Discurso durante a 52ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre a matéria intitulada "Empresas suavizam requisitos para preencher vagas em Santa Catarina", de autoria da jornalista Vanessa, publicada no jornal Valor Econômico.

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE EMPREGO. POLITICA INDUSTRIAL.:
  • Comentários sobre a matéria intitulada "Empresas suavizam requisitos para preencher vagas em Santa Catarina", de autoria da jornalista Vanessa, publicada no jornal Valor Econômico.
Publicação
Publicação no DSF de 20/04/2007 - Página 10994
Assunto
Outros > POLITICA DE EMPREGO. POLITICA INDUSTRIAL.
Indexação
  • COMENTARIO, LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, VALOR ECONOMICO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ANALISE, PRECARIEDADE, SITUAÇÃO, MERCADO DE TRABALHO, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), FALTA, QUALIFICAÇÃO, EXERCICIO PROFISSIONAL, PREJUIZO, EMPRESA, ALTERAÇÃO, CRITERIO SELETIVO, TRABALHADOR.
  • ANALISE, DADOS, SITUAÇÃO, MERCADO DE TRABALHO, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), BENEFICIO, AMPLIAÇÃO, NUMERO, CONTRATAÇÃO, SETOR, METALURGIA, MECANICA, INDUSTRIA TEXTIL.
  • REGISTRO, PRESENÇA, REPRESENTANTE, INDUSTRIA TEXTIL, CAMARA DOS DEPUTADOS, SOLICITAÇÃO, CONGRESSO NACIONAL, COMBATE, CONTRABANDO.
  • NECESSIDADE, MELHORIA, QUALIFICAÇÃO, MÃO DE OBRA.
  • COMENTARIO, EFICACIA, ATUAÇÃO, GOVERNO, MELHORIA, ECONOMIA NACIONAL, DEFESA, EMPENHO, CONGRESSO NACIONAL, CONTRIBUIÇÃO, SOLUÇÃO, PROBLEMAS BRASILEIROS.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Boa-tarde, Sr. Presidente. Gostaria de cumprimentar todos os Senadores neste plenário e os telespectadores da TV Senado.

O que me traz à tribuna nesta tarde de quinta-feira é um assunto que diz respeito a minha querida Santa Catarina mas que serve como exemplo, Senador Botelho, porque imagino que não esteja acontecendo só em meu Estado.

Aliás, o tema foi tratado de forma muito interessante em uma matéria da jornalista Vanessa Jurgenfeld, publicada no jornal Valor Econômico, sob o título “Empresas suavizam requisitos para preencher vagas em SC”. A reportagem era algo que estávamos vivenciando nas visitas ao nosso Estado, nas nossas famosas agendas. Porque, quando saímos do Senado e vamos para o nosso Estado, temos ali mais outros três dias, no mínimo, de trabalho intenso.

Portanto, já havíamos sentido o que a jornalista Vanessa, do Valor Econômico, relatou na reportagem. Um aspecto que eu gostaria de considerar é essa concorrência pelos profissionais mais qualificados.

Como estão faltando profissionais, para suprirem suas necessidades, as empresas estão tendo a obrigação de alterar os critérios de seleção. E esses critérios, algumas vezes, como a própria reportagem diz, são até meio estranhos. Numa situação de falta de profissionais qualificados, esses critérios são prontamente abandonados.

Aí a jornalista afirma o seguinte:

A contratação de operários para o chão de fábrica tem exigido mudança nas ofertas e nos critérios de seleção em parte da região norte de Santa Catarina e também em São Paulo. A Meta RH, empresa de recursos humanos, saiu em busca de candidatos porta-a-porta em Jaraguá do Sul [Jaraguá do Sul, é importante registrar, é o maior PIB industrial de Santa Catarina, onde temos a maior concentração da indústria, principalmente a de transformação, no nosso Estado], e a Weg, maior empresa local, começou a flexibilizar exigências na hora de selecionar operários. O menor número de pessoas disponíveis e a maior concorrência pelos profissionais mais qualificados são os principais motivos para as mudanças.

