Discurso durante a 61ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Justificativas ao requerimento de voto de pesar pelo falecimento de Octavio Frias de Oliveira e ao de voto de congratulações à Rede Globo de Televisão, pelo transcurso de seu quadragésimo segundo aniversário de fundação.

Autor
Romeu Tuma (PFL - Partido da Frente Liberal/SP)
Nome completo: Romeu Tuma
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. :
  • Justificativas ao requerimento de voto de pesar pelo falecimento de Octavio Frias de Oliveira e ao de voto de congratulações à Rede Globo de Televisão, pelo transcurso de seu quadragésimo segundo aniversário de fundação.
Publicação
Publicação no DSF de 03/05/2007 - Página 12233
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, OCTAVIO FRIAS DE OLIVEIRA, JORNALISTA, EMPRESARIO, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, BRASIL, FUNDADOR, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REGISTRO, BIOGRAFIA, ELOGIO, VIDA PUBLICA, IMPORTANCIA, HISTORIA, IMPRENSA, INTERNET, PAIS.
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, REDE DE TELECOMUNICAÇÕES, FUNDADOR, ROBERTO MARINHO, JORNALISTA, REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, INAUGURAÇÃO, PREDIO, SEDE, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), COMENTARIO, IMPORTANCIA, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, DIVERSÃO PUBLICA, EDUCAÇÃO, POPULAÇÃO, BRASIL.

            O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, para iniciar, eu gostaria de comunicar a presença aqui da Drª Hélia Cassemiro, Presidente do Sindicado dos Servidores do Setor Administrativo da Polícia Federal, que estão no plano especial de cargos do DPF. Esses servidores estão com muita angústia em razão de ter aqui uma carta assinada pelo ex-Ministro Márcio Thomaz Bastos, incluindo-os num acordo com os policiais federais; todavia, parece que o acordo está saindo e eles não foram citados.

            Então faço um apelo ao Ministro Tarso Genro para que busque a informação e faça o acréscimo desses servidores no projeto que vem da Polícia Federal, do Plano Especial de Cargos da Polícia Federal.

            Agradeço V. Exª pela atenção e espero que o Ministro Tarso Genro esteja nos ouvindo neste momento.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores hoje é um dia de homenagens. Primeiro, a Paulo Freire, que passou para a história pelo seu trabalho na educação.

            Eu trago aqui também um discurso de homenagem um pouco extenso, porque repasso a história do empresário Octavio Frias de Oliveira, do grupo Folha, que faleceu domingo último às 15 horas e 25 minutos. Tive a oportunidade de estar presente ao velório, com muita tristeza, junto com o Senador Suplicy e vários Parlamentares, bem como o Presidente da República... Houve um fato interessante, Presidente Renan: a figura de Octavio Frias de Oliveira, falecido, unia, de um lado, o ex-Presidente Fernando Henrique; no meio, o Presidente Lula; e, do outro lado, o Governador José Serra.

            Veja a história, Presidente Sarney, V. Exª, que foi um grande Presidente e é um historiador, como ela dá voltas. Um homem que passou para a história pelo seu trabalho no campo da informação conseguiu unir adversários políticos dos últimos anos. Eles estavam unidos na mesma fotografia, que foi publicada em todos os jornais de ontem.

            Sr. Presidente, como uma homenagem histórica, solicito que V. Exª permita a publicação, por inteiro, desta homenagem ao Dr. Octavio Frias, uma pessoa com quem eu sempre conseguia marcar uma audiência, tomar um café, bater um papo, porque ele tinha uma visão muito própria de um grande brasileiro, uma inteligência rara e com grande objetivo. A gente trocava idéias, e eu sempre saía de lá com um pouquinho mais de cultura por causa dos ensinamentos que ele me apresentava.

            Há um outro requerimento que deve estar sobre a mesa, Sr. Presidente - e me antecipo apenas para dar oportunidade ao meu Líder, Senador José Agripino, para usar da palavra pelo tempo necessário -, de homenagem à Rede Globo de Televisão pelo transcurso do seu 42º aniversário. Na solenidade do dia 26 de abril último, lá estive presente, numa quinta-feira, por autorização de V. Exª. Lá também foi homenageado o Dr. Roberto Marinho, amigo de V. Exª.

