Discurso durante a 89ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Destaque para o crescimento do uso do papel-moeda no País, aparecendo como indicador da distribuição de renda. Registro da décima primeira edição da Parada do Orgulho GLBT, em São Paulo, nesse último domingo. (como Líder)

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIO ECONOMICA. POLITICA SOCIAL.:
  • Destaque para o crescimento do uso do papel-moeda no País, aparecendo como indicador da distribuição de renda. Registro da décima primeira edição da Parada do Orgulho GLBT, em São Paulo, nesse último domingo. (como Líder)
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Fátima Cleide.
Publicação
Publicação no DSF de 13/06/2007 - Página 19319
Assunto
Outros > POLITICA SOCIO ECONOMICA. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • ANALISE, AUMENTO, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, BRASIL, MOTIVO, CRESCIMENTO, UTILIZAÇÃO, PAPEL-MOEDA.
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, VALORIZAÇÃO, SALARIO MINIMO, PAGAMENTO, BOLSA FAMILIA, FAVORECIMENTO, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, CRESCIMENTO ECONOMICO.
  • REGISTRO, PASSEATA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), COMBATE, DISCRIMINAÇÃO SEXUAL, VALORIZAÇÃO, HOMOSSEXUAL, COMENTARIO, DIFICULDADE, TRAMITAÇÃO, PROJETO DE LEI, DISCRIMINAÇÃO.

            A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Como Líder. Sem revisão da oradora.) - Agradeço a V. Exª, Sr. Presidente, e à Senadora Rosalba que gentilmente fez a permuta do horário para que eu possa depois participar da reunião de líderes que deve acontecer em poucos minutos na sala da Presidência.

            O que me traz à tribuna, na realidade, são dois assuntos, um deles eu tenho até trazido de forma recorrente: trata-se dos estudos, pesquisas, indicadores, indicativos de que temos evoluído de forma significativa - e ainda bem que temos evoluído! - na distribuição de renda no nosso País. Tenho trazido aqui os estudos do Ipea, da OIT, de vários especialistas em sociologia, em economia, que se têm dedicado a fazer o estudo e a apresentar os dados de que estamos vivenciando um crescimento com distribuição de renda, distribuição de renda acelerada, como não acontecia no nosso País nas últimas três ou quatro décadas. Inclusive o próprio índice de Gini - indicador que mede a distribuição da riqueza, um indicador internacional - no nosso País, atualmente, é o menor dos últimos trinta anos.

            Foi muito interessante porque a manchete do Valor Econômico de ontem trouxe algo que me chamou muito a atenção. De onde eu não imaginaria que viesse uma confirmação da distribuição de renda, acabou, até de forma muito interessante, aparecendo como indicador da distribuição de renda, que é a utilização do papel moeda. A manchete é exatamente nesses termos: “Distribuição de renda induz a maior uso de papel-moeda”. Nós, que estamos habituados a utilizar cheque, inicialmente, agora cartão de crédito, não temos a dimensão disto, ou seja, em que medida a distribuição de renda está alterando essa forma de pagamento. O papel-moeda, a nota ou a moeda, teve um crescimento, nos últimos 12 meses, de 22,6%. Portanto, comparando-se este último ano ao ano anterior, a circulação de moeda, a utilização de papel e de moedas no pagamento, teve esse crescimento de 22%; e, comparativamente, com outras formas de pagamento, o cartão de crédito ou o cheque, foi bastante superior.

            E a chave para entender essa expansão do volume de papel-moeda está no avanço das classes mais pobres, que tiveram forte aumento de renda nos últimos anos.

            A faixa de baixa renda usa muito mais pagamento em dinheiro do que a de alta renda, obviamente. Pesquisa do Banco Central indica que para 93% da população nas faixas “c”, “d” e “e”, o meio preferencial de pagamento é o dinheiro, até porque a maioria não tem conta em banco. O INSS paga R$24 milhões de aposentadorias e pensões por mês, e cerca de 60% das pessoas que recebem esses benefícios não têm conta bancária; sacam o dinheiro na boca do caixa. E essa população teve forte aumento de renda nos últimos anos, com o reajuste do salário mínimo. Além disso, o bolsa-família paga benefício a 11 milhões de famílias que também sacam o dinheiro por meio do cartão. Sacam e utilizam o papel-moeda ou as moedas para as suas despesas.

