Discurso durante a 45ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Lamento pelo resultado de recente pesquisa CNT/Sensus, que dá conta de que mais de 90% dos brasileiros acham que a violência aumentou.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO. POLITICA FISCAL. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Lamento pelo resultado de recente pesquisa CNT/Sensus, que dá conta de que mais de 90% dos brasileiros acham que a violência aumentou.
Publicação
Publicação no DSF de 12/04/2007 - Página 9515
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO. POLITICA FISCAL. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, INFERIORIDADE, QUALIDADE, EDUCAÇÃO, BRASIL, COMPARAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, CHILE, VINCULAÇÃO, GRAVIDADE, VIOLENCIA, PAIS, CRISE, SEGURANÇA PUBLICA.
  • CRITICA, POLITICA FISCAL, EXCESSO, IMPOSTOS, ESPECIFICAÇÃO, CONTRIBUIÇÃO PROVISORIA SOBRE A MOVIMENTAÇÃO FINANCEIRA (CPMF), AUSENCIA, REPASSE, VERBA, PREFEITURA, INEFICACIA, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, ORGANIZAÇÃO, SERVIÇO PUBLICO.
  • CRITICA, DEFASAGEM, PREÇO, TABELA, SISTEMA UNICO DE SAUDE (SUS), COMENTARIO, INCOERENCIA, AUMENTO, POPULARIDADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Papaléo Paes, Senadoras e Senadores aqui na Casa, brasileiras e brasileiros aqui presentes ou que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, o Senador Marconi Perillo trouxe muitas verdades.

Senador Papaléo Paes, eu cheguei do Chile hoje de madrugada e queria dizer que ficamos a meditar como é que bem ali, no Chile, há uma sociedade civilizada enquanto nós vivemos uma barbárie. Cada chileno é obrigado a ter doze anos de escolaridade. Doze! E quando saltamos naquele país, Senador Papaléo Paes, o motorista - todos eles - vê que somos brasileiros e pergunta se temos preferência para falar em inglês... Todos eles sabem! Cada chileno, hoje, sabe a sua língua (espanhol), o inglês, para enfrentar o mundo, e está aprendendo o Português conosco, nós que vamos visitá-los.

Esta é a realidade, bem ali no Chile. Isto é uma barbárie! Chama muito a minha atenção... Ninguém pode negar que esse Fernando Henrique Cardoso, como o Marconi falou, é um homem educado, um estadista e tal. A sua formação foi lá, solamente lá. Eu sou especialista em Fernando Henrique Cardoso. Eu governei e ele era Presidente. Aí ele foi e levou a sua culta e excelsa esposa, Professora Ruth, de quem nos orgulhamos. Quer dizer, ganhava dobrado... Qualquer um de nós que tivesse a oportunidade dele, do Fernando - o Senador Papaléo Paes, por exemplo, com a sua Magnólia -, ganhando bolsa, e ganhando dobrado, porque eram dois, tomando um bom vinho chileno, como o Tarapacá, esses vinhos bons, ganharia qualquer cultura. Depois, ele deu um passeio na França, em Sorbonne, mas a formação dele é chilena. Ele foi professor da Cepal, que é uma organização internacional que cuida dos problemas econômicos da América Latina. Ele foi professor, D. Ruth foi, e tal.

É como o meu caso. A minha formação cirúrgica é do Hospital dos Servidores do Estado, o Ipase, do Rio de Janeiro. Depois, eu dei uma voltinha em São Paulo, nos Estados Unidos, mas a minha formação mesmo foi ali. O Fernando Henrique, com a cultura dele, esse José Serra, extraordinário Governador de São Paulo, esse Paulo Renato, que hoje é Deputado Federal... A cultura é chilena. Só é isso. Eu não sou do PSDB, mas sou um brasileiro que vê as coisas acontecerem. Eles são destaque. Bem ali nós temos uma civilização; aqui é barbárie. Essa é a verdade. Não adianta a mídia aqui... Lula aumentou a popularidade. Ô, Lula, quero lhe dar a ajuda do PMDB, de vergonha e de virtudes, que enfrentou a ditadura. O essencial é invisível aos olhos. Quem vê bem vê com o coração. Isso está lá em Saint-Exupéry, Papaléo.