            Senador José Sarney, houve a projeção de um filme histórico em que V. Exª, Senador Sarney, apareceu dando a sua mensagem ao grande jornalista Roberto Marinho. E Roberto Irineu Marinho comentou, naquela data, alguns aspectos da história de seu pai: “Roberto Marinho foi um brasileiro que, em sua vida longa e produtiva, testemunhou inúmeras crises sem nunca deixar de acreditar que, com seriedade e trabalho, o País se livraria de suas mazelas”.

            Portanto, os filhos hoje continuam, Senador José Agripino, a dirigir o conglomerado Globo com dignidade e respeito, investindo naquilo que foi o sonho de seu pai.

            O evento também contou com a inauguração de um prédio reunindo toda a atividade da Rede Globo em um setor só, em uma área próxima ao Morumbi.

            Sr. Presidente, peço a V. Exª que os dois sejam publicados por inteiro. Assim, não ocuparei muito o tempo que V. Exª está tentando dividir.

 

************************************************************************************************SEGUEM, NA ÍNTEGRA, PRONUNCIAMENTOS DO SR. SENADOR ROMEU TUMA.

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           O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, domingo último, às 15h25, parou de bater o coração de um dos cidadãos brasileiros que mais se empenharam em conduzir o País ao atual clima de paz e liberdade. Octavio Frias de Oliveira, o homem que comandou um dos maiores conglomerados empresariais de comunicações - o Grupo Folha -, foi-se aos 94 anos de idade. Legou-nos uma vibrante história de vida como cidadão e empresário. Deixou viúva a Srª Dagmar Frias de Oliveira e quatro filhos, Maria Helena, Otavio, Luís e Maria Cristina, aos quais renovo os pêsames que apresentei, no velório, em nome de minha família.

           Seu corpo foi sepultado no Cemitério Gethsemani, da capital paulista, após ser velado por autoridades e lideranças, entre as quais o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que decretou luto oficial de três dias. Lá estavam também o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador José Serra e o Prefeito paulistano, Gilberto Kassab, entre muitos outros.

           Reconhecido como um dos responsáveis pela pujança da empresa Folha da Manhã S.A., proprietária do jornal Folha de S. Paulo, modernizado na segunda metade do século passado sob sua liderança, Octavio Frias era o último representante de uma geração de empreendedores que marcou época na imprensa brasileira, entre eles Carlos Caldeira Filho, seu sócio; Roberto Marinho, criador das Organizações Globo; Assis Chateaubriand, capitão dos Diários Associados; Júlio de Mesquita, cérebro de O Estado de S. Paulo; Cásper Líbero, fundador de A Gazeta e da primeira faculdade de jornalismo do País; e Samuel Wainer, que revolucionou a mídia impressa com a cadeia de jornais Última Hora.

           Desde novembro último, Octavio Frias estava acamado, em conseqüência de uma queda em casa. Mas, até então, embora já houvesse transferido as principais funções da empresa para os filhos, fazia questão de trabalhar regularmente em seu gabinete, no 9.º andar da Folha, onde eu gostava de visitá-lo para matar saudades e ouvir conselhos, de tempos em tempos.

           Muito se tem escrito sobre essa personalidade ímpar, mas muito ainda resta por escrever. Sua biografia formal destaca que era o penúltimo dos nove filhos do casal Luiz Torres de Oliveira e Elvira Frias de Oliveira, membros de tradicional família do Rio de Janeiro. Octavio nasceu em Copacabana, em 5 de agosto de 1912.

           Seu bisavô fora o Barão de Itambi, político influente no Segundo Reinado. O avô, Luiz Plínio d'Oliveira, construiu os Arcos da Lapa, adutora que trazia água de Santa Tereza para o centro da capital.

           Mesmo com tais raízes, teve infância marcada por dificuldades. Em 1918, o pai, juiz de direito em Queluz, no Vale do Paraíba, interior paulista, licenciou-se para trabalhar com o industrial Jorge Street, pioneiro do setor têxtil e marido de uma tia de Da. Elvira. A família mudou-se para São Paulo e Frias passou a estudar no Colégio São Luís, mantido por padres jesuítas e dos mais conceituados na cidade.

           Antes de completar oito anos, perdeu a mãe. Em seguida, a família foi abalada pela quebra da indústria têxtil de Street e passou a viver apuros financeiros. Já não era mais possível pagar em dia as mensalidades do colégio, freqüentado pela elite paulista. O menino Octavio ia às aulas com sapato forrado de jornal para isolar os buracos da sola. Gostava de História Universal, sonhava em ser advogado, mas resolveu abandonar os estudos aos 14 anos para começar a trabalhar.