            Portanto, eu não poderia imaginar que, no crescimento da utilização do papel-moeda, nós tivéssemos mais uma comprovação inequívoca de que, no País, temos condição de fazer o crescimento acoplado à distribuição de renda. Esse é um elemento que trago à tribuna com muito prazer, mais uma vez, como todos os outros que já tive oportunidade de trazer.

            Outro assunto também me traz à tribuna. Não pude fazê-lo ontem. Estava inscrita como Líder, mas uma reunião da Executiva do Partido com a Bancada da Câmara e do Senado, para discutir reforma política, não me permitiu voltar ao plenário. Faço isso com bastante - eu diria até - orgulho, porque essa é uma causa, um assunto, um tema ao qual, neste meu terceiro mandato parlamentar - dois como Deputada Estadual em Santa Catarina e um como Senadora da República -, tenho buscado dar atenção, contribuindo com ele, integrando a Frente Parlamentar que existe aqui no Congresso Nacional pela livre orientação sexual. Não poderia deixar de fazer o registro da 11ª edição da Parada do Orgulho GLBT, que ocorreu em São Paulo nesse domingo, com uma participação extremamente expressiva.

            Não sei se o Senador Suplicy, que é uma das pessoas que sempre comparece, teve oportunidade de estar na parada...

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Sim, Senadora Ideli. Permite, então, aparteá-la?

            A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Pois não.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Eu participei parte da tarde e fiquei extremamente impressionado com o extraordinário número de pessoas. Acho que foi a manifestação com o número de pessoas recorde...

            A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - No mundo.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Na cidade de São Paulo e no mundo. Mesmo manifestações extraordinárias na história política do Brasil e na história de São Paulo - como os grandes encontros religiosos, a missa do Papa Bento XVI, a missa do Papa João Paulo II, ou mesmo os grandes comícios das Diretas Já! no Anhangabaú, o maior de todos, com 1 milhão de pessoas - não reuniram tantas pessoas quanto dessa vez. Estima-se um número de 3 milhões a 4,5 milhões, ou seja, mais de 3 milhões de pessoas, uma população maior que a de Belo Horizonte, ali, com espírito de confraternização e de respeito às diferenças entre os seres humanos. Havia pessoas de todas as idades, pois as famílias compareceram e vieram com as suas crianças. Eu até fiquei um pouco preocupado porque era tão grande a multidão e tal o aperto que se passava por ali, mas, mesmo assim, as crianças estavam com espírito de brincadeira ao lado de seus pais. Foi assim um momento de confraternização, de alegria e de respeito a esta causa, para que possam todas as pessoas, todos os seres humanos serem respeitados no Brasil. Eu até assinalo a carta de um leitor, hoje, da Folha de S.Paulo que mencionou que às 9 e meia da manhã, na missa do Colégio São Luís, um sacerdote fez um sermão muito bonito sobre o fato de que todas as pessoas devem respeitar-se, inclusive no que diz respeito ao seu comportamento sexual, para que não haja qualquer tipo de discriminação quanto à origem, raça, sexo, idade, enfim, discriminação de qualquer natureza, notadamente quanto ao comportamento das pessoas. Foi um momento de confraternização e de respeito ao ser humano. Cumprimento V. Exª, Senadora Ideli Salvatti, porque pude testemunhar pelo menos parte daquela parada, e é algo que causa uma impressão muito positiva, na minha avaliação.

            A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Agradeço ao Senador Suplicy.

            Penso que o importante, além do número de pessoas presentes, além dessa verdadeira massa, três milhões e meio de pessoas, algo absolutamente impressionante, é que a marcha tinha um slogan - não apenas quanto à questão da orientação sexual - contra toda e qualquer forma de discriminação: racismo, machismo, preconceito. Era uma marcha de paz, como V. Exª mesmo ressaltou, com famílias inteiras, com crianças ao colo...

            (Interrupção do som.)

            A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Agradeço, Sr. Presidente, Senador Marco Maciel.

            Havia mães amamentando suas crianças...

            A Srª Fátima Cleide (Bloco/PT - RO) - Senadora Ideli.

