Discurso durante a 68ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagens às mães. A importância da Igreja Católica.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. IGREJA CATOLICA.:
  • Homenagens às mães. A importância da Igreja Católica.
Publicação
Publicação no DSF de 12/05/2007 - Página 14254
Assunto
Outros > HOMENAGEM. IGREJA CATOLICA.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, MÃE, ELOGIO, IGREJA CATOLICA, CONTENÇÃO, VIOLENCIA.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Presidente Cristovam Buarque, Senadoras e Senadores na Casa, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado; Professor Cristovam, uma vez que V. Exª está presidindo esta sessão, gostaria de lembrar aqui um grande mestre: Sócrates. Sem dúvida alguma, a presença de V. Exª me faz buscar Sócrates. Mas por que Sócrates? Porque, no mundo civilizado, ele foi o primeiro sacrificado pelos poderosos que acreditavam em muitos deuses. Ele foi mostrando aos poucos que Deus deveria ser único. Deus era a verdade, era a bondade, era o bem. Por isso, ele foi condenado.

Mas essa tese de um deus único já era compartilhada por outros. Mas, pela sua força de mestre, ele irradiou essa tese muito antes de Cristo ter chegado. Aí ele foi sacrificado. Ele era um mestre como o professor Cristovam Buarque é hoje o nosso mestre, e ambos, humildes.

Veio Cristo, e sabemos a história. Criou-se essa igreja da qual faço parte: a Igreja Católica. Queremos prestar aqui uma homenagem a Lutero. A igreja foi desvirtuada, era dos ricos, era dos poderosos.

Senador Geraldo Mesquita, eu gosto de viajar. Vou a países antigos e ricos, poderosos e sei que, dentro das catedrais, havia as igrejas privadas e particulares. A igreja era para os ricos e poderosos. Comprava-se passagem para ter direito aos céus, apagava-se o pecado com dinheiro. E foi Lutero quem se rebelou contra tais coisas.

Toda a mudança é complicada. Mas surgiram outros caminhos que nos aproximam de Deus.

Professor Cristovam Buarque, atentai bem para a história de que “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus”.

Veio outro reformista, Calvino, que disse que a riqueza é bendita quando vem do trabalho. E os povos enriqueceram, melhoraram. A riqueza é bendita e, com ela, se faz o bem. Assim, as mudanças continuaram.

Eu estou aqui representando o Piauí, cristão - o Piauí é cristão -, e o Brasil desde Frei Henrique. E nós temos devoção. Meu nome é Francisco, Senador Geraldo Mesquita. Francisco! Francisco, o santo, foi aquele que mais se aproximou de Cristo. Cristo nos ensinou amor, a virtude que é a mãe de tudo. Sem amor não há obra. E Francisco andava com uma bandeira, Professor Cristovam Buarque, como nós estamos andando com a bandeira do PMDB, ó Geraldo Mesquita. Mas a dele era paz e bem. E aí tinha que ser um franciscano.

Olha, a minha mãe era terceira franciscana. Eu lhe digo aqui, ó Geraldo Mesquita: ela é santa. E eu vou dizer por que ela é santa. Eu sempre disse que eu não tenho mãos santas; são mãos humanas iguais as de um médico que, guiadas por Deus, salvava um aqui, outro, acolá.

O meu avô era o homem mais rico do Estado do Piauí. Ele tinha dois navios. As indústrias floresceram e foram para o Rio de Janeiro, Cristovam Buarque, para a ilha do Governador. Eu imagino a grandeza deles, que pegaram o sabão que se fazia no Piauí com óleo de babaçu, e a cera, e levaram para lá. Olha, no sabão botaram o nome de Moraes para dar copa, o marketing, e a gordura Moraes, do Norte, venceu a gordura do coco carioca! Imagine você, que é do Nordeste, Cristovam, e você que é do Acre, sofrido, o que é sair do Nordeste e ganhar hoje do Omo, um desses produtos grandiosos. E foi o que meu pai, o meu avô fez.

Eu cheguei aqui e disse, Senador Geraldo Mesquita, ensinando a este País e ao PT: Presidente Luiz Inácio, Getúlio, quando saiu do Governo depois de 15 anos, não tinha uma geladeira a querosene. Não sei se o Senador Cristovam Buarque ou o Senador Geraldo Mesquita conheceu essa geladeira. Eu conheço porque sou mais velho. Ela tinha uns pés grandes. Meu avô gritava: “Menino, vai ver”. Porque tinha uma chama, eu não sei a química, Geraldo, mas, quando ela fumaçava, não gelava. Meu avô tinha três: uma na casa da praia, uma na fábrica, e outra na casa de sobrado. O Getúlio, depois de 15 anos, saiu do Governo sem uma geladeira - eu digo isso para explicar a grandeza de Getúlio. E esses aloprados do PT estão todos milionários e ricos, roubando da Nação. Essa é a verdade.