           O primeiro emprego, em 1926, foi de “office-boy” na Companhia de Gás de São Paulo, pertencente a empresários ingleses. Passou a ajudar nas despesas da casa e, pela eficiência, logo atraiu a atenção dos chefes. Em três meses, conquistou o cargo de mecanógrafo, pois era um dos poucos que sabiam operar máquinas de contabilidade.

           Em 1930, a convite, assumiu posto semelhante na Secretaria da Fazenda do governo paulista para organizar a confecção mecânica dos tributos. Conseguia aumentar a renda vendendo rádios à noite. Em 1940, ocupava a diretoria de Contabilidade e Planejamento do Departamento Estadual do Serviço Público.

           Embora sempre se mostrasse céptico com relação à política, alistou-se nas tropas da Revolução Constitucionalista, iniciada em julho de 1932. Permaneceu dois meses em Cunha, na região do Vale do Paraíba, e passou o aniversário na trincheira.

           Nos anos seguintes, manteve-se distante tanto do comunismo como do integralismo, as duas correntes ideológicas em moda. Seu maior interesse estava na atividade empresarial. Passou a se dedicar aos negócios no início da década de 40, contrariando conselhos do pai, que prezava a estabilidade do serviço público.

           Quando garoto, assistiu a discussões entre o pai e o tio-avô, empresário Jorge Street, que erguera três impérios empresariais e nas três vezes falira. Quinze anos antes da Revolução de 1930 e do advento das leis trabalhistas, Street construiu a Vila Maria Zélia, no Brás, para prover os operários de moradia, escola e assistência médica. Freqüentemente, as discussões entre o juiz e o industrial, parentes por casamento, versavam sobre vantagens e desvantagens da social-democracia escandinava, então um pólo de grande curiosidade.

           Em 1943, Octavio Frias participou, como um dos acionistas-fundadores, da criação do Banco Nacional Imobiliário - BNI, mais tarde Banco Nacional Interamericano, sob a liderança de Orozimbo Roxo Loureiro. Dirigindo a carteira imobiliária do banco, lançou um programa de condomínios a preço de custo. Data dessa época o início de sua amizade com Carlos Caldeira Filho, principal empreiteiro das obras do BNI e construtor de mais de uma dezena de edifícios na capital paulista, entre eles o Copan, projetado por Oscar Niemeyer a convite de Frias. Vários desses prédios conservam a imponência original até hoje, como a Galeria Califórnia, na rua Barão de Itapetininga, e a antiga sede das Indústrias Matarazzo, na Rua Direita. Um discípulo de Niemeyer, o arquiteto e pintor Carlos Lemos, projetou na mesma época, com financiamento do BNI, o Teatro Maria Della Costa. Cândido Portinari e Di Cavalcanti elaboraram painéis para alguns desses edifícios. Como Niemeyer, tornaram-se amigos de Frias e Caldeira.

           Na condição de diretor do banco, Frias viajou várias vezes aos Estados Unidos e recebeu forte influência da cultura empresarial norte-americana. O BNI inovou ao criar o "Canguru-Mirim", campanha de estímulo à poupança infantil. Chegou a vender prédios para o advogado José Nabantino Ramos, então controlador da Empresa Folha da Manhã S.A. e um dos pioneiros na introdução da psicanálise em São Paulo.

           Por divergências quanto à administração, Frias deixou o BNI. No dia seguinte, caiu do cavalo e quase sofreu fratura da coluna vertebral. Ficou seis meses engessado. Semanas depois, o automóvel que dirigia abalroou a traseira de um caminhão parado, sem sinalização, na via Dutra. Morreram Zuleika Lara de Oliveira, sua primeira esposa, e um irmão dele, chamado José.

           Em 1953, Frias fundou sua própria empresa - a Transaco, Transações Comerciais -, uma das primeiras firmas especializadas na venda direta de ações ao público, o que também marcou época pelo espírito inovador. Para treinar seus vendedores, traduziu do inglês o livro "Do Fracasso ao Sucesso na Arte de Vender", clássico comercial do norte-americano Frank Bettger. Organizou cursos de vendas - algo inédito no Brasil - para sua equipe que chegou a contar dezenas de pessoas, na maioria jovens, muitos dos quais estudantes no exercício do primeiro emprego. Anos depois, um deles, Antônio Aggio Jr., já como jornalista profissional, viria a ser seu braço direito nos jornais Cidade de Santos e Folha da Tarde.

           Frias casou-se, novamente, com Dagmar de Arruda Camargo que possuía uma filha de casamento anterior, Maria Helena, e com quem teve três filhos: Otávio, Luís e Maria Cristina.