Então, está aqui: Lula ganha popularidade. Noventa e um por cento dos brasileiros dizem que aumentou a violência. Então, todo o Brasil diz que deixamos de ser uma sociedade civilizada e passamos a ser uma barbaria. Agora vejam Santiago, no Chile. É possível. Que negócio é esse? Eu sou mais nós. Então, o que está faltando? Está faltando o exemplo. O exemplo arrasta.

A corrupção é um mar. Todo mundo viu a vergonha. O desperdício é simbolizado pelo aerolula. Todo mudo desperdiça. Imposto só nós, medianos, é que pagamos; os poderosos não pagam. No Piauí tem até a figura do El Sonegador.

E a incompetência? Aqui tinha um serviço público criado por Getúlio Vargas, um homem que trabalhou muito, estadista, o homem que fez o Dasp. Sabe o que é Dasp, Papaléo? Você é novo. Quer dizer Departamento Administrativo do Serviço Público. Wagner Estelita escreveu o primeiro livro de administração deste País: Chefia e Liderança. Critérios de Promoção é um capítulo. E o Lula não o leu. Havia um serviço público organizado. Quem fala isto é, muito mais que um Senador, um funcionário público aposentado após quarenta anos como médico-cirurgião. O serviço público era organizado. Havia uma hierarquia. Tem que ter. Agora, acaba-se até a hierarquia e a disciplina dos militares. Isso é barbárie, isso é caos. Agora, dinheiro muito tem, porque cada brasileiro e brasileira paga 76 impostos. Eu já fiz um discurso aqui só sobre impostos. Nem sabem o que estão pagando. Vocês pagam 76 impostos.

De janeiro a dezembro, Papaléo, a mulher do Amapá e o homem do Amapá trabalham cinco meses para pagar impostos e um mês para pagar ao banco. Vocês trabalham seis meses para o Governo,que não lhes devolve.

Segurança, barbárie. Atentai bem! O Rio de Janeiro é uma vergonha. Como pode aumentar a popularidade? Quinhentos e noventa e sete assassinatos no Rio de Janeiro em janeiro em 2007. Quinhentos e noventa e sete assassinatos, três vezes mais do que aquela Guerra das Malvinas.

Um quadro vale por dez mil palavras. Iraque, em guerra. Lá morreram 1.920 pessoas. Quer dizer, o Brasil está pior do que o Iraque, se você for somar.

No Piauí, que era cristão... Papaléo, outro dia eu fui lá. Morreu um amigo e eu disse que iria a uma sentinela. É aquele velório, da nossa tradição cristã. Antes de se enterrar, o caixão fica na sala de visita e passa-se a noite lá. Isso é tradição cultural. Não sei se no Amapá é assim. Então, eu cheguei - atentai bem - e fui à noite para o velório. Então disseram-me que, se ele morreu às cinco e meia, tinha que ser enterrado às seis horas, porque, se há sentinela, o bandido assalta até o defunto. Esse fato ocorreu no Piauí, na Teresina cristã.

Essa violência no Rio de Janeiro é pior do que Aids e gripe asiática. V. Exª é médico cardiologista, não trata de doença que ocorre em epidemia. Está entendendo? Isso é uma epidemia, uma virose que se irradiou para o Brasil todo.

Enfim, estamos concorrendo. Perdemos no desenvolvimento, Senador Papaléo Paes. Só ganhamos do Haiti. Há outra pesquisa que diz como gastar corretamente. Novamente, estamos no penúltimo lugar. Até o Haiti gasta melhor do que nós, honradamente. Só perdemos para a Colômbia, porque, como lá há muita maconha, acho que está tudo maconhado. Mas perdemos. Aqui, estamos disputando com o Iraque. Isso é uma barbárie.

Norberto Bobbio, o sábio teórico de democracia que veio depois da Segunda Guerra, ensinava, Senador Papaléo Paes, que o mínimo que se tem de exigir de um governo é segurança à vida, segurança à liberdade e à propriedade.

Quem é que tem segurança aqui? O policial que defendia o Governador foi assassinado. A bela Ministra do STF foi assaltada. O Ministro da Fazenda, num churrasco, com medo, teve que fingir ser um cidadão como nós. Foi assaltado. E nós?

Então, está aqui. E o pior: meu amigo Sérgio Cabral é aliado do Lula, diz que é amigo, que está assim, que joga futebol com ele, que foi no Maracanã.

