Discurso durante a 151ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apelo por uma "melhor solução para o Senado", em razão das crises que atravessa.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO.:
  • Apelo por uma "melhor solução para o Senado", em razão das crises que atravessa.
Publicação
Publicação no DSF de 07/09/2007 - Página 30313
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • DEFESA, NECESSIDADE, BUSCA, MELHORIA, SENADO, RETORNO, RESPEITO, CONFIANÇA, OPINIÃO PUBLICA, NORMALIZAÇÃO, TRABALHO, BENEFICIO, PAIS.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Presidente Alvaro Dias, Senadoras e Senadores na Casa, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, sob os céus há um tempo determinado para cada propósito. V. Exª está aí, Senador Alvaro Dias.

            Deus não abandona o seu povo, o povo de Deus. Mozarildo Cavalcanti, o povo dele era escravo, e Ele foi buscar um - era Moisés. Cumpriu a missão, e vocês sabem. Dizem que até nessa missão de Moisés - Mozarildo, atenta bem! -, durante quarenta anos, ele teve dificuldades. O povo não acreditava mais em Deus, nas leis de Deus, mas apenas no ouro - daí o bezerro de ouro. Ele quebra as leis, enfurece-se e quer renunciar. Então, ele ouve a voz de Deus: “busque os mais velhos, os mais sábios, os mais corretos, e eles o ajudarão a carregar o fardo do povo”.

            Papaléo Paes, aí nasce a idéia dos mais velhos, dos mais sábios, melhorada na Grécia e em Roma. E foi complexo.

            Ó Paulo Paim, o Senado de Roma, embora tão importante, acabou. Um dia, um César - um César! -, Calígula, disse que seu cavalo deveria ser Senador, o Incitatus. Senador Papaléo Paes, e Incitatus foi. Ele quase fez esse cavalo cônsul, Eurípides, está aí a história de Roma, o Direito Romano; o Renascimento, depois, saiu de lá. O Renascimento! A Idade Média vai justamente da queda do poderio dos Césares ao Renascimento, ó Mozarildo Cavalcanti.

            O Senado tem essa história e está no mundo, melhorado aqui. Nós todos estamos errados, nós, Senadores de hoje.

            Ó Paulo Paim, fique atento, que você é a melhor figura do Partido dos Trabalhadores. Nós todos queremos acertar, mas estamos errados. Acho que a melhor fonte de inspiração que temos é o Livro de Deus.

            Ó Mozarildo Cavalcanti, dizem que o símbolo da sabedoria era o Rei Salomão. E lá está escrito que a verdade está no meio. Atentai bem! A sabedoria está no meio; a virtude está no meio.

            Então, Srªs e Srs. Senadores, conforme estamos indo, aqui não há meio. E essa não é... Mozarildo Cavalcanti, V. Exª lidera a Maçonaria, que busca a verdade, a justiça. Nós a buscamos como filhos de Deus e como Cristo, que está ali. Houve tempo em que os membros do Senado tinham de jurar que eram cristãos, os primeiros. Mas, sem juramento, hoje, estamos indo para um afunilamento em que não existe esse meio - não há. A verdade e a sabedoria estão no meio. Nós estamos errados; não existe isso.

            No serviço público - e vou contar uma história para que façamos a reflexão -, ó Mozarildo Cavalcanti, muito novo, médico, com o entusiasmo e a ousadia dos mais jovens - e era do PMDB -, quando vi, eu estava envolvido em um inquérito administrativo. Eu, muito jovem, cirurgião, com normas como as de hoje, pois havia uma escassez... E veio uma norma segundo a qual só se poderia operar, Mozarildo Cavalcanti, em casos de urgência.

            Os pacientes vinham principalmente do Maranhão para operar na minha Santa Casa de Parnaíba. E chegavam aquelas hérnias, Papaléo Paes, que hoje não se vêem mais, com os intestinos descendo para o saco escrotal, que ficava maior do que a cabeça. Hoje isso é raro, mas naquele tempo era muito comum. E se fazia o pré-operatório, o diagnóstico; preenchia-se a guia, ia para o instituto e diziam: “Não. Só pode urgência”. Aquilo me dava uma pena, Mozarildo Cavalcanti, e fiz a cirurgia algumas vezes. Pacientes com o saco escrotal maior do que a cabeça deles, com os intestinos... V. Exª sabe. Eu dizia “Se é assim...”, e colocava “Estrangulada”. Não era nem pelo valor, porque eu era empregado do Instituto, por concurso, mas porque achava que não era justo.

(Interrupção do som.)

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Sr. Presidente, peço mais tempo, apenas terminar meu raciocínio, para não ficar assim... É muito chato, e, com V. Exª na Presidência, não fica bem. V. Exª não é o Camata.

            O SR. PRESIDENTE (Alvaro Dias. PSDB - PR) - Fique à vontade, Senador Mão Santa.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agora falou a voz... Mas, Mozarildo Cavalcanti e Papaléo Paes, prestem atenção no raciocínio. No fim, houve um inquérito, porque eu tinha muitas cirurgias de hérnia estrangulada. E, com a minha franqueza, disse: “Fui eu que estrangulei, porque...” E o chefe, gente boa, uma figura com quem aprendi muito... Sei que, no fim, acabamos brigando, eu e o chefe, e lhe disse: “Se fosse seu pai, você iria pedir pelo amor de Deus que eu o operasse”. Não é, Papaléo Paes?

