Discurso durante a 121ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem à memória do Senador Antonio Carlos Magalhães.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do Senador Antonio Carlos Magalhães.
Publicação
Publicação no DSF de 09/08/2007 - Página 26929
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, SENADOR, EX-DEPUTADO, EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DAS COMUNICAÇÕES (MC), EX PREFEITO, EX GOVERNADOR, ESTADO DA BAHIA (BA), EX PRESIDENTE, SENADO, ELOGIO, VIDA PUBLICA, CAPACIDADE, TRABALHO, INTERESSE PUBLICO, ESPECIFICAÇÃO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente; Srªs e Srs Senadores; Deputados; amigos do Senador, Ministro, Governador, Prefeito Antonio Carlos Magalhães; Sr. Presidente Senador Renan Calheiros; muito digna Srª Arlete Magalhães; muito digna Srª Teresa Helena Magalhães; prezado amigo e colega Senador Antonio Carlos Júnior; prezado amigo e colega de Congresso Deputado Antonio Carlos Magalhães Neto; Ministro Rider Nogueira de Brito, vou fazer, à minha moda, a homenagem que julgo justa a Antonio Carlos e começo, eu próprio, aqui procurando valorizar o espírito dele. Eu que concordo quase sempre com o que diz o Senador Pedro Simon chego a discordar de S. Exª um pouco. Temos de substituir Antonio Carlos de alguma forma. Vamos colocar o que se pensa.

Eu não sou pessimista: eu não acredito em morte de lideranças, eu não acredito em cemitério de líderes, não acredito em País estagnado. Não acredito em crise perpétua no País. Não acredito que o Congresso soçobre porque vive uma crise. Não acredito a não ser no fato de que uma instituição secular como esta saberá achar seus caminhos. E um País com uma democracia crescente que se consolida como a brasileira haverá de apontar à Nação os líderes que saberão substituir Ulysses Guimarães, Teotônio Vilela, Antonio Carlos Magalhães, Carlos Lacerda e tantos outros.

Não posso ser pessimista porque, se há algo que - dizia-me ainda há pouco o Senador Marconi Perillo - aprendi na convivência nem sempre muito tranqüila, mas muito entusiástica, nos momentos de calor humano, com Antonio Carlos Magalhães, foi precisamente o otimismo.

Antonio Carlos Magalhães saía da UTI para presidir a reunião da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, que aprovou, em um mês, 25 projetos, na maior seriedade, a favor da segurança pública.

Antonio Carlos Magalhães optou tranqüilamente por viver menos. Poderia viver mais, mas ele não conseguia se ver presenciando a cena política estando do outro lado da televisão. Optou, clara e tranqüilamente, pela antecipação de sua própria morte, lutando pela vida aqui desta tribuna, combatendo, disputando no terreno das idéias, cometendo seus excessos, seus exageros, mostrando a sua generosidade. Uma figura de enorme conteúdo humano.

Morro de inveja do biógrafo dele, Fernando Morais - aliás, grande literato para esse ramo da literatura. Cheguei a pensar que o Fernando Morais iria ficar com essa obra inconclusa, que iria morrer depois do Antonio Carlos. Antonio Carlos com tanto apego à vida, com tanta coragem, com tanta capacidade de resistir à morte. A morte pode ter levado a partida final, levou o set final, fez o match point, mas a morte levou uma goleada de Antonio Carlos. Ele saiu da UTI umas cinco, seis vezes, para presidir a Comissão de Constituição e Justiça. Não saiu para casa. Todos aqui preocupados, o primeiro a chegar, o último a sair.

Hoje, contava ao Senador Tasso Jereissati que ele tinha um espírito tão indomável e uma característica que era tão dele que não dava para se mexer. A gente tinha que aprender a gostar ou não dele, do jeito que ele era. Não dava para ficar mexendo na personalidade de uma figura com uma personalidade tão forte.

“Antonio Carlos está mal”, diziam. “E está a morte.” Ligo para lá, pensando em falar com o neto, com o Júnior ou com outra pessoa, mas atende ele mesmo. Não, não está a morte, de jeito nenhum. Só que ele atendeu até bem perto de morrer mesmo. Numa dessas vezes, tivemos uma conversa longa ao telefone, muito meiga, muito fraterna.

