Discurso durante a 108ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre matéria do Blog do Noblat, intitulada "Misericórdia para a Santa Casa do Rio de Janeiro". Manifestação em defesa das Santas Casas em todo o país.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE.:
  • Considerações sobre matéria do Blog do Noblat, intitulada "Misericórdia para a Santa Casa do Rio de Janeiro". Manifestação em defesa das Santas Casas em todo o país.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 10/07/2007 - Página 22834
Assunto
Outros > SAUDE.
Indexação
  • COMENTARIO, PESQUISA, OPINIÃO PUBLICA, APROVAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, SIMULTANEIDADE, FRUSTRAÇÃO, PROBLEMA, VIOLENCIA.
  • DENUNCIA, GRAVIDADE, CORRUPÇÃO, PRECARIEDADE, SAUDE PUBLICA, ESPECIFICAÇÃO, SITUAÇÃO, SANTA CASA DE MISERICORDIA.
  • NECESSIDADE, ERRADICAÇÃO, AEDES AEGYPTI, SOLUÇÃO, EPIDEMIA, DOENÇA TRANSMISSIVEL, CONCLAMAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, AGILIZAÇÃO, PROVIDENCIA.
  • ANALISE, HISTORIA, SANTA CASA DE MISERICORDIA, RECEBIMENTO, DOAÇÃO, DIFERENÇA, ANTERIORIDADE, PERIODO, INFERIORIDADE, CARGA, IMPOSTOS, POPULAÇÃO, APREENSÃO, FALENCIA, SAUDE, ATUALIDADE, PERDA, ATENDIMENTO, POPULAÇÃO CARENTE.
  • LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, INTERNET, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, PROXIMIDADE, PARALISAÇÃO, SANTA CASA DE MISERICORDIA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Papaléo Paes, que preside esta sessão de 9 de julho, segunda-feira. Atentai bem, Professor Cristovam, em 183 anos, nunca tinha havido sessão aqui às segundas-feiras e sextas-feiras; fomos nós que avançamos. Este é o melhor Senado da República em 183 anos. É necessário lembrar, ó Papaléo, que o grupo de Cristo tinha só 13, e ali deu um rolo doido. Aqui são 81.

            Srªs e Srs. Senadores presentes na Casa, brasileiros e brasileiras aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, quis Deus que Papaléo Paes presidisse esta reunião. Papaléo Paes é médico, cardiologista, formado em Belém, e com muita coragem foi lá desbravar o Amapá. Ele e sua esposa dedicam-se à medicina.

            Senador Papaléo Paes, lá no Amapá não tem Santa Casa, mas em Belém tem.

            Professor Cristovam Buarque, venho advertindo o Presidente Luiz Inácio. Realmente, as pesquisam indicam que ele está com muita popularidade. Mas essa popularidade é movediça, ô Presidente Luiz Inácio.

            Existem os fundamentos de uma sociedade e, sem dúvida nenhuma, o mais importante é a segurança. E a segurança não existe quando há violência. E essa mesma pesquisa, Presidente Luiz Inácio, diz que nunca antes houve tanta violência neste País.

            Professor Cristovam, V. Exª que é um sábio, atentai bem: o grave da pesquisa - eu estudei a pesquisa - é que o povo brasileiro disse que não tem mais esperança de que a violência diminua. Aí é que eu entendo... Peço ao Professor Cristovam que preste atenção, porque eu mudo. Petrônio Portella ensinou-me: “Só não muda quem abdica do direito de pensar. René Descartes já havia dito: penso, logo existo. Mas, se o povo diz na pesquisa que não tem mais esperança, Luiz Inácio, está morto. Gosto muito de ouvir o povo, os provérbios. Até na Bíblia tem os provérbios. O povo diz: a esperança é a última que morre. O apóstolo Paulo, em homenagem a Cristo: fé, esperança e caridade. Caridade, não vou dizer que o Governo não tem. Tem, Luiz Inácio. Caridade tem, no seu programa, que o Cristovam Buarque fez nascer: o Bolsa Escola, que se deturpou para “Bolsa Esmola”. Mas é caridade, não vou contestar. É bonito fazer uma caridade. Mas, o apóstolo disse: fé, esperança e caridade.

