Discurso durante a 146ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao Dia do Comerciante.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao Dia do Comerciante.
Aparteantes
Adelmir Santana, Mozarildo Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 31/08/2007 - Página 29701
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, COMERCIANTE.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Renan Calheiros, que preside esta solenidade em homenagem ao comércio, Srªs e Srs. Senadores presentes, brasileiras e brasileiros que nos assistem e que sintonizam o sistema de comunicação do Senado, tenho umas idéias próprias. Entendo que quem fez a democracia, Senador Mário Couto, foi o povo, gritando, nas ruas, por liberdade, igualdade e fraternidade. E um jurista iluminado mudou aquele sistema absoluto dos reis - o absolutismo -, que seriam os deuses na terra, e dividiu esse poder, para não ser único. Mas eu acho que por vaidade nossa, Senador Eurípedes, chamamos Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário.

            Deus me permitiu ser prefeitinho, Renan Calheiros. Depois, governei o Piauí. Aí eu entendi que nós não éramos poder, éramos vaidade. É como está na Bíblia: tudo é vaidade. Poder mesmo tem quem nos paga, quem trabalha, quem paga imposto. Eles é que são os patrões. Eu comecei a ver como é que funcionavam as coisas.

            Montesquieu não foi prefeitinho, não foi governador. Embevecidos estamos até hoje aí como os poderosos. Poder é o do povo, que trabalha, que paga impostos. Deus.

            E vi isso. E se o mundo sempre busca como viver melhor, esse é o objetivo nosso, de animais políticos. Antonio Carlos Valadares, nós, animais políticos, criamos, inventamos. E das invenções da humanidade a mais feliz foi o comércio porque nos aproxima, melhora o mundo e nos paga, Mário Couto. Nós ganhamos bem e o Judiciário ainda mais. O Executivo tem até aquele cartão de crédito livre. Eles têm, mas quem paga é o povo, quem paga tem trabalho. E a feliz idéia do comércio só veio melhorar o mundo e onde é forte tem civilização.

            Eu me ufano, Renan: eu sou filho de comerciante. Vim aqui e o Mário Couto disse “Mão Santa, vamos acabar logo com isso para depois a gente “tacar o pau”. Ele é danado, o Mário Couto. Mas eu disse: não vim render uma homenagem a meu pai, que era comerciante.

            Renan meu pai era comerciante e minha mãe, filha do comerciante mais rico do Piauí: José Moraes, que você conheceu. Meu avô começou por lá e levou o seu comércio para o Rio de Janeiro. Chegou a ter dois navios. Levava matéria-prima e o sabão que fazia. Moraes, que passou a Dakopa, a gordura Moraes Dunorte e ganhou a gordura Carioca.

            Mas minha mãe, representando a mulher, Terceira, ela casou com um homem que foi ser comerciante e ela não queria viver à custa do pai. Então, Mário Couto, eu lembro que eu disputava o colo de minha mãe com o livrão de contabilidade, aquele grandão: “haver”. Ela era contadora da firma de meu pai. Ela não foi viver à custa do pai dela nem de meu pai; ela foi enfrentar... E eu vi quanta dignidade, quanta vergonha, quanta decência. Ó, Ideli, eu disputava o colo da minha mãe com o livro de contabilidade. Não tinha essa eletrônica, não. Ela ajudando o marido, o meu pai, comerciante. Ele teve, depois, uma casa de móvel - eu me lembro - e anunciava: “Vende à vista e à prestação sem a menor complicação”. Meu pai, Renan, foi o primeiro que vendeu à prestação no Piauí. E eu aprendi muito. Olha, essa turma trabalha, Mário Couto!

            Eu acho, ó Renan, V. Exª, que é poder, que tem acesso a Luiz Inácio, que convive com o PT... A Ideli já saiu. Eu acho que está na hora de nós termos mais austeridade. Esse povo trabalha demais para agüentar a conta do Brasil, que está pesada. São 76 impostos que vocês pagam e que nós - o Poder Executivo, o Poder Legislativo e o Poder Judiciário - gastamos. Renan, estou aqui porque tenho que ensinar. No dia que eu sentir que não tenho...

