Discurso durante a 103ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Manifestação contrária à idéia de se dar ao presidente da República a possibilidade de convocar plebiscitos sem aprovação do Congresso Nacional.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. LEGISLATIVO. SAUDE. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Manifestação contrária à idéia de se dar ao presidente da República a possibilidade de convocar plebiscitos sem aprovação do Congresso Nacional.
Aparteantes
Geraldo Mesquita Júnior.
Publicação
Publicação no DSF de 03/07/2007 - Página 21939
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. LEGISLATIVO. SAUDE. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, VISITA, ORADOR, ESTADO DO ACRE (AC), ATENDIMENTO, CONVITE, GERALDO MESQUITA JUNIOR, SENADOR, PARTICIPAÇÃO, SOLENIDADE, CAPITAL DE ESTADO, LANÇAMENTO, BIBLIOTECA, INCENTIVO, CULTURA.
  • MANIFESTAÇÃO, OPOSIÇÃO, POSSIBILIDADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CONVOCAÇÃO, PLEBISCITO, AUSENCIA, APROVAÇÃO, CONGRESSO NACIONAL.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, IMPRENSA, TENTATIVA, DIFAMAÇÃO, LEGISLATIVO.
  • IMPORTANCIA, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, ADIB JATENE, MEDICO, CARDIOLOGIA, ANALISE, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, EPIDEMIA, AEDES AEGYPTI, PAIS, AUMENTO, NUMERO, MORTE.
  • CRITICA, CONDUTA, GOVERNO, NOMEAÇÃO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), EXERCICIO, CARGO PUBLICO, SUPERIORIDADE, VALOR, SALARIO, CONTRADIÇÃO, INFERIORIDADE, REAJUSTE, FUNCIONARIO PUBLICO.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Papaléo; Senadores e Senadoras do Brasil; brasileiros e brasileiras aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, quarta-feira, à noite, atendi a um compromisso cultural e político a convite do extraordinário Senador Geraldo Mesquita.

Mas, neste Brasil, ô caro Presidente Luiz Inácio, sabemos que há pesquisas por aí em que Vossa Excelência está com um índice superior ao do período em que ganhou as eleições. Aprendi, Senador Papaléo, com Petrônio Portella, a não agredir os fatos, mas aprendi a estudar profundamente as pesquisas. Fui professor de Biologia, de Fisiologia e médico e, como tal, analisamos tudo. Realmente, Vossa Excelência, Presidente Lula, está com um índice de popularidade extraordinário, nem precisava fazer a pesquisa, a eleição mostrou isso. Aqui, não vou questionar o Bolsa-Família, chamado por alguns de “Bolsa-Esmola”, mas, Senador Papaléo, entre dois nordestinos, sou mais o “Rei do Baião”, Luiz Gonzaga, que dizia que “uma esmola a um homem que é são ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”. Luiz Gonzaga, o poeta salmista do Nordeste.

Sr. Presidente, Senador Papaléo, ainda há um outro fato, que ninguém contesta: estamos aqui para um debate qualificado, e cadê o PT? O PT, nós sabemos, levou este País a... Cadê o debate qualificado?

Há uma outra coisa muito interessante para a qual faço uma reflexão. Sei que posso ser uma voz solitária - Rui Barbosa foi voz solitária, defendendo a campanha cívica; Joaquim Nabuco, brasileiras e brasileiros, ó raça negra, foi voz solitária defendendo os escravos, era sozinho -, mas, Papaléo, entendo de Medicina há 40 anos, e acho que a civilização, hoje, tem de ter uma família organizada e planejada, com paternidade e maternidade responsáveis. No entanto, no interior do Nordeste, uma gestante pobre, que não tem nenhum conhecimento, que vive no campo, quando dá à luz, recebe quatro salários mínimos, isto é, R$1.400,00. Os países civilizados têm a família em alta conta. Rui Barbosa dizia que “a Pátria é a família amplificada”. Entendo que essa família tem de ser qualificada, não tem que ter quantidade. Então, esse estímulo está na contramão, Luiz Inácio! Sei disso mais do que Vossa Excelência! Sei que Vossa Excelência é o Presidente, sei que teve muitos votos, mas eu sei disso bem mais do que Vossa Excelência. As famílias interioranas, sem condições de planejar e educar seus filhos, estão proliferando. As mães, Papaléo, antigamente, não procuravam os hospitais para ligar as trompas. Hoje, elas dizem: “com esse menino, eu comprei uma televisão; com este que está na barriga, vou dar uma moto para o meu marido”.

