Discurso durante a 20ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do Dia Internacional da Mulher.

Autor
Papaléo Paes (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AP)
Nome completo: João Bosco Papaléo Paes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. FEMINISMO.:
  • Comemoração do Dia Internacional da Mulher.
Publicação
Publicação no DSF de 08/03/2007 - Página 4338
Assunto
Outros > HOMENAGEM. FEMINISMO.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, ELOGIO, MULHER, RECEBIMENTO, PREMIO, HOMENAGEM, CIDADANIA, REPRESENTAÇÃO, LUTA, FEMINISMO, BRASILEIROS, TRABALHADOR, MÃE, OPORTUNIDADE, COMEMORAÇÃO, DIA INTERNACIONAL.
  • HOMENAGEM, HISTORIA, BRASIL, ATUAÇÃO, BERTHA LUTZ, EX-DEPUTADO, PIONEIRO, PARTICIPAÇÃO, MULHER, LEGISLATIVO, CONCLAMAÇÃO, ORADOR, MOBILIZAÇÃO, BRASILEIROS, COMBATE, DISCRIMINAÇÃO, VIOLENCIA.

     O SENADOR PAPALÉO PAES (PSDB - AP. Sem apanhamento taquigráfico.) - Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Senadores, ao cumprimentar e parabenizar nossas homenageadas na presente edição do Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz, quero destacar a importância e a oportunidade dessa iniciativa do Senado Federal; mas quero, principalmente, salientar a bravura, a inteligência, a abnegação e a tenacidade da mulher brasileira, fielmente retratada nos brilhantes curriculos que foram examinados pelo conselho até que chegassemos aos nomes de Ivana, Maria Yvone, Moema, Sueli e Beatriz para receberem a honraria.

     A ilustre Senadora Serys Slhessarenko, que preside o Conselho do Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz, foi absolutamente verídica, ao final dos trabalhos, ao destacar as dificuldades que tivemos na escolha das homenageadas, tamanha é a luta de cada uma e tão notável é o papel que desempenham em favor de suas famílias e da sociedade brasileira.

     Esse brilhante perfil, retratado nos currículos encaminhados à Comissão, mas também comprovado cotidianamente no seu papel de trabalhadora, esposa, mãe e, não raro, chefe de família, impõe que se homenageie a mulher brasileira evocando uma figura muito especial e muito cara às causas femininas. Re- firo-me a Bertha Maria Júlia Lutz, cujo nome foi escolhido

para a condecoração que o Senado Federal vem realizando desde que foi instituído o Diploma Mulher- Cidadã, em 2001.

     Nascida em 1894, filha de uma enfermeira inglesa, Amy Fowler, e do cientista Adolfo Lutz, pioneiro da medicina tropical, Bertha Lutz notabilizou-se na luta pelos direitos políticos das mulheres. Hoje, com a crescente presença das mulheres no nosso Parlamento e em todas as instâncias da vida nacional, é indispensável que voltemos nossos olhos ao passado para louvar o destemor de Bertha Lutz, que, afrontando o espírito machista e o conservadorismo da época, dedicou-se ao estudo das ciências, uma carreira então reservada ao domínio masculino; liderou as manifestações pelos direitos políticos, tendo sido a responsável pela aprovação da lei que estendeu às mulheres não apenas o direito de votar, mas também o de serem votadas; e honrou o Parlamento brasileiro, ao eleger-se deputada, em 1936, ainda que no ano seguinte o Estado Novo, golpeando a democracia, tenha dissolvido o Poder Legislativo. Bertha Lutz não se deixou abater por esse e por outros revezes. Até 1976, quando veio a falecer, dedicou-se de corpo e alma às pesquisas científicas e às atividades profissionais, sem deixar por um instante sequer suas lutas pela emancipação feminina.

     Foi a segunda mulher a entrar para o serviço público, por meio de concurso, e deixou-nos importante obra científica. Na luta pelos direitos das mulheres, fundou numerosas entidades, militou em dezenas de outras, percorreu o mundo, participou de conferências em diversos

países, marcando sua presença em eventos que, gradativamente, iam consolidando a emancipação feminina nos cenários nacional e internacional.

