Discurso durante a 119ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem ao Sr. Antonio Ernesto Werna de Salvo, presidente da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuaria no Brasil - CNA.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao Sr. Antonio Ernesto Werna de Salvo, presidente da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuaria no Brasil - CNA.
Publicação
Publicação no DSF de 08/08/2007 - Página 25981
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, PRESIDENTE, CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUARIA DO BRASIL (CNA), ELOGIO, EMPENHO, INCENTIVO, ATIVIDADE AGRICOLA, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, PRESIDENCIA, CONSELHO SUPERIOR, AGRICULTURA, PECUARIA, BRASIL, PARTICIPAÇÃO, CONSELHO, MINISTERIO DO TRABALHO E EMPREGO (MTE), MINISTERIO DA AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO (MAPA), SERVIÇO NACIONAL DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL (SENAR), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), ENTIDADES SINDICAIS, ASSOCIAÇÃO RURAL, REUNIÃO, DEBATE, REFORMA TRIBUTARIA, DEMONSTRAÇÃO, EFICACIA, CONDUTA, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, COMENTARIO, PUBLICAÇÃO, LIVRO, ASSUNTO, ZOOTECNIA, RECEBIMENTO, COMENDA, TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO (TST), ITAMARATI (MRE).

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Marconi Perillo, Governador Blairo Maggi, Senhores, ilustres e dignos, que compõem esta Mesa, Srªs e Srs. Senadores, Deputados, amigos, ex-auxiliares, parceiros e companheiros do saudoso Antônio Ernesto de Salvo, eu gostaria de dar um depoimento muito pessoal, até porque há uma praxe na Casa, e é natural que seja assim, de que, numa sessão como esta, se falo pelo meu Partido, os dados básicos do homenageado cheguem ao orador e se cumpra um dever. Sem dúvida nenhuma, isso é feito com sinceridade, mas se cumpre um dever. Eu não viria à tribuna homenagear alguém cuja vida, a meu ver, não merecesse encômios, não merecesse aplausos, mas eu poderia fazê-lo para cumprir um dever. E não é essa a relação que quero estabelecer nesta sessão singela, extremamente singela, simples, mas justa, oportunamente requerida pelo sensível e competente Senador Marconi Perillo, sessão de homenagem a Antônio Ernesto de Salvo.

Antes de mais nada, relato como o conheci.

O Senador Adelmir Santana falou, ainda há pouco, que não é do setor e muito menos o sou eu.

Reza o folclore político que o meu querido amigo Governador José Serra, visitando a fazenda do Ministro Pimenta da Veiga, aqui perto, na zona rural do Distrito Federal, teria sido, pela primeira vez, já tão adulto, apresentado a uma vaca. Sabemos que isso é folclore e foi uma brincadeira, uma maldade, no bom sentido, feita pelo Presidente Fernando Henrique para animar a conversa, tão íntima e tão fraterna, na casa do Pimenta. Então, o Fernando Henrique disse: “Olha, o Serra precisou chegar a essa idade para vir à fazenda do Pimenta e aprender o que é uma vaca.”. Dizem que o Serra teria perguntado: “Isso aqui é uma vaca?” Ele disse: “Ah, é uma vaca, sim.”. É claro que o Serra sabia o que era uma vaca e conhece os dados da economia brasileira muito bem, conhece os dados da agricultura brasileira, técnico e competente que é e Governador de excelência que se revela.

Agora, eu devo confessar a minha mais absoluta ignorância específica sobre esse tema do setor primário. Tenho falado sobre ele, mas tenho o cuidado de me assessorar, seja por técnicos da Liderança do Partido, seja por meio daquilo que a experiência me ensinou. O Deputado Luis Carlos Heinze é alguém a quem sempre recorri para poder opinar sobre as questões envolvendo o setor primário, assim como a Senadora Kátia Abreu, o Deputado Abelardo Lupion, o Deputado Ronaldo Caiado, o Deputado Micheletto, o Senador Jonas Pinheiro. Ou seja, se não é o meu ramo, tenho interesse, e aí é o meu instinto que funciona, em preservar um setor que tem sido a “galinha dos ovos de ouro” da balança comercial brasileira, que tem sido um fato gerador de empregos diretos e indiretos e de dinamismo, mesmo, na economia brasileira. Não preciso ser um especialista no assunto para perceber que, assessorando-me com as melhores pessoas do ramo, posso ir ao que me interessa, que é fazer a análise econômica - e essa parte sei fazer - do setor. Quero saber das necessidades específicas do setor para que este possa ter desenvolvimento e desempenho melhor do que o excepcional desempenho que tem tido ao longo dessas décadas últimas da economia brasileira.

Cito, sim, a presença do Líder da Minoria na Câmara dos Deputados, Deputado Leonardo Vilela, que se revela uma liderança com um futuro a perder de vista no Congresso Nacional.

