Discurso durante a 77ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Leitura de manifesto conclamando o povo brasileiro a deflagrar campanha de resgate ético das instituições nacionais.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DEMOCRATICO.:
  • Leitura de manifesto conclamando o povo brasileiro a deflagrar campanha de resgate ético das instituições nacionais.
Publicação
Publicação no DSF de 25/05/2007 - Página 16113
Assunto
Outros > ESTADO DEMOCRATICO.
Indexação
  • ANALISE, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, APROVAÇÃO, FECHAMENTO, CONGRESSO NACIONAL, PERIODO, GOVERNO, CASTELO BRANCO, EX PRESIDENTE, MOTIVO, CORRUPÇÃO, COMPARAÇÃO, SITUAÇÃO, ATUALIDADE, FALTA, ETICA, POLITICA, RESULTADO, AUSENCIA, APOIO, POVO.
  • LEITURA, MANIFESTO, CONCLAMAÇÃO, POVO, REALIZAÇÃO, CAMPANHA, RESGATE, ETICA, CLASSE POLITICA, NECESSIDADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMBATE, CORRUPÇÃO, INCENTIVO, MORAL, PAIS, JUSTIFICAÇÃO, IMPORTANCIA, CRIAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, INVESTIGAÇÃO, IRREGULARIDADE, POLITICA, ESCLARECIMENTOS, SENADOR, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), ASSINATURA, REQUERIMENTO, COMISSÃO.
  • COMENTARIO, EXISTENCIA, CONGRESSISTA, DEFESA, ETICA, COMPARAÇÃO, EX-CONGRESSISTA, PERIODO, DITADURA, EMPENHO, DEMOCRACIA.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Gerson Camata, que preside esta reunião de 24 de maio, uma quinta-feira, Senadoras e Senadores presentes na Casa, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, Sr. Presidente Camata, V. Exª é testemunha de muita história deste Brasil. V. Exª testemunhou quando a democracia atingiu níveis de corrupção, de subversão, e o povo foi às ruas. Era o povo mesmo. V. Exª se lembra daquelas passeatas, do povo, pedindo providências. Agora, Camata e Magno Malta, que simboliza...

Deus tem sido muito bom para mim! Camata, eu estava num momento no Rio de Janeiro, no Maracanãzinho, quando, diante disso tudo, um jovem... Quiseram derrubar o Maracanãzinho porque ele não ganhou o festival. Ganhou uma música de Tom Jobim, “Sabiá”. Realmente, o Magno Malta, que é musicista, aplaudiria, porque ele entende mais que eu. Mas o povo queria a outra, e quiseram quebrar o Maracanãzinho.

Em 67, Flávio Cavalcante. Aí, ele pega sozinho uma cadeira de pau e o violão e diz: “Minha gente, a vida não se resume a festivais; está ali o jurado para julgar, e eu, para cantar. Vamos cantar.”

Vem [aí o pessoal o seguiu], vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

Camata, traduzindo esse momento, eu estava no Maracanã, 1967, residente de cirurgia do Hospital do Servidor do Estado. Camata, Deus nos prepara. E eu era estudante e não tinha nem aquele rádio de pilha para acompanhar. Estava lá no Maracanã, coração do Brasil e do povo! V. Exª deve ter assistido a muito jogo lá. Magno Malta, de repente, Camata, eu ouvi uma explosão do povo... Vibrar em emoção, Camata! E eu, sem o radinho. A gente chamava aquele alto-falante que dava notícias, nos anos 60, de “a boca do mundo”. Pensei assim: deve ter sido um gol, em São Paulo, do Pelé, essa explosão de euforia. Não era, Camata! Veio o silêncio, e eu fui entender. Sabe o que era, Camata? “Presidente Castelo Branco acaba de fechar o Congresso”. Eu vi o povo aplaudir! É a história... Ô Camata, eu sou testemunha, como V. Exª. V. Exª, ô Mozarildo, viu aqui um grupo do PMDB contra a ditadura e que formaram os “autênticos”. E esse grupo - Ulysses, Teotônio, Juscelino, cassado e humilhado - ajudou a reconstrução democrática.