            A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Já vou conceder-lhe um aparte, Senadora Fátima Cleide, até porque farei referência a V. Exª. Foi uma manifestação pela paz, pelo amor, pelo respeito que as pessoas têm de ter entre si. É necessário haver respeito e consideração pelo que cada um deseja ser, expressar e manifestar.

            Tivemos uma audiência muita polêmica, porque estamos aqui com a tramitação do PLC nº 122, de autoria da Deputada Iara Bernardi, cuja Relatora é a Senadora Fátima Cleide, que busca exatamente estabelecer formas de punição para quando ocorrerem atos...

            (Interrupção do som.)

            O SR. PRESIDENTE (Marco Maciel. PFL - PE) - Solicito que conclua, porque, inclusive, a Senadora Rosalba Ciarlini fez uma permuta com V. Exª. Se V. Exª puder colaborar com os nossos trabalhos, eu agradeço.

            A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Agradeço, Senador Marco Maciel. Vou apenas permitir um aparte porque a Senadora Fátima Cleide, mais do que ninguém, está vivenciando a dificuldade da tramitação do projeto.

            A Srª Fátima Cleide (Bloco/PT - RO) - Senadora Ideli Salvatti, agradeço a V. Exª e também ao Presidente da Mesa, Senador Marco Maciel, até porque eu ia me escrever para uma comunicação inadiável para relatar minha participação na Parada Gay de São Paulo.

            A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Deve fazê-lo, Senadora

            A Srª Fátima Cleide (Bloco/PT - RO) - Mas acho que V. Exª já se manifestou, assim como o Senador Eduardo Suplicy. Só queria dizer que estive na Parada e, de verdade, no chão. Andei toda a Avenida Paulista e a Consolação. Subi, por meia hora,.no trio do movimento gay de Minas Gerais e devo lhe dizer, Senadora, que não vi um ato sequer de intolerância entre aqueles milhões de pessoas que estavam participando da marcha. Elas estavam ali, Senadora Ideli, para dizer que a tolerância gera a compreensão, a harmonia e o amor. Não vi um olhar de questionamento sequer sobre qualquer coisa, qualquer atitude condenável naquele movimento. Vi coisas muito bonitas, como crianças decorando apartamentos para participar da atividade, famílias inteiras que foram ali dizer não à violência, não ao machismo, não ao racismo, não à homofobia. Fiquei muito feliz, porque pude sentir que existe na população brasileira um sentimento muito forte de que a intolerância tem de ter fim. Lamento, porém, que no entorno da parada, por fora da parada, infelizmente, havia grupos de skinheads agredindo pessoas; chegaram inclusive a provocar a morte de um francês de forma covarde - o filho de uma amiga, heterossexual, estava lá também para gritar não à intolerância e assistiu a tudo. Esse tipo de coisa é lamentável.Quero ainda fazer um registro muito interessante: na entrevista coletiva, o Prefeito Gilberto Kassab informou que esse evento, no ano de 2006, foi o segundo em rendimento econômico para a Cidade de São Paulo, perdendo apenas para a Fórmula 1. Este ano, com certeza, Senadora Ideli, foi o maior evento já registrado na Cidade de São Paulo. Tenho certeza de que todas as paradas que serão realizadas a partir de agora em todo o Brasil, programadas para dizer sim à aprovação do PLC nº 122, terão muito maior participação das famílias brasileiras que querem um fim para a violência.

            A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Agradeço, Sr. Presidente, à Senadora Fátima e penso que ela deve fazer a comunicação, pois, como relatora, tem muitos elementos a apresentar ao Plenário.

            Quero concluir a minha fala com um trecho de uma música muito bonita do Milton Nascimento - Senadora Serys, não tenho condições de lhe dar o aparte. Senador Arthur Virgílio, que também integra a Frente pela Livre Orientação Sexual, o verso diz o seguinte: “Qualquer maneira de amor vale a pena, qualquer maneira de amor valerá”.

            Esse é um verso que cabe muito bem quando 3,5 milhões de pessoas se reúnem na rua, em praça pública, para dizer que mais vale o amor que qualquer forma de discriminação seja contra quem for.

            Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/06/2007 - Página 19319