Discurso durante a 57ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração dos quarenta e cinco anos de atividades da Universidade de Brasília - UnB, inaugurada em 21 de abril de 1962.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos quarenta e cinco anos de atividades da Universidade de Brasília - UnB, inaugurada em 21 de abril de 1962.
Publicação
Publicação no DSF de 26/04/2007 - Página 11507
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, UNIVERSIDADE DE BRASILIA (UNB), DEBATE, IMPORTANCIA, EDUCAÇÃO, PRIORIDADE, ORADOR, PERIODO, EX GOVERNADOR, ESTADO DO PIAUI (PI).
  • HOMENAGEM, DARCY RIBEIRO, FUNDADOR, UNIVERSIDADE DE BRASILIA (UNB), PROFESSOR, EX SENADOR.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senadora e professora Serys Shessarenko, que preside esta sessão, permita-me saudar todas as autoridades presentes que são tantas e muito importantes. Poderia esquecer mesmo involuntariamente os nomes, o que seria imperdoável, então saúdo os presentes na pessoa do Magnífico Reitor Timothy Mulholland.

É com grande satisfação que uso da palavra neste auspicioso instante. Aqui mostramos ao país um paradigma - paradigma é uma verdade em que passamos a acreditar. O paradigma era o de que o Brasil era atrasado - a universidade aqui foi tardiamente implantada. No Peru, em 1540 já havia a Universidade São Marcos, fundada pelos espanhóis. Vivíamos esse trauma. Em Brasília, com a bênção de Deus, por meio de Juscelino Kubitschek e de Darcy Ribeiro, quebraram esse paradigma. A cidade nasce junto com a universidade, praticamente. 

Professor Cristovam Buarque, isso dá para tirar o nosso complexo de inferioridade, o nosso trauma de atraso. Vamos meditar: é diferente. O mundo começou quando aqueles que pensavam... Atentamente, ouvi o professor. Quero dizer a todos os senhores que estão aqui: vamos buscar o último livro do professor, no qual ele relata o encontro com Celso Furtado há mais de 10 anos. Ele traz as fitas gravadas. Dois nordestinos. Eu comentava com o Professor Paes Landim, que é do Piauí e ajudou essa universidade, aliás, o Reitor também tomou banho nas águas do rio Parnaíba. Acho que aquele banho lhe deu a inteligência que exibe hoje. Aquele livro, Professor Cristovam, reflete Celso Furtado.

Tenho um irmão que começou a trabalhar na Sudene com Celso Furtado, por quem é apaixonado. Penso que ele gosta mais de Celso Furtado do que da mulher dele, o que não ocorre comigo, porque todo mundo sabe que gosto demais da Adalgisa, não é, Paim?

Eu telefonei, Professor Cristovam, dizendo que estava encantado pelo Celso, pelo livro que V. Exª acaba de escrever. Ele reflete isto: Celso Furtado. Ele, no começo da vida, Sibá, foi tido como de inteligência fraca, retardado mesmo. Se fosse hoje, iria para um psicólogo, mas, naquela época, diante da dificuldade no Nordeste... O que Celso Furtado tinha pela frente? Atentai bem! O que ele podia ser? Um primo que ele admirava entrou no cangaço - era o que tinha para fazer, ou, então, oferecia outra coisa: padre, mas isso ele não queria também ser, penso que encantado pelas mulheres. Foi difícil. Quer dizer, era difícil ter perspectiva.

Entendo que o mundo mudou mesmo com a educação. Eu dizia ao Professor Cristovam: olha, Senador Cristovam, sei que V. Exª é o mais preparado de todos nós, mas eu dissequei muito o corpo - o corpo é o corpo; o homem é o homem; o coração é o coração; é a mesma coisa -, e o homem sai criado. Acho que as mudanças gira em torno do homem.

Essa brincadeira começou com um tal Sócrates, que disse: “Sei que nada sei”. Ele era quem sabia mais: ensinava aos reis os mistérios da natureza. “Sei que nada sei.” Ele que era o mestre, o Cristovam, da época. Humildade. Não é isso, Sibá? Humildade! Ele, que era o sábio, tinha humildade. Não escreveu, como Cristo, que também foi condenado, não é? Mas um discípulo dele, Platão, escreveu e resolveu fazer a primeira academia com um curso de três anos. No primeiro ano, estava escrito lá - para entrar na mente: “Seja ousado”; no segundo ano, na parede: “Seja ousado, cada vez mais”; e no último ano, no Academus de Platão: “Seja ousado, mas não em demasia. Ensinou a ousadia com prudência. Ali nasceu o Liceu. Aristóteles... Mas, vimos... E, hoje, Cristovam, hoje! O mais competente é um tal de Peter Drucker, administrador ímpar, quer dizer, saímos de lá... No seu último livro, Líder do Futuro - olha aí, nós precisamos de líder -, ele diz que o líder do futuro, tem de ser um indagador, porque são tantos os conhecimentos que ele tem que ficar perguntando. E eu digo, Professor Timothy, para o sujeito ser indagador, perguntador, tem de ser humilde.

Voltamos àquilo que um filósofo já tinha dito, à humildade. Portanto, temos que pregar a humildade.