           Data desse período sua primeira ligação com a imprensa porque a Transaco prestava serviços profissionais à "Tribuna da Imprensa", jornal carioca de Carlos Lacerda, e às FOLHAS, de José Nabantino Ramos. Vendia ações dessas empresas. Quem adquirisse quatro ações da Folha da Manhã S.A., ao preço de 500 cruzeiros cada uma, recebia uma assinatura perpétua do matutino, depois transformada em permanente na década de 60 e finalmente extinta nos anos 70.

           Em 1954, Frias comprou um sítio nas proximidades de São José dos Campos, no interior paulista. Mas, as intenções de lazer não duraram muito tempo. Logo o sítio se transformou em granja e, depois, num empreendimento avícola de porte, que chegou a manter plantel de dois milhões de aves e exportar o produto em larga escala para o Oriente Médio. Atualmente, a Granja Itambi dedica-se apenas à pecuária.

           Associado ao empresário Carlos Caldeira Filho, Frias fundou a Estação Rodoviária de São Paulo, inaugurada em 1961 e que, durante anos, foi o único terminal paulistano para embarque e desembarque de passageiros em larga escala.

           Mas, o principal empreendimento de ambos os sócios seria concretizado pouco depois, em 13 de agosto de 1962, com a aquisição da Folha de S.Paulo, que disputava, com os Diários Associados (Diário de S.Paulo e Diário da Noite), a posição de segundo empreendimento jornalístico da capital paulista. O primeiro lugar pertencia a O Estado de S. Paulo.

           José Nabantino Ramos, outro portento da mídia brasileira, havia conferido modernidade aos três jornais que possuía, Folha da Manhã, Folha da Tarde e Folha da Noite, esta a mais antiga, fundada por Olival Costa e Pedro Cunha em 19 de fevereiro de 1921. Mas, em 1960, Nabantino e seus sócios, Alcides Meirelles e Clóvis Medeiros Queiroga, davam mostras de que pretendiam desfazer-se do controle acionário da Folha da Manhã S.A., diante de transtornos financeiros. No ano seguinte, agastado com a greve dos jornalistas de 1961, Nabantino tomou a decisão pelos três: reuniu as FOLHAS num só título para criar aquele que viria a ser o carro-chefe da empresa, isto é, a Folha de S. Paulo.

           Foi então que, integrando um grupo de empresários ligados à Federação das Indústrias paulista, Frias e Caldeira ingressaram na Folha, sob a liderança de um famoso homem de marketing e de vendas, o publicitário Caio de Alcântara Machado.

           Empreendedor incansável e bem-humorado, Caio ganhara títulos como a Legião de Honra da França, recebida em 1976, e os prêmios publicitários Clio Awards, em 1978 e 1979. Idealizou e concretizou as grandes exposições e feiras que recolocaram a cidade de São Paulo nos roteiros comerciais internacionais. A pedido de Nabantino, Caio organizou o grupo de empresários que, mediante quotas pessoais mensais, iria adquirir a Folha da Manhã S.A. Nele estavam, entre outros, Raphael Noschese, Aulus Plautius Homem de Mello, Quirino Ferreira Neto, Octávio Frias de Oliveira, Carlos Caldeira Filho e o Conde Francesco Matarazzo.

           O conde amargava grande dissabor desde o final da década de 40, quando se entregara ao sonho de comprar as FOLHAS, através de um de seus executivos nas Indústrias Matarazzo, Clóvis Medeiros Queiroga. Este lhe apresentou Nabantino e Meirelles como pessoas capazes de concretizar sua intenção. Aceitou a idéia e financiou a aquisição das ações com o objetivo de ter um jornal em condições de enfrentar as repetidas investidas dos Diários Associados contra o seu grupo econômico. Entretanto, a Constituição Federal da época só permitia a participação de brasileiros natos nas sociedades com objetivo jornalístico. Assim, o financiamento para a compra se concretizou, porém, depois, o conde acabou privado da sonhada propriedade, que permaneceu nas mãos de Meirelles, como Presidente da empresa; Nabantino, Superintendente e Diretor de Redação; e Queiroga, à frente da parte comercial e financeira.