Ele volta para cá, para a Comissão de Constituição e Justiça. Começa a sessão, e vários Senadores tinham projetos na Comissão de Constituição e Justiça - eu era um deles. Ele começa a fazer a chamada de cada um, chamando a atenção para as ausências. Senador Fulano não está aqui, mas devia estar. Por que não está aqui tal Senador? E eu mandei uma pessoa falar com ele: diga ao Antonio Carlos que tem televisão, e isso é ruim. Eu não estou lá porque esteja na praia ou passeando no parque; eu estou em uma reunião da Bancada do PSDB. Ele então mandou dizer que reconhecia que era um exagero que estava praticando, enfim; mas era dele.

E hoje o Tasso me dizia que era um pouco aquele jeito sarcástico dele, enfim, que fazia parte da sua personalidade - estamos aqui analisando o todo de Antonio Carlos, e é de todo ele que temos de falar. Mas Antonio Carlos tinha também aquele zelo pelo dever: ele era o primeiro a chegar, era o último a sair, e queria que todos se perfilassem naquele seu modo de trabalhar.

Eu olhava para o Senador José Agripino e dizia: que desafio ser Líder de um Partido que tem como supostamente liderado Antonio Carlos Magalhães, porque não dá para se dizer que alguém lidera Antonio Carlos Magalhães, mas dá para se dizer que se coordena uma Bancada que tem Antonio Carlos Magalhães. E talvez ninguém com tanta competência como o Senador José Agripino para dar conta dessa missão. Como é que se lida com aquele espírito indomável, com aquela figura que gostava de teimar, que não conseguia concordar o tempo inteiro, que conseguia discordar até quando concordava na maior parte, em quase tudo do todo, discordava em uma pequena parte da parte? Uma figura extremamente sagaz e culta.

O Senador Tasso me disse hoje alguma coisa dos seus momentos finais, e fez muito bem em aqui não relatar. Mas por ali perpassa toda a noção da análise que se tem de fazer da coragem pessoal dele. Era um homem de coragem pessoal. Eu, pessoalmente, acho que o homem público pode ter alguns defeitos; não todos. Ele deve ser decente. Agora, a decência não basta se ela não for acompanhada de coragem, ou precedida, ou ao lado, mas não basta a decência porque, Ministro Ciro Gomes, se a decência estiver sobrepujada ou acompanhada da covardia ou da poltronice, ela deixa de ser uma decência decente, ela passa a ser uma decência intelectualmente corrupta, ela passa a ser uma decência indecente. Se é uma decência indecente, é uma decência indecorosa; se é uma decência indecorosa, não é mais decência!

Então, a decência tem de ser acompanhada da coragem. Eu não acredito em vida pública, Senador Jarbas Vasconcelos, sem coragem, sem definição. Antonio Carlos Magalhães tomava as suas definições - não importa aqui com quantas de suas definições eu concordasse, Deputado Antonio Carlos Magalhães Neto; o importante é que ele tomava as suas definições, e as tomava com coragem, e as tomava com o destemor dos crentes e dos convictos.

Aliás, o Senador Tasso Jereissati tinha feito um discurso muito bonito, e eu tenho orgulho de dizer que posso ter influenciado um pouco nisso. Eu disse a ele: Tasso, está muito bonito o discurso, mas não reflete a sua relação com Antonio Carlos. Não reflete. Esse discurso é bonito, mas a sua relação com ele era tão calorosa, tão forte e, por outro lado, tão positiva. E o Tasso fez o belo improviso que todos nós aqui aplaudimos.

Quando o Mercadante usou da tribuna, ele fez menção a uma sessão do Congresso Nacional que teve um episódio, para mim, saboroso. Antonio Carlos estava numa daquelas fases de não muito humor com o Presidente Fernando Henrique. Ele disse: “Aprova-se isso e não mais nada”. Era o último dia dele, presidindo uma sessão conjunta, naquela época em que havia sessão fervilhante do Congresso Nacional. Quando acabou, nós tínhamos que aprovar mais alguma coisinha, e eu - que pretensão! - pensei: vou passar a perna no Antonio Carlos Magalhães. Fui para a tribuna e fiz o que eu pude em um discurso que tinha a sinceridade de agradecer pela belíssima administração que ele fez no Senado, pelo belíssimo termo que ele desempenhou no Senado, aprovando o Orçamento, o que não era prática - hoje é prática no País, mas não era praxe se aprovar o Orçamento sempre no ano-base para render efeitos, Presidente Renan Calheiros, já no ano seguinte. Eu pedi a palavra e comecei a fazer um elogio justo à sua gestão. Isso puxou vários outros oradores - 40, 50, 60, sei lá quantos. Um deles foi o Mercadante. Depois Mercadante disse: “Puxa, eu elogiei muito o Antonio Carlos. Ele é capaz de colocar isso no horário gratuito.” Eu disse: não tenho nenhuma dúvida de que ele vai colocar isso no horário gratuito. Por isso, fui comedido. Fui comedido porque tenho certeza de que ele vai colocar no horário gratuito. Tenho absoluta convicção. E ele colocou no horário gratuito a manifestação daquele bando de Deputados do PT elogiando a sua gestão. Elogiaram e tiveram uma belíssima divulgação gratuita no horário gratuito do partido do Antonio Carlos na Bahia. Enfim...