Então, a minha mãe - olha aqui, Geraldo, eu digo que não sou mão santa, mas sou filho de mãe santa - foi ser terceira franciscana, ô Cristovam. Sei que as outras têm mérito, mas ela era filha do homem mais rico do Piauí e foi ser terceira franciscana, aquela do vestido marrom, sem jóias.

Sempre digo que não sou Mão Santa, mas sou filho de mãe santa.

Foi muito justo o primeiro santo brasileiro ser franciscano. Essa Ordem está aí desde Frei Henrique de Coimbra, e eu convivi com ela de maneira próxima: na minha cidade há um convento - minha mãe dizia que eu ia ser um “frade da barbicha”. Ela me imaginou assim como o Geraldo, com a barbicha. Não sei, acho que foi Adalgisa que me desviou, e nós estamos aqui, seguimos outro destino. Mas ela sonhava, tal o ardor de sua fé, que eu seria um “frei de barbicha”.

Frei Galvão simboliza todos os frades - Frei Heliodoro, Frei Valentino, Frei Inocêncio. Mas essa Ordem não tem apenas o Frei Galvão, há muitos freis santos. Conheço um, sou testemunha de sua santidade: Frei Higino. Com esse eu convivi. Não sei quanto a milagres, mas, se fosse eu, canonizava os dois. Não estou dizendo que Frei Galvão não é santo, mas sei das virtudes de Frei Higino.

Em Parnaíba, Frei Higino foi morar em um leprosário, e os leprosários de antigamente atemorizavam, os leprosos não tinham nariz, não tinham orelha, não tinham perna. Ô Cristovam Buarque, tenho traumas de infância por causa disso. A minha casa era ao lado da do bispo e, quando faltava água ou comida ou havia qualquer dificuldade no leprosário do Estado, era para a casa do bispo que os leprosos se dirigiam para reclamar. Então, ficavam - sem perna, sem nariz - discursando num jumento, e nós ali, vendo. A gente temia o leproso naquela época, e eu, mesmo fazendo Medicina, não superei o trauma de minha infância, quando eu via centenas de leprosos, diante da casa do bispo, apelarem para o governo porque eles não tinham alimento - eles fugiam, saiam revoltados. Na minha casa, ao lado da do bispo, ficava trancado ouvindo os discursos. Eu fiquei com trauma! Eu fiz Medicina, mas quando via, fugia. Um Secretário de Saúde, de chofre, quando eu já era médico...

Mas Frei Higino foi morar lá. E eu vou dizer o que é disciplina e hierarquia. Eu, filho da Janete, terceira franciscana, tive uma paixão aí por essa Adalgisa. Até tentamos fugir, mas chegando à casa da praia, já tinha gente, e voltamos. Então, decidimos casar. Encontramos o Frei Higino. E vejam o que é a disciplina, a obediência e a humildade desses freis. Ele me conhecia, eu tinha chegado a médico-cirurgião, conhecia também a Adalgisa. Ele disse: “Ah, eu tinha vontade de casar vocês, mas não posso, porque o bispo baixou uma lei dizendo que é preciso tomar três banhos”. Conto isso para dizer da santidade do Frei Higino. Aí, eu falei: “Mas, Frei, o senhor me conhece. Eu tomei tanto banho no Rio de Janeiro. Passei dois anos lá fazendo pós-graduação”. Ele disse: “Não, mas o bispo determinou que tem de tomar três banhos”. Perguntei: “E o que é esse banho?”. Ele disse: “Não, tem de ser na Igreja, lançar se já casou...”. Eu ainda retruquei, mas ele disse que tinha de obedecer o bispo. E mais, Heráclito: quando eu fui interno num colégio cearense, em Fortaleza, colégio Marista, ele era o capelão. Mas vejam a obediência. Um amigo que tinha casado, Dr. Valdir, disse: “Francisco, vá lá nos redentoristas. Tem um irlandês que me casou e foi bem ligeiro”. Fui nos redentoristas. Aliás, tem um filme aí, Heráclito, sobre a guerra da Irlanda - está em cartaz na Academia de Tênis, e o título é Ventos da Liberdade. Vá vê-lo! O padre irlandês que me atendeu, vendo que eu queria casar, disse: “É, mas tem uns banhos mesmo, e nós não podemos desobedecer”. Eu disse: “Mas nós viemos até da praia, já tomamos banho” - aquele meu jeito. Ele disse: “Não. O seu nome tem de passar em três missas”. Mas deu um jeito logo - isso era sábado à tarde -, ele disse: “Vai ter uma de noite; uma de madrugada, e tem outra às 7 horas da manhã. Venha aqui às 8 horas que eu o caso”. Mas quero falar do Frei Higino, o santo que foi morar no leprosário: morreu lá, cuidando dos leprosos.

E eu quero dizer aqui que aprendi uma frase desse Frei Higino, que eu conheço - e há muitos santos Galvão neste Brasil - repito sempre a frase que ele me disse uma vez: “Francisco, o bem não faz barulho, e o barulho não faz bem”. Medito sobre isso. Então, fica a minha homenagem ao Frei Galvão e a centenas de frades capuchinhos que há por aí.