           Em 1962, em conseqüência da venda da Folha aos grupo integrado por Frias e Caldeira, Caio de Alcântara Machado assumiu a Presidência da empresa. Três meses depois, entretanto, a maioria dos sócios demonstrava já estar cansada das atribulações diárias e dos limites impostos pela ética jornalística à retribuição financeira que seria normal em investimentos de tal porte. Foram desistindo de participar do empreendimento. Mas, como a Folha representava um escudo para preservar a Estação Rodoviária, além de poderoso canal de resposta a ataques de outros órgãos de imprensa, Frias e Caldeira adquiriram as cotas dos desistentes até se firmarem na posição de Presidente e Superintendente, respectivamente. Passaram e deter o controle acionário em partes iguais.

           Devotaram-se, de pronto, à tarefa prioritária de recuperar o equilíbrio financeiro do jornal, o que realizaram com mestria. Como Diretor de Redação, escolheram o cientista José Reis, um dos criadores da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência (SBPC) e, alguns anos depois, substituído pelo Dr. Francisco de Assis Rangel Pestana na direção do jornal. Trouxeram de O Estado de S. Paulo a equipe de jornalistas considerada responsável pela modernização desse órgão rival, que era liderada pelo inesquecível jornalista Cláudio Abramo e formada de Antônio Marcos Pimenta Neves e Alexandre Gambirasio. Iniciava-se produtiva convivência profissional entre Frias, Caldeira e Abramo, que se prolongou por mais de 20 anos.

           Em 1964, a Folha apoiou a Revolução de 31 de Março e a derrubada do presidente João Goulart. Superada a fase de adversidades econômico-financeiras, a nova gestão passou a se dedicar à modernização industrial e à montagem de uma estrutura de distribuição que alicerçou os saltos de circulação no porvir. Foram comprados novos equipamentos, entre os quais as mais modernas impressoras rotativas “offset da marca Goss (quatro do tipo “Urbanite” e uma “Metropolitan”) existentes nos EUA, dentro do programa Aliança para o Progresso. Foram investimentos de milhões de dólares.

           Em 1968, o jornal Cidade de Santos, criado pela empresa no ano anterior, tornava-se o primeiro a ser impresso no sistema “offset”, na América Latina, secundado pouco depois pela Folha de S. Paulo.

           Em 1971, outro pioneirismo: o Cidade de Santos, seguido pela Folha de S.Paulo e Folha da Tarde, que fora relançada em 1969, adotava composição "a frio", abandonando os antigos moldes de chumbo produzidos por linotipo. Isto permitiu, em curto prazo, a informatização das redações com terminais de grandes computadores “mainframes e fez a Folha da Tarde dar continuidade ao pioneirismo da empresa. Em apenas um mês, sua Redação conseguiu abandonar a lauda, a datilografia e a diagramação tradicionais para ser a primeira a entrar na era digital.

           A Folha de S.Paulo e os jornais coirmãos haviam crescido em circulação e melhorado a participação no mercado publicitário, o que contribuiu decisivamente para alicerçar a independência de um verdadeiro império jornalístico, composto também por Notícias Populares e pela Última Hora, cada uma com linha editorial e feição gráfica apropriadas a um segmento de leitores. No conjunto, sua circulação sobrepujava folgadamente a de qualquer outro grupo de mídia impressa no País.

           Mas, estava acontecendo a Guerra Insurrecional e a crescente pujança de qualquer mídia infensa à subversão e ao terrorismo incomodava organizações clandestinas, especialmente a ALN. Datam desse período os ataques contra veículos de distribuição da Folha, metralhados e incendiados na via pública, assim como o atentado a bomba contra a sede de seu principal concorrente, o grupo O Estado de S. Paulo.

           Frias e Caldeira chegaram a ser ameaçados de morte, em inúteis tentativas de lhes extorquir uma linha editorial complacente com ações terroristas. Coube-me participar da segurança pessoal e familiar de ambos, durante o amargo período em que precisaram até transferir residência para a sede da empresa.

           No final dos anos 60, chegaram a organizar o embrião de uma rede nacional de televisão, congregando à TV Excelsior de São Paulo, líder de audiência cujo controle adquiriram em 1967, mais três emissoras no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul. Todavia, abandonaram a empreitada em 1969.

           Mais ágil e inovadora do que a concorrência, a Empresa Folha da Manhã S.A. ganhou espaço junto às camadas médias que ascenderam com o "milagre econômico", fixando-se com grande presença entre jovens e mulheres. Ao mesmo tempo, dedicou-se com desenvoltura crescente a áreas do jornalismo até então pouco exploradas, como o noticiário econômico, educacional e de serviços.

