2007 - Página 4728