            Cristovam, o essencial é invisível aos olhos. Veja o número: Lula, sessenta e tanto. Aumentou, depois das eleições, com a mídia. O essencial é invisível aos olhos. Vê bem quem vê coração. E vi esse dado: violência. Pior, o povo brasileiro não tem esperança de a violência acabar. Na sexta-feira, li aqui, um Orkut, comovente, Papaléo: uma advogada, 25 anos, e enfermeira, saiu de uma festinha, foi pegar o carro e saiu dirigindo. Estava havendo um assalto na casa da vizinha, mandaram ela parar e ela não parou; encheram de bala. Teresina, cidade cristã há pouco tempo, Cristovam. Eu fazia tudo - V. Exª foi governador - para o fim de semana passar na praia do Piauí, numa casa no Coqueiro que tenho. Por quê? Para manter a forma física, para não ficar só na atividade sedentária do gabinete. Nessa praia, eu andava da minha casa no Coqueiro para a praia popular, cerca de 10 km. Fazia tudo para domingo de madrugada chegar lá. Eu ia me aproximando do norte, trabalhando, e de madrugada estava lá. Por quê? Porque o governador tem aquele aparato, ajudante de ordens, segurança, e andar com homem não é bom não. Então, na praia, eu andava todo o domingo. Quando acordava, a Adalgisa nos acompanhava; caso contrário, eu saía sozinho. Ô Cristovam, fiz isso durante todo o período em que governei - seis anos e dez meses. Muitas vezes perguntavam se eu era o governador mesmo, porque estava chegando à praia popular. Quando não podia fazer isso, Professor Cristovam, eu saía à noite do Palácio, aproximadamente às 11 horas da noite, porque Teresina é muito quente. Então, quando eu não podia fazer o cooper lá no meu litoral, durante a semana, Papaléo, eu chamava só o ajudante de ordens e um amigo para bater papo e andava dez a doze quilômetros. E o povo passava e gritava: “Governador!” As meninas: “Titio!” Outro dia. Estou falando e toda Teresina está ouvindo. Quando não dava para eu fazer meu cooper no domingo, eu saía às 11 horas da noite, acompanhado por um amigo, o Carlos Augusto, a quem chamo até de paparazzi. E cerveja é um negócio importante. Não sei por que o Ministro da Saúde se preocupa, porque é interessante. Esse rapaz toma uma cerveja doida, Papaléo, e eu nunca consegui nem um ajudante de ordem para chegar na frente. Ele fazia questão. Aquilo é altamente energético! É só ver o Carnaval. E, só relembrando, fazíamos isso à noite. Um dia, sabem o que fiz? Eu disse: agarrem esse Carlos Augusto para eu poder chegar uma vez na frente. Mas isso é só para dizer que se andava, outro dia.

            E isso tudo foi o PT. O mal da corrupção está nas pesquisas. Corrupção, Luiz Inácio! V. Exª está ganhando e não vou alterar os números, sessenta e tanto. Aumentou do que ele teve. Mas também diz a pesquisa, Senador Papaléo Paes, que nunca se viu tanta corrupção. É uma pesquisa! Então, Luiz Inácio, V. Exª está tendo uma advertência.

            Professor Cristovam Buarque, existe uma frase do General Obregón, no México, que se pode ler ao entrar no Palácio: “Eu prefiro um adversário que me leve à verdade a um aliado puxa-saco, falso”. É isso que estão dizendo, Luiz Inácio. A situação está ruim: um mar de corrupção; violência, e o povo sem esperança. E ainda não vou chegar à educação, Senador Cristovam Buarque. Vou deixá-la para V. Exª. Mas que a segurança é importante é.

            Teresina é uma cidade... Mercês, um bairro, professora... Professora, não; advogada, 25 anos. Hoje existe, nesses computadores, o Orkut, não é, Papaléo? V. Exª é atualizado. E eu li o dela. A coisa mais linda, Cristovam, a poesia dela. O sonho, a amizade, a felicidade. Fiquei arrepiado.

            E hoje de manhã, cheguei ao meu escritório político, tiraram computador, tiraram tudo. Este é o país. E sou Senador. Tiraram tudo, agora, neste fim de semana. Assalto a tudo. Quer dizer, essa é a violência e a razão por que o povo diz que não tem mais esperança.

            Senador Papaléo Paes, V. Exª sonhou com a saúde, gastou os melhores anos de sua mocidade, de sua juventude, debruçando-se para melhorar a saúde, e eu também. Tenho 40 anos de médico.

            Luiz Inácio, a saúde está pior do que a violência. Nunca dantes a saúde esteve tão ruim neste País. A mídia está boa, o Governo paga pouco.

