Discurso durante a 58ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao médico piauiense Odivaldo Coelho Rezende, falecido recentemente.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao médico piauiense Odivaldo Coelho Rezende, falecido recentemente.
Publicação
Publicação no DSF de 27/04/2007 - Página 11814
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, MEDICO, ESTADO DO PIAUI (PI), ELOGIO, VIDA PUBLICA.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Gerson Camata, que preside esta reunião de quinta-feira, 26 de abril, Senadoras e Senadores da Casa, brasileiras e brasileiros aqui presentes e os que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado.

Hoje, peguei um livro de Shakespeare que faz referência à morte.

Há um requerimento de minha autoria entregue no fim da sessão de ontem para esta Casa apresentar as condolências a um morto do Piauí.

Senador Gerson Camata, imagine a pessoa mais importante do seu Estado. Essa pessoa o era para o Piauí. Nascido no Piripiri, trabalhou em sua vida na minha cidade, Parnaíba. Foi médico-cirurgião. Aos médicos-cirurgiões, médicos, enfermeiros, Senador Gerson Camata, não se promovem homenagens, desfiles ou prêmios; eles só são lembrados na hora da dor, da desgraça e do infortúnio.

Sr. Presidente, eu o admiro muito, mas vou dizer com franqueza. Aqui, em nome do Piauí, venho chorar o seu filho mais importante e mais competente de todos os que eu conheço aqui.

Médico-cirurgião, ele se formou no Rio de Janeiro - discípulo de José Hilário e de Fernando Paulino - e foi para o Piauí. Ele não teve vida política porque não quis. Nos anos 70, quando eu já votava no PMDB - aquela eleição de dois anos -, ele teria sido convidado pelo grupo de Alberto Silva, que foi Governador da Revolução. Ele se recusou a ser prefeito. E eu, que sonhava, fui - cirurgião, como ele, tinha meus ideais.

E me apresentam uma planta, um sonho - lembro Sêneca, que disse que o homem que não sabe onde quer ir, o porto onde quer chegar, vento nenhum ajuda. Camata, V. Exª sabe que havia a Arena, a ditadura, aquela confusão - ele disse que ia fazer um hospital e fez o melhor da região. Depois, logo em seguida, vencemos a Arena - já não estava em campanha, aquela depois de dois anos.

E eu me lembro que estavam em Parnaíba Alysson Paulinelli, o Prefeito Elias e eu, Secretário de Saúde, liderando movimento contra a ditadura - V. Exª sabe o que é isso - antes de Ulysses. Lembro-me também de que a primeira exposição agropecuária que houve lá foi criação desse médico-cirurgião. Da cúpula de líderes do PMDB estavam lá Alysson Paulinelli e eu - vencemos a ditadura no Piauí em 72. V. Exª sabe o que é isso, V. Exª imagina o que é isso. Alberto Silva era o general-comandante da ditadura, e vencemos.

Lembro-me que Alysson Paulinelli começou a me indagar sobre a exposição de gado. Falei sobre um, ele foi e deu as explicações. Alysson Paulinelli, nome ligado à agricultura e à pecuária conhecido no Brasil e no mundo hoje.

Então, o Odival também desenvolveu a pecuária, bacia leiteira, a genética do gado do Piauí, além de ser um cirurgião brilhante. Acho até que entrei na política - vou confessar aqui - porque jamais o superaria. Ele era daquelas pessoas que se destacam.

Shakespeare, em A Megera Domada, disse: “Medonha morte, como tua pintura é feia e repulsiva!”. E ele continua:

Que vamos morrer todos sabemos;

o tempo e a sucessão dos dias é que deixam os homens mais aflitos.

Júlio César (1599 - 1600).

Ato III - Cena 1: Bruto

Morrer... dormir... dormir... talvez sonhar...

É aí que bate o ponto. O que nos põe

suspensos é não sabermos que sonhos poderá

trazer o sono da morte, quando por fim

desenrolarmos toda a meada mortal. É tal

idéia que torna uma verdadeira calamidade a

vida assim tão longa!