Aprendi, também, a visitar e a ouvir Antônio Ernesto de Salvo - e esqueci, entre meus conselheiros, do Senador Gilberto Goellner -, e a ter como verdade o que ele me dizia, até porque ele recendia, transcendia, ele cheirava verdade.

Eu o conheci em uma reunião da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado no ano de 2003.

Ocorria uma reunião morna, com aquela história: todo mundo querendo fazer a reforma tributária e, ao mesmo tempo, ninguém querendo perder. Todo mundo queria fazer a reforma tributária, mas nenhum Estado se dispunha a perder no curto prazo. Eu não consigo imaginar uma reforma tributária em que todos ganhem no curto prazo. Eu consigo imaginar uma reforma tributária em que todos ganhem no longo prazo, mas, no curto prazo, alguém deve perder. Supostamente, os Estados maiores deveriam ser aqueles escalados para o sacrifício de perder no curto prazo para, no médio e no longo prazo, todos vencermos, todos ganharmos.

Eu percebi que, no meio de tanta gente preparada, tanta gente que abordou cada setor da economia brasileira com segurança, de longe, a intervenção do Antônio Ernesto foi a melhor. De longe. Foi a melhor porque foi objetiva, foi a melhor porque foi sincera, foi a melhor porque foi na ferida e foi a melhor porque disse que precisávamos sair daquela interminável discussão sobre o sexo dos anjos, se é que queríamos mesmo avançar no campo da reforma tributária. Então, ele me chamou a atenção pela sua inteligência aguda e percebi que era uma pessoa de poucas palavras, de muita observação e de conclusões sempre sábias.

Daí, venho para a letra composta pela assessoria, que foi levantar com competência os dados sobre Antônio Ernesto de Salvo, que foi, sem dúvida, Presidente da CNA, Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil - havia sido reeleito em outubro de 2005 para mais um triênio, depois de já ter dirigido por cinco anos esta mesma instituição tão relevante.

Vim saber agora, pela assessoria - e ele não precisava de nada disso, não precisava ter sido presidente de coisa alguma para eu ter reconhecido o valor que reconheço nele -, que presidiu o Conselho Superior de Agricultura e Pecuária do Brasil, o Rural Brasil, que reúne 9 entidades do setor primário que respondem majoritariamente pela renda, pela produção, pela exportação e pela geração de emprego do setor. Então, a própria CNA, a Organização de Cooperativas Brasileiras, a Sociedade Rural Brasileira, a Associação Brasileira de Criadores, a Associação Brasileira de Criadores de Zebu, a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão, o Conselho Nacional de Café, a União Brasileira de Avicultura, a União Democrática Ruralista.

Em novembro de 1997, foi eleito Presidente da Confederação Interamericana de Granadeiros e Agricultores - Ciagra, que reúne as entidades representativas de produtores rurais da três Américas. Além de Presidente da CNA, presidia também o Conselho Deliberativo do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural - Senar, e, paralelamente, atuava como membro titular do Conselho Político Empresarial, do Conselho Nacional do Trabalho, do Ministério do Trabalho e Emprego, do Conselho do Agronegócio - Consagro, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, do Conselho Nacional de Política Agrícola e do Conselho Assessor da Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária, Embrapa.

Começou a atuar na área de representação sindical como Presidente fundador do Sindicato Rural de Curvelo. Foi Presidente também fundador da Associação Mineira de Criadores de Zebu, em sua Cidade Natal. Depois, assumiu, por dois mandatos consecutivos, a vice-Presidência da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais, na qual atuou, ainda, como membro e Presidente da Comissão Técnica de Pecuária de Corte, e, em 1994, foi eleito Presidente dessa mesma federação.

Elaborou vários trabalhos técnicos na área de zootecnia, publicados esses trabalhos pela Escola Veterinária da Universidade de Minas Gerais, entre eles o livro Guzerá 50 Anos, Fazenda Canoas, Curvelo, Minas Gerais.

Por sua atuação na liderança do setor agropecuário, foi condecorado com a Comenda do Ordem do Mérito Judiciário do TST e a Comenda da Ordem do Rio Branco.

Dizendo isto para os senhores que o conheciam sobejamente, eu vejo como teria sido mesmo inadequado limitar o discurso a isto, embora tenha sido uma compilação de dados competentes, feita pela competente Assessoria que a nós nos presta serviços tão relevantes.

É claro que para quem nos ouve pela TV Senado ou para a imprensa que está no Comitê nos ouvindo e para quem nos ouve pela transmissão da Rádio Senado e que não é obrigado a saber dados da biografia de uma pessoa tão ilustre e tão útil para o País como foi Antônio Ernesto de Salvo, é claro que esses dados para eles têm alguma valia, mas para mim vale mesmo a impressão que eu registrei nas conversas que com ele mantive, no aprofundamento da minha relação com ele.