            Professor Cristovam Buarque, atentai bem! Em 1582 fundou-se, Senador Papaléo Paes, a primeira Santa Casa do Brasil, no Rio de Janeiro. Acesse o Blog do Noblat, que é hoje o mais famoso do Brasil. Está lá: Misericórdia para a Santa Casa do Rio de Janeiro.

            Senador Cristovam Buarque, V. Exª foi Governador, eu também. O Senador Papaléo Paes foi Prefeito como eu. A gente ganhou muita comenda, muita medalha. Ganhei quando a Santa Casa da minha cidade fez 100 anos, em Parnaíba, Piauí. Papaléo, quando ando com minha pasta, ela está lá, orgulhosa. Tenho, como todos nós, muitas comendas, muitos títulos. Mas essa eu ganhei porque ajudei 30 anos em uma Santa Casa.

            Conheço a Santa Casa do Rio de Janeiro. Fiz uma pós-graduação no Hospital do Servidor do Estado, com o professor Mariano de Andrade, que tinha uma enfermaria lá. Ivo Pitanguy, toda sexta-feira - e é por isso que, com 80 anos, ele continua bonito, simpático -, operava de graça na Santa Casa. Sei o que é isso; e sei como ela funciona.

            Quero alertar o nosso Ministro da Saúde, que é um rapaz novo. Ele é todo bonitinho, parece um artista da Globo. E fica falando da Zeca-feira, da quarta-feira... A dengue está aí. É o mosquitinho que Oswaldo Cruz venceu. Oswaldo Cruz venceu o mesmo mosquitinho. Por isso estamos dizendo o nome dele. O mosquito causava apenas febre amarela, mas agora, o mesmo mosquitinho causa a dengue. Alastrou-se. Está morrendo muita gente. Olhe a gravidade, Papaléo: a dengue hemorrágica matava 4,5% dos infectados, agora mata 13,5%. Ou o agente epidemiológico ficou mais virulento ou os hospedeiros estão mais fracos.

            A doença está atacando mais as crianças. Ela está aí, arrasando o Piauí, o Mato Grosso do Sul, o Rio de Janeiro, o Pará e não sei se também o Amapá, embora em 1950 não houvesse mais dengue. Precisamos combater duas pragas: a dengue e o PT. Professor Cristovam, não sei com qual delas devemos acabar primeiro. Porque esta é a verdade: a dengue não existia mais.

            E as santas casas estão acabando. É o que diz o blog mais disputado, mais visitado. As santas casas começaram em 1582. Veio D. João VI, passou D. Pedro I, D. Pedro II e sua mulher, Isabel, os presidentes militares, dezoito anos de governo Vargas e as santas casas viveram. Eu conheço. E a Santa Casa do Rio está fechando. A da minha cidade. E eu sei. Eu quero ensinar.

            Ralph Waldo Emerson, filósofo americano, diz o seguinte, Professor Cristovam... V. Exª vê que eu nem falei sobre educação, nem discuto o que o Professor Cristovam diz. Então, vou votar com ele. Aprendi com esse filósofo o seguinte: toda pessoa que vejo, Papaléo, é superior a mim em determinado assunto. E procuro aprender. Então, quero dizer que sou superior, nesse assunto, ao Luiz Inácio - ele tem mais votos do que eu - e também ao Secretário de Saúde porque tenho 40 anos de médico em Santa Casa.

            Primeiro conselho que dou a ele. Ele parece um galã de televisão, simpático, agradável. Na novela, ele fica aí, parece bem, é uma figura. Acho que, faltando qualquer um, pode trocar, que ele dá um bom artista de televisão. Mas ele devia buscar logo um conselheiro: Adib Jatene, do Acre, da sua Amazônia.

            E eu quero dizer que sei de Santa Casa porque na minha cidade tem. E essa Santa Casa, antes de chegar o SUS, como se manteve? Mantinha-se por doações. Por que falo assim? Quero ensinar aos Ministros. Porque meu avô já dera o primeiro aparelho de raios X da Santa Casa, que um tio meu, Prefeito, cuidou. Meu pai, Joaz Rabelo de Souza, era tesoureiro da Santa Casa. Senador Cristovam Buarque, como funcionava antigamente? Naquele tempo... Sou do tempo em que almoçávamos ao meio-dia. O pai, a mãe e os irmãos, todos estavam à mesa ao meio-dia. Nessa hora, na rua Getúlio Vargas, alguém chamava meu pai. Ele interrompia o almoço e voltava dizendo que alguém fora dar dinheiro para a Santa Casa. As pessoas iam dar dinheiro para a Santa Casa, Cristóvam. Era assim.