Nessa sessão, um Deputado, não me lembro quem, tocou no nome do Luís Eduardo. Ele se comoveu e presidiu o restante da sessão aos prantos; não aquele pranto caudaloso, mas percebíamos que era um pranto interno, que se revelava em visíveis lágrimas externas. E o Antonio Carlos foi até o final da sessão. No final da sessão, eu disse ao Deputado Ricardo Barros: Ricardo, entre com um requerimento para aprovarmos agora o que desejamos, porque ele está completamente comovido, e vamos fazer o que queremos. O Ricardo Barros apresentou o requerimento, e a matéria passou. O Senador Antonio Carlos me chamou ao final e falou assim: “Muito obrigado pela bela homenagem que você prestou. Foi uma coisa linda, sobretudo quando falaram do Luís. Agora, não pense que você me enganou, porque você não me enganou, não. Eu percebi tudo, enfim”. Era uma figura realmente notável.

Para mim, o dia de hoje deve ser visto com otimismo - repito a tese inicial. Eu estava vendo ali o Duquinho, filho do Luís Eduardo, figura tão querida minha, e lembrávamos os dois que o seu pai já se foi há dez anos. Antonio Carlos sobreviveu dez anos a essa segunda morte, já que a primeira morte teria sido a de sua filha tão querida.

O Mercadante recomendou ao Antonio Carlos Júnior que arranjasse aqui uma grande confusão. Ele não se lembra de que o Antonio Carlos Júnior já arranjou uma grande confusão em uma sessão do Congresso, e eu presenciei essa confusão, ou seja, ele já cumpriu esse pré-requisito e - quem sabe? - vai arranjar outras confusões brevemente, todas elas a favor do Brasil. É o que eu desejo, de muito coração.

Eu gostaria de tecer aqui alguns comentários a respeito de como eu via aquela figura contraditória, controversa. Alguém falou assim: “Era um homem com defeitos”. Todos nós os temos. Os dele eram muito marcantes em razão da sua própria personalidade, que era muito marcante. O Senador César Borges, aliás, fez um discurso muito bonito e muito comovente. As suas qualidades eram muito grandes. Dava para perceber as duas.

            Certa vez, fui, a convite do Partido Comunista baiano, ao ato de instalação do Partido Comunista baiano, quando ele veio à legalidade. Isso ocorreu no Governo do Presidente José Sarney.

Fui lá, e estava lá com o Deputado Goldman, que havia feito a opção - que lhe custou a eleição naquele momento - pela saída da clandestinidade e o ingresso no Partido Comunista. E estou lá, e estava muito preocupado com a sorte do Goldman, com a opção que ele havia feito. Eu digo: isso pode custar, de fato, a carreira de uma pessoa tão competente, tão capaz.

Muito bem, chegamos lá, quem comandava o Partido Comunista baiano era essa figura fantástica, muito forte, muito expressiva, muito preparada, que é Fernando Santana, que foi colega, lá atrás, de meu pai, no Congresso, e foi meu colega de Câmara dos Deputados.

Antonio Carlos manda um telegrama aos dirigentes do Partido Comunista baiano muito caloroso. E eu fiquei sem entender nada àquela altura. Eu perguntei ao Fernando: Fernando, que história é essa de amizade sua com o Antonio Carlos? E ele disse: Sou muito amigo do Antonio Carlos.

E mais: quando o Antonio Carlos era, se não me engano, Prefeito de Salvador, Fernando Santana, que era engenheiro e tinha muito pouca possibilidade de trabalhar, porque essas oportunidades lhe eram negadas pelo regime ditatorial, ele trabalhava ali por influência da vontade do Prefeito Antonio Carlos.

E vim saber depois que Rubem Paiva também chegou a se instalar comercialmente lá na Bahia.

Logo é uma figura contraditória.