É! Isso acontece há alguns anos! Está aí esse pessoal procriando, sem condições de educar os filhos. Não vejo futuro. É triste, sei. Sou otimista, mas...

Luiz Inácio, este é o debate qualificado, e não há nenhum de vocês. Estão aí todos os aloprados atrás dos DAS. Está saindo agora uma medida provisória...

Papaléo, trouxe a mídia. Como ela ataca os Parlamentares! Há dois artigos nessa mídia toda, o resto é “pau” nos legisladores. E não merecemos tanto assim. Não é assim, não. É o fim.

Que comece o Governo!

Papaléo, comprei uma passagem para Rio Branco, e, sem aviso, fomos levados para Manaus. Está uma zorra! Está uma zorra! Acabei chegando ao Acre, Sr. Presidente, e fiquei encantado. O povo é educado, não há um prédio público ou uma praça destruída ou um muro pichado. Compareci, então, à solenidade promovida pelo Senador Geraldo Mesquita Júnior, que lança livros, em estímulo à cultura. O nosso Senador mantém um centro cultural, com biblioteca e com computadores para a mocidade, e lança livros.

Papaléo, fiquei encantado. Li Amazônia dos Brabos, de Archibaldo Antunes, um autor novo, que até parece fisicamente com V. Exª, que conta a bravura do povo do Acre, mais ou menos como passou no seriado da Globo. O Acre é um Estado diferente. É como o Piauí. Ele foi à guerra para ter aquelas terras. Nós fomos à guerra para colocar os portugueses para fora.

O nosso próprio Senador lançou um livro, que estou lendo, A Política ao Alcance de Todos. Fiquei encantado com o lado cultural do Acre, com a população educada. Não se vê um prédio público pichado. Pelo contrário. Visitei a Assembléia, cujo Presidente é uma figura extraordinária, do PCdoB. Lá existem obras de arte que nunca vi, pintura de madeira em madeira, uma arte toda decorada.

Depois, fui conhecer o Estado da Senadora Fátima Cleide, Rondônia. Como eu estava próximo, fui namorar a Adalgisa lá. Vimos aquelas festas juninas e tudo.

Nem tudo está perdido, não. Os policiais foram lá... Eu não sabia, não tinha nem marcado, porque não era missão oficial, eu queria mesmo era conhecer, eu ia namorar lá. O Senador Expedito Júnior e o Governador nos recepcionaram, e recebi dos policiais civis uma placa de homenagem, por estarmos atentos.

A imagem do político não está como estão dizendo. Com isso tudo, veio gente pedir autógrafo. Um Senador da República, no meio do povo, aplaudido, tirando retrato. Lá, vi a história da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.

É o brasileiro trabalhando. Em Rondônia, há um Brasil inteiro, com gente até do Piauí.

Li os jornais e revistas - viajei quarta-feira à noite e passei quinta-feira, sexta-feira, sábado e domingo -, e é grave o momento, Senador Papaléo, Senador João Pedro.

Dois feitos marcaram a minha vida. Eu estava no Maracanã e vi Geraldo Vandré. Foi uma confusão. Tom Jobim ganhou com Sabiá. O povo quis quebrar. Geraldo disse: "Minha gente, a vida não se resume a festivais. O júri está aqui para julgar, e eu, para cantar. Vamos cantar". Pegou um tamborete e cantou: "Vem, vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer...". Essa música mudou o País.

Senador João Pedro, venha para cá escutar. Acabei de falar em algo extraordinário. Senador Geraldo Mesquita, falo da situação política. Estou dizendo que não é assim, não. O carinho que recebi... E fui espontaneamente ao Estado de Rondônia. Dei autógrafos, tiraram fotografias, recebi aplausos. Quer dizer, não é assim como estão falando. Aqui, há Senadores...