            Vi Evandro Lins e Silva. Uma das últimas viagens que ele fez, ó Mário Couto, foi a minha cidade, à cidade dele. Eu fora convidado para ser paraninfo - ó Mozarildo - e disse: não, meus jovens, vou trazer uma pessoa mais importante. Eles não tinham noção. Era a primeira turma da Faculdade de Direito da nossa cidade, e eu convidei Evandro Lins e Silva, já velhinho. Mário Couto, quanta dificuldades para levá-lo! Mas aí eu consegui dar o cachê que ele queria. Mozarildo, cheguei-me a Evandro Lins e Silva e disse: Evandro Lins e Silva, você se lembra de Rui Barbosa, não é? Ele fez um discurso, ó Eurípedes, Oração aos Moços, o último; não pôde lê-lo - era paraninfo de uma turma -; mandou o seu colega. É um livro que todos devem ler, principalmente os que fazem Direito. E convenci Evandro Lins e Silva de que ele faria o seu último discurso, e faria - e fez - um livro, e garanti publicá-lo. E ele foi.

            Renan, V. Exª, que é o nosso Líder, é do Poder...

            Eu me lembro lá naquela casa nossa da praia, aliás, foi o nosso amigo Zé Morais que transferiu, ele foi fazer um hotel, e eu com Evandro Lins e Silva.

            Mário Couto, STF, aprenda! Aí ele olhou e disse: “Governador - lá na minha casa da praia -, eu fui do Supremo Tribunal Federal”. E foi ele que libertou todos os presos políticos. Miguel Arraes me contou que já estava pensando - ele até traduziu um livro, A Mistificação das Massas pela Propaganda Política, de Serge Tchakhotine, em francês - até em suicídio, não pensava mais em ser libertado. Aí veio o habeas corpus de Evandro Lins e Silva. Mas ele me disse, Mozarildo: “Governador Mão Santa, eu era sozinho numa mesa de madeira e irradiei justiça que nem o sol”. Quer dizer, a autoridade é moral, não é dessa ostentação, desses prédios, desses colossos, e quem paga a conta é quem trabalha. E o povo está pagando conta demais.

            Presidente Renan, este País tem 76 impostos. Dizem os estudiosos, Mozarildo, que, desses países emergentes - a Rússia, a Índia, a China, o Brasil -, pagamos mais do dobro do que aquele em que se paga mais.

            Há um imposto que traduz ...

            (Interrupção do som.)

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI ) - Presidente Renan, o som.

            (...) que até o ICMS direto sobre circulação de mercadorias e que as cidades mais populosas dependem, sobretudo, dele.

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (Bloco/PTB - RR) - Senador Mão Santa, gostaria, se V. Exª permitir, um aparte, antes do término do seu pronunciamento.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - V. Exª sempre tem prioridade como Senador, como médico e como o maior líder maçom que conheço.

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (Bloco/PTB - RR) - Obrigado Senador. Eu não poderia deixar de fazer esse aparte, porque aqui não me inscrevi normalmente para participar dessa homenagem muito justa. Quero relembrar uma coisa da minha vida: o meu pai, um cearense que foi para o Estado de Roraima quando lá ainda era Território Federal, foi comerciante, inclusive tinha uma loja no comércio chamada “A Cearense”. E, portanto, dentro dessa área é importante ressaltar - V. Exª disse aí que os comerciantes, os empresários pagam muito imposto - que quem paga é o povo. O povo paga muito imposto. Os comerciantes, os empresários são impedidos de investir mais e desenvolver mais por causa da carga tributária. Isso é verdade! E nós precisamos urgentemente corrigir essa distorção, que infelizmente... Ontem homenageamos Getúlio Vargas, e nós estamos precisando de um novo estadista no Brasil.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Eu acho que tem vários. Lá em Roraima tem um grande estadista Mozarildo Cavalcanti, daí o nome Boa Vista, visão, sua Capital.

            Mas eu queria dizer o seguinte: eu vi... E agora como político? A gente entra nas cidades pequenas e vê aqueles comerciantes... Eu me lembro que um vereador me levou, às 11 horas da noite, à cidadezinha, e o pai dele, o Vice-Governador do Piauí... Wilson Mantins... Ele disputou até chapa, não estava do meu lado. Eu fui visitar o pai dele, na casa a que sempre ia - ele foi líder do meu governo. Adelmir, era domingo e ele estava trabalhando no comércio do lado. Ele tem uns noventa anos, eu acho, assim da idade de Alberto Silva. Então, esse é o exemplo maior que nós temos: esse pessoal, trabalho, amor. E eu nasci desse amor de um casal que teve comércio. “Casas Moraes Souza vende à vista e à prestação sem a menor complicação”. Mozarildo, meu pai me testou para que eu fosse comerciante. Ele me colocou lá e eu só ia em junho, comprava fogos para vender. Mas eu tirava todo meu lucro para fazer aquelas fogueiras de Santo Antônio e São João.

