Discurso durante a 32ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Protesto contra os vetos parciais do presidente Lula a projetos aprovados no Congresso, entre os quais, o de recriação da Sudene.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Protesto contra os vetos parciais do presidente Lula a projetos aprovados no Congresso, entre os quais, o de recriação da Sudene.
Publicação
Publicação no DSF de 22/03/2007 - Página 6324
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ELOGIO, GOVERNO, JUSCELINO KUBITSCHEK, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMBATE, DESIGUALDADE REGIONAL, CRIAÇÃO, SUPERINTENDENCIA DO DESENVOLVIMENTO DA AMAZONIA (SUDAM), SUPERINTENDENCIA DO DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE (SUDENE), REGISTRO, HISTORIA, BRASIL.
  • GRAVIDADE, AUMENTO, CONCENTRAÇÃO DE RENDA, DESIGUALDADE REGIONAL, HISTORIA, BRASIL, COBRANÇA, PROVIDENCIA, GOVERNO FEDERAL.
  • PROTESTO, PERDA, DEMOCRACIA, FALTA, EXAME, CONGRESSO NACIONAL, SUPERIORIDADE, NUMERO, VETO (VET), PRESIDENTE DA REPUBLICA, ESPECIFICAÇÃO, VETO PARCIAL, RECRIAÇÃO, SUPERINTENDENCIA DO DESENVOLVIMENTO DA AMAZONIA (SUDAM), SUPERINTENDENCIA DO DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE (SUDENE), RESTRIÇÃO, AUTONOMIA, RECURSOS.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Alvaro Dias, que preside esta sessão; Sras e Srs. Senadores presentes; brasileiras e brasileiros que nos assistem pela TV Senado, Paulo Paim, Senador Suplicy, é o nosso Martin Luther King - feliz do país que não precisa buscar exemplo noutras pátrias e noutra história. Está aqui ele: gaúcho, Guerra dos Farrapos, lanceiros negros, precursores da liberdade dos negros.

            Estamos aqui, e quis Deus que também estivesse presente o Presidente Collor. Juscelino Kubitschek de Oliveira. Sou médico como ele, cirurgião como ele, da Santa Casa; tive passagem pela vida militar; fui Oficial de Reserva, Prefeito, Governador.

            Presidente Collor, fomos cassados. Juscelino também foi humilhado - os humilhados serão exaltados. César, César! O Brasil só tem um: César Borges. E ele está aqui entre nós.

            Atentai bem, Papaléo! V. Exª é médico, fez da ciência médica a mais humana das ciências e é um benfeitor da humanidade. Juscelino Kubitschek: desenvolvimento é a sua cara. Cinqüenta anos em cinco. E ele teve um sonho, como Martin Luther King, como o nosso Paim, como nós, como este Brasil e como Montesquieu, que sonhou com a liberdade e com a democracia. Um tripé. Juscelino também sonhou: “Vou levar para o Sul a indústria automobilística”. Não pensou ele que faria carroça, não. Seria automóvel bom, avião bom, e está aí a Embraer.

            Construiu Brasília no centro, para integrar o País, com coragem e ousadia - e como integrou! E, no Norte e no Nordeste, fez a Sudam e a Sudene.

            Presidente Collor, V. Exª já fez muito por este Brasil, mas vai fazer muito mais. A inveja e a mágoa corrompem os corações.

            Juscelino precisava de um tripé para o Brasil não cair. Ele viu, César Borges, a desigualdade; não a racial - essa é superada, curvamo-nos ao Paim, de cor preta; essa é superada -, mas a mais importante: ele viu que a primeira das liberdades - atentai bem - é a liberdade econômica, se ela não existe.

            No tempo de Juscelino, havia dois brasis: o do Sul, cuja população ganhava quatro vezes mais, e o do Norte e Nordeste. É isso, Expedito Júnior! E ele, iluminado, corajoso e cirurgião, botou outro pé, como Montesquieu: três pés para sustentar a democracia, ô Presidente Collor. E disse: “Vamos tirar essa diferença”.