            Eu estava envolvido, mas, na hora do inquérito administrativo, tinha um bocado de alternativas. Não me colocaram para fora, tanto que estou aqui contando histórias. E Deus também tem que ajudar - é como Maquiavel disse: tem de ter virtù e fortuna. Na nossa cidade, havia um cirurgião mais idoso que estava se aposentando; um outro, que, em meio a uma crise amorosa, estava muito ausente; e eu era praticamente o único. Sei, Papaléo, que só houve uma advertência. Foram milhares de anos para se chegar a um estatuto de punição dos servidores públicos, não é?

            Eurípedes, o Brasil e esta Casa têm histórias para nos contar. Nós estamos todos errados. Atentai bem, Papaléo, não vou buscar muito longe: Getúlio Vargas, já contei que o conheci. Em 1954 houve o suicídio dele; tomou posse Café Filho. Papaléo, ele teve um enfarte.

            Naquele tempo, para enfarte não existiam essas cirurgias, não. Enfarte era sinônimo de invalidez para o resto da vida. Ele se internou no hospital em que fiz pós-graduação. Atentai bem! Ele se internou e estava sem perspectiva de voltar à Presidência da República. Por força da Constituição, o Presidente era o Deputado Federal Carlos Luz, ligado à UDN, ao Carlos Lacerda, à Marinha, à Aeronáutica, ao Brigadeiro Eduardo Gomes. Tomou posse; entrou. Naquele tempo a Marinha era poderosa, tinha o Tamandaré, um navio com um porta-aviões; Almirante Penna Botto, que sabia mais de balística. Houve até confronto com tiros em Forte Cabanas, e ele como presidente. Carlos Luz, bravo Deputado Federal!

            Mas ia haver um confronto. E aqui o Congresso ajeita, faz um ajeite. Carlos Luz volta no Tamandaré com seus Almirantes, com seus Brigadeiros, com Carlos Lacerda, e fica de Deputado. Ele, que era o presidente constitucional.

            Coloca-se Nereu Ramos, de Santa Catarina - está vendo, Papaléo? -, que passou sessenta dias garantindo a ordem e o progresso, a paz, e deu posse a Juscelino Kubitschek. Foi um ajeite, inteligência.

            Recentemente, vimos João Goulart. Quem não se lembra? Ô Paim, cadeia da solidariedade. Entra, não entra; é comunista, não é; da China, guerra, não guerra, Brizola, cadeia da solidariedade. Pegava-se lá no Piauí. Pegava no Amapá, Mozarildo? Brizola, cadeia da solidariedade.

            Tancredo é aceito como primeiro ministro num ajeite, numa inteligência, paz, e continuamos. Voltamos. Depois veio o Golpe e, na volta, Tancredo morre, se imolou.

            O Presidente legítimo - não me venha com história, não - era Ulysses Guimarães. Constitucionalmente, era o Presidente.

            Mas Ulysses, macho, viu que, se ele entrasse, o General Figueiredo não tinha saído e, ali, não dava. Era um confronto, era um conflito. Então, houve esse ajeite. Deus não nos desampara, e o Presidente Sarney é nomeado. Era para tomar posse o Ulysses - nós sabemos, a história sabe. Ele recuou. E houve alternativa.

            Está no tempo de pensarmos na alternativa. Essa paz que reinou aqui desde de Pedro I, que disse “independência ou morte”, nenhuma morte, ela se resolveu aqui. E temos que ter aquela sabedoria, temos que encontrar o que é melhor não para nós, mas para o Senado da República, para um Senado forte, inteligente, competente e respeitado. Isso é melhor para a República e para o Brasil.

            Aprendi de Petrônio Portella...

(Interrupção do som.)

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Deixe-me terminar.

            Petrônio Portella, jurista, que presidiu esta Casa, que fez a Lei da Anistia, daí votaram, que seria Presidente da República - Tancredo tinha aceitado ser o seu vice no colégio eleitoral pelo PT e ele pelo PDS, e ganhariam o do PMDB -, disse uma frase que eu aprendo, passo e que serve para orientar esta Casa e os que estão envolvidos: “Só não muda quem se demite do direito de pensar”. Não existe essa não; sou mais o estadista Petrônio Portella, que foi o ícone da redemocratização deste País, do Piauí, sem um tiro, sem uma bala, sem uma truculência. “Só não muda quem se demite do direito de pensar”.

            Carlos Luz ia tomar posse mesmo, chamou os brigadeiros, mas mudou. Ele era Deputado Federal, era macho; mas a gente muda.

            Ortega y Gasset diz: “O homem é o homem e suas circunstâncias”.

            O filósofo Descartes disse: “Penso, logo existo”. Daí nós estarmos aqui. Temos que pensar a melhor solução. A melhor solução para o Senado é a melhor solução para a República, e a República é o povo. A ele nós temos que respeitar.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/09/2007 - Página 30313