Alguém dizia, na época em que isso aí fazia algum sentido: era um homem de Direita. Fazia sentido isso, no sentido de Bobbio, de se dizer que de Direita é quem não se preocupa com o social, se preocupa com o restante, e de Esquerda seria aquele que se preocupa com a distribuição de renda? Eu nunca vi nada mais capaz de distribuir renda do que se trabalhar inflação controlada, trabalhar-se economia organizada, trabalhar-se equilíbrio fiscal. Por essa análise, todos aqueles que se imaginavam de Esquerda, inclusive eu próprio à época, não éramos; e todos aqueles que tinham a competência de trabalhar, enfim, uma economia organizada, colocar-se-iam, então, à Esquerda, se quiséssemos levar para o terreno do debate mais dialético. Então o Roberto Campos seria de Esquerda, e eu teria sido de Direita na época em que eu me julgava de Esquerda e que julgava o Roberto Campos de Direita. Mas já parei, há muito tempo, de me preocupar com essa história de Esquerda, de Direita, de costa, de rebola, de carambola, de lado, de bruços, de barriga para cima. Isso não tem nenhuma importância para mim!

Foi de Esquerda esse gesto de se entregarem os boxeadores cubanos à sanha da ditadura de Fidel Castro? É um gesto de Esquerda? Será que isso significa colaboração internacionalista? Ou significa algo que a ditadura de Direita de Vargas fez, entregando aquela vítima de Esquerda, que era Olga Benário, à ditadura de Direita de Adolf Hitler? Ou seja, ainda tem gente neste País que faz diferença entre ditadura de Esquerda e ditadura de Direita, que não percebe que atrocidade é atrocidade, praticada seja ela por quem for. Se é praticada por alguém de Direita, é atrocidade; se é praticada por alguém de Esquerda, é atrocidade. Atrocidade é atrocidade, diz respeito aos direitos humanos e ponto final! Não podemos mais ficar perdendo tempo com dogmas que só atrasam este País. E isso tem de ficar muito bem explicado!

Não vou aqui discutir se Antonio Carlos era de Direita ou se era de Esquerda. Vou discutir que era uma figura que, ao longo do tempo, com ela aprendi a conviver! Aprendi a conviver! Aprendi a me fazer querido por ele, acredito! E aprendi a querer bem a ele, de um jeito que não impedia que acontecessem algumas rusgas às vezes. Era impossível alguém conviver com Antonio Carlos, sinceramente e não ter rusgas com ele. Era impossível! A não ser que se concordasse com ele em tudo, ou que não se mantivessem relações com ele, meu querido Duquinho! Tinha de haver a rusga, portanto.

Eu vi o Presidente Sarney, que era amigo dele, ter problemas com ele aqui e vi o Tasso ter problemas. E eu tive uns duzentos ao longo da minha convivência. E, depois, alguém falou aqui, vinha aquela história do beijo, quando ele jogava aquele beijo, o que significava que tinha havido a anistia da parte dele.

Em outras palavras, estou muito feliz com esta reunião. Primeiro, porque sabemos que a morte de Antonio Carlos, desse jeito, prematura, foi uma opção dele, Senador José Agripino. Ele optou por isso. Ele quis assim. Ele optou nitidamente por isso. Ele poderia ter retardado, porque havia recursos para isso, mas ele resolveu não retardar. E pontuou uma coisa que meu pai me dizia com muita clareza: “Meu filho, pare de classificar as pessoas por serem de Esquerda ou de Direita, senão vamos cair nesse maniqueísmo”. E depois o Brasil foi vítima dele. Parecia que todo mundo que era de Esquerda era intocável e, aí, podia fazer tudo e tudo era deslize, não era crime. Quando o deslize era praticado por alguém de Direita, então era crime. Enfim, esse maniqueísmo só atrasou o País. Meu pai dizia: “Procure dividir as pessoas, se elas estão na vida pública (meu querido Paes de Andrade) por serem elas de espírito público ou não”.

Eu estava um dia numa sessão da Comissão de Justiça da Câmara e ouvi um Deputado - vamos lá aspear - “de Direita”, Deputado do PDS, discorrendo de maneira brilhante, de maneira absolutamente tocante, sobre um tema que ele dominava e eu não. E percebi o amor que ele tinha pelo Brasil pela demonstração que dava de conhecimento daquela sua especialidade. E percebi que meu pai tinha razão, ou seja, que eu não tinha de negar o valor daquele homem se aquele homem, porventura, estivesse colocado numa altura do espectro ideológico diferente da minha. E eu aprendi a respeitá-lo. Era um Deputado do Rio de Janeiro. Se não me engano, seu nome era Hamilton Nogueira. Homem muito culto, muito preparado.