Sérgio, ó Sérgio, todo mundo sabe que eu gosto de você, mas V. Exª tem de pegar esse Presidente e subir a Rocinha, subir o morro. Quando eu governava o Piauí, eu andava a pé no Piauí todo, na praia, em Teresina, em todo lugar. A autoridade é moral. Vamos lá, para o povo acreditar que tem civilização.

Ficar ali, no Maracanã, protegido... Aí o Lula chuta um pênalti e pula para um lado e para o outro. Enquanto isso, o Brasil está aguardando o Romário, o gol de verdade. Nós queremos a verdade, não a hipocrisia.

O triste é que meu amigo Sérgio Cabral está perdendo da Rosinha. Aumentou 10%. Aumentou. Ele está com o Presidente, que mandou tropas, tiradas daqui, tiradas do Amapá e tiradas do Piauí. Foi a metade dos federais daqui. Num fim de semana mataram 12 em Brasília. Isso não é civilização, isso é barbárie. E aí está.

Senador Papaléo, V. Exª está aí porque foi prefeitinho. Aliás, foi um prefeitão, um prefeito extraordinário, como nunca antes teve o Amapá.

Estão aí os Prefeitos. Marcha! O nome é marcha mesmo. Estão marchando, estão ridicularizando, estão expondo, e é bom que exponham mesmo esta Casa. Para o Brasil, isto aqui é um faz-de-conta!

Ô Papaléo, sério está aqui o Paim. Peguei o jornal na minha ausência. Paim: “Nós entramos madrugada adentro, fizemos...” Está aqui o Paim, que é do PT. No PT também há gente que presta. Está aqui o Paim, o nosso Martin Luther King. Fizemos aqui a PEC nº 228, em três anos, para corrigir um dinheiro para os prefeitos.

Papaléo, V. Exª e eu estamos aqui porque fomos prefeitos, mas a Constituição era justa, é justa. O Presidente Lula desobedece à Constituição. Ulysses, que ficou na história, beijou a Constituição e disse que desobedecer à Constituição é rasgar a bandeira brasileira. Eu já sofri isso.

Papaléo, na Constituição está o bolão, o bolão de dinheiro que o povo paga. O povo é que é o patrão, o povo é que é o poder, nós somos instrumentos da democracia. Isto é vaidade: Poder Legislativo, Poder Executivo e Poder Judiciário! Que nada, o instrumento de poder é o povo. O povo é que paga 76 impostos e nem sabe. Eu já contei.

Então, levamos três anos aqui, porque a Constituição diz para pegar o bolo, porque já tinha dinheiro, já tinha imposto...

Presidente Lula da Silva, é velho esse negócio de imposto. Não fomos nós. Lembra-se de quando Cristo andava no mundo: “É justo pagar imposto a César? O que tem nessa moeda? É César. Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.

Senador Papaléo, então, já existia imposto. Os Constituintes dividiram o tal bolão de dinheiro do Brasil. Sr. Presidente, 53% era para o Presidente da República; 22,1%, para todas as Prefeituras; 21,5%, para os Governadores; e 3%, para os fundos constitucionais. Está assim, Senador Papaléo. O que foi que houve? Imposto. A Constituição diz que divide; maquinaram com os executivos e colocaram um imposto de contribuição - a CPMF, criada por um dos maiores brasileiros, legítimo, decente, honrado - nem tudo está perdido -, Jatene, cardiologista. E foi aprovada porque era destinada à saúde, que estava uma porcaria e piorou. Piorou a educação. Quem diz é a pesquisa. Então, aumentou a popularidade e a pesquisa diz que a saúde e educação pioraram.

Olhem, vocês, cristãos, estão exigindo a pena de morte no Brasil. Mais de 80% querem isso. Somos cristãos, não é da nossa índole matar o próximo que rouba, mas isso é o que está na pesquisa. Agora, colocam assim, enchem em todos os jornais, dizendo que é o Governo quem paga e que aumentou a popularidade do Lula. O que aumentou foi a descrença do povo do Brasil.

Mais de 90% dizem que a violência aumentou. Já querem, se houver um plebiscito, a pena de morte. O País já quer que se punam os menores de idade, tal o estado de criminalidade. Nunca dantes houve essa barbárie, Senador Papaléo.