            Temporão, era assim: doação. Mas havia pouco imposto. O povo de outrora, da época do meu pai, não era melhor do que eu não, Papaléo. Havia pouco imposto; hoje são 76 impostos. Eu já contei. Um dia eu fiz um discurso. O trabalhador brasileiro, a brasileira e o brasileiro, trabalha cinco meses do ano para pagar impostos e um mês para pagar juros de banco, CPMF.

            Essas Santas Casas viveram assim. Mais ainda, Temporão. Não sou mão santa, mas sou filho de mãe santa. Essa simpatia que o Pedro Simon tem por mim é porque minha mãe era terceira franciscana, como ele. Foi autora do livro A Vida, um Hino de Amor. Seu pai era um homem muito rico. Tinha dois navios. Pegou uma indústria, botou no rio e venceu.

            Então, eu me lembro que ela escreveu uma carta para Emília Corrêa Lima, Miss Brasil. Nunca me esqueço da Emília Correa Lima, Miss Brasil, belíssima. Minha mãe arrumou doação para pagar a passagem de avião, para ela desfilar no cassino e arrecadar dinheiro para a Santa Casa. Vejam o que é o destino: ela largou seu noivo e passou a namorar um Major chamado Wilson que estava na minha cidade. Eu era menino e vivia passando na frente da casa dela, Senador Papaléo, para vê-la, bonita, aguando as plantas. É o destino: a Miss foi fazer uma caridade e ganhou uma família. Eu passei muito na frente do jardim, porque, pela manhã, ela aguava as plantas de sua casa.

            Eram feitas quermesses, vendiam-se bois, fazíamos bingos. E havia pessoas que arrematavam o garrote e o devolviam para o meu pai, que era o tesoureiro da Santa Casa, vender.

            Mas o mundo mudou. Esses hospitais viviam à custa do SUS. Eu operava na Santa Casa. Levava os meus doentes particulares. Fui médico famoso, tinha uma clínica extraordinária. Eu me lembro quando a freira chegava, Senador Papaléo, e dizia: “Mão Santa, são cinco”. Eram pobres, coitados, indigentes. Daí veio meu apelido de Mão Santa. Eu dizia que iria atendê-los. Não iria ganhar dinheiro, mas ganharia experiência, e ganhei muito voto, tanto que estou aqui. Essa é a verdade!

            As Santas Casas passaram a viver de médicos como eu, que abdicaram de ter clínicas privadas, dedicando-se a elas. Com a administração, eram operados os pobres e indigentes que não tinham recursos. Mas o que entrava da Previdência dava para manter e ajudar os pobres. Pintaguy está fazendo isso. Mas acontece que agora uma consulta é R$2,50, uma anestesia é R$9,00, uma diária da Santa Casa paga pelo SUS é mais barata do que dormir debaixo da ponte, porque é preciso solicitar vaga. Então, decaiu tudo. As Santas Casas estão indo à falência. Está aqui Misericórdia para a Santa Casa, do Blog do Noblat, que vou ler.

            Ele se refere à do Rio de Janeiro, mas isso acontece com todas as Santas Casas. Ó Luiz Inácio, essa é a verdade. E como se gasta dinheiro! Se dá dinheiro para os companheiros da Bolívia - outro dia nós assinamos -, se dá dinheiro para o Chávez, se dá dinheiro, que sai aí, dê um pouquinho para essas Santas Casas, que fizeram tanto bem e são padrão.

            O que diz Noblat?

           Misericórdia para a Santa Casa

           A Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro fui fundada por ninguém menos que o Padre Anchieta! O Beato José de Anchieta, que breve será canonizado, grande figura humana, padre que se dedicou com zelo e amor aos desvalidos e aos índios que aqui encontrou, fundador da cidade de São Paulo. Natural das Ilhas Canárias, esse padre jesuíta a quem o Brasil tanto deve, iria criar, em 1582, a Santa Casa, fazendo levantar choças, arrumando galhos no chão, produzindo remédios tirados da nossa flora. 

           Inspirando-se na Santa Casa de Lisboa, ele montou um hospital para tratar os vitimados pela “peste”, que sofriam nas naus de uma esquadra que aportou na baía de Guanabara, em 25 de março de 1582. Anchieta, homem piedoso, generoso, verdadeiro apóstolo, convidou-os a descerem à terra, abrigou-os, e ele mesmo os tratou e recuperou com recursos locais - infusões de ervas, frutas cítricas, raízes e outras plantas trazidas pelos índios. Assim nasceu a Santa Casa de Misericórdia, o mais expressivo monumento à grandeza desse homem.