Hoje, Magno Malta e Camata, que representa a história pura, limpa e de coragem do PMDB... Ontem, um grupo do PMDB, como os “autênticos” aqui em 1974, preocupou-se com o Brasil. Vi o Geraldo Vandré. Vi o povo explodir de satisfação quando foi fechado o Congresso. Eu estava lá.

Hoje, Pedro Simon, o mais virtuoso da história deste Parlamento - imagem de Francisco, assim como Francisco, o santo, foi imagem de Cristo -, convocou-nos e nos liderou, vendo a situação deste País. Ele expôs uma pesquisa, afirmando que somos 594 na Câmara e no Senado. V. Exª sabe quantos somos nós? Quinhentos e treze Deputados Federais, a Marisa, que simboliza “a boa história da Câmara, professora”, e 81 senadores. O Brasil, aquele que estava no Maracanã quando vi a explosão e a satisfação por ter sido fechado este Congresso... Não chega a 2% o número de brasileiros que acreditam em nós. Pela matemática de Pedro Simon, somente seis somos honrados nas duas Casas. E esse é o conceito.

Então, nós nos reunimos porque não compactuamos com essa idéia. Entendemos que a grande maioria é boa. A grande maioria representa o povo brasileiro e é boa. Há joio, mas somos o trigo. E estamos aqui.

Há pouco, estávamos na Comissão de Educação, participando da reunião e sonhando. Camata, somos como Darcy Ribeiro e João Calmon, que era do Estado que V. Exª representa. Saímos da Comissão para este plenário direto, sem almoçar. Esses são o trigo.

Liderados pelo Senador Pedro Simon, Jarbas Vasconcelos, Joaquim Roriz, Geraldo Mesquita Júnior, Almeida Lima, Valter Pereira, Garibaldi Alves Filho e eu assinamos o seguinte manifesto à Pátria, imbuídos do mesmo sentimento do MDB autêntico, que existiu, que foi fundamental. Ulysses Guimarães, encantado no fundo do mar: “Ouça a voz rouca das ruas!”

Ulysses disse o que Rui Barbosa já havia dito: “De tanto ver as nulidades assumirem o poder, de tanto campear a corrupção, chegará o dia em que teremos vergonha de sermos honestos”. E chegou. Chegou a era dos aloprados, como assim definiu o próprio Presidente de República. Aí estou com o Lula: é um homem cercado de aloprados por todos os lados. O Piauí tem aloprados. Conseguiram gravar 17 vezes os trambiques da construtora; 17 vezes! É um recorde.

E aí escrevemos, liderados por Pedro Simon, um manifesto:

Antes que a justa indignação da sociedade se transforme num movimento de desobediência civil, estimulado pela sucessão de escândalos que afetam a legitimidade democrática do País, os Senadores que esta subscrevem conclamam o povo brasileiro, em especial a juventude deste País, a deflagrar campanha de resgate ético das instituições nacionais, entendendo, ao mesmo tempo, que é chegada a hora de o Presidente da República fazer um chamamento à Nação pelo engajamento de todos na luta pelo saneamento ético e moral do Brasil.

Senador Camata, acho que V. Exª vai assinar o requerimento de criação da CPMI. V. Exª está sendo convidado de público. Baixou o Espírito Santo, que é o patrono do seu Estado, na sua aquiescência, o mesmo que dirige neste momento o Senador Magno Malta e que simboliza também a linguagem de Deus.

         Com esse objetivo, manifestam seu apoio ao movimento de criação de uma CPMI.

         Nós do PMDB já assinamos o requerimento. Foram os Senadores do PMDB que deram o número. Dissemos, como Voltaire: “À majestade tudo, menos a honra”. Podemos até apoiar as coisas, mas, Lula, a nossa honra não. A corrupção está demais!

[...] já em curso na Câmara dos Deputados, em que pese o desgaste que o instituto sofre atualmente, e exortam o Partido a que pertencem a dar caráter institucional à indicação dos cargos públicos que lhe couber prover, deles afastando as interferências de ordem pessoal [...]

É a pessoa que indica. Que negócio é esse, ô Camata? Senador Camata, sua história é bela, é longa, é de luta, é de vergonha, é da sua família, é do seu Estado, é de muito sacrifício.

[...] que afetam a credibilidade de seu legítimo apoio ao Governo.

