Discurso durante a 122ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a situação econômica internacional. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Considerações sobre a situação econômica internacional. (como Líder)
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 10/08/2007 - Página 27042
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • ADVERTENCIA, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, ECONOMIA INTERNACIONAL, APRESENTAÇÃO, DADOS, BOLSA DE VALORES, CRISE, MERCADO INTERNACIONAL.
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, PERDA, OPORTUNIDADE, CRESCIMENTO ECONOMICO.
  • ORIENTAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, PREVENÇÃO, EFEITO, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, PROVIDENCIA, ESTRUTURAÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, CONCLAMAÇÃO, BANCADA, GOVERNO, APROVAÇÃO, MATERIA, COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONOMICOS, DEBATE, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ainda há pouco, eu conversava ao telefone com o Senador Aloizio Mercadante, que já está de viagem, e ficou combinado que, na semana que vem, haverá um debate qualificado na CAE sobre o quadro, que começa a ficar preocupante, Senador Tião Viana, da economia internacional.

            Pego aqui alguns dados. A Bolsa, às 14h29, registrava uma baixa de 2,63%; mas, ao longo do dia, chegou a cair 3,53%. E o dólar, às 14h30, estava R$1,914 a compra e R$1,916 a venda.

            É evidente que isso certamente se refletirá numa majoração do Risco Brasil, mas chamo a atenção da Casa para o fato de que, desde a semana passada, percebemos, Senador Tião Viana, as bolsas européias voláteis. Houve a crise no Bear Stearns, que afastou o seu co-presidente, Warren Spector, após as perdas do Banco no mercado de crédito, o que provocou uma certa erosão na confiança dos investidores. O payroll, que é o nome técnico que se dá para o número de empregos gerados nos Estados Unidos, foi flébil em julho, e temos notícias ruins relacionadas ao chamado subprime, que é o crédito imobiliário fornecido a clientes de risco, que se revelou de risco até porque a inadimplência está gerando uma certa preocupação nos mercados internacionais.

            Muito bem, Sr. Presidente! Junte-se a isso o fato de que as ações do setor bancário registraram perdas significativas, semana passada, em Wall Street.

            Sr. Presidente, nós temos hoje o registro de que os mercados amanheceram e se mantiveram nervosos. O BNP Paribas suspendeu a movimentação de alguns de seus fundos, o que coloca na ordem do dia o temor de que a crise do subprime norte-americano se possa estar espalhando pela Europa. Além do BNP Paribas, há fundadas preocupações em relação aos bancos alemães, que se demonstram bastante expostos neste momento.

            E temos um dado. Nós estamos vendo o Brasil sofrer, claro que com menos impacto, até porque a economia está mais robusta depois de algumas reformas essenciais feitas e depois de termos esses 14 anos de estabilidade econômica. Isso é um patrimônio, Senador João Pedro. Isso não é pouco, isso é muito. O Brasil está menos vulnerável, mas ainda assim não é um país que se possa dizer imune a uma eventual piora, se essa piora for significativa e for longa no tempo, dessa crise de volatilidade que nós percebemos já na Europa e que se espalha por aquele continente, reforçando a idéia da volatilidade, que é a crise do subprime norte-americano.

            Minha posição é bastante conhecida, e o Senador Tião Viana é testemunha dela. Nem sempre contando com a unanimidade na própria oposição e nem sempre contando com o apoio de setores do próprio Governo, eu jamais deixei de apoiar a posição do Banco Central, inclusive em relação ao reforço das reservas brasileiras. Alegava-se que tinha um custo e que, se há um custo, se termina perdendo no jogo da aplicação dos recursos. Tem um custo, sim. Mas eu vejo que esse custo é largamente compensado pela segurança relativa - não é absoluta - que as reservas, consistentes, de mais de US$ 150 bilhões, oferecem ao País. Isso é muito importante.

