Discurso durante a 154ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao Círio de Nazaré, denominado "Patrimônio Imaterial da Cultura Brasileira" pelo transcurso dos seus 240 anos.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao Círio de Nazaré, denominado "Patrimônio Imaterial da Cultura Brasileira" pelo transcurso dos seus 240 anos.
Publicação
Publicação no DSF de 12/09/2007 - Página 30917
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, FESTA, CERIMONIA RELIGIOSA, IGREJA CATOLICA, MUNICIPIO, BELEM (PA), ESTADO DO PARA (PA), IMPORTANCIA, PATRIMONIO CULTURAL, DEMONSTRAÇÃO, TRADIÇÃO, CRENÇA RELIGIOSA, POPULAÇÃO, BRASIL.

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sr. Arcebispo, Prefeito Duciomar, prezada Deputada Ann Pontes, Senadores Alvaro Dias e Flexa Ribeiro, demais componentes da Mesa, Srªs Deputadas, Srs. Deputados, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, convidados para esta oportuna e relevante sessão solene do Senado Federal, a imprensa recentemente criticou, e com razão, o excesso de sessões solenes que o Senado tem vivido. Isso até banaliza a figura da sessão solene; isso é verdade. Agora, esta não. Esta realmente é importante. Até para quem só conhece a Festa de Nazaré por televisão, até esses sabem que a homenagem é mais do que justa.

            Tive o orgulho de conhecer, de ter ido ao Círio de Nazaré, duas vezes. Na verdade, Senador Flexa Ribeiro, fiz incursão suprapartidária nessas duas viagens, porque, na primeira vez, fui convidado da minha colega de Câmara, hoje Governadora do Estado, Ana Júlia Carepa.

            Passei dois ou três dias de absoluto enlevo, porque vi aquela cerimônia inicial, que é a trasladação, e, no dia seguinte, a procissão. Acompanhamos um pouco a procissão e depois fomos para uma casa da qual a visão era privilegiada. Deu para ver desfilar à nossa frente um milhão de fiéis talvez, gente de todo País: do interior do Pará, do interior do País, das capitais todas, Belém em peso e também turistas do mundo.

            Da outra vez, fui a convite do meu querido amigo e companheiro, o ex-Governador Almir Gabriel, junto com o então Governador Simão Jatene e pude, novamente, constatar que não há festa religiosa mais forte do que a de Nazaré, em Belém. Não há.

            Aliás, temos, no meu Estado, a meu ver no fundo, no fundo, fictícia situação de antagonismo, de rivalidade com o Pará. Mas faço parte daqueles amazonenses que têm uma admiração profunda pelo Pará. Conheço muito o Pará. Conheci diversas cidades fazendo comício aqui e acolá. Conheço bastante Belém. Tenho amigos muito queridos em Belém, Dr. Djalma Melo. Conheço Santarém, que é uma parte amazônica do Pará, e conheço Salinas, que é um conjunto de praias absolutamente excepcional.

            O Governador Simão Jatene dizia que o Pará era um Estado muito privilegiado, porque ficava na esquina do rio Amazonas com o oceano Atlântico. Mas eu fui além: conheço Marajó - estive lá com o Senador Flexa Ribeiro e com o Governador Simão Jatene. Conheço Marajó e sempre digo que quem não conhece Marajó não conhece efetivamente o Brasil. E mais, lanço um desafio ao homem público que se imagina conhecido pelo País inteiro: se ele não for conhecido em Marajó, ele não é uma pessoa realmente conhecida nacionalmente.

            A gente chega lá e encontra um mundo completamente diferente: a limpeza pública é feita em cima do lombo de búfalos, praias belíssimas, experiências fantásticas. Há um grupo, aliás, a cidade inteira pratica uma luta belíssima chamada Luta Marajoara, que é uma espécie de wrestling, é uma greