Discurso durante a 21ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com o quadro de instabilidade na forma como o Presidente Lula trata a sua base aliada.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Preocupação com o quadro de instabilidade na forma como o Presidente Lula trata a sua base aliada.
Publicação
Publicação no DSF de 08/03/2007 - Página 4397
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • COMENTARIO, FALTA, ESTABILIDADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, TRATAMENTO, MEMBROS, BANCADA, APOIO, GOVERNO, ESPECIFICAÇÃO, REFERENCIA, PROCESSO, ELEIÇÃO, PRESIDENTE, CAMARA DOS DEPUTADOS, DEMISSÃO, CRISTOVAM BUARQUE, EX MINISTRO DE ESTADO, AUSENCIA, NOMEAÇÃO, ROSEANA SARNEY, SENADOR, MINISTERIO, TENTATIVA, INTERFERENCIA, PROCESSO ELEITORAL, PRESIDENCIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), REGISTRO, ALTERAÇÃO, FILIAÇÃO PARTIDARIA, CONGRESSISTA, APREENSÃO, CRISE, POLITICA NACIONAL, REPETIÇÃO, CORRUPÇÃO, MESADA.
  • REGISTRO, POSIÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), VOTAÇÃO, MATERIA, INTERESSE NACIONAL.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente, o meu Partido vive o grande desafio de fazer uma oposição que seja eficaz, e espero que ela atinja graus de eficácia ao longo do nosso exercício na Oposição sem repetir as cenas que nós vivenciamos no passado e que não foram de forma alguma benéficas para os destinos do País.

Neste momento, vejo com preocupação - e essa é a visão do PSDB do Senado - um certo grau de instabilidade na forma como o Presidente da República trata o convívio com os seus interlocutores, basicamente com os seus aliados. Isso evidentemente vai armando um certo cenário de crise - e eu gostaria depois de deixar bem claro qual é a minha definição.

No episódio Luís Eduardo Greenhalgh, o candidato a presidente da Casa acabou ficando só, e o que o Planalto ofereceu ao Brasil foi aquele espetáculo Severino. Eu me recordo da forma como foi demitido o Senador Cristovam Buarque, então Ministro da Educação: S. Exª foi demitido por telefone. Eu me recordo da Senadora Roseana Sarney, que, dada como nomeada para determinado Ministério, não foi nomeada para Ministério qualquer. Nem sei se isso não influenciou no resultado eleitoral que ela experimentou, nas últimas eleições, no seu Estado do Maranhão. Eu me recordo de que V. Exª, Senador Renan Calheiros, respaldado na Oposição e não no Governo, terminou impondo a sua candidatura a Presidente do Senado. E o Deputado Aldo Rebelo, por outras vias, virou o Presidente da Casa. Mas o compromisso do Presidente Lula era no sentido de fazer do Deputado João Paulo o Presidente da Câmara e do Senador José Sarney o Presidente do Senado. Isso não se cumpriu. Depois, na hora da reeleição do Deputado Aldo Rebelo, vimos o que aconteceu. O Presidente se elegeu e disse: “Só teremos um candidato da Base aliada”. Acabaram saindo dois candidatos, e vimos toda uma máquina palaciana se movimentar para eleger o Deputado Arlindo Chinaglia. E o Deputado Aldo Rebelo, meu adversário e do meu Partido, mas homem público correto, ficou sozinho, experimentando a solidão de quem não foi tratado com lealdade.

Não vou me referir a Roberto Jefferson nem a José Dirceu, um que recebia o cheque em branco e o outro que era o capitão do time. Passarei por cima daquele episódio.

Mais recentemente vimos esse outro episódio. Que fique bem claro que desfruto de relações fraternas com o candidato virtualmente eleito à Presidência do PMDB, Deputado Michel Temer. Tenho relações fraternas com ele, assim como tenho relações fraternas com o Ministro Nelson Jobim. Mas o fato é que, de uma hora para outra, se evaporou o apoio - que talvez queimasse Nelson Jobim dentro do PMDB, até por ser palaciano. Mas evaporou-se o apoio a Nelson Jobim. E eu percebi o travo da amargura num ex-membro da Suprema Corte, que saiu para supostamente trilhar um caminho político ao lado do Presidente da República.

Eu tenho de dizer que não há como - V. Exª certamente não vai admitir isso - V. Exª não ter experimentado uma certa sensação de desconforto com os últimos acontecimentos.

Não tem como o Presidente José Sarney, com quase 32 anos de Senado, com não sei quantos anos de Câmara, não sei quantas vezes Governador do Maranhão e uma vez Presidente da República, não tem como o Presidente José Sarney, falando consigo mesmo, deixar de imaginar que talvez não tenha recebido, pela terceira, vez pelo menos o tratamento de aliado privilegiado que imaginava merecer por parte do Planalto.

Imagino que essa torrente de mágoas vai-se acumulando. Imagino que essa torrente de mágoas não é boa para o processo político. Ou seja, é uma forma em que se percebe pouca liderança e muita espuma.

Qual seria a nossa resposta? A resposta do PSDB seria o quê? Aprofundar a base da rede de intrigas? Aprofundar o que me parece uma crise a abalar o País? Não, essa não é a nossa resposta. A resposta do PSDB é outra: é, precisamente, dizer que estamos prontos para votar neste Senado as matérias de efetivo interesse nacional. E a nossa vontade de votar as matérias de interesse nacional se torna maior na medida em que percebo um quadro de instabilidade maior a rondar os gestos e os métodos com que o Presidente Lula organiza a sua chamada base aliada. Estou preocupado de novo. Vejo partidos se modificarem. Partido que tinha 20 Deputados passou a ter 50, partido que tinha mais de 60 Deputados passou a ter cinqüenta e poucos. Ou seja, parece até que é uma reprise. Tomara que eu não esteja certo. Tomara que eu esteja errado. Tomara que não seja uma reprise canhestra tipo Rambo e, depois, Rambo2 - A Missão. Tomara que não seja “mensalismo - a missão”, porque os métodos não estão corretos. Os métodos são os mesmos. Nada mudou.

Por outro lado, se esse é o quadro a nos deixar preocupados, a resposta do PSDB não é, outra vez, aproveitar isso.

Quando se falava em impeachment do Presidente Lula, o PSDB foi contra àquela altura. Arrependeu-se? Não, não se arrependeu. Não queria convulsionar o País. O Presidente Lula completou o seu mandato e depois foi julgado pelo povo, que achou que ele deveria nos governar por mais quatro anos. Que o Presidente cumpra com o seu dever de governar o País de maneira correta pelos próximos quatro anos. Que o Presidente Lula cumpra com o seu dever, porque o PSDB está pronto para cumprir com o seu, pois estamos aqui para votar, estamos aqui para trabalhar, mas claro que preocupados, porque essa não me parece a forma mais justa de se tratar interlocutor nenhum. Isso só vai criando, a meu ver - disse muito bem a jornalista Dora Kramer - um clima de tempestade. Quem semeia vento termina colhendo tempestade, mas não as colherá por omissão do PSDB diante da questão nacional. O PSDB dirá “presente” toda vez que a estabilidade política deste País estiver em jogo.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/03/2007 - Página 4397