           Em 1968, também em companhia de Carlos Caldeira Filho, Octavio Frias assumiu a Fundação Cásper Líbero, na época em sérias dificuldades financeiras. O equilíbrio econômico foi alcançado e a TV Gazeta, inaugurada. Ambos se retiraram tão logo a situação se normalizou.

           A partir do final de 1973, a Folha de S.Paulo passou a adotar nova linha editorial. Apoiou a idéia da abertura política, incentivou a participação de todas as tendências de opinião em suas páginas e incrementou o teor crítico das edições.

           Frias acreditava firmemente na necessidade de um carro-chefe isento e pluralista, capaz de oferecer o mais amplo leque de visões sobre os fatos. Encontrou um colaborador habilitado em Cláudio Abramo, responsável pela área editorial entre 1965 e 1973, sucedido por Ruy Lopes (1973) e Boris Casoy (1974). Cláudio voltou ao cargo em 1975, nele permanecendo até 1977, quando Casoy, em meio a uma crise no regime político vigente no País, foi reintegrado.

           Abramo reformulou a Folha de S.Paulo e fez, em 1976, a primeira de uma série de reformas editoriais. Reuniu colunistas como Jânio de Freitas, Paulo Francis, Tarso de Castro, Glauber Rocha, Flavio Rangel, Alberto Dines, Mino Carta, Osvaldo Peralva, Luiz Alberto Bahia e Fernando Henrique Cardoso. O jornal firmou-se, assim, entre os principais focos de debate público nacional.

           De 1983 a 1984, a Folha transformou-se em baluarte, na imprensa, do movimento a favor de eleições diretas para a Presidência da República. Apoiou o Plano Cruzado, em 1986, e fez campanhas contra a prorrogação do mandato presidencial, durante o governo José Sarney. Manteve-se em posição crítica durante a ascensão e o apogeu do Presidente Fernando Collor. Embora apoiasse suas propostas de liberalização econômica, foi a primeira publicação a propor o impeachment do chefe do governo.

           Em 1986, comprovava ser o jornal de maior circulação no Brasil. Em 1995, um ano depois de ultrapassar a marca de 1 milhão de exemplares aos domingos, inaugurou seu novo parque gráfico, considerado o maior e tecnologicamente mais atualizado na América Latina, um projeto orçado em 120 milhões de dólares. No ano passado, conforme seus dados oficiais, a circulação média ficou em 287 mil exemplares nos dias úteis e 360 mil aos domingos.

           Em 1991, Frias e Caldeira decidiram dissolver a sociedade que mantinham, cabendo ao primeiro a empresa de comunicações e ao segundo os demais negócios e imóveis em comum, entre eles a Lithografica Ypiranga. A partir de meados da década de 80, Frias começara a transferir a operação executiva para seus filhos Luís e Otávio, respectivamente nas funções de Presidente e Diretor Editorial do Grupo Folha.

           Até poucos meses atrás, o “publisher participava do dia-a-dia do jornal, seja acompanhando os números da empresa, seja definindo a linha dos editoriais, seja criticando reportagens ou recomendando pautas jornalísticas.

           Embora tenha sempre afirmado não ser jornalista, mas empresário, Frias obteve furos de reportagem, como a notícia de que o estado de Tancredo Neves era muito mais grave do que afirmavam, em março de 1985, médicos e autoridades do novo governo.

           Consolidado o seu papel na imprensa brasileira, o Grupo Folha passou a investir em novas tecnologias. Em 1996, lançou o Universo Online (UOL), principal provedor de conteúdo e de acesso à internet do País. Líder absoluto na categoria de notícias da rede brasileira, o UOL é hoje uma empresa de capital aberto, na qual o Grupo Folha detém 41,9% das ações e o grupo de telefonia Portugal Telecom, 29%. O restante pertence ao poder do público.

           Atualmente, o Grupo Folha é o centro de uma série de atividades na esfera da indústria das comunicações. Fechou os jornais Última Hora, Cidade de Santos, Folha da Tarde e Notícias Populares para se concentrar no carro-chefe, a Folha de S. Paulo, em consonância com a filosofia importada através dos reformadores da década de 60, de que “centros urbanos como São Paulo, comportam a existência de apenas dois grandes jornais. Todavia, acabou lançando um jornal popular - o "Agora São Paulo" -, além do Valor Econômico, no ano 2000, em associação com as Organizações Globo. Possui também o "Alô Negócios", o maior jornal de Curitiba em número de classificados.

