Discurso durante a 45ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Elogios ao Senador Pedro Simon, pelo pronunciamento feito na tribuna do Senado, hoje. A violência no Estado do Rio de Janeiro.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA. SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Elogios ao Senador Pedro Simon, pelo pronunciamento feito na tribuna do Senado, hoje. A violência no Estado do Rio de Janeiro.
Aparteantes
Joaquim Roriz.
Publicação
Publicação no DSF de 12/04/2007 - Página 9572
Assunto
Outros > IMPRENSA. SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • COMENTARIO, PRONUNCIAMENTO, AUTORIA, PEDRO SIMON, SENADOR, IMPORTANCIA, IMPRENSA, REDE DE TELECOMUNICAÇÕES, INCENTIVO, JUVENTUDE, POPULAÇÃO, VALORIZAÇÃO, ETICA, REDUÇÃO, INDICE, VIOLENCIA, REPUDIO, FALTA, MORAL, AUTORIDADE, BRASIL, CONTENÇÃO, AUMENTO, NUMERO, HOMICIDIO, ESTADOS, ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).
  • CRITICA, INFERIORIDADE, CRESCIMENTO, ECONOMIA NACIONAL.
  • IMPORTANCIA, AGRICULTURA, VALORIZAÇÃO, TRABALHO, MELHORIA, SITUAÇÃO SOCIAL, SITUAÇÃO, ECONOMIA, BRASIL.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Gilvam Borges, que preside esta sessão, Senadoras e Senadores presentes na Casa, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação, vim louvar o Senador Pedro Simon. Senador Gilvam Borges, Senador Pedro Simon, pares cum paribus facillime congregantur, Cícero, Senado Romano.

Violência traz violência. Momentos de crise, de violência na Roma dos Césares, antes de Cristo.

E o Senador Pedro Simon vem depois de Cristo. Ele é aqui aquele que apareceu na Itália, que andava com uma bandeira. Passe bem! “Senhor, faça-me um instrumento de Vossa paz!” Ele é o nosso franciscano.

Se Ulysses, companheiro dele, ficou para o mundo encantado no mar, como o Sr. Diretas Já, esse é o Senador Sr. Virtudes. É uma crença, Senador Joaquim Roriz, que o bem deve vencer o mal.

É muita coragem! E Ulysses disse que, sem coragem, Senador Gilvam Borges, faltam todas as virtudes, porque vir aqui e afrontar o Sistema de Comunicação Globo é atitude de um homem de coragem. Por isso estamos aqui.

Pedro Simon, falta autoridade neste País.

Ó, Lula, Presidente Lula da Silva, onde estás?

            Durante a Ditadura, eu estudava, era universitário. Julgar a História. Ernesto Geisel, homem de moral, de vergonha, de virtude. Eu, brasileiro, Senador, faço a história.

Gilvam Borges, V. Exª, que é proprietário de televisão, dirige, faz novela, é um intelectual, eu estava em casa e vi Flávio Cavalcanti, que era mais do que Sílvio Santos hoje. Era o Deus da comunicação, dos programas de artistas, de músicas. Quem não se lembra da música “Sabiá” e da música do Geraldo Vandré: “Vem, vamos embora que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

Falta autoridade neste País; autoridade é moral, que se apresentou Pedro Simon. Então, Flávio Cavalcanti, o todo-poderoso da comunicação, apresentava um quadro de Pernambuco sobre um casal, em que o homem era impotente e buscava o vizinho para ter relações com sua mulher. Ernesto Geisel, que assistia ao programa, como eu, levantou dali e telefonou. E foram noventa dias de suspensão para Flávio Cavalcanti, para a Globo e tudo. Isso é autoridade, é moral, aí é que está.

Pedro Simon advertiu que isso é uma barbárie. Temos de segui-lo. Acredito que ele seja vitorioso e estamos aqui para acompanhá-lo.

Atentai bem, Gilvam Borges, nós vivemos uma barbárie.

No Rio de Janeiro, no mês de janeiro - e olhem que o Governador, o nosso amigo Sérgio Cabral, é aliado do Presidente Lula, levou uma missão policial federal para lá, tirando de Brasília, tirando dos Estados, do Piauí - houve 597 mortos assassinados. Isso é barbárie!