           O hospital teve sempre papel importantíssimo na vida da cidade do Rio de Janeiro. Durante os séculos seguintes, foi abrigo para todo tipo de doença e recebeu dos governos que se sucederam, assim como de particulares, generosas doações, o que possibilitou tornar-se um centro de atendimento aos pobres e, igualmente importante, um centro de estudos e pesquisas médicas.

           D. João VI fez dela a primeira instituição de ensino médico no País. Em 1829, nela foi criada a Academia Nacional de Medicina. Por mais de cem anos, a partir de 1869, ali funcionou a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Foi também ali que funcionou o primeiro consultório homeopático. Em sua farmácia, fabricaram-se, durante centenas de anos, muitos dos remédios que salvaram vidas brasileiras. Também foi, durante muitos anos, o Hospital Escola da UERJ.

            V. Exª fez estágio no Rio, Senador Papaléo Paes, conhece a Santa Casa do Rio de Janeiro.

            Continuo a leitura.

            dezenas de enfermarias, institutos e ambulatórios em quase todas as especialidades médicas, o Hospital é um centro de referência para a população da Com cidade. Suas enfermarias foram chefiadas por nomes importantíssimos da medicina brasileira, como Fernando Paulino, Paulo Niemeyer, Ivo Pitanguy, Sylvio Fraga, Jorge de Rezende.

            Meu professor Mariano de Andrade também chefiou a enfermaria.

            A enfermagem foi entregue às devotadas Irmãs de São Vicente de Paula.

            Infelizmente, hoje a situação da Santa Casa está aquém de sua história, enfrentando vários problemas financeiros, muitas vezes agravados devido à crise da saúde pública da cidade do Rio de Janeiro, o que vem ampliar o desespero e o abandono de nossa população mais humilde. Não se pode culpa apenas o Estado. A administração desse tesouro deixa a desejar, para dizer o mínimo. Está em vias de ser desativado esse hospital essencial para uma cidade tão carente de bons hospitais públicos.

            A Santa Casa também administra agências de serviços funerários e dois dos mais importantes cemitérios do Rio(...).

            Além de tudo isso, precisamos levar em conta que a Santa Casa da Misericórdia é um monumento nacional. O prédio histórico, que abriga o Museu da Farmácia e também a belíssima Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia, uma das mais belas igrejas do Rio de Janeiro, é tombado e não merece ser abandonado. Será possível que o Brasil vai se dedicar a ser sempre o país do futuro, sem dar importância ao seu passado? Assim, será sempre o país do nada.

            Isso acontece com todas as Santas Casas, com todos os hospitais filantrópicos. E aí está o Governo. O Presidente Luiz Inácio voa nos altos números das pesquisas, voa no seu Aerolula, esquecendo o drama do povo. E o povo? O povo está sofrendo pela corrupção, pela violência e pela falta de saúde.

            Agora, também ouçamos o homem que é o símbolo da Educação neste País e no Senado Federal: Professor e Senador Cristovam Buarque.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Mão Santa, quero chamar a atenção de todos que estão nos escutando para este dado que V. Exª apresentou aqui: por uma consulta, o médico recebe R$2,50...

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Hoje, em Teresina, um engraxate me cobrou R$5,00 e eu lhe paguei R$ 10,00, para ajudar o “bichinho”.

            Essa consulta é anestesia. Hoje, na tabela do SUS, são R$9,00. Isso é ilusão. Estão enganando o povo do Brasil. Ó, Lula!

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Para ganhar um salário mínimo, então, um médico deveria fazer 160 consultas no mês. Isso significa que, trabalhando vinte dias em um mês, se ele atender oito consultas por dia, ganhará somente um salário mínimo. Se um médico viver apenas do serviço público, trabalhando oito horas, dando uma hora por consulta... V. Exªs são médicos, mas eu acho que uma consulta de uma hora, na média, está boa, embora haja consulta com mais de uma hora e consulta com menos de uma hora...

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Tem consulta que leva uma semana e, ainda assim, não se descobre o problema!

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - É verdade. No entanto, desse modo, ele ganha apenas um salário mínimo. Isso mostra que tem alguma coisa errada, até porque, no Brasil, o salário mínimo é baixo! Se o salário mínimo daqui fosse alto...Agora, tem algo pior ainda, Senador Mão Santa e Senador Papaléo Paes: quando comparamos isso com...