E vi depois coisas terríveis. Ou seja, em outras palavras, eu não quero perder tempo enfeando esta sessão que homenageia Antonio Carlos com essa discussão ideológica que acho que se aplica mais às regras do trânsito, “vá para a direita, vá para a esquerda. Se for para a esquerda, é contramão; se for para a direita, não é”. É pura e simplesmente trânsito. Não tem outra importância na minha vida essa classificação se é de direita ou de esquerda.

E eu percebi no Antonio Carlos espírito público. A Bahia avançou no seu Governo. A Bahia cresceu no seu Governo. O PIB da Bahia quintuplicou ao longo da permanência, da sua influência naquele Estado. Modernizou aquele Estado. Não conheço pessoas incompetentes que ele tenha revelado para a vida pública. Está por aqui o Senador Rodolpho Tourinho. Rompeu com ele, mas competente. Meu companheiro de partido Antônio Imbassahy. Está aqui o César Borges, Governador. Está aqui o Paulo Souto. Em outras palavras, ele olhava as pessoas não pelo ângulo do mero sentimento, olhava as pessoas pela capacidade da competência. Ele sabia quem é que podia trabalhar com ele. Quem merecia a confiança dele nesse campo.

De certa forma era paternalista. Isso não era o desejável. Acho até que não é o desejável. Era preciso uma forma mais aberta de fazer política. Cabe a quem é da nova geração, cabe ao Neto, cabe ao Duquinho, fazer uma modernização, receber essa herança, mas fazer uma modernização na forma de tratar essa questão. O Tasso falava do beija mão. Da Dona Canô beijando a mão de Antonio Carlos. Isso corresponde a um episódio, a um momento histórico, a um determinado momento psicológico do povo da Bahia. E isso é assim. Que não seja assim, não tem cabimento que seja assim com o Neto. Mas tinha cabimento, tanto que ela fazia.

Antonio Carlos tinha espírito público, fez o melhor pelo seu Estado, foi um grande Prefeito para Salvador, foi um Presidente muito efetivo do Congresso Nacional, foi um Ministro operoso, foi um Presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, recentemente, absolutamente produtivo, rigoroso, capaz de mostrar a sua capacidade de conduzir e liderar um processo. Em outras palavras - e estava há pouco conversando com o Marconi Perillo -- como é que conseguimos falar depois de tanta gente que conheceu tão bem o Antonio Carlos, tão melhor do que pude conhecer, como podemos dizer coisas novas! Mas quis aqui dar a minha contribuição.

A Oposição perdeu uma voz vigorosa, o Brasil perdeu um Senador atento, um homem de espírito público. Nós todos perdemos. E alguém disse que fica um vácuo nessa cadeira dele. Deveríamos fazer como se fez com a camisa do Maradona na seleção argentina: deveríamos proibir que sentassem. Fica um vácuo e eu fico com muitas saudades, porque fica monótono. De repente, eu me lembro de que nunca mais vou brigar com Antonio Carlos Magalhães, só se for lá em cima, um dia, aí a gente recomeça. Mas vamos ter muitos momentos lá em cima de paz, de concórdia, de amizade e lealdade. Apreciava muito a sua capacidade de não se omitir.

Tenho muita tolerância com muita gente, mas tenho absoluta intolerância com homem público que não se define com clareza diante de todas as questões que estão colocadas diante dele. Se não se define, passa a não merecer meu respeito, e é um direito que tenho de respeitar ou não respeitar as pessoas. Posso até não dizer, mas a pessoa que está se omitindo pode não dar a menor bola para se eu respeito ou não respeito, mas que ela saiba que não a estou respeitando. A vida continua? Continua, mas não a respeito. É um direito meu. A vida continua, mas não respeito.

Então, posso ter as discordâncias mais terríveis e até os problemas pessoais mais graves com alguém, mas, se essa pessoa se define com clareza, até de maneira rude em relação a mim, inclusive, não tenho nenhuma escapatória a não ser admirar essa pessoa, porque sou escravo das pessoas que agem de maneira frontal. E poucas vezes eu vi alguma pessoa agir de maneira mais frontal do que o Senador Antonio Carlos Magalhães.

Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/08/2007 - Página 26929