Hamlet (1600-1601)

Ato III - Cena I: Hamlet

És simplesmente um joguete da morte,

Pois só cuidas de evitá-la e não fazes outra

Coisa senão correr para ela.

Medida por medida (1604-1605)

Ato III - Cena I: Duque

Enfim, é isso aí. Mas o que acho importante, Camata, é aquele pensamento da filosofia da vida. Não sei se V. Exª se aprofunda na Bíblia, ela tem muitas passagens, sendo que as mais conhecidas são a do Pai-Nosso e a do Sermão da Montanha - “Bem-aventurados os que têm fome e sede...” -, mas a que mais me impressiona é uma passagem lá do Eclesiastes em que se diz algo como: “Eu sou Coélet. Ninguém sabe mais do que eu, ninguém tem mais entendimento (para entendermos a morte)”. Ele disse: “Sou neto de Davi e filho de Salomão. Eles me ensinaram muito. Aprendi de Davi, de meus preceptores. Tive muito saber, o que vale mais do que ouro; gado, mais do que estrela no céu; terras que a vista não alcançava; mulheres mais de mil”. E nós só temos uma, não é Camata? Mas são melhores do que as mil do Davi e do Coélet! Camata, Coélet disse que ninguém tinha mais entendimento do que ele, o que valia mais que ouro, prata, tudo. Na vida, tudo é vaidade, é querer pegar o vento com a mão.

Vi homens sábios como o que estamos pranteando aqui, homens sábios, competentes. No entanto, desses oitenta e um Senadores, nenhum atinge o nível de inteligência de Odival Rezende.

E essa árvore deu frutos.

Coélet disse ter visto homens de sabedoria - ficou, na velhice, abobalhado; é o Alzheimer, que chamávamos caduquice no nosso interior.

O que vale mesmo, Camata, segundo disse Coélet, é comer bem, beber bem e fazer o bem. Nem vá trabalhar demais, dizia Coélet, porque você vai se fatigar e, às vezes, essa riqueza pode cair em mãos indevidas. Nasce-se nu e morre-se nu.

Mas, de tudo isso, o que quero dizer e prantear é o fato de o Piauí ter se empobrecido: o seu mais competente filho morreu. Morreu Odival Coelho de Rezende, médico-cirurgião nascido em Piripiri que exerceu sua profissão na minha cidade, Parnaíba.

Concordo com o que o filósofo disse: na vida, o que podemos fazer mesmo é reverter o quadro. Quando nós nascemos, entramos no mundo chorando. Em torno do nosso choro, há a alegria dos que nos cercam, dos que nos esperam. Devemos reverter isso: no fim da vida devemos sair sorrindo, com a satisfação do cumprimento da nossa missão, e deixar chorando os que estão em torno de nós.

E eu quero aqui chorar, em nome do Piripiri, em nome de Parnaíba e do Piauí, a perda de seu mais ilustre e competente filho. Eu, Francisco de Assis Morais Sousa, peguei o aposto de Mão Santa - mãos guiadas por Deus, salvava vidas -, mas Odival Rezende era o melhor cirurgião que nós tínhamos. 

O SR. PRESIDENTE (Gerson Camata. PMDB - ES) - V. Exª dispõe ainda de um minuto para encerrar o seu pronunciamento.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - É o suficiente: em um minuto Cristo fez o Pai-Nosso!

Então, com essas palavras, nós queremos balbuciar e rezar como Cristo nos ensinou - o Pai-Nosso pode ser dito em um minuto, são 56 palavras. Dirijo-me ao Piauí, a todos. Que as nossas preces cheguem por esses canais, pelas ondas da televisão e do rádio, aos céus e a Deus. Ó, Deus, receba o mais ilustre dos piauienses, o melhor de todos os cirurgiões deste País: Odival Rezende.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/04/2007 - Página 11814