Há outro fato triste. Estava no Rio de Janeiro, no Maracanã, e nunca me esqueci. Era residente de cirurgia - residente, V. Exª sabe, não tem nem aquele radiozinho - e tal, quando vi uma algazarra, uma vibração, aplausos. Eu não tinha um rádio de pilha, mas ali havia o que chamávamos “boca no mundo”: uns alto-falantes para noticiar os gols do Brasil naquele tempo. Senador Geraldo Mesquita Júnior, houve aquela confusão, aquela euforia, gritos. Pensei que Pelé tivesse feito um gol, em São Paulo. Sabem o que era? “Presidente Castelo Branco acaba de fechar o Congresso Nacional.” Houve festa - eu estava lá.

Ó Luiz Inácio atentai bem! Eu sei que o Presidente Chávez fez assim! Eu sei que o Presidente do Equador, mais esperto que ele, fez isso em seis meses. Há também a Nicarágua, a Bolívia...

Vamos embora, Senador João Pedro, para o debate qualificado!

Assim, essa imagem que estão fazendo dos congressistas é perigosa - o Senador João Pedro mostrou bom senso. Vi o que aconteceu naquela época. Hoje, a euforia não ficaria no Maracanã.

E não é verdade que... Estive com os cidadãos simples e comuns, andei em todas as ruas, no mercado público, e houve carinho do povo, respeitando a figura de Senadores. Depois, passei em Rondônia. Minha intenção era somente namorar Adalgisa, mas ganhei até placa, dei autógrafos, tirei retratos.

Então, a figura não é assim, não! Não é como estão querendo mostrar, não! Este Senado Federal tem o seu sentido histórico. O povo tem de parar para pensar. Em Cuba existe, está aí. Eu conheci Cuba, fui ao Congresso. Lá existe Congresso, eleição. E eles discutem: “Aqui, a democracia é melhor”. Lá existe eleição. Eu fui lá. Não há partido; cada um é votado. Agora, por exemplo, o Senador Papaléo Paes tem voto lá e é eleito. Terminada a eleição, ele vai para seu hospital e fica lá. De seis em seis meses, é convocado. São trezentos deputados. Fui ver a ata da eleição do Fidel: trezentos deputados, trezentos votos. O irmão dele: trezentos. E só ficam no Parlamento os três. O resto todo fica trabalhando. E há Congresso.

Hugo Chávez está aí. O mundo vê. O mais esperto deles é o do Equador, porque Chávez está no poder há seis anos. Está até devagar. O do Equador, em seis meses, já fechou, já cassou, ele mesmo, 19 parlamentares. Eles recorreram à Justiça, o juiz expediu uma liminar, e o Presidente mandou prendê-lo. Prendeu oito dos que queriam voltar, e nove fugiram para a Colômbia.

A Bolívia está aí. A Nicarágua está aí. O Brasil ainda está nesta democracia porque aqui é meio complicado. É complicado! Luiz Inácio, nosso Presidente, não tem certeza de que existe o Senado. O resto todo ele já tem, já botou no bolso.

A UNE. Certa vez, quando era médico residente, saí com todos os estudantes, cantando: “Vem, vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer...”. A UNE está comprada. Cadê a UNE? Ganhando dinheiro!

Então, a última resistência, brasileiras e brasileiros, é aqui. Este é um dos melhores Senados em 183 anos.

Em 1972, eu, com Elias Ximenes do Prado, conquistávamos uma Prefeitura, tomando da Arena, o MDB. É muita luta, e há gente de muita luta, mas só estão buscando o lado negativo.

Está aí o Rui Barbosa! Esta Casa é a última resistência democrática deste País. Eu fui representar este Congresso e falei sobre o perigo do Chávez. “Não, mas...” Olha lá! O da Colômbia foi rápido, em seis meses. Também o da Bolívia e o da Nicarágua. E Cuba é que comanda. José Dirceu é discípulo de Cuba.

Olha, que teve um problema, teve! Ninguém vai dizer que não teve. Que nós temos que ter a solução, nós temos, mas não é avacalhando todo mundo, não. É longa e sinuosa a estrada daqui. Eu cheguei aqui estudando e trabalhando; trabalhando e estudando; fazendo o bem sem olhar a quem. Minha cidade e meu Estado sabem. Sou neto do homem que foi o mais rico do Estado do Piauí - teve dois navios, fábricas no Rio de Janeiro e vendeu mais do que o coco carioca; botamos a Dunorte. Quarenta anos como médico, fui Prefeito, Deputado Estadual, Deputado Federal, Governador duas vezes, e meu patrimônio está aí, a minha conta está aberta desde o meu primeiro cheque, que eu coloquei no Banco da Lavoura - nem existe mais, é o Real.