Nós, que somos do Nordeste... Ô Arthur Virgílio, V. Exª é da Amazônia. O Amazonas, o Equador e o Peru são outro mundo, é tudo Amazônia. Fui ao Peru e lá eu soube que eles têm cinco santos, Geraldo Mesquita. Entrei numa igreja e, vendo uma imagem, perguntei o que era. Responderam que era o santo do Peru. Eu disse: “Não, vou mesmo é rezar para São Francisco”. O Peru, menor do que o Brasil em população, tem cinco santos. Lá, eu dizia: “Onde é que tem São Francisco?” - tenho minhas crenças, fui a Assis. 

Mas eu queria dar um testemunho da importância da nossa Igreja - somos cristãos, católicos por tradição - e das outras. Senador Arthur Virgílio, a voz do povo é a voz de Deus, e o povo já brasileiro já canonizou o Padre Cícero. V. Exª já foi ao Ceará? Há também Frei Damião, que o Heráclito conhece demais, porque a Mariana é de Pernambuco - é uma crença do povo. E tinha de ter uma mulher no meio: a Irmã Dulce também é santa, porque o povo já a canonizou.

Mas eu queria dizer da importância da nossa Igreja e das outras: são caminhos que nos levam a Cristo, todas são iguais, são vários caminhos que nos levam a Cristo. Geraldo Mesquita, quero dizer que aprendi aqui a importância disso.

Violência. Todo mundo está apavorado com a violência. Pares cum paribus facillime congregantur - Cícero, no plenário romano, diante da violência que assolava. Violência gera violência. Mas por quê? Eu participei desses debates - acho que o Geraldo Mesquita é mais profundo, porque tem a vocação de legislador que eu não tenho - e, de tudo o que ouvi, o mais importante foi o que disse o jornalista. Não sei se V. Exªs estavam lá, mas o jornalista do Jornal do Brasil, que é do Rio de Janeiro, disse: “Olha, eu freqüento as favelas, os morros, as cidades mais empobrecidas, e observei o seguinte: onde tem uma igreja, a violência é menor”. Então, concluímos agora que o Brasil precisa mesmo é de Deus. Então, é um Ministro de Deus esse Santo Galvão e o Santo Papa que tem aí.

Heráclito, V. Exª trouxe hoje todo o sentimento de sensibilidade que deveríamos ter: a mãe.

O Senador Geraldo Mesquita Júnior já se emocionou. Ele não conhecia essa sua veia sentimental de homem, falou do coração. Eu queria dizer que também considero isso uma homenagem a minha mãe, que era terceira franciscana. Ela, que no dia da mãe foi uma bênção, recebe um franciscano como santo. Mas eu queria dizer o seguinte, como o Senador Heráclito disse bem: as saudades de quem não tem mãe. Arthur Virgílio também não tem pai, assim como eu.

Vou contar um caso - um quadro vale por dez mil palavras. O Heráclito conhece a pessoa. Eu governava o Piauí e estava na Praia do Coqueiro, no Alô Brasil, acompanhado de alguns Ministros. Estava o Dr. Salmon Lustosa, um velho Juiz, o primeiro Juiz Federal do Piauí, com seu filho Emídio, rapagão bonitão, educado, um médico fino. E eu, de repente, em respeito ao Juiz Salmon Lustosa, cuja esposa, D. Maria José, foi professora de Adalgisa, parei, deixei a comitiva das autoridades, sentei ali, conversei, acho que tomei uma cervejinha - tomo mesmo -, depois fui embora, despercebido - esta página vivida é que quero dar os brasileiros. O filho do Dr. Salmon, o Dr. Emídio, médico mais novo do que eu, embora hoje seja muito mais brilhante, chegou para mim e disse: “Mão Santa, devo-lhe um grande favor.” Eu fiquei rememorando: será que é porque sou mais velho, como cirurgião, ou porque facilitei algumas intervenções com a minha maior idade e experiência, ou porque, quando Governador, havia facilitado a colocação de uma filha advogada na Uespi? Fiquei imaginando. Aí, ele parou e disse: “Você se lembra de quando você era Governador e parou no meu pavimento? Sabe o que você disse? Vá curtir seu pai, é só quem presta. Eu saí dali e passei cinco anos convivendo mais com o meu pai, o que agradeço a você.”

Era o que eu queria dizer: pai e mãe são as maiores bênçãos da natureza.

Eu sou da terra do Heráclito, mas não tenho veia poética como ele. Então eu vou roubar, em homenagem às mães, aquele bem pequenininho trecho que eu acho lindo. Arthur Virgílio, o poeta disse assim: ”E vi minha mãe rezando aos pés da Virgem Maria. Era uma santa escutando o que outra santa dizia.”


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/05/2007 - Página 14254