V. Exª foi auscultado em algum Ministério? Deveria ter sido em todos. Deveria era ter sido escolhido Ministro. E vou-lhe dizer: eu tenho coragem, sou do Piauí...

Piauí, terra querida, filha do sol do Equador [...]

Na luta, o teu filho é o primeiro que chega.

E eu abri mão de disputar o cargo com V. Exª, porque V. Exª tem mérito. Tive vontade de disputar, mas, reconhecendo “as interferências de ordem pessoal”... Achamos até que V. Exª deveria ser um dos Ministros indicados.

           Como penhor dessas medidas, estão submetendo ao Líder do PMDB substituição do Ministério de Minas e Energia, dando a esse processo a transparência que dele espera a Nação.

V. Exª tem de ser auscultado, todos nós. Esse é o Partido de Ulysses, que está encantado no fundo do mar.

Sibá! Sibá é do Piauí; nós o emprestamos ao Acre. Sibá, sabe o que Ulysses disse sobre isso tudo? “A corrupção é o cupim que destrói a democracia”. E eu nunca vi tanto cupim, tantos aloprados destruindo a nossa democracia.

Eu pediria mais um minuto para concluir.

O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco/PR - ES) - Concedo mais um minuto a V. Exª.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Em um minuto Cristo, fez o Pai Nosso, e todo mundo entende. Então, eu queria dizer, só para terminar, porque eu recebi muitos e-mails, que li ontem, traduzindo o melhor jornalista do Piauí, Zózimo Tavares.

O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco/PR - ES) - Senador Mão Santa, vou interromper V. Exª - devolverei a V. Exª este um minuto - apenas para cumprimentar os adolescentes, as crianças, os jovens e os adultos que estiveram conosco aqui na platéia.

Muito obrigado.

Deus guarde vocês, e que tenham um bom tour pela Casa.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Bilac disse: “Não verás nenhum País como este”. Bilac disse isso no passado. Hoje ele não diria isso, num País de tanta corrupção.

Eu recebi muitos e-mails. Professora Marisa, o Piauí tem esta característica: no período difícil da ditadura, o melhor jornalista, o mais bravo foi Carlos Castelo Branco, o Castelinho, que o Camata reverencia. E aqui surge o Zózimo Tavares. Então, pediram-me, em muitos e-mails, que eu dissesse o que ele traduz com a sua inteligência. Eu queria pedir permissão para ler.

O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco/PR - ES) - V. Exª consegue encerrar com esse um minuto, não é?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI ) - Consigo.

Então, passo a ler a parte mais bonita do artigo “Quarto poder, de Zózimo Tavares.

Jarbas Vasconcelos é general dos independentes, que sucede a bravura histórica dos autênticos, e adentra o plenário neste momento. Mas o Heráclito também é do Piauí. Veja, Heráclito, o que o Zózimo diz:

Não sei que olhar os historiadores vão lançar sobre o Brasil quando forem se debruçar, daqui a alguns anos, sobre as páginas que estamos escrevendo hoje. Mas certamente haverão de se chocar com os escândalos que sucedem na vida pública. Escândalos estes que, de tão rotineiros, já estão se banalizando e não chegam mais, sequer, a provocar indignação entre nós.

A corrupção, pai e mãe de muitas das desgraças que estamos vivendo,...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco/PR - ES) - V. Exª já encerrou?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Não. Peço mais um minuto, por obra e graça do Espírito Santo, Sr. Presidente.

[...] já se estabeleceu de tal modo que assumiu mesmo a condição de quarto poder, que historicamente coube à imprensa. Não um poder institucionalizado, como o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, mas um poder instituído. A corrupção hoje é poder que espalha seus tentáculos sobre os demais Poderes e fora deles, ganhando cada vez mais força.

[...]

O que é lamentável é que, em pouco tempo, perdemos muitos aliados no combate a este mal. As baixas são irreparáveis, pois muitos dos que estavam nas trincheiras da ética na Administração Pública mudaram de lado. Hoje eles engrossam as fileiras dos que procuram a qualquer custo se locupletar da corrupção. E muitos dos que ficaram na resistência perdem a força.

Essas são as palavras de vergonha do Piauí, por meio de Zózimo Tavares, editor do Jornal Diário do Povo.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/05/2007 - Página 16113