O Iraque - permita-me Gilvam Borges - é uma mesopotâmia, como a nossa Teresina, está entre dois rios. Ali estão os líderes maiores do Piauí, Prefeitos, Vereadores. Então, lá no Iraque, em guerra, morreram 1.920. Rio de Janeiro, morreram 597. Só no Rio de Janeiro, onde o Governador é aliado de Lula. Atentai bem. Se somarmos o resto, o seu Amapá, o Distrito Federal - onde em um fim de semana houve doze assassinatos -, é uma barbárie, nós não temos civilização.

Norberto Bobbio, Senador vitalício e de moral, na Itália do Renascimento, dizia que “o mínimo que se tem de exigir de um Governo é a segurança, a vida, a liberdade e a propriedade.”

O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges. PMDB - AP) - Senador Mão Santa, V. Exª, sem dúvida tem sido um guardião do Plenário e tem representado muito bem esta Casa na tribuna. Queria perguntar a V. Exª quanto tempo necessita para terminar seu discurso.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Quero dizer que sou do Piauí e nós somos disciplinados, V Exª é o Presidente e nos curvamos a qualquer decisão de tempo que tomar.

O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges. PMDB - AP) - Então vou pedir um cafezinho para V. Exª e um para mim e conceder mais vinte minutos a V. Exª.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Pois não, então eu vou embora.

            Depois de Simon, entramos nessa ....

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - ... Estão aqui os dados, foram 597 assassinatos em janeiro na cidade do Rio de Janeiro, enquanto, no Iraque, foram 1.920. Incluindo o resto do Brasil, nós ganhamos, Roriz.

No desenvolvimento, só não tiramos o último lugar porque teve o Haiti. Na competência de gasto, competência em gastar os recursos com seriedade e com objetividade, como o Governador Roriz, ficou atrás de nós apenas a Colômbia, porque dizem que lá existe muita maconha e, na certa, gastaram mais indevidamente. De todos os países. Esse é o caos.

Na criminalidade, temos aqui os dados do Iraque. Iraque não é qualquer um, Iraque era uma mesopotâmia como a nossa Teresina, entre dois rios, o Tigre e o Eufrates, Iraque foi o berço da civilização, foi quem fez a roda, as primeiras escritas, as primeiras noções de aritmética e, de repente, é destruído.

Roriz foi buscar aquilo que era a nossa vocação, a vocação fundamental das sociedades. O homem, nos primórdios de nossa civilização, andava atrás do alimento, da caça e da pesca, era nômade. Onde havia a caça ele ia atrás.

Ó, Jonas, grande entendedor da agricultura brasileira. Senador Jonas, quando então ele aprendeu a plantar, a cultivar o alimento e a criar animais, ele se fixou e nasceram as cidades.

Então, Roriz, V. Exª foi no fundo, a agricultura é aquela que criou toda a sociedade, que fez nascer das cidades. Foi a agricultura, foi a possibilidade de se cultivar alimentos e criar animais para alimentar.

O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges. PMDB - AP) - Senador Mão Santa, o Zezinho serviu um cafezinho. Tome um cafezinho, tenha mais calma para continuar.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Então, Roriz adverte sobre as suas preocupações com relação à agricultura.

Senador Gilvam Borges, entendo que a função de um Parlamento é fazer leis boas e justas, que se assemelhem à lei de Cristo. Essa é primeira, Senador Gilvam Borges.

            A segunda seria fiscalizar - o contrapoder - o Executivo, o Judiciário. Como é difícil hoje, pois as CPIs não se instalam - o Governo não deixa. E a outra, Paim, esta dita por aquele que foi, sem dúvida alguma, um dos mais extraordinários Senadores desta Casa, Teotonio Vilela: “a função nobre, primordial e mais importante do Parlamento é falar”. Ele dizia, quando esteve moribundo com câncer, que “sobrevivendo para falar e falando para sobreviver”. Foi aí que ele valorizou o Parlamento e, com ele e outros, fizeram renascer a democracia neste País.

Então, o que queremos dizer é que esta Casa se enriquece quando vemos aqui, até uma hora dessas, um extraordinário homem do PT - e o PT tem gente boa; é raro, mas tem. Pescamos um aqui: o Paim, que mostra a sua dedicação.

