O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Antonio Carlos Valadares, que preside esta sessão; Cônego José Carlos Toffoli, que representa Deus aqui nesta solenidade; Srªs Senadoras, Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros aqui presentes ou que nos assistem pelo sistema de comunicação da Casa, faço minhas as palavras dos Senadores que me antecederam sobre a importância da Amazônia, que é nossa. Mas sou mesmo é do Piauí e trago aqui uma vivência que talvez ninguém tenha.

Senador Marco Maciel, na cidade em que nasci, Deus me permitiu ser vizinho de cinco bispos. Cônego José Carlos Toffoli, sou vizinho do bispado: Dom Felipe Conduru Pacheco, Dom Paulo Libório, Dom Evaldo Gonçalves, Dom Joaquim Rufino e o atual Dom Alfredo.

Minha ligação com Deus? Não sou mão santa, nunca fui; são mãos humanas de um cirurgião que Deus guiava e, de quando em quando, salvava uma vida. Mas quero dizer aqui que sou filho de mãe santa - ela pertencia à Ordem Terceira Franciscana -, Jeanete de Moraes Souza, que teve, entre suas obras, o livro A Vida, um Hino de Amor, publicado pela Editora Vozes, estimulada por Dom José Freire Falcão.

Senador Marco Maciel, aprendi muito cedo os princípios.

Meu nome é Francisco. Sei que vamos ter um frei que será santo, mas, para essa festa, entendo que, há mais de 800 anos, Francisco, o santo, foi o mais dedicado a valorizar a natureza.

Sei que, antes dele, já filosofou Sófocles. Senador Arthur Virgílio, Sófocles ensinou: “Muitas são as maravilhas da natureza, mas a mais maravilhosa é o ser humano”. O próprio Aristóteles disse que o homem é um animal político, e esse animal político saiu por aí buscando formas de governo. Esse animal político, não aceitando os governos absolutos, totalitários, dos reis, que seriam Deus na terra, uno e poderoso, foi à rua e gritou: “Liberdade, igualdade e fraternidade!”

Senador Flávio Arns, estamos aqui para comemorar aquilo que o animal político gritou, com a Campanha da Fraternidade, inspiração dos nossos bispos do Brasil. Aqui estamos, entendendo que somos todos irmãos.

Eis por que orgulhoso sou do nome Francisco, aquele que mais se aproximou, Senadora Marisa, ao Cristo. Ele pegou uma bandeira, que não era como a nossa bandeira, que é bonita e colorida, mas nela escreveu “Paz e Bem”.

Senador Adelmir Santana, esse Francisco, o Santo, chamava tudo de irmão - era a fraternidade -, era o irmão lobo, tudo irmão. E escreveu bem. Cristo não escreveu, mas Francisco, o Santo, escreveu: “Senhor, fazei-me instrumento de Vossa paz” - aquele que nós declamamos -, “onde houver ódio, que eu leve o amor...”.

Ele escreveu também o “Cântico do Sol”, que minha mãe me fez decorar na infância. Eu o esqueci, mas trouxe agora, em homenagem a Francisco, o Santo, o Santo da Natureza. É longo o Cântico do Sol, mas lerei aqui, de volta às palavras e à inspiração dele, só os versos ligados à natureza.

Diz Francisco, o Santo:

Louvado sejas, meu Senhor,

Pela irmã Lua e as Estrelas,

Que no céu formaste claras

E preciosas e belas.

Louvado sejas, meu Senhor,

Pelo irmão Vento,

Pelo ar, ou nublado

Ou sereno, e todo o tempo,

Pelo qual às tuas criaturas dás sustento.

Louvado sejas, meu Senhor,

Pela irmã Água,

Que é mui útil e humilde

E preciosa e casta.

Louvado sejas, meu Senhor,

Pelo irmão Fogo

Pelo qual iluminas a noite

E ele é belo e jucundo

E vigoroso e forte.

Louvado sejas, meu Senhor,

Por nossa irmã a mãe Terra

Que nos sustenta e governa,

E produz frutos diversos

E coloridas flores e ervas.

Deus me permitiu ser professor de biologia e de ecologia, mas eis um tratado belo de amor à natureza.

Então, para terminar, eu vi o trabalho que faz a Conferência Nacional dos Bispos, “Vida e Missão neste Chão - Fraternidade e Amazônia”. E do livro todo, com a companhia desse Senador extraordinário que é o Paulo Paim, nós buscamos três frases para motivar o mundo: “A Criação é um poema de amor”. “E Deus viu tudo quanto havia feito, e era muito bom” (Gn 1,31). “O Senhor Deus tomou o homem e o colocou no jardim de Éden, para o cultivar e guardar” (Gn 2,15). “ Respeitar a obra de Deus é respeitar a Deus”. Quem respeita a Deus deve respeitar também a sua obra, sem a pretensão de ser dono absoluto do mundo e de suas riquezas.

            Escolhi essas frases, mas há também a do Senador Paulo Paim, que tem sensibilidade e é ligado ao trabalho: “O trabalho deve ser criação, e não escravidão”.

Senador Arthur Virgílio, V. Exª é da Amazônia, da bravura e da grandeza. Feliz do país que tem a grandeza maior da natureza, que é o homem!

Os que nos antecederam, como o vosso pai, Senador Arthur Virgílio, e como os outros, representaram a Pátria na nossa bandeira. A maior parte dela é verde, simbolizando a Amazônia, a esperança da vida. Nela o azul do céu, as estrelas e, no meio, a riqueza, mostrando que a sabedoria está no meio, com a riqueza e a inteligência humana. Como Sófocles disse, das maravilhas da natureza, a mais maravilhosa é o homem.

Quando associo nossos antepassados aos bispos do Brasil, à campanha da liberdade, da igualdade e da fraternidade, lembro que foi a voz do povo, que é a voz de Deus, que escreveu na nossa bandeira “Ordem e Progresso”.

Esta é a homenagem do Piauí à Campanha da Fraternidade. (Palmas.)