Mas isso foi História. Agora, a minha. Se eu não tivesse uma história para contar eu não estaria aqui. Acho que este Senado é para ensinar, tem de ser. Foi assim que nasceu na história. É lógico que a universidade... Eu sou doutor, sou cirurgião especializado, tenho cursos, mas aprendi mesmo foi na universidade da vida. De repente, eu era prefeito. A minha cidade tinha uma multinacional, a Merck Darmstadt, que tiravam lá do jaborandi a pilocarpina e faziam o colírio para dilatar os olhos, dilatar as pupilas, tratar a pressão ocular, o glaucoma. Eu era prefeito, e eles me convidaram para ir à Alemanha, professor Cristovam. A Merck Darmstadt, a mais poderosa indústria farmacêutica de medicamentos. E eu fui. Professor Cristovam, a mordomia era maior do que a de V. Exª na Síria agora, aonde V. Exª foi - não é? - como Presidente da Comissão. A Alemanha e tal... Eu prefeitinho. E colocaram o professor Basedow, alemão. Aonde eu ia, ele estava lá. E pagando as contas. A indústria era a Merck.

Se eu ia ao restaurante, diziam, a mesa do Professor Basedow era a melhor. Até em Frankfurt, onde o restaurante rodava -eu pensei que eu que estava bêbado, mas o restaurante é que estava rodando. No teatro a melhor cadeira era a do professor Basedow.

Se estava no trânsito e demorava, ele saltava e dizia: “Professor Basedow”. E eu, com aquele jeito espontâneo disse: vem cá, o senhor, Basedow, não é diretor da indústria química, muito poderoso, muito rico? Ele disse: “Sou, mas o título mais honroso na Alemanha é o de professor. Por isso, eu o uso”. Não é o de diretor, rico, poderoso, da Merck Darmstadt; é o de professor. Ele foi além. Ele disse: “Prefeito, o senhor não quer ir a Heidelberg conhecer a universidade? Porque, quando eu comecei, fiz um concurso. Sou professor de química concursado de Heidelberg. Depois, fiz outro concurso, entrei, ganhei muito dinheiro na Merck e estou lá, mas para usar o título de professor eu tenho que, toda semana, dar uma aula de química. Não recebo nada lá. É só para poder dizer que sou professor e ser respeitado”.

Paim, eu fiquei meditando. Alemanha - uma raça, duas guerras -, destruída, e tudo moderno. Todas as cidades... Acho que é a mais avançada. Nunca vi tanto progresso. E eu como é? Heidelberg, cidade antiga, estrutura, nenhuma casa demolida. A gente fica chocado.

O mundo respeitou Heidelberg. Em duas guerras, o mundo não soltou uma bomba lá. Einstein estudou lá. O mundo! O General que comandava as Forças americanas sabia da ciência. E está aí, os alemães voltaram à grande qualidade de vida. Isso é o que penso.

Deus me permitiu governar o Estado do Piauí por seis anos, dez meses e seis dias. Pensando nisso, Deus me permitiu fazer o maior desenvolvimento universitário da História do Brasil. Está ali o Deputado Federal Paes Landim. Nunca votou em mim, mas quero que vote da próxima vez. Estou dizendo em frente a ele: o maior desenvolvimento universitário da História do Brasil, a Uespi. Tinha um palácio extraordinário, saí do palácio, fui para um pequenino, antigo, para dá-lo para o magnífico reitor. De repente, nós criamos quatrocentos cursos, 36 campi avançados e interiorizamos a universidade.

E isso mudou. Outro dia vocês viram o Piauí, o primeiro lugar no ensino, uma escola privada. Entendo, como diz no Livro de Deus, que o saber vale mais do que ouro. Essa foi a semente que plantamos no Piauí.

Mas o que penso e queria trazer agora são as homenagens a Darcy Ribeiro, que quebrou esse paradigma. Não temos mais motivos para sermos complexados. A universidade chegou tardiamente.

Os portugueses botavam para ser padre, militar ou funcionário público, e os riquinhos iam para Portugal. Aqui se quebrou o paradigma. Darcy Ribeiro e a universidade de V. Exª nasceram juntos. Mas fico a pensar, Professora Serys, na minha educação. Olha, havia um colégio padrão, o Pedro II, que irradiava. O imperador Pedro II assistiu às aulas lá.

Lembro-me de que Celso Furtado disse que ouviu falar em Ecologia quando ele era da Sudene, com o problema da irrigação no Maranhão. Ele aprendeu com os índios, mas o mundo começou a pensar nisso - eu li no livro do Buarque - em 1972, na Suécia. O livro de Pedro II eu estudei, Serys. Fui Professor de Biologia e de Fisiologia. Havia o de Valdomiro Potsch, Biologia Geral, do qual vou atrás de novo, para ver como ele já tratava e ensinava Ecologia.

Então, o Colégio Pedro II irradiava, por isso essa geração está aqui. Não era um ensino universitário, mas era o que tínhamos; tínhamos o Professor Valdomiro Potsch. E hoje, Professor Timothy, essa luz tem que ser essa universidade, a universidade dos sonhos de Darcy Ribeiro, a universidade do sacrifício do Cristovam. No Piauí, tivemos Paes Landim, Raimundo Santana e outros.

Eu sou agradecido, estou defendendo causa própria, porque Deus me deu a felicidade, Serys, de ter quatro filhos. Nenhum queria fazer Medicina, que acho a mais humana das ciências, a do Médico benfeitor. A minha caçula fez e vai se formar em Medicina este ano, nessa universidade.

São as nossas palavras e a nossa crença.

            Deus escreve certo por linhas tortas. Todo o mundo sabe: Deus fez o mundo, ninguém tem dúvida, Juscelino e Roriz fizeram Brasília, e o professor Darcy Ribeiro, a Universidade de Brasília, luz para guiar a mocidade brasileira a melhores dias.

Muito obrigado. (Palmas.)

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/04/2007 - Página 11507