Essa melhoria do País, Roriz, deve muito - como V. Exª comanda e adverte o País - à agricultura. Paim advertia quanto a uma valorização do trabalho. Quando aqui chegamos - e Gilvam Borges ainda não estava conosco -, o salário mínimo era de US$70,00. Lutávamos, com Paulo Paim nos comandando a todos, por US$100,00. E ele conquistou leis boas e justas em defesa do idoso, em defesa do deficiente, em defesa do banimento do preconceito entre as raças. Este Parlamento tem essa finalidade.

Roriz, Ralph Waldo Emerson, filósofo americano, disse: “Todo homem que vejo é superior a mim em determinado assunto e com ele aprendo”.

Senador Roriz, fui prefeitinho, fui deputado, fui Governador de Estado e quero lhe dizer como vai mal a agricultura - um quadro vale por mil palavras. Fui Deputado Estadual entre 1978 e 1982, durante o governo do honrado e austero Lucídio Portella, que foi Senador e irmão do maior Senador e Presidente desta Casa, Petrônio Portella. Eu acompanhava as inaugurações das obras de eletrificação na região ribeirinha do Parnaíba. O rio Parnaíba percorre os 1.458 quilômetros que nos separam do Maranhão. Roriz, de 1978 a 1980, como éramos bem recebidos! Isso é que quero mostrar ao Presidente Lula da Silva, a realidade do Brasil à época: as recepções, os perus, os carneiros, as bebidas, tudo!

Anos se passaram, e recentemente andei pelas ruas do Piauí. Quero dizer que todo homem do campo está mais empobrecido. Esse é o quadro.

Roriz, quando sairmos daqui, vamos tomar um uísque. Vou pedir uma água Perrier para V. Exª, à francesa. Veja o preço da água Perrier, comparada ao preço de um litro de leite. Veja: o leite, Senador Gilvam Borges, é mais barato do que a água dos ricos, importada, com imposto baixo. Como a população poderia estar enriquecida? Está empobrecida.

Em campanha, andei pelas ruas do Piauí. Governei o Estado, levei estradas, eletricidade e observei que os amigos tinham o amor aumentado. O amor se cultiva; quem ama cuida. Mas vi nas casas e nas fazendas dos cidadãos do meu Piauí o mesmo que ocorre no Brasil: os pratos quebrados, encardidos; as cadeiras envelhecidas. Tudo isso porque este Governo que aí está foi insensível para negociar a dívida dos homens rurais. Estão tomando os seus carros de boi, as fazendas; e eles não têm apoio ou subsídio. O homem do campo está mais empobrecido.

Não teve o Presidente da República aquela visão do estadista Franklin Delano Roosevelt, que, na recessão pós-guerra, disse: “as cidades podem ser destruídas, elas surgirão do campo. Mas, se o campo for destruído, a cidade perecerá de fome”. Essas são as nossas falhas.

Quero, neste instante, dar a minha contribuição ao Presidente da República. Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atentai bem para a verdade. V. Exª é generoso, foi consagrado, ganhou as eleições - aprendi com Petrônio Portella, Roriz, a não agredir os fatos - e é o nosso Presidente.

Ele falou de Thomas Moore, e eu falarei de Thomas Merton, Senador Suplicy. Thomas Merton foi um filósofo cristão, Roriz, que disse: “Homem nenhum é uma ilha”. Lula da Silva não é uma ilha, mas ele está rodeado de aloprados por todos os lado, que o enganam, que mentem e que o ludibriam.

Hoje, lê-se em toda mídia: “Lula aumenta a popularidade”. Senador Gilvam Borges, quem vê bem vê com o coração. O essencial é invisível aos olhos. Lula aumentou a popularidade!

Roriz, a mesma pesquisa mostra que mais de 90% dos brasileiros dizem que a violência aumentou. Mais de 90%! Pares cum paribus facilime congregantur, disse Cícero. A violência está se proliferando.

            A metade da população diz que a educação piorou - e piorou. A educação moral piorou, a família está desestruturada. Piorou a própria Igreja. Posso perguntar, Roriz, qual de nós, da nossa geração, não estudou em colégio religioso, por anos e anos, e qual de nós não se formou em um deles?

A escola era o tripé de sustentação de uma sociedade. A escola piorou, daí a barbárie!