Apresentamos e aprovamos aqui, com luta, essa PEC. O que houve? Criaram a CPMF. A CIDE é uma contribuição. Senador Papaléo, apenas a CPMF dá R$160 bilhões e esse dinheiro fica com o Governo Federal, porque não é imposto. Criaram a CIDE - Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico. O Governo Federal, de 53%, passou-a para muito mais de 60%, e, para os pobres prefeitos, de 22,5%, baixou para 14%. É por isso que o Senador Papaléo está aí na Presidência. Ele era prefeitinho; eu era prefeitinho. Havia dinheiro. Construíamos creches; a educação era melhor, funcionava. O povo reconheceu isso e nos mandou para cá.

Senador Papaléo, só médicos e prefeitos foram eleitos Senador. A Constituição mandava dar dinheiro para os prefeitos. Desde que eu estou aqui, cinco marchas eles fizeram, com a cuia na mão. Nós votamos para dar 1% desse bolo, que já foi garfado de 21% para 14%. Aumentou o número de prefeituras, de cidades, neste País. Deus me permitiu criar 78 novas cidades no Piauí.

Então, aumentaram os impostos, e o bolo diminuiu. E os prefeitos estão aí, realizando essa marcha, e se repete a promessa.

Fizemos um estudo. Está aqui: “Apelo à Câmara. A PEC que beneficia o Município”. Senador Paulo Paim, do PT, ele mesmo. Essa é a verdade. O dinheiro está com o Presidente da República. Os prefeitos estão com a cuia na mão...

Nunca dantes a violência campeou tanto, a educação caiu e a saúde só é acessível para nós que podemos. A saúde. Desafio o Dr. Temporão, com todo o respeito, a me mostrar hoje, Senador Papaléo Paes, um operado de próstata pelo SUS, um operado de tireóide pelo SUS, um operado de duodenopancreatectomia pelo SUS. Não se opera. O preço da consulta na tabela do SUS é R$2,50; anestesia, R$9,00; cirurgia, R$20,00. Essa tabela está muito mais de dez anos defasada. Duzentos e cinqüenta hospitais faliram por conta da tabela do SUS. Esta é a realidade.

O Senador Papaléo Paes está paciente porque é cardiologista. Ele, que estudou a ciência médica, a mais humana das ciências, foi sempre um benfeitor, e ainda tem a mulher que trabalha por ele. Por isso, está aqui e sabe que é verdade.

Tenho quarenta anos de medicina. Ninguém faz mais essas cirurgias. Encontrei um colega, Dr. Luiz Sampaio, lá da Parnaíba, e perguntei: “Luiz, e cirurgia de próstata?” “Não. Não faço mais”. Não tem quem faça. Ô, Dr. Temporão, com todo o respeito. Tenho quarenta anos de medicina, e essas mãos guiadas por Deus numa Santa Casa. Todas as Santas Casas estão falidas, a da minha cidade, Parnaíba, todas, porque as tabelas não foram atualizadas. O dinheiro está na propaganda, na mídia.

Essas são as nossas palavras para dizer, neste instante, Senador Cícero Lucena, que devemos todos enfrentar, pedir a Deus e ao Presidente da República. Olha, Senador Papaléo Paes, há um filósofo cristão, Thomas Merton, que disse que o “homem não é uma ilha”. Homem nenhum é uma ilha. O Lula não é essa ilha. O Lula não é uma ilha, mas é rodeado por aqueles “aloprados” que mentem, ludibriam-no e o enganam.

Presidente Lula da Silva, essa pesquisa, com todo respeito e crença... Vossa Excelência é o Presidente do Brasil, queremos que acorde. Essa não é a realidade. Vossa Excelência não pode estar com a popularidade aumentada, pois o mesmo povo - o essencial é invisível aos olhos - analise: quem vê mais de 90% dizendo que a violência aumentou e que a educação e a saúde pioraram... Essa é a verdade.

Eu diria ao Presidente Lula da Silva que aprenda com Cristo, que disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Busque a verdade, essas são falsidades dos “aloprados” que o cercam e aproveitam de seu Governo. O seu Governo vai bem, o Planalto vai bem, os Ministros vão muito bem: aumentaram, hipertrofiaram, hiperplasiaram-se, multiplicaram-se. Mas vai mal o povo do Brasil.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/04/2007 - Página 9515