            Mas eu iria terminar, Sr. Presidente, falando sobre o Piauí. Há até a revista “Piauí. Cinqüenta anos em cinco”, uma entrevista minha. Eu ia buscar os homens mais capazes e mais competentes para fazer essa homenagem.

            Adelmir Santana, que é também Senador, O Piauí é o Estado mais forte. Há três Senadores aqui, eleitos, como nos outros Estados. Aí, nós partimos na dianteira. Emprestamos um para o Acre, o Sibá, que é o que está evoluindo e estudando mais. Vou dar-lhe o livro do Lacerda. E, agora, Adelmir Santana, que é filho de mãe piauiense, grande mãe, recebeu o título de Cidadão Piauiense.

            O Sr. Adelmir Santana (DEM - DF) - Senador Mão Santa, eu queria apenas aproveitar para lhe fazer um aparte. O senhor faz uma revelação de que sou conhecedor. Mão Santa, além de ser um homem extremamente inteligente, sua família, como ele próprio fez referência, é realmente uma família consagrada na área de comércio. Aliás, os filhos dessa família no Piauí são chamados de “Os Príncipes do Piauí”. A família Mendonça Clark e a família Souza Santos foram as bases do comércio atacadista, do comércio de exportação e do comércio varejista do Estado do Piauí. Quero, portanto, associar-me às informações que V. Exª traz ao Senado e, ao mesmo tempo, destacar que o Mão Santa é originariamente de uma família de milionários piauienses que, certamente, se enquadravam entre os milionários brasileiros.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Nada disso. Eles eram como esses comerciantes que trabalhavam. E eu fui fazer Medicina, que acho a mais humana das ciências. O médico é um grande benfeitor da humanidade. Dediquei minha vida em uma Santa Casa. Estas mãos, guiadas por Deus, tentavam salvar vidas.

            V. Exª acertou: eu sou milionário. Primeiro, eu tenho uma rainha em casa: a minha esposa Adalgisa, e príncipes: meus filhos e netos. É uma das famílias mais bem construídas do Brasil. Então, esse título eu aceito.

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (Bloco/PTB - RR) - Antes de V. Exª encerrar, Senador Mão Santa, devo dizer que minha mulher cobra muito, toda vez que V. Exª cita sua esposa... Quero dizer que eu também tenho, não a Adalgisa, mas minha Geilda, permanentemente. Somos casados há 38 anos.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - V. Exª está perdendo. Faremos agora 39 anos de casados em São Sebastião. Não é em Santo Antônio. O santo do amor é São Sebastião.V. Exª só tem 38 anos de casado. Quantos filhos tem?

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (Bloco/PTB - RR) - Três.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Perde! Temos quatro. Quantos netos tem?

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (Bloco/PTB - RR) - Quatro.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Perde! Temos sete.

            Mas convido V. Exª e sua esposa a passar uma lua-de-mel no delta do Piauí.

            Para terminar, cito o que diz um dos filhos mais competentes do Piauí, o ex-Prefeito Firmino Filho, em uma reportagem sobre o que é o comércio. Teresina, a primeira capital planejada do País, fica no meio do Estado, como o coração é no meio do corpo, é mesopotâmica, inspirou Belo Horizonte, Goiânia, Brasília e Palmas: “Vive o esplendor de uma população bem distribuída, que tem nos seus aspectos econômicos um comércio forte que absorve mais de 50% da mão-de-obra, seguido da indústria de transformação e beneficiamento de matérias-primas, que, justamente com o setor têxtil, vêm ganhando destaque, assim também como a produção de alimentos...

            (Interrupção do som.)

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Em Teresina, a primeira capital planejada, que simboliza todo o Brasil - Brasília é planejada -, mais de 50% de sua riqueza, segundo o ex-Prefeito Firmino Filho, vêm do comércio. Aos comerciantes, nossos aplausos. E a saudade de meus pais comerciantes.

 

            


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/08/2007 - Página 29701