Sua obra teve continuidade, encontrou repercussãoentre as mulheres brasileiras que não se conformavam com o papel secundário que lhes era destinado na cultura, na política, na administração pública e na economia. Muitas delas talvez não tenham ouvido falar de Bertha Lutz, mas se identificaram plenamente com seus ideais, sua proposta e, principalmente, sua

insubmissão.

     Como resultado dessa insubmissão e dessa tenacidade, temos hoje, neste Plenário, a presença das homenageadas: cada uma com história pessoal e trajetórias diferentes, mas unidas todas elas por um mesmo sentimento de defesa dos seus direitos e de

igualdade entre os gêneros.

     De Goiânia, comparece Ivana Farina Navarrete Pena, bacharel em Direito e Economia e promotora de Justiça com ampla atuação na defesa dos direitos humanos e na promoção da justiça social.

     Mestre em Ciências Sociais e doutoranda em Comunicação, Moema Libera Viezzer, paranaense de Toledo, atua há mais de três décadas com grupos de base da periferia das cidades, com comunidades rurais e com empresas que desenvolvem programas de responsabilidade ambiental, além de colaborar com entidades que promovem politicas públicas para as

mulheres.

     Maria Yvone Loureiro Ribeiro, servidora da Secretaria de Planejamento e Orçamento do Estado de Alagoas, economista com pós-graduação em desenvolvimento social e urbano, foi perseguida pela ditadura militar, teve seu marido seqüestrado e assassinado nos porões do DOPS. Ativista política, participou da fundação da Sociedade Alagoana de Defesa dos Direitos Humanos e luta contra as discriminações contra as mulheres.

     Moradora do Rio de Janeiro, sacerdotisa dos candomblés de origem Ketu-iorubá, escritora, atriz e artesã, Beatriz Moreira Costa, mais conhecida como Mãe Beata de Iemanjá, dedica-se a atividades nas áreas de saúde, educação, preservação ambiental e apoio à população afro-brasileira. Fundadora da Casa das Águas dos Olhos de Oxossi, foi ela quem iniciou o projeto social “Ação e Viver”, voltado para jovens carentes.

     Sueli Batista dos Santos, moradora de Cuiabá, jornalista e fundadora do primeiro jornal feminino do estado, fundou também a Associação das Mulheres de Negócios e Profissionais de Cuiabá. Além de ter articulado com o Sebrae para desenvolver programas de incentivo ao empreendedorismo destinados às mulheres, Sueli trabalha com programas de natureza artística e cultural, voltados a meninos e meninas, e também com incentivos à carreira de mulheres de

baixa renda.

     É importante observar, Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Senadores, ilustres homenageadas, caros convidados, que a data fixada para a concessão do Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz, não foi escolhida ao acaso. Coincide com o Dia Internacional da Mulher, que nos traz à lembrança aquele longínquo 8 de março de 1857, quando 130 operárias de uma tecelagem de Nova Iorque foram massacradas durante uma manifestação por melhores condições de trabalho. Desde então, o mundo nunca mais foi o mesmo para as mulheres, que, gradativamente, vêm ocupando o seu espaço em todas as áreas da sociedade.

     Muito há ainda por fazer, Senhoras e Senhores Senadores, para que os direitos das mulheres sejam de fato respeitados e para que a vergonhosa discriminação seja banida para sempre. No Brasil, como em outras partes do mundo, as mulheres são vítimas recorrentes de violência doméstica e urbana. São vítimas, também, de uma injustificável discriminação, que

leva o mercado a remunerá-las em condições muito inferiores ao que se paga por trabalhos idênticos realizados pelos homens.

     Embora muito falte para lograrmos uma sólida igualdade de direitos e uma efetiva emancipação, não há como ignorar os resultados dessa luta que teve em Bertha Lutz um de seus expoentes. Ao parabenizar as nossas homenageadas de hoje, renovamos nossa convicção de que os ideais de Bertha Lutz não morrerão, pois tocaram fundo o coração das corajosas e denodadas mulheres brasileiras.

     Muito obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/03/2007 - Página 4338