           Fazem parte do grupo o Datafolha, instituto de pesquisas de opinião; a Publifolha, editora de livros; o Banco de Dados da Folha; a Folhapress, agência de notícias; a Plural, maior indústria gráfica de impressão offset do País; a São Paulo Distribuição e Logística, em parceria com o Grupo Estado; e a Transfolha.

           Na construção de todas essas empresas, Frias mostrou seus traços mais marcantes: inteligência prática e intuitiva, tino comercial, informalidade no trato e curiosidade pelos empreendimentos produtivos. De hábitos simples, quase espartanos, ele era agnóstico em religião, liberal em política e economia e, até alguns anos atrás, praticante de esportes, especialmente a equitação.

           Nos últimos anos, recebeu uma série de homenagens. No 79º aniversário da Folha, em fevereiro de 2000, a Câmara dos Deputados, em seção solene, homenageou o Grupo Folha e seu “publisher. Em 2002, a Fiam (Faculdades Integradas Alcântara Machado) inaugurou a cátedra Octavio Frias de Oliveira, com programação de seminários mensais. Frias recebeu da entidade o título de professor honoris causa em fevereiro.

           Eu mesmo, nesta tribuna, tive o prazer de homenageá-lo em todas as oportunidades que encontrei ao longo dos últimos 12 anos.

           Em dezembro último, a Fundação Professor Edevaldo Alves da Silva, do Centro Universitário Alcântara Machado, em São Paulo, lançou o livro "Octavio Frias de Oliveira: 40 Anos de Liderança no Grupo Folha", reunindo textos de jornalistas que trabalharam ou trabalham na empresa.

           Em 3 de maio do mesmo ano, o empresário recebeu o prêmio Personalidade da Comunicação 2006, concedido pelo 9.º Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.

           Em agosto seguinte, foi lançado no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, o livro "A Trajetória de Octavio Frias de Oliveira", escrito pelo jornalista Engel Paschoal e editado pela Mega Brasil. A Publifolha relançou o livro em março deste ano. Com 328 páginas, traça um perfil do empresário e traz depoimentos de diversas personalidades do mundo político, empresarial e jornalístico.

           No dia 4 de setembro passado, o então governador Cláudio Lembo condecorou-o com a Ordem do Ipiranga, a mais elevada honraria do Estado de São Paulo.

           De franqueza desconcertante, mas avesso a entrevistas, Frias surpreendeu ao dar uma declaração em 2003, comentando o estado de endividamento da mídia no País. Discutia-se a possibilidade de o BNDES conceder empréstimos ao setor. Disse Frias: "O que interessa ao governo é a mídia de joelhos. Não uma mídia morta. Uma mídia independente não interessa a governo nenhum".

           Pois bem, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, as homenagens recebidas por Octavio Frias de Oliveira durante o velório acabaram por expressar “a trajetória de independência do jornal, conforme publicou a própria Folha de S.Paulo. Partiram de representantes dos mais díspares setores, tanto políticos como sociais e econômicos, aí incluídos grandes vultos da história pátria contemporânea. E ficaram condensadas nas palavras do Presidente Lula, que afirmou: “Frias confiava no Brasil”.

           Sr. Presidente, era o que eu desejava comunicar.

           Muito obrigado.

 

            O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a Rede Globo de Televisão, conjunto de emissoras que cobre 99,84% dos 5.043 municípios brasileiros, completou 42 anos de existência no dia 26 do mês passado. Por esse motivo, apresentei requerimento de congratulações desta Casa com os dirigentes e funcionários que mantêm essa organização na trajetória de sucesso criada pelo fundador, o insigne e inesquecível jornalista Roberto Marinho.

            Como parte do grupo econômico, o prestigioso jornal O Globo, do Rio de Janeiro, também contribui para engrandecê-lo, ao mesmo tempo em que aquela rede se fortalece na posição de paradigma na TV brasileira, em pé de igualdade com as melhores do mundo. Chega a excedê-las sob diversos aspectos, graças ao admirável acervo de dramaturgia, shows, entretenimento, documentários e jornalismo que, dublado em diversos idiomas, leva a cultura brasileira a telespectadores de cerca de 130 países em todos os continentes.

            Cabe hoje aos filhos do fundador, Drs. Roberto Irineu Marinho, João Roberto Marinho e José Roberto Marinho, garantir tal padrão de excelência, trabalho que executam com a mestria herdada do pai, de maneira a tornar perene o elevado nível técnico e profissional da organização, bem como o seu papel de força motriz de ações culturais e sociais louvadas internacionalmente.