            Foi buscar Celso Furtado, economista, homem de visão. Construiu a Sudam e a Sudene - falo da Sudene porque entendo mais dela - para eliminar a desigualdade. Mas ela aumentou, Presidente Collor - V. Exª passou rapidamente pela Presidência, não foi culpado!

            Quando eu era Deputado no Piauí, nos anos 80, um dos políticos mais iluminados, Senador João Lobo, dizia: “Há dois brasis: o do Sul e o do Norte e Nordeste; o do Sul tem uma população que ganha duas vezes mais e, no Nordeste, há dois nordestes”: o Nordeste rico era só Bahia e Pernambuco - o Ceará ainda não fazia parte desse grupo -, e o pobre, Piauí e Maranhão. O Piauí eu tirei da pobreza. Ficou o Maranhão.

            Mas, hoje, ô Presidente Lula da Silva, a diferença com a qual Juscelino sonhou acabar ainda existe. Eram quatro. César Borges, V. Exª, que é engenheiro, conhece os números. Hoje são 8,6: Brasília e as cidades do Maranhão; 8,6. Presidente Lula da Silva, 8,6 é mais do que o dobro do que era. No Senai - V. Exª estudou e estudou bem -, havia a aritmética do Trajano. A situação piorou. Não adianta nem Goebbles, nem Duda Mendonça. Vim do Piauí, e o povo me ensinou: é mais fácil tapar o sol com a peneira do que esconder a verdade.

            Presidente Sarney, graças a Deus, o Maranhão está como o Haiti: tirou o Piauí do último lugar. São 8,6! E a Sudene foi sonhada por Juscelino, Papaléo, para acabar com essa diferença.

            Enterraram, Collor! Eu estava lá, lutando, como Governador do Piauí. Lutei até o fim. Enterraram! E conversa fiada ouvi muita durante quatro anos. A Câmara de Vereadores da minha cidade, Parnaíba, e a Assembléia do Piauí são mais fortes, mais valorosas do que este Congresso Nacional. Vou dizer por que: fui prefeito - o Papaléo o foi, está orgulhoso ali; o Presidente Fernando Collor também o foi. Papaléo, o que é isso? Eles derrubavam meus vetos! Eles estavam certos. Eu governei o Piauí durante seis anos, dez meses e seis dias, com as bênçãos de Deus. Os valorosos Deputados do Piauí derrubavam meus vetos.

            César Borges, não sei como é na Bahia. A Bahia é terra de Rui, mas me lembra muito mais a baiana Marta Rocha! Não sei. Porém, no Piauí, eles derrubaram meus vetos, e estavam certos, porque eram 30 cabeças e pensavam melhor do que eu, Presidente Collor!

            Neste Congresso - ridículo! - há mais de 400 vetos do Presidente, e nós nem os julgamos.

            Sou do Piauí: “(...) terra querida, filha do sol do equador; pertencem-te a nossa vida, nosso sonho, nosso amor”. Na luta, seu filho é o primeiro que chega.

            Ô Pedro Simon, e os vetos? Cadê a coragem? Ulysses e V. Exª moraram juntos. Sem coragem, faltam todas as virtudes.

            Cadê a nossa coragem? Passamos aqui quatro anos - já se passaram janeiro, fevereiro, e estamos em março - estudando a Sudene: as cabeças, as dedicações, as inteligências, as audiências, a verdade e a pureza. O projeto passou por todas aquelas comissões, pelo Senado, pela Câmara; foi um vai e volta, um vai e volta! E o Presidente da República, o Presidente Lula...