Convido todos a irem ao Chile. Roriz, lá, quando saltamos do carro, o motorista, vendo que somos brasileiros, Gilvam, pergunta: “Preferem que falemos em inglês?” Todo chileno, hoje, fala duas línguas: espanhol para viver, e inglês para se comunicar no mundo globalizado. Estão aprendendo a terceira: o nosso português, o nosso “portunhol”.

Lá, os cidadãos são obrigados a estudar 12 anos. Se não estudar 12 anos, vai para a cadeia. Doze anos! As faculdades são públicas. Estive lá. Para entrar na faculdade, vai-se ao banco, faz-se um financiamento e, depois, paga-se ao banco.

O Chile, hoje, é a melhor civilização das Américas; o segundo país é o Canadá; o terceiro, os Estados Unidos e, depois, a Argentina. 

É uma barbárie o que sofremos. “Em verdade, em verdade, eu vos digo”, assim falava Cristo, Lula. E o que também estou dizendo é isto: em verdade, em verdade, estamos sofrendo.

Na minha Teresina, cristã, Roriz, temos o nosso hábito, a nossa cultura - creio que no Amapá é igual, Gilvam Borges. Quando morre o dono da casa, a família quer que o corpo seja velado. Chamamos isso de velório, de sentinela. O corpo fica na sala da casa, onde se passava a noite.

Outro dia, fui a Teresina. Morreu uma pessoa importante, e pensei: “Vou à noite ao velório com Adalgisa”. Quando chegamos lá, Roriz, disseram: “Não, não, já foi enterrado”. “Mas ele não morreu às cinco e meia?” Era a sentinela, o velório; costume da época do meu avô, dos meus pais. “Não, não, a gente enterrou logo, porque, se houver velório, sentinela, somos assaltados”. O bandido entra e assalta até o defunto!

Esta violência está aqui, no Rio de Janeiro: 597 homicídios. O Governador é meu amigo, Sérgio Cabral, do meu Partido. Perdeu para a mulher do Garotinho, em janeiro do outro ano, foram 10% a menos. É, Lula!

Ô Gilvam Borges, essa violência é pior do que virose, do que gripe, do que Aids, porque ela se alastrou por todo o País. Esta é a verdade.

Concedo um aparte ao extraordinário homem que fez reviver Juscelino Kubitschek. Gilvam Borges, não sou dado a Allan Kardec, mas acho que o espírito de Juscelino entrou neste homem, que continuou esta cidade grandiosa e bela, que tem a melhor qualidade de vida do País, que é Brasília. Deus fez o mundo, e Juscelino e Roriz fizeram Brasília.

Ouço o aparte de V. Exª.

O Sr. Joaquim Roriz (PMDB - DF) - Senador Mão Santa, quero aproveitar a oportunidade para fazer uma referência especial ao seu pronunciamento. V. Exª dá uma demonstração de homem capaz, competente; conhece a problemática da vida pública como ninguém. Quero, simplesmente, neste aparte, parabenizá-lo. V. Exª falou em moral, V. Exª fez uma referência especial ao nosso grande Senador da República Pedro Simon. Quero concordar com as palavras com que V. Exª elogiou o Senador Pedro Simon, homem religioso, digno, honrado e, sobretudo, pobre. Além de tudo isso, de ter todas essas virtudes, S. Exª fez um voto de pobreza. Esse é um exemplo para a vida pública e para todos nós, políticos brasileiros. V. Exª tem suas virtudes e seus méritos, porque conhece política como ninguém e tem um amor extraordinário pelo seu Piauí. Quantas vezes V. Exª tem falado comigo sobre o Piauí, essa terra que tanto ama. Seu pronunciamento deveria ser ouvido por todos os Senadores com atenção, porque aborda diversos temas, todos de fundamental importância. V. Exª não esquece os mínimos detalhes. Gostaria de parabenizá-lo pelo discurso no encerramento desta sessão de hoje. Que fiquem registrados meus elogios ao mérito de suas palavras. Parabéns ao Estado do Piauí, que mandou para esta Casa um homem digno, capaz e, sobretudo, competente. Parabéns, Senador Mão Santa.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Senador Roriz, aprendi de minha mãe, terceira franciscana, que a gratidão é a mãe de todas as virtudes.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/04/2007 - Página 9572