            No dia de aniversário, foi-me prazeroso participar da inauguração do Edifício Jornalista Roberto Marinho, no bairro do Brooklin Paulista, cidade de São Paulo. O prédio abrange 17 áreas da empresa e abriga o seu departamento comercial, um auditório de convenções e um estúdio panorâmico destinado ao jornalismo. Inaugurou-se também a Rua Evandro Carlos de Andrade, onde funciona a nova portaria da emissora. A via pública recebeu tal nome em homenagem ao ex-diretor de jornalismo da Globo.

            Com 12 andares e 3 subsolos, o novo prédio junta-se aos núcleos de jornalismo e de produção já em funcionamento no bairro do Brooklin. O presidente das Organizações Globo, Dr. Roberto Irineu Marinho, comentou a inauguração perante platéia composta das mais elevadas autoridades do Estado de São Paulo, ao lado dos parceiros e funcionários da empresa. Afirmou: "Roberto Marinho foi um brasileiro que, em sua vida longa e produtiva, testemunhou inúmeras crises, sem nunca deixar de acreditar que, com seriedade e trabalho, o País se livraria de suas mazelas.” Destacou ainda ter sido para evocar essa mesma crença que se escolheu o nome do edifício e lembrou a compra da TV Paulista, na década de 60, logo após a fundação da emissora, ao dizer sorridente: "Mais de 40 anos depois, podemos dizer que a Globo tem um sotaque carioca-paulistano ou fluminense-paulista".

            Com a inauguração, um antigo ideal da Globo foi alcançado, isto é, o de levar para a capital paulista uma infra-estrutura de produção compatível com sua importância e representatividade.

            Para garantir ambientes claros, a arquitetura privilegiou a iluminação natural no novo edifício. Cada andar possui vários ambientes que ocupam aproximadamente mil metros quadrados, inclusive com um auditório para 160 pessoas. O último pavimento abrange amplo estúdio panorâmico reservado aos telejornais. Sobre ele há uma longa antena e câmera destinada a monitorar o trânsito durante as 24 horas do dia.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a TV Globo alcança 74% de audiência no horário nobre, 56% no matutino, 59% no vespertino e 69% à noite. Transformou-se em colecionadora de prêmios internacionais, dentre os quais se destacam três Emmy. Em 1979, a Unesco premiou a série infantil "Sítio do Pica Pau Amarelo" como o melhor programa daquele ano. Pela campanha Criança Esperança, o Unicef premiou-a em 1980. Doze anos depois, a mesma campanha ganhou a Medalha de Prata comemorativa do Encontro Mundial de Cúpula pela Criança.

            Hoje, 88% da programação do horário nobre têm produção própria, o que equivale a criar, encenar, editar e veicular mais de dois mil longas-metragens por ano. Um conteúdo cuja qualidade gera negócios para além da televisão, como projetos temáticos, cinema e Internet. Conforme destacam os seus dirigentes, essas conquistas advêm de uma filosofia que jamais desejam abandonar, isto é, educar, informar e entreter, com qualidade, via TV.

            Desde 2001, um sistema de ligação por fibra ótica digital de alta velocidade, entre o Rio de Janeiro e São Paulo, permite integrar virtualmente as operações de jornalismo e intensificar a comunicação corporativa entre as duas matrizes da empresa, assim como aumentar a qualidade no ar dos programas produzidos em São Paulo, a custos absolutamente otimizados.

            A Rede Globo utiliza grande quantidade de transmissões via satélite, o que garante qualidade e continuidade na distribuição digital da programação a todo o Brasil, através de uma rede nacional e nove sub-redes regionais. Além disso, conta com dois canais de satélite disponíveis 24 horas por dia para atender as necessidades das equipes de jornalismo de São Paulo, Brasília, Nova York e de suas unidades móveis e portáteis de transmissão.

            Já diziam os antigos que saber é poder. Por levar informação a todos os rincões e proporcionar conhecimento a todas as camadas da população, a Rede Globo constitui poderoso veículo de democratização do poder.

            Torna-se, assim, imperativo o Senado da República dar mais uma mostra de reconhecimento, com um voto de congratulações, ao trabalho dessa valorosa equipe de profissionais da comunicação, que nos desperta o orgulho de sermos cidadãos de um País democrático, capaz de possuir uma das melhores redes de TV do mundo. Em conseqüência, peço aos nobres Pares que aprovem o meu requerimento.

            Muito obrigado.

 

            


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/05/2007 - Página 12233