Geraldo Mesquita, figura que mais se assemelha a Rui Barbosa, porque tem fidelidade ao Direito, à justiça, eu sou um médico cirurgião - às vezes dá certo; Juscelino foi um médico cirurgião.

Mas esta Casa é a última resistência.

Eu soube que houve um discurso aqui dizendo que o Presidente devia fazer um plebiscito. Na Câmara, houve mais de um. Estamos atentos aqui. Essa é a nossa missão, a nossa coragem. Como ontem ouvi, na igreja, as palavras do Apóstolo Paulo: “Percorri, preguei, guardei minha fé e combati o bom combate”. Estamos aqui como o Apóstolo Paulo.

Se o Presidente da República fizer um plebiscito... O Hitler fez e ganhou todos. O Hitler sabia a história. Napoleão Bonaparte disse: “eu quero ser rei”, e foi rei. Deram-lhe a coroa, e foi até um Bispo que a colocou na cabeça dele.

Então, um plebiscito agora? Não. Está aí o resultado. É porque tem que passar por aqui.

            Em Cuba não existe? Na Venezuela não existe? Na Colômbia não existe? Na Bolívia não existe? Na Nicarágua não existe? Estamos caminhando no mesmo modelo, nós. Isto aqui não funcionava segunda nem sexta-feira. Eram poucos de nós.

            Estamos aqui!

O Brigadeiro Eduardo Gomes, que combateu a ditadura Vargas, afirmou: “O preço da liberdade democrática é a eterna vigilância”. Daí o nosso papel.

Senador Papaléo, tenho um e-mail ali, porque eu disse que ia ao Estado do Geraldo Mesquita, cobrando-me. Não conheço seu Estado. Tem a palavra Geraldo Mesquita, que quero parabenizar. Acabei de ler o livro. Esse seu escritor é bom. É Archibaldo Antunes, que escreveu o livro Amazônia dos Brabos. V. Exª sabe daquela novela. A gente não tinha tempo para assistir àquela novela toda. Tem conteúdo, tem competência, essa é uma vocação. Acabei de gostar do Galdez, do Prado, que lhe sucedeu, não é?

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - É verdade.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - E há a bravura daquele povo que luta e que trabalha, o seringueiro, que constrói um Brasil puro e decente. Gostei muito do seu Estado. Vi um povo educado, um povo bravo, aquela obra de arte que me lembrou a Itália do Renascimento de Leonardo da Vinci, de Rafael, a marchetaria. É uma arte extraordinária!

