A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, quero registrar que fiz esse apelo à Presidência da Mesa e ao Senador Mão Santa porque faço questão de, neste meu pronunciamento, dizer da providência tomada com relação às declarações do Sr. Paulo Zottolo. E, nesta oportunidade, solicitar o apoiamento do Senador Mão Santa e dos demais Senadores que representam o Piauí nesta Casa, para subscreverem o requerimento que apresento à Mesa, solicitando voto de repúdio, em nome do Senado, pelas declarações do Sr. Paulo Zottolo, representante de uma multinacional em nosso País, e que, portanto, nessa condição, não deveria participar de movimentações no País, movimentações que, inclusive, têm fortes indícios de relações político-partidárias. Além disso, como representante de uma multinacional, ele tem orientação de não se imiscuir nos assuntos do nosso País, inclusive é a orientação da própria Phillips Internacional.

A declaração feita por este senhor em relação ao Brasil, Senador Mão Santa, e, por tabela, referindo-se a um dos principais Estados do Brasil, o Piauí, é lamentável. Por isso, apresentei voto de repúdio às declarações do Sr. Paulo Zottolo, Presidente da Phillips para a América Latina, tendo em vista afirmação feita por S. Sª em entrevista concedida à imprensa. Diz ele, textualmente: “Não se pode pensar que o País é um Piauí, no sentido de que tanto faz quanto tanto fez; se o Piauí deixar de existir ninguém vai ficar chateado.”

Da mesma forma como repudiamos o Presidente Hugo Chavez ao se referir ao Parlamento brasileiro como um “bando de papagaios” - ele não tinha o direito de fazê-lo, em hipótese alguma -, também não podemos permitir que o representante de uma multinacional que atua em nosso País, que lucra fantasticamente em nosso País, sobre a qual, inclusive, incidem várias denúncias de exploração da mão-de-obra por não cumprir, de forma adequada, para com os seus deveres enquanto empregador, se dê ao luxo de atacar o Brasil, de participar de movimentos no País e ainda de se referir ao nosso País e ao Piauí dessa forma.

Sr. Presidente, passo a ler, na íntegra, nota publicada pelo Governador do Piauí, Wellington Dias:

Lamentavelmente, o presidente da Phillips para a América Latina, Paulo Zottolo, desconhece o Piauí. Tenho certeza de que o capitalismo afasta o homem do ser humano. Que Deus dê a ele a oportunidade de conhecer o Piauí e os homens e mulheres que aqui vivem. Para se ter uma idéia, o Piauí tem 80% de suas florestas nativas preservadas e produz oxigênio para o Brasil e para o mundo. O Piauí, segundo estudos em andamento, tem uma das maiores bacias de gás e petróleo do País. É do Piauí a melhor escola do Brasil, eleita por dois anos consecutivos pelo Enem. O Piauí tem a melhor produtividade de soja, mel e algodão do País.

Por coincidência, um piauiense, José Horácio de Freitas, foi diretor financeiro da Phillips. Por ele e por todos os cidadãos piauienses deveríamos ter respeito, e faço a ele o convite para vir conhecer o Piauí.

Esta é a nota do Governador do Piauí, Wellington Dias.

É muito importante registrar que essa declaração do presidente da Phillips para a América Latina, Paulo Zottolo - “Zé Tolo” como foi chamado aqui pelo Senador Mão Santa, inclusive vou, aqui, reproduzir trechos da fala do Senador Mão Santa, por entender que foi, por assim dizer, uma resposta digna por parte dos três Senadores representantes do Piauí ao abuso e à afronta feita por esse senhor ao nosso País e a um dos nossos Estados, o Piauí, que V. Exªs representam aqui.

Essa declaração é repleta e contaminada da visão elitista e preconceituosa que se tem para com os pobres, para com os negros, para com as mulheres e para com os Estados, que, obviamente, não se identificam com os que estão à frente dos movimentos como o tal “Cansei” que têm uma forte identificação com aquilo que o próprio ex-prefeito de São Paulo, que é até do PFL, chamou de “dondocas enfadadas”, que é a elite branca, que sempre esteve ao lado do bem-bom da vida, não consegue reconhecer valores em todos os que não são idênticos, que não são como eles, que não possuem, não têm, ou não desenvolvem a sua atividade.

Então, o preconceito que, num ato falho, não é, Senador Mão Santa, quando a pessoa se empolga normalmente deixa escapar o que ela realmente pensa. Então, o Sr. Zottolo fez a declaração na tentativa de elogiar o Brasil, ao dizer que o Brasil não é um Piauí e que, se desaparecesse, ninguém sentiria falta. Vejam o elogio que ele fez ao Brasil! O que é o Brasil? O Brasil são apenas os megaempresários que estão à frente do movimento “Cansei”? Não! O Brasil é essa diversidade étnica, de gênero, cultural, e que em todos os cantos do nosso País, seja no Piauí, em Santa Catarina, no Maranhão, no Acre, no Ceará, em Minas, em Goiás, em todos os cantos, orgulha-nos! Foi desastrada, preconceituosa e indevida esta interferência. Primeiro, a participação, com publicações nos jornais nacionais de textos da Phillips, apoiando o movimento “Cansei”, o que não poderia, até porque a Phillips, empresa multinacional, mandou a filial brasileira se desligar do movimento anti-Lula, que é o movimento “Cansei”.

Com relação à declaração do Sr. Zottolo, desde o primeiro momento, está muito claro que ele a fez à revelia do que é realmente correto. Multinacional não tem que se meter em assuntos, em debates, em movimentos de qualquer país em que estiver atuando, ainda mais com um viés autoritário, preconceituoso e escandaloso, como na declaração do Sr. Paulo Zottolo. Além disso, na quarta-feira passada, a CUT (Central Única dos Trabalhadores) denunciou a Phillips à Organização Internacional do Trabalho e à OCDE por ingerência política no Brasil. Tal atitude é incompatível e insustentável em termos de procedimento de qualquer administrador de multinacional.

Senador Mão Santa, V. Exª teve a oportunidade de, desta tribuna, reagir da forma contundente como reagiu. Muitas vezes, eu não apóio seus pronunciamentos, V. Exª sabe disso. Mas, neste caso, V. Exª, assim como outros Senadores que aqui representam o Piauí, responderam à altura, de forma devida. Ele que fique calado, ao invés de dizer bobagem e de se imiscuir em assuntos em que uma multinacional não deve se imiscuir.

V. Exª resgatou, obviamente, a representatividade, a importância e o carinho que todos os brasileiros têm para com esse maravilhoso Estado, o Piauí, que já projetou tantas lideranças, tantos homens e mulheres de bem que proporcionam orgulho a todos nós brasileiros.

É o registro que faço, e peço, Senador Mão Santa, que V. Exª assine comigo o requerimento, a fim de que possamos, em nome do Senado da República, apresentar voto de repúdio a esse cidadão, que não tinha o direito de emitir um posicionamento tão preconceituoso e indigno para com o País, de forma geral, mas, principalmente, para com o Estado do Piauí.

Sr. Presidente, agradeço mais uma vez a gentileza do Senador Mão Santa, por permitir que eu falasse antes sobre um assunto que é do maior interesse para o Brasil, mas, com certeza, mais ainda para o Estado que S. Exª representa no Senado Federal.

Muito obrigada.