            Presidente Lula da Silva, eu quero ajudar! Sou do PMDB de vergonha, de verdade, de Pedro Simon! Essa é a minha contribuição. Não é vergonhoso derrubar-se um veto, não! Derrubaram o meu, e estou aqui orgulhoso, porque isso é democracia, é se curvar a ela. São 513 Deputados e 81 Senadores. Pergunto: de que valeu esse estudo? E a Sudene? Está aí o malefício.

            Presidente Lula - sei que todo mundo é superior em alguma coisa a mim, e, nesse particular, eu aprendo, inclusive com Ralph Waldo Emerson, maior filósofo americano -, Vossa Excelência não foi prefeitinho; eu fui. Vossa Excelência não foi Governador. Mitterrand ao morrer, Lula, há 14 anos, escreveu uma mensagem aos governantes, a um auxiliar, seu amigo, daqueles poucos amigos - o Collor sabe -, dizendo que, se ele votasse, iria fortalecer os contrapoderes. Mitterrand disse isso, Presidente Lula! Então, respeite. Deixe. Vamos ter coragem! Os vereadorezinhos da Parnaíba a tiveram; os Deputados do Piauí a tiveram. Essa é a contribuição da democracia.

            A Sudene, sem os instrumentos, não é nada. Tiraram todos os seus instrumentos para dizerem que ela nasceu, para botarem o Duda Mendonça e fazer valer aquela lei de Goebbles, que diz: “Uma mentira repetidas vezes acabará se tornando uma verdade”. Mas a verdade, Presidente Lula, é que, hoje, a diferença entre o maior e o menor salário aumentou.

            A referência é Brasília, cidade que Roriz, o filhote de Juscelino, transformou em grandiosa. No Maranhão, essa diferença é 8,6. Então, a Sudene é para isso.

            Senador Alvaro Dias, fui prefeitinho de uma cidade que se parece com a Holanda, por ser invadida pelas águas. Lá temos um cais que a rodeia, construído por Dr. João Silva Filho, época em que Alberto Silva era da Sudene. O maior complexo hoteleiro de Atalaia - eu o conclui - foi obra da Sudene. Falo isso porque a última reunião da Sudene foi presidida por mim. Portanto, temos uma história longa e sinuosa.

            Adentrei aqui acreditando em Deus, no estudo e no trabalho. A última obra da Sudene foi na minha cidade. Estava lá o Garibaldi, então Governador. Senador Papaléo Paes, foram aprovados, pela Sudene, o projeto da Bunge, uma multinacional, uma fábrica de bicicletas do Grupo Claudino e uma fábrica de cimento, do grupo João Saldanha. Então, tudo que há de mais sério! E mais: a Sudene seria uma universidade de inteligência do Nordeste. Presidente Collor, lá estavam os melhores técnicos, como, Salmito, Delile Guerra, Leonides Filho, José Lima, Paulo de Tarso, Moraes Souza.

            Por isso, Senador César Borges, devemos ter a coragem demonstrada pelo vereadorzinho da Parnaíba, do Deputado do Piauí. Lula, isso faz parte do jogo da democracia. Senão, faça como Hugo Chávez: feche logo este Congresso! Levamos mais de quatro anos nos reunindo. A matéria foi aprovada no Congresso - Senado e Câmara - para, agora, serem tirados os instrumentos de desenvolvimento da Sudene, o sonho de Juscelino!

            Caro nordestino Lula da Silva, faço-lhe um pedido. Não sei se este vai chegar a V. Exª, mas peço-lhe com amor - faço oposição, Senador Joaquim Roriz, não por ódio, porque não o tenho, nem tampouco por medo - e, como dizia Marcos Freire, do meu Nordeste, por consciência: para salvaguardar a democracia. Professor Wellington Salgado, que representa Minas, do Libertas Quae Sera Tamen, vamos libertar este Congresso, para que tenhamos altivez. Este Congresso teve a coragem de roubar o mandato do Presidente Collor, mas não a tem para carimbar a vontade, o desejo e a inteligência dos que fizeram renascer a Sudene.

            Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/03/2007 - Página 6324