Ontem, eu aqui relatava, quando deplorava esse episódio da deportação dos boxeadores cubanos, um episódio, Senador Marconi Perillo, de uma viagem que fiz a Cuba, em 1983 ou 1984. Vi muita coisa que, à época, mereceu meu aplauso. Vi um hospital fantástico, modesto nas instalações, mas eficaz no atendimento, e com uma coisa que revelava muita sensibilidade. A música ambiente era uma música que eu nunca tinha ouvido. Eu perguntei: “Que música é essa?”. Então, disseram que era uma música qualquer, suave, que se misturava com as vozes do ambiente, para que as pessoas não tivessem traumas depois. Ninguém nunca mais ia se lembrar de um morto querido por ouvir uma música, porque aquela música nunca mais se repetiria. E isso eu aplaudi. E, àquela altura, eu era simpatizante do regime cubano.

Aí eu fui a uma escola. E fui recebido por uma professora petulante, uma diretora arrogante, aquela figura bem comissária do povo, aquela caricatura stalinista, enfim. Recebido por ela, ela dizia que ali era uma escola de gênios - até aí, nada contra -, de superdotados, Senadora Lúcia Vânia. Nada contra. Tudo bem, sou a favor também de o Brasil começar a cuidar de seus superdotados, dar escola boa para todos, mas não prender os superdotados junto aos normais, porque os superdotados foram feitos para virarem Einstein, não foram feitos para serem normais, para ficarem presos à dita normalidade.

Em determinada altura, depois de elogiar a beleza de seus alunos, a inteligência de seus alunos, a força física de seus alunos, tudo, eram fantásticos em tudo, ela disse que o cuidado era tanto... E como eu não tinha ido com a cara dela e percebi que ela também não tinha ido com a minha, eu digo: “Não há a hipótese de nós sairmos daqui sem ela saber que eu não fui com a cara dela. Eu vou dar um jeito de transmitir isso a ela, porque é do meu estilo”. E ela me deu o pretexto que eu queria. Ela disse que era tão cuidadosa a escola com aqueles gênios todos, que eles não aceitavam professores que não fossem bonitos e muito menos que fossem aleijados. Eu disse: “Diretora, pelo amor de Deus, acabei de vir de uma homenagem em que nós, Parlamentares brasileiros, depositamos uma coroa de flores no túmulo de soldado internacionalista desconhecido. Aqui eu ouço o tempo inteiro os maiores elogios à luta revolucionária, que é apregoada em Cuba como luta por liberdade na Guiné Bissau, em Moçambique, em Angola, e essas pessoas vão lá, trocam tiros, quem troca tiro mata, morre, dá a sorte de escapar ileso ou dá o azar de sobreviver aleijado”. Eu pergunto: “Um herói desses não pode dar aula para os seus alunos? Um herói desses, é claro, ficou feio, levou um tiro, não ficou tão bonito como a senhora gostaria”. Se não houvesse o bloqueio, pegava o Brad Pitt e o colocava lá para dar aula para os alunos dela. Ia ser uma maravilha, enfim.

Eu via no Ernesto de Salvo essa sinceridade, essa coisa que, para mim, marcava nele a capacidade de dizer coisas que poderiam parecer desagradáveis para uns, mas muito capazes de externar a amizade, de externar sentimentos. Por isso, eu não poderia ter ficado na letra mais fria do que foi compilado, porque nunca os homenageados são homenageados quaisquer, sempre têm razão de ser. Mas esse não era mesmo um homenageado qualquer, não era duas vezes um homenageado qualquer, era um líder do seu grupo social, era um homem com todas as características humanas que os senhores conheceram, por felizardos que são, até mais de perto do que eu próprio tive a honra e a alegria de conhecer. É por isso que muito em meu nome pessoal e, sem dúvida alguma, em nome da minha Bancada, em nome de pessoas que o conheceram, como a Senadora Lúcia Vânia, como o Senador Marconi Perillo, pessoas que o conheceram, como o Senador Sérgio Guerra, meu prezado Pio, pessoas que não o conheceram talvez, na minha Bancada... Não importa.

O PSDB inteiro sabia do espírito público de Ernesto de Salvo, sabia do valor daquele homem que soube construir uma vida digna, respeitável, respeitada, acatada, recatada, e uma vida que se mistura com os êxitos do setor primário no País.

Devo dizer que perdi junto com o Brasil. O Brasil perdeu um grande homem público, vocês, muito particularmente, perderam o homem público que ele era, o líder que significava, e o amigo. Eu perdi, sem dúvida alguma, eu que tenho dificuldades de identificar a diferença entre uma abóbora e uma semente de soja, eu tenho dificuldades, pois sou completamente urbano, eu perdi alguém que eu sabia o valor que tinha e um grande amigo. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/08/2007 - Página 25981