O SR. MÃO SANTA (PDMB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sr^as e Srs. Senadores, peço permissão para, na pessoa do Ministro Sepúlveda Pertence - tantas são as autoridades que poderia me esquecer de alguns nomes, o que seria imperdoável -, saudar todas as autoridades presentes. S. Exª simboliza muito para mim. Esta é uma homenagem que faço à Justiça e a Evandro Lins e Silva, lá do meu Piauí, que, coincidentemente, participou, com o homenageado, do Governo que foi deposto.

     Senadoras e Senadores, brasileiras e brasileiros, muito já foi dito, e bem dito, sobre Darcy Ribeiro. Hoje as coisas estão fáceis: basta acessar a Internet e surgem as informações. Mas aqui está a informação do Senado da República - e serei muito breve. Primeiro, o Prefácio não poderia ser melhor: é de Pedro Simon. Sem dúvida nenhuma, ele se torna o mais valioso retrato da vida de Darcy Ribeiro. Pedro Simon faz o prefácio, e eu buscaria só uma frase dele para definir: “Darcy Ribeiro era afável, simpático e humilde. Exageradamente humilde, singelamente humilde”. Pedro Simon, a humildade une os homens, o orgulho os divide. Lacordaire o disse, não fui eu, mas é uma verdade.

Professor Cristovam Buarque, Pedro Simon, estudando a vida de Darcy Ribeiro, buscou o pensamento que diz: “Se dermos comida e escola às crianças, elas farão o Brasil” - aquele que sonhamos. Isso foi pinçado por Pedro Simon.

     Sobre a homenagem que recebeu, Sepúlveda Pertence - fui feliz: Evandro Lins e Silva, lá do meu Piauí, é o símbolo maior e se iguala a Rui Barbosa -, o campus que recebia o seu nome, Darcy Ribeiro, irônico, disse que homenagem era boa quando em vida, como a que lhe faziam naquele momento. Evandro Lins e Silva e Padre Antônio Vieira... Pedro Simon é franciscano, Padre Antônio Vieira, não, é jesuíta. Padre Antônio Vieira disse: palavras sem exemplo são como um tiro sem bala. O exemplo arrasta. É inimaginável o exemplo de Darcy Ribeiro. Esse homem promoveu o maior crescimento universitário do Brasil; foi no Piauí, a Uesp. Quatrocentas faculdades, 26 campus avançados, 12 mil vagas universitárias. Este foi o que vi: o exemplo.

     Não conheci pessoalmente Darcy Ribeiro, mas também não conheci Cristo, nem Abraham Lincoln, nem Winston Churchill. Juscelino eu conheci, sim, Getúlio eu também conheci.

     Estava ali o Presidente Collor, que saiu no momento errado. Seguiu a obra dele sem saber. Collor vai ser julgado pelos Caics. E o que são os Caics? Uma imitação dos Cieps, dos quais o ícone foi Darcy Ribeiro. É assim o bem de Darcy Ribeiro.

     Ele falou sobre a homenagem. Eu tive a de Evandro Lins e Silva. Já no final de sua vida, eu o convidei, em nome dos estudantes, para ser paraninfo. Como Governador, pensei em trazer o melhor, o maior: Evandro Lins e Silva. Ele já estava próximo da morte. E disse: “É difícil, tenho de levar familiares e tal”. Mas eu disse: “Você vai à sua cidade”. E tinha de haver um cachê para motivar. Vamos fazer com V. Exª, Evandro Lins, o que foi feito com Rui Barbosa. Oração aos moços. Ele fez o discurso, estava até envelhecido, não leu, mas mandou ler. É tão bom, que já li várias vezes e dei à minha filha, que hoje é juíza em São Paulo. Quer dizer, V. Exª vai fazer o discurso, e vou fazer, com o melhor intelectual do Piauí, Zózimo Tavares, um livreto igual. Eu tenho e quero presentear. E foi feito.

     Mas ouvi Evandro Lins e Silva dizer na minha casa de praia, olhando o verde mar bravio, as dunas brancas, o vento: “Governador, a força da justiça é a moral. Olha, eu fazia justiça...” E fez mesmo. Eu ouvi o agradecido Miguel Arraes, que ia ser comido pelos tubarões. Nem estava sendo julgado, estava na ilha de Fernando de Noronha, já desencantado, e ele, homem do Piauí, arranca-o de lá e o traz para a liberdade e para o renascer da democracia. Então, ele me dizia que, numa banquinha, fazia justiça. “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”. Justiça é um negócio divino.