            O registro que faço, a título de alerta, é no sentido de que nós percebamos que há alguns sinais no ar de que a fase mais áurea da economia internacional pode já estar passando, essa fase áurea que, a meu ver, poderia ter sido mais bem aproveitada pelo Brasil se o País tivesse logrado realizar mais reformas estruturais. O Brasil realizou muitas reformas estruturais, sobretudo no primeiro ano do Governo Fernando Henrique, e realizou importantes reformas microeconômicas. Eu diria que, na parte macro, muita coisa foi feita no Governo do Presidente Fernando Henrique, sobretudo; na parte micro, alguma coisa de relevante foi feita já no Governo Lula, com a nossa ajuda, com a ajuda significativa das oposições. Falo da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, da Lei de Falência. Mas percebo que o Governo brasileiro não maximizou sua capacidade de aproveitar o que de melhor oferecia a liquidez fantástica dos mercados internacionais. Nunca sobrou tanto dinheiro. Nós vimos países que nem de leve ostentam os bons resultados macroeconômicos do Brasil com taxas de risco aproximadas às taxas do Brasil. É o caso da Venezuela, que se sustenta exclusivamente do petróleo. Vimos outros países. A Argentina, por exemplo. Se olharmos a Argentina de maneira mais objetiva, só mesmo uma liquidez internacional enorme é que pode possibilitar à Argentina estar com taxas de risco baixas.

            Portanto, Sr. Presidente, temos de nos preparar para o fato de que são próprias do sistema capitalista de produção as crises cíclicas. São crises que atingem mais alguns países do que outros, mas atingem a todos. Os momentos de bonança devem ser aproveitados.

            O Brasil crescerá este ano não menos do que 4,5%. Não considero um despautério se lograr chegar ao 5%, menos ainda do que a média mundial. É menos que a média mundial porque ainda há a crise infra-estrutural, porque há a incompreensão do Governo em relação às agências reguladoras, porque não criamos, portanto, um ambiente de negócios favorável à plena confiança dos investidores no Brasil. É isso que justifica o Brasil, que, inclusive, tem de ter preocupações com o fornecimento de energia ao longo do tempo - há sinais de crise para 2010, 2011. O Brasil tem que olhar com muita atenção, fazendo reflexão sobre o que poderia ter crescido e não cresceu, já que poderia ter crescido mais e não cresceu.

            Sr. Presidente, vejo dados sobre o consumo de aço. O consumo de aço no País há 26 anos não se altera per capita, e esse é um dado significativo para medirmos o desenvolvimento de um país. O Brasil teria de crescer 3%, ininterruptamente, durante 39 anos, para atingir o consumo per capita de aço da Espanha hoje. Teria de crescer à média de 3%, no mínimo, durante 39 anos seguidos, praticamente quatro décadas, para atingir o patamar de hoje da Espanha.

            Portanto, fica o alerta. Os mercados estão nervosos. O melhor dessa fase de bonança internacional pode estar passando. E, se o melhor dessa fase internacional tão virtuosa está passando, temos de fazer algumas indagações. Como será a aterrissagem da economia norte-americana, que tem os dois déficits, o interno e o externo, a manipular, a resolver? Como se desdobrará essa crise, que espero momentânea, de volatilidade dos mercados europeus? Como se desdobrará essa preocupante crise do subprime norte-americano? Como se desdobrará tudo isso?

            Portanto, como mensagem final, quando meu tempo se esgota, dirijo-me precisamente ao Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, para lhe dizer que ele tem mesmo duas opções. Ele tem a opção de ficar sempre olhando as pesquisas para ver se não cai - e o Governo sempre fica feliz quando há uma pesquisa dizendo que ele não caiu, enfim. Não é candidato a mais nada. Então, por que essa preocupação com as pesquisas? De Gaulle não vivia preocupado com pesquisas. Roosevelt não vivia preocupado com pesquisas. É hora de assumir a figura do estadista e propor...

(Interrupção do som.)

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - …ao Congresso um leque de reformas estruturais que possibilite ao Brasil duas coisas: primeiro, ainda no Governo dele, garantir taxas mais robustas de crescimento; e, segundo, ainda no Governo dele, nós...

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Arthur Virgílio...

