Discurso durante a 32ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem a memória do educador, intelectual e Senador Darcy Ribeiro, pelo transcurso do décimo aniversário de seu falecimento.

Autor
Flexa Ribeiro (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Fernando de Souza Flexa Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem a memória do educador, intelectual e Senador Darcy Ribeiro, pelo transcurso do décimo aniversário de seu falecimento.
Publicação
Publicação no DSF de 22/03/2007 - Página 6121
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, DARCY RIBEIRO, PROFESSOR, SENADOR, EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), ELOGIO, VIDA PUBLICA, EMPENHO, ESTUDO, COMUNIDADE INDIGENA, CRIAÇÃO, UNIVERSIDADE DE BRASILIA (UNB), LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL.

     O SR. FLEXA RIBEIRO (PSDB - PA. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, hoje, neste Plenário, lembramos a morte de um dos maiores intelectuais da história do Brasil. Há dez anos, Darcy Ribeiro precocemente nos deixou, legando-nos, porém, uma das obras mais ricas e fascinantes do século XX.

     Darcy Ribeiro era um homem múltiplo. Suas facetas - que ele gostava de chamar de “peles” - eram várias. Ao longo de sua vida, o acúmulo desses variados interesses transformou Darcy Ribeiro em um dos pensadores mais completos do País, pois, a cada “troca de pele”, a pele antiga não era descartada, mas mesclada à pele nova, tornando a produção intelectual de Darcy Ribeiro cada vez mais abrangente e mais visionária.

     Mineiro de Montes Claros, jovem estudante de medicina sem vocação para o bisturi, Darcy logo voltou sua atenção para as ciências sociais. Queria entender o Brasil, queria descobrir as razões pelas quais o Brasil, em suas palavras, ainda não havia dado certo.

     Buscou respostas, inicialmente, na antropologia, estudando as sociedades indígenas. É importante frisar que, para Darcy, “estudar” não se limitava a se trancar num gabinete e devorar dezenas de livros. Darcy embrenhou-se na mata, viveu por mais de dez anos entre os indígenas e tornou-se referência no tema, fundando o Museu do Índio e lançando as bases para a criação do Parque Indígena do Xingu.

     A pele de antropólogo deu lugar à pele de educador. Sua influência na educação brasileira só encontra paralelo, talvez, na obra de Paulo Freire ou de Anísio Teixeira, de quem foi fiel colaborador. Darcy Ribeiro fundou e foi o primeiro reitor da Universidade de Brasília, uma das mais importantes do País; foi Secretário de Cultura do Rio de Janeiro, Estado em que implantou os CIEPs; foi Ministro da Educação; foi professor universitário; fundou bibliotecas; e foi o autor da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, lei que levou seu nome e é um dos marcos da legislação brasileira no período pós-Constituição de 1988. Enfim, não houve campo da pedagogia nacional em que Darcy Ribeiro não tenha transitado, deixando marcas indeléveis na história da educação no Brasil.

     Para Darcy, o pensar não se dissociava do fazer. Cedo percebeu que, na política, ele teria mais e melhores condições de trabalhar pelas transformações que via como necessárias ao Brasil. Como vice-governador e secretário estadual no Rio de Janeiro, chamou a atenção de todo o País para seus projetos inovadores. No Senado Federal, onde lutou com êxito pela aprovação da LDB, Darcy Ribeiro sintetizou, em sua atuação parlamentar, o Darcy antropólogo, o Darcy educador e o Darcy político, enriquecendo a história desta Casa com sua presença e sua obra inesquecíveis.

     Sras e Srs. Senadores, Darcy Ribeiro é daqueles indivíduos raros que, se resolvem fazer algo, têm no céu o seu limite. Decidiu estudar sociologia e antropologia, e nesses campos angariou respeito internacional. Resolveu ser educador, e nessa área fundou e reformou universidades e bibliotecas, aqui e no exterior, e foi secretário de Estado e Ministro da Educação. Exercitou sua escrita, produzindo romances e obras científicas, e foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Entrou para a política e foi eleito Senador, deixando sua marca na legislação brasileira.

     Qual teria sido a nova aventura desse brasileiro ímpar, não houvesse a morte precoce encurtado sua existência? Difícil dizer. Não há como rotular ou prever os movimentos de uma mente tão ágil e de uma inteligência tão inquieta. A única certeza que nos resta é que, com a morte de Darcy Ribeiro, fomos privados do alegre convívio e dos lúcidos ensinamentos de um dos grandes brasileiros da história.

     Era o que tinha a dizer, Sr Presidente.

     Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/03/2007 - Página 6121