     Essa homenagem eu fiz a Evandro Lins e Silva, que esteve presente. Essa daqui foi do Pedro Simon, que ninguém poderia... Pescar! Você é pescador como Pedro; Pedro, o bíblico.

     Mas o que disse Darcy? Eu gravei; foi um dos primeiros livros que peguei como Senador. “É de matar de vergonha o descalabro de nossas universidades. Na maior parte delas, o professor simula ensinar e o aluno faz de conta que aprende [...]”.

Santo Darcy Ribeiro, tudo continua o mesmo! Faz dez anos de sua morte, e continua o mesmo!

     E ele fala de João Goulart em outro trecho: “Não há como negar que a culpa do atraso nos cabe é a nós, os ricos, os brancos, os educados, que impusemos, desde sempre, ao Brasil, a hegemonia de uma elite retrógrada que só atua em seu próprio benefício”.

     Mais adiante, diz: “Nossa Nação está enferma de desigualdade.”

     Darcy, aumentou! Nós não temos coragem. Este Congresso vive uma farsa. Medida provisória, não é? Os vetos! Interessante.

     Fui, Lula da Silva, com todo o respeito - Vossa Excelência é o Presidente, ganhou, e aprendi, com Petrônio Portella, a não agredir os fatos -, prefeitinho da minha cidade, e a Câmara Municipal de Parnaíba funcionava melhor do que este Congresso. Eu fui Governador do Estado do Piauí: vetei, e eles derrubaram meu veto. Estavam certos, porque eram trinta pensantes que representavam também o povo. Aqui, há quatrocentos e tantos, um veto, e ninguém tem coragem de nada! Os meus vereadorezinhos da Parnaíba são mais bravos do que nós, os meus Deputados do Piauí... A Sudene, oh, quis Deus V. Exª, filho do Pernambuco, filho de Joaquim Nabuco... Quiseram convidá-lo para Ministro, e o Saraiva chegou e disse: “Você é gente boa, mas é minoria, Oposição”. Ele dizia: “Solitária”. V. Exª, que teve essa coragem, seja um solitário, para dar coragem e grandeza a este Senado. Lúcia Vânia, que é mulher, e mulher tem mais... Ontem iniciou a Sudene, aquilo é ridículo, aquilo nos envergonha. Ó, Casagrande, não há nada de grande aqui, não existe, aquilo é vergonhoso! Trabalhamos quatro anos e tanto, as melhores inteligências, para fazer renascer a Sudene. Foi muito trabalho, muita luta, muita audiência. Vetou, e acabaram-se os instrumentos. É essa luta que nós queremos, Pedro Simon.

     Então, queria dizer o seguinte: o Brasil é o caso mais escandaloso de concentração de renda que se conhece; somos o País em que os ricos mais monopolizam e em que os pobres menos vêem as riquezas que produzem.

     Darcy, piorou! Piorou! Quando eu era Deputado, nos anos 80, diziam que a maior para a menor era quatro vezes. O Piauí era a última. Graças a Deus, não é. Nós o tiramos dessa situação. Pedro Simon, hoje, Brasília é a maior, e a pior é uma cidade do Maranhão: 8,6. Piorou, meu amigo Darcy! Não fizemos nada; não somos de nada, Darcy. Só temos o seu exemplo.

     Para terminar - eu seria breve -, ele disse:

Fracassei em tudo que tentei na vida: tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui; tentei salvar os índios, não consegui; tentei fazer uma universidade séria e fracassei; tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas, meus fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar dos que venceram. Essa é a verdade.

     Eu dizia o que é educação. Se olharmos os 180 anos, apareceram João Calmon, Darcy Ribeiro e, agora, V. Exª, Cristovam. Darcy é medalha de ouro. A de prata, não sei se fica com V. Exª ou com João Calmon, e a de bronze... Mas são os homens.

     Pedro Simon, sei que a democracia é complicada. Onde ela surgiu, rolaram cabeças. Aqui tivemos o período de exceção. Fomos muito felizes porque a exceção foi Vargas. O período militar tinha homens como V. Exª, piauienses a abrandá-lo, Evandro Lins e Silva, Petrônio Portella, Carlos Castello Branco.

     O que significa educação? Os americanos a construíram - são um modelo. Atentai bem, está escrito sobre um Presidente dos Estados Unidos: “Aqui jaz Thomas Jefferson, o fundador da Universidade da Virgínia”.

     Darcy Ribeiro. Feliz do país, feliz de nós políticos que não precisamos buscar - ó Presidente Lula da Silva, não precisa nem ler mesmo - exemplos de outros países, em outra história. O exemplo está aqui em Darcy Ribeiro, a quem homenageamos! (Palmas.)