            Na verdade, todo esse processo vincula-se a uma nova realidade vivida não somente em Santa Catarina, como também em diversos locais do País, em diversos setores econômicos, o que acaba propiciando situações como estas, inclusive a aqui reportada na matéria da Vanessa:

Com investimentos para duplicação do seu parque fabril em curso, a Weg está preenchendo 1,2 mil vagas neste início de ano [volto a dizer, 1,2 mil vagas só agora, no início de 2007], sendo cerca de 80% para operários na produção. Segundo a chefe de RH da Weg, Rosana Spezia, para esse tipo de cargo a empresa deixou de exigir ensino médio completo [na época em quem havia poucas vagas, essa era uma exigência da qual a Weg não abria mão] e que o funcionário more em Jaraguá do Sul há pelo menos seis meses.

            Hoje essa situação se modificou; eles têm trazido pessoas de outros Municípios. A exigência de ser morador de Jaraguá já foi totalmente abandonada. A experiência anterior também foi abandonada. Eles estão contratando pessoas sem experiência com o compromisso de qualificá-las, ou seja, o início de trabalho é um período de qualificação, que a própria empresa prefere fazer internamente a ficar sem o funcionário.

Merece ainda atenção o que a jornalista disse em relação ao setor de metalurgia, visto que este foi um dos líderes nacionais na contratação de pessoas no primeiro bimestre. Ela afirma:

As mudanças têm relação com a oferta menor de desempregados na região. Com o setor de metalurgia sendo um dos líderes nacionais na contratação de pessoas no primeiro bimestre, teve início uma maior concorrência entre as indústrias pelos operários mais qualificados

Voltamos a ter, Senador Paulo Paim, em várias regiões - lá no meu Estado isso acontece -, a história das empresas disputarem os operários que têm qualificação e experiência.

Rosana [que é a chefe do setor de pessoal da Weg] explica que até mesmo os candidatos que fazem parte do banco de dados da empresa e que foram contatados com a abertura de novas vagas, em geral, estão empregados [quando são procurados].

            Resolvi trazer este assunto porque a jornalista se deu ao trabalho de pegar o depoimento não só dos responsáveis pela contratação, mas também das pessoas que estão atuando e que estão sendo contratadas. Ela pegou, por exemplo, o depoimento de uma funcionária recentemente contratada pela Weg. Ela disse o seguinte: “Alguns estão podendo escolher o emprego”.

Veja bem, Senador Paulo Paim, nós estamos voltando, em alguns setores, à situação de os trabalhadores escolherem o emprego e poderem dizer: não vou trabalhar aqui; vou trabalhar lá, onde as condições de salário e de trabalho são melhores.

E continua:

Segundo ela, é preciso conquistá-los com bons benefícios e salário mais atrativo. Para o chão de fábrica, em média, a Weg oferece salário cerca de 20% acima do piso da categoria. No ano passado, a oferta para o mesmo tipo de vaga era com valor cerca de 10% acima do piso.

            Portanto, já teve que ampliar e melhorar a oferta. O crescimento e desenvolvimento que todos queremos para o Brasil significa isto: oportunidade e melhoria efetiva da massa salarial.

A disponibilidade menor é computada pela Weg nos dados de candidatos por vaga. Em anos anteriores, a média era de cinco candidatos por vaga. Atualmente, está em três. [E está baixando rapidamente].

            Mas há ainda um aspecto na reportagem que merece bastante atenção:

O Cadastro Geral de Empregos (Caged), de Santa Catarina, que mostra que as contratações estão muito aquecidas. Em fevereiro deste ano, o Estado teve saldo positivo de 14,7 mil pessoas empregadas [com carteira assinada]. A maior parte das contratações ocorreu nos setores de metalurgia, mecânico e material elétrico e comunicação.

            Portanto, setores de níveis salariais melhores.

E as perspectivas que estão colocadas são ainda positivas, porque todos esses dados apontam para um processo melhor, mais aquecido e de maior volume de contratações. A filial, em Jaraguá do Sul, da Meta RH - empresa que trabalha com recursos humanos e faz contratação para várias empresas em Santa Catarina - comunicou que neste mês de abril são 140 vagas abertas contra 90 vagas no mesmo período do ano passado. E os setores que estão procurando mão-de-obra são o metalúrgico/metal-mecânico e algumas empresas do setor têxtil. O mesmo setor têxtil que ontem fez um ato muito importante aqui no Salão Nobre da Câmara dos Deputados, aonde vieram trazer um apelo para que o Congresso Nacional olhe com muita atenção a pirataria, da importação ilegal, do câmbio, que afeta de forma muito significativa setores como o têxtil, o calçadista e outros. Mas mesmo no setor têxtil já há sinalização de melhoria, de contratação.