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - V. Exª entende como estão as santas casas?

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Claro.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Então, eu não estou aqui porque eu não sou bom, não. As tabelas! Ó, Temporão, acaba com esse negócio de cerveja, não sei o quê! A renda era boa, eu eduquei minha família, eu fui feliz com Adalgisa. Eram boas as tabelas, que me possibilitavam ganhar o suficiente e operar a desgraça, os pobres que eram acudidos na Santa Casa. Como é que vão operar de graça - como esse Pitanguy, que fez muito e não fez mais do que eu, não; fiz muito -, se eles não estão ganhando nem para subsistir com essa tabela?

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Voltando, então, Senador. Isso é uma tragédia em si. Agora, o grave, que, às vezes, não percebemos, é que os salários, em outras categorias, são altos, e nossos médicos estão indo embora, mudando de profissão, em busca de rendas maiores que são pagas em outros setores. Além disso, como fica a cabeça de um médico desse, quando abre o jornal e vê a quantidade de roubo, corrupção, desperdício? Como fica quando ele vê que outros, sem trabalhar, ganham milhões? Todos os dias, falam em milhões nos jornais, na televisão, na rádio - milhões e milhões, como se fosse pouco dinheiro! Então, é um País, que, além de pagar uma miséria, um salário mínimo ao médico, pois paga ao médico um salário mínimo igual a esse que os pobres brasileiros ganham, é um Brasil onde, fora da área médica, esses mesmos médicos são candidatos em concursos públicos para outros setores, ou vão trabalhar no setor privado, com condições de ganhar muito mais. Isso, para mim, Senador Mão Santa, é a pior de todas as corrupções. Estamos vendo muita corrupção que aparece na superfície e não estamos vendo uma corrupção na engrenagem da sociedade brasileira, que é esse desprezo ao trabalho dos médicos e, portanto, desprezo aos brasileiros que precisam ir ao sistema público de saúde para ter atendimento em suas doenças. Por isso, parabenizo V. Exª por falar. Acredito que V. Exª está falando, sim, da pior das corrupções brasileiras: a corrupção que está no funcionamento maldito do nosso sistema social.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - A saúde está boa para nós, Papaléo. Todo dia chega alguém do Senado aqui e diz: ah, você não quer ir para São Paulo? Paga tudinho, para quem tem uma instituição como essa, para quem tem esses serviços de saúde privada, particular, para quem tem o dinheiro para pagar os planos de saúde. Mas, para o povo que precisava da Santa Casa, para o estudante ter aprendizado...

            Olha, vou citar um fato. Um quadro vale por dez mil palavras. O Papaléo está atento. Em Parnaíba, cidade mais importante do Piauí, que tem uma Santa Casa há mais de 100 anos, eu recebi uma medalha quando ela fez 100 anos, e eu governava o Piauí, eu encontrei Dr. Luiz Sampaio, mais novo que eu, urologista: “Oi, como é que vai? Tem operado muita próstata?” Ele disse: “Não, já deixei, porque não dá para viver, sendo médico de família”. Não estou contra o médico de família, mas altos cirurgiões estão deixando.

            Eu desafio aqui, e é bom a ética gravar. Cristovam, eu desafio aqui o nosso Luiz Inácio, a quem estão enganando. Ele não tem culpa, está sendo enganado. Ele não leu a frase do general mexicano: eu prefiro o adversário que me leve a verdade ao aliado puxa-saco que me ilude, que mente. Eu só faria uma pergunta ao Papaléo, que é médico, e para todo o Brasil, e está aí o Conselho de Ética: mostre-me, hoje, segunda-feira, 9 de julho, quem foi operado, neste País, de próstata pelo SUS. Quem foi operado de duodeno, de pancreatectomia, de tireóide, que eu fiz milhares.

            Então, estão enganando. Agora, para quem tem plano de saúde, para quem tem dinheiro, para quem tem como nós temos, a saúde está muito boa. Mas os pobres, que dependem de instituições como as santas casas, os hospitais filantrópicos, estão abandonados.

            Eu pediria a intervenção até da D. Marisa, mulher dele, porque eu acho que é verdade. D. Marisa, o que eu estou dizendo é verdade, acho a senhora encantadora. A mulher aconselha. Isso tudo é verdade.

            Mas não é só essa. O Noblat traz e disserta tão bem, com a sua capacidade de escrever: todas as santas casas e todos os hospitais filantrópicos que fazem caridade estão desaparecendo.

            Essas são as minhas palavras.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/07/2007 - Página 22834