Concedo o aparte a esse Senador que faz um serviço educativo e cultural ímpar. Vou tentar imitá-lo no Estado do Piauí.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Boa tarde, Senador Mão Santa e Senador Papaléo, que preside esta sessão. V. Exª estava falando de algo que deve prender a atenção de todos os brasileiros, V. Exª estava falando do Poder Legislativo, que o povo brasileiro, durante muito tempo, na sua existência, lutou para manter altaneiro, digno do próprio povo, e que, hoje, sofre, por parte da mídia, Senador Mão Santa - não identifiquei ainda quais são os propósitos, mas eles não são saudáveis -, uma campanha sistemática de descrédito, de desmoralização. Como V. Exª bem o disse, há fatos aqui desabonadores ao longo da existência do Poder Legislativo. Isso é verdade, mas o Poder Legislativo é algo de fundamental importância, não para mim, não para V. Exª, não para o Senador Papaléo, mas para o povo brasileiro. Temo o raciocínio da exclusão do Poder Legislativo no cenário democrático brasileiro. É algo muito sombrio. Portanto, perfilo-me, junto-me ao povo brasileiro nesta reflexão: o que está acontecendo? Será que é essa extensão toda? Será que o Poder Legislativo, de fato, é a Geni? Este Poder deve sumir do mapa? Penso que o povo brasileiro precisa ter a autonomia para refletir sobre isso, dissociado dessa enxurrada de críticas que se abateu, nos últimos tempos, sobre o Poder Legislativo, e pensar sobre o que o povo brasileiro quer de fato, porque isto aqui pertence a ele - não pertence a mim nem a V. Exª. Mas creio que esse é um assunto que vai prender ainda a atenção de todos nós e do povo brasileiro durante muito tempo. Eu queria aproveitar esta oportunidade para agradecer, de público, a V. Exª a presença em meu Estado nesse último fim de semana. Fiz um convite a V. Exª para que comparecesse a um singelo evento que promovemos na Capital do nosso Estado, Rio Branco: o lançamento de uma nova série de publicações editadas pelo nosso gabinete, com a contribuição expressiva da Gráfica do Senado, chamada Biblioteca Popular. V. Exª, como disse há pouco, já leu o primeiro volume da coleção, um romance escrito pelo jornalista Archibaldo Antunes, do nosso Estado, que retrata a saga do nordestino indo para o Acre, para a Amazônia, cortar seringa. Retrata todo aquele drama, toda aquela epopéia que se desenvolveu durante quase um século em nossa região. V. Exª compareceu ao evento. Aqui, faço um registro: a visita de V. Exª me sensibilizou, porque é muito difícil, Senador Mão Santa, a gente se desviar da agenda do nosso próprio Estado. Quantas vezes já não fui convidado - por V. Exª, inclusive, para ir ao seu Estado - para ir a outros locais do País participar de eventos promovidos pelos colegas Senadores? E nos vemos privados disso, porque nossa agenda no Estado é muito pesada nos fins de semana. E V. Exª, com enorme generosidade, dispôs-se a ir ao nosso Estado. O povo acreano gosta muito de V. Exª - isso é verdade -, um dos Parlamentares mais lembrados por onde ando. V. Exª compareceu, fez-se presente, foi à Assembléia Legislativa, o Poder Legislativo do nosso Estado, fez uma visita, foi muito bem-recebido, andou pelas ruas da cidade. V. Exª e eu andamos por lá, sem a preocupação com o fato de que pessoas do nosso País nos tentam apontar como vilões. Não somos vilões; somos pessoas decentes, pessoas de bem, e estamos trabalhando em prol do nosso País. As andanças que fizemos mostram exatamente isto: o respeito que a população tem por todos nós. Portanto, eu queria, aqui, Senador Mão Santa, em meu nome, em nome da minha equipe de trabalho, em nome de dezenas e centenas de acreanos que privaram da sua companhia no nosso Estado, na nossa Capital, dizer o nosso muito obrigado pela presença de V. Exª em nosso Estado, abrilhantando aquela pequena solenidade, aquele pequeno evento, que, para mim, é de grande importância. Portanto, nossos agradecimentos a V. Exª e à D. Adalgisa, que, em sua companhia, também se fez presente, conhecendo nossa terra e permitindo que o povo acreano, ou parcela dele, conhecesse V. Exª pessoalmente. Meu muito obrigado!

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradecemos àquele povo, que nos deixou encantados com sua civilidade, com sua educação. Eu estava perto e falei a Odacir Soares que gostaria de conhecer Rondônia. O Senador Júnior, o Governador e o povo têm grande sensibilidade e me outorgaram aquela placa em Rondônia - isso não estava previsto, pois eu ia mesmo era conhecer o Estado -, como amigo que sou da Polícia Civil, do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil do Estado, como defensor dessas idéias pelas quais lutamos aqui, Odacir Soares. Encantado com aquele povo da Amazônia, recebi essa placa de Cícero Evangelista Moreira, o Presidente.

Senador Papaléo, é um povo que trabalha e que nos faz acreditar no Brasil, no respeito aos políticos. Senti que nossa imagem não é essa que a imprensa está mostrando, tanto em um Estado como em outro. Odacir, sem merecer, fui convidado a dar autógrafos e a tirar retratos. Essa é a nossa imagem; não é o que estão querendo passar. Errare humanum est! Se há erro - isso é humano -, vamos corrigi-lo.

Senador Geraldo Mesquita e Senador Papaléo, a mídia massacra o Poder Legislativo. Qual o motivo desse massacre? O Poder Judiciário tem as cadeias para amedrontar! Falem! Existem as cadeias! O nosso Luiz Inácio tem a chave do cofre, tem o dinheiro! Quem vai falar do Executivo? Aqui, não temos isso, mas somos a salvaguarda dessas liberdades. Se este País ainda está assim, é porque eles temem a voz do povo e de Deus se manifestarem no Senado.