Diante desse cenário que vemos hoje em vários setores em Santa Catarina - tenho a convicção de que é realidade em outros -, nós temos a obrigação de agir para melhorar ainda mais a qualidade da mão-de-obra. Isso, inegavelmente, Senador Paulo Paim, é uma clara ascendência, uma positividade da economia, que é o reflexo de uma série de medidas adotadas pelo Governo Lula com resultados positivos para a economia nacional.

Peço a V. Exª, Senador Augusto Botelho, Presidente da sessão, que me dê mais dois ou três minutos. Ontem, fiz aqui minha inscrição, como Líder, às 15 horas e 15 minutos; saí do plenário às 18 horas e 30 minutos sem conseguir falar. Fiquei muito indignada. Então, hoje quero reproduzir muito rapidamente o que gostaria de ter dito ontem e não consegui. Espero fazê-lo bem rapidamente.

O que eu gostaria de ter abordado ontem seriam alguns números. Este pronunciamento sobre a realidade em Santa Catarina era o que eu gostaria de fazer com números e indicadores econômicos para poder, inclusive, alertar o Plenário e a nossa atuação parlamentar. Estamos realmente vivendo uma nova expectativa, uma situação de crescimento que o nosso País não tem o direito de desperdiçar. Não temos o direito de desperdiçá-la.

Todos os indicadores apontam nessa direção. O próprio FMI aponta uma perspectiva de crescimento de 4,2%; a Febraban menciona, no mínimo, 4%, provavelmente 4,5%. E temos os indicadores: 8% do crescimento nos investimentos, 21% no crédito, 7,3% na massa salarial, 4,5% no salário real, 6,5% no comércio, 2,3% no emprego, e um saldo de mais de US$10 bilhões na balança comercial agora neste início de ano. Portanto, não temos o direito de desperdiçar isso. Não temos esse direito.

Matérias econômicas como a de ontem, por exemplo: os financiamentos para a compra da casa própria com dinheiro da poupança somaram R$1,322 bilhão, só em março. Foi a maior cifra em um único mês, desde o início do Plano Real. Desde 1994, não tínhamos um quadro tão pujante, tão significativo na compra da casa própria financiada com a poupança brasileira. Portanto, o Programa de Aceleração do Crescimento, como disse Luis Nassif, acima de tudo, é uma atitude de romper com a lógica do não-fazer.

É isto que este País está esperando de nós: que rompamos com a lógica do não-fazer, que tenhamos capacidade de, aproveitando este bom momento, não deixar que as coisas e as decisões sejam proteladas. E nós aqui, no Congresso Nacional - a Câmara já votou várias medidas do PAC, o Senado só votou duas -, vamos ter de trabalhar com mais afinco, votar todas as medidas, votar o PLN nº 1, que aumenta os investimentos do PAC de R$4,3 bilhões para R$11,2 bilhões e que somente ontem, na terceira reunião - não foi, Senador Augusto Botelho? -, foi votado na Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização, finalmente. Portanto, não temos esse direito. Não nos é dado, Senador José Sarney. Não é possível que tenhamos uma postura no Congresso Nacional de não aproveitar e de não corresponder ao anseio da população brasileira.

Ontem, houve aqui uma solenidade e a entrega de mais um pedido de CPI - já temos um aqui na Casa; vamos para o segundo. Agora, a população quer, como sempre, que se investigue aquilo que gere dúvida e suspeita. Está aí a Polícia Federal dando mais uma demonstração inequívoca de espírito republicano. Seja quem for que esteja envolvido, ela vai para cima, prende, investiga. A Controladoria-Geral da União está tomando as medidas, assim como o Ministério Público e o Tribunal de Contas da União. Agora, o Congresso Nacional não pode fazer videoteipe de filme ruim. O Congresso Nacional não pode ficar novamente em marcha lenta nas suas votações, nas deliberações, na aprovação das matérias que têm a ver com o desenvolvimento. Ele tem de aproveitar este momento, que é indiscutivelmente precioso.

Senador Paulo Paim, escutamos depoimentos de trabalhadores dizendo que novamente podem escolher o emprego. Há quanto tempo, há quantas décadas, Senador Paulo Paim, não tínhamos um depoimento com essa força e, digamos, com essa alegria para nós, que queremos para o País oportunidade para todos?

Senador Augusto Botelho, peço desculpas por ter ultrapassado alguns minutos, mas isso foi por conta das três horas e meia que passei sentada aqui, ontem à tarde, sem conseguir falar.

Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/04/2007 - Página 10994