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Pois não, Senador.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - V. Exª está falando em pesquisa. Eu queria dizer que o Fujimori, bem ali, tinha essas pesquisas todinhas. Senador Arthur Virgilio, o Fujimori nunca teve menos de 70%. Pode verificar. Mas, se V. Exª quer uma pesquisa, está aqui. Deu no Noblat, uma nova enquete: “Em discurso, o Senador Mão Santa (PMDB - PI) disse: ‘Nunca se roubou tanto neste País’. Você concorda com ele? Discorda? Quer pensar melhor?” “Concordo: 88,82%.” O site do Noblat é um dos mais acreditados deste País. Pelo menos, vejo aqui os colegas Senadores sempre buscando informações. “Discordo: 11,18%.” Esses dados são de uma pesquisa.

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Muito obrigado, Senador Mão Santa, com a contribuição sempre brilhante e oportuna que V. Exª presta ao meu discurso.

            Sr. Presidente, encerro dizendo que o Presidente Lula tem que elencar um conjunto de reformas estruturais e endereçar ao Congresso. Isso prepara o País para as crises - crises que podem estar a caminho - e prepara o Governo dele para momentos de crescimento econômico mais robusto.

            Mais dados, Sr. Presidente, para encerrar. A preocupação se generaliza. O FED, Banco Central norte-americano, anuncia oferta de US$ 12 bilhões ao mercado aberto daquele país - basta dizer que a média era de US$ 5 bilhões diariamente, passando para US$ 12 bilhões - para aliviar as condições de estreitamento da liquidez, seguindo atitude parecida adotada pelo Banco Central Europeu, o BCE.

            No início do pregão de hoje, o Standard & Poor’s estava em baixa de 1,66%; o Nasdaq, em queda de 1,33%; as bolsas européias, em baixa, algo perto de 2%. O índice VIX, que mede a volatilidade do Standard & Poor’s, subia 17,5% perto das 15h de hoje, subindo, portanto, para 25,76%, levemente abaixo da máxima em 52 semanas, de 26,47%.

            No Brasil, o real se desvaloriza hoje em 1,77%, cotado em US$ 1.91 - é a última notícia que tenho; e o Risco Brasil em alta de 5,23%, cotado em 181 pontos.

            Ou seja, é o alerta que faço. Hoje, participei, com o Senador Aloizio Mercadante, na CBN, de um debate qualificado sobre a CPMF. E disse eu a S. Exª que gostaria de repetir isso aqui, sobre essa preocupação que trago à Casa, e pedi a S. Exª que retomasse o compromisso que assumira comigo quando de sua posse na Comissão de Assuntos Econômicos. Eu disse ao Senador Aloizio Mercadante que nós tínhamos de tocar aquele dia-a-dia dos projetos, que são importantes para a economia, enfim, os projetos da vida prática, mais de curto prazo, mas que tínhamos que reservar um dia por semana ou duas vezes ao mês - no mínimo isso - para o debate de economia pura e simples, saindo do ramerrame, do mecanismo de “aprova ou não aprova” o projeto tal ou o projeto qual. O Senador Aloísio Mercadante me disse que já ia providenciar essa mudança, estabelecendo - não sei se um dia por semana, mas pelo menos duas vezes por mês - um espaço na Comissão de Assuntos Econômicos, com ou sem a presença de economistas de fora, até porque há aqui quem maneje com correção o tema econômico, e há pessoas que, sem a formação acadêmica mais sólida, são empresários, têm o pé na vida real e podem contribuir enormemente para o debate. E vejo que a Comissão de Assuntos Econômicos tem que ter esse outro pé, não pode ser apenas a Comissão do “aprova ou não-aprova” projetos. Tem que ser a Comissão que debata os rumos do crescimento econômico, os entraves que o Brasil encontra, as necessidades que temos, o elenco de sugestões que temos a fazer ao Governo para que o Brasil maximize sua possibilidade de crescer.

            Mas hoje venho moderadamente pessimista à tribuna, porque percebo que, se não é Cb, há nuvens no cenário econômico internacional.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

            Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/08/2007 - Página 27042