Eu já soube de discursos aqui - não ouvi, pois não estava presente - defendendo que o Presidente tenha o direito de fazer plebiscito. Se o Lula o fizer nessas circunstâncias, será rei e poderá até ter um lugar em qualquer igreja e ir para o altar. Mas isso tem de passar por aqui, e, aqui, muitos têm como exemplo Rui Barbosa. Só há um caminho e uma salvação: a lei e a justiça. E nosso compromisso é com o povo brasileiro. Somos o povo, somos o resultado do povo. Sei que o Presidente Luiz Inácio tem aqueles... Mas, se somarmos os nossos, não teremos menos do que ele. Somos a Pátria.

Eu queria dizer que, da mídia toda, nem tudo está perdido. Dois artigos eu saliento. Papaléo, houve aquele seu esforço tremendo como extraordinário Presidente da Subcomissão de Saúde, de que fiz parte na Legislatura passada. Há um artigo de Adib Jatene: “Dengue, uma oportunidade perdida”. E eu disse, no Acre, do respeito que eu tinha por aquele Estado, o que aprendi de Sófocles, o primeiro ambientalista, que disse que muitas são as maravilhas da natureza, mas a mais maravilhosa é o homem. E falo da admiração que tenho por Adib Jatene, o maior médico vivo deste País. Deus me deu o privilégio de ajudar cirurgias no nascer da cirurgia cardiovascular do Brasil. Depois, quando governei o Piauí, ele, com sensibilidade, ajudou-nos a construir um pronto-socorro. Então, está aqui, Papaléo! Quantas vezes adverti sobre o dengue? Ele não é escritor, mas ele se debruçou sobre o assunto e fez um artigo completo, que não vai dar tempo de ler. Adib Jatene, 78 anos, cardiologista, professor emérito da Faculdade de Medicina, Diretor-Geral do Hospital do Coração, foi Ministro da Saúde do Governo Fernando Collor e do Governo Fernando Henrique Cardoso, Secretário de Saúde do Estado de São Paulo, o melhor cirurgião cardiovascular. Faltou ele dizer apenas o melhor título que ele tem: filho do Acre. Ele é um brabo da Amazônia.

Ô Papaléo, V. Exª está fazendo um trabalho extraordinário e está preocupado. O mosquitinho do dengue acabou em 1950. Oswaldo Cruz venceu o mesmo mosquitinho, que transmitia a febre amarela, e nosso Ministro está apanhando - e feio. Em Mato Grosso do Sul, há uma epidemia; no Piauí, estamos para ganhar a medalha de ouro. E ele mostra a gravidade do dengue hemorrágico, o índice de morte, a preocupação, e dá a saída: a CPMF, a Medida Provisória nº 29. Então, Papaléo, faça uma reflexão e convide Adib Jatene, o maior nome da Medicina do Brasil, para orientar esse Governo a vencer o dengue.

Fico até estranhando. Falei de Fidel Castro, mas o dengue lá acabou. E, na Colômbia, Papaléo, também apareceu o dengue por lá e acabou. Fico a meditar: será que é porque eles fumam maconha? Então, vamos fumar, porque lá acabou o dengue, e, aqui, essa doença não acaba.

Ô Papaléo, medite! Ô João Pedro, morreram cinco no último fim de semana em Teresina. O dengue hemorrágico matava em 4% a 4,5% dos casos e, agora, em 13,5%. Ou o vírus ficou mais potente, ou o hospedeiro ficou mais débil. O Papaléo começou a chamar a atenção para isso. Parabéns!

Há outro artigo a que gostaria de me referir e que tenho debatido muito aqui, Luiz Inácio. Ô Luiz Inácio, votei em V. Exª em 1994.

João Pedro, nosso dinheiro não é capim. Ô cabra macho é este aqui: Ubiratan Iorio, economista. É interessante o que eu disse. Pergunto, João Pedro, se o Luiz Inácio não teme a Deus. Sei que ele está forte, poderoso. Nunca houve um tão forte, e não vou agredir os fatos. Mas ele não é temente a Deus, não?

Ô Geraldo Mesquita, V. Exª, que é homem de cultura, deve-se lembrar de Cervantes, de Dom Quixote de La Mancha. Dizem que é o livro mais lido depois da Bíblia. Dom Quixote de La Mancha, sonhador pela justiça, pelo dever do fraco, no fim, vira-se para Sancho Pança e diz: “Companheiro velho, vou premiá-lo. Vou dar-lhe uma ilha para governar, a ilha Bravatária”. Aí o caboclo velho, o Sancho Pança, diz: “Não posso, sou analfabeto”. E Dom Quixote disse: “Você vai ser governador de Bravatária. Eu quero, eu lhe dou. A ilha é minha. Você vai governar. Você é temente a Deus”. Isso é uma sabedoria. Ensinou Sancho Pança a governar. Digo isso em homenagem ao Centro de Cultura que V. Exª fundou. Ele ensinou: “Arruma uma mulher decente para casar, seja honesto, não tenha preguiça, não beba muito, seja asseado, seja justo”. Ser justo é mais difícil. E disse mais: “Esqueci-me de lhe ensinar uma coisa: só não há jeito para a morte”. Ó Senado, aprenda: só não há jeito para a morte! Vamos sair desse rolo que esta aí! Então, vai-se embora e deixa ali Sancho Pança. E sabe que ele foi um bom Presidente, Luiz Inácio? Sancho Pança foi justo, humano, temente a Deus. Mas bate a saudade, e Dom Quixote volta, Papaléo. Aí ele diz assim: “E aí, Sancho Pança, como é esse negócio de governo?”. Ele responde: “É um golfo de confusão”.

Estamos vivendo esse golfo de confusão. Mas se lembrem de que ele disse que só não há jeito para a morte. Temos de dar um jeito nisso.

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Mesquita Júnior. PMDB - AC) - Senador Mão Santa, eu lhe concederei mais um minuto, para que V. Exª encerre seu pronunciamento.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - É o suficiente. Sr. Presidente, pensei que V. Exª fosse me convidar para voltar ao Acre. Não era isso, mas está certo.

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Mesquita Júnior. PMDB - AC) - V. Exª é sempre bem-vindo.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Nosso dinheiro não é capim. E ele diz o seguinte: “Um avestruz pesa de 90 quilos a 150 quilos”. Lá deve haver avestruz; no Piauí, não há. Uma galinha não dá quilo e meio - pesa mais ou menos 1,3 quilo. Aí ele diz que avestruz come muito capim, e a galinha, pouco. Esse governo está um avestruz gigante. Eles contam as nomeações, citam o número exato que o Presidente Lula tem aqui. Eu dizia 24 mil, mas eles dão o número exato: 22.228, fora os que vêm. Bush nomeia 4,5 mil, e Lula nomeou 22.228. E está chegando a Sealopra. Cargo? Há cargo lá? Aí é que digo que ele não é temente a Deus.

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Mesquita Júnior. PMDB - AC) - Senador Mão Santa, peço-lhe que encerre seu discurso.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Vi cargos serem criados aqui por medida provisória! Brasileiras e brasileiros, meus generais deste Brasil, coronéis, médicos, engenheiros e professoras, há gente que vai ganhar R$10.488,00 por mês sem fazer concurso. É a porta larga - a que Cristo se referiu - da safadeza e da sem-vergonhice. São R$10.488,00! Sou médico aposentado, tenho quarenta anos como cirurgião. Nem olho para o contracheque, que dá úlcera. Mando a Adalgisinha recebê-lo. É pouquinho!

És tementes a Deus? Dom Quixote disse que Sancho Pança o era. Não sei se Lula o é, estou em dúvida, porque, ao mesmo tempo em que deu aumento de 139% para esses aloprados que aí estão, deu apenas 3% para os funcionários. Isso é que pergunto. Meu amigo, Luiz Inácio, meu Presidente, Deus está vendo, é injustiça: foram 139% de aumento para esses aloprados nomeados pela porta larga e 3% para quem trabalha, para o funcionário. Isso não é justiça. Rui Barbosa disse: “Só há um caminho para a salvação, a lei e a justiça”. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça! Isso não é justiça! Então, está aqui o quadro.

E o artigo traz o seguinte: “Nosso dinheiro não é capim. Aumentando a máquina”. E quem paga é o povo!

Dou um conselho a todos nós: aqui, não somos um Poder, somos um instrumento da democracia para fazer leis, para falar pelo povo. O Executivo não é Poder, é instrumento do povo para trabalhar. O Judiciário também é um instrumento. O poder é do povo, que paga as contas e está sendo injustiçado. Ó Deus, salve o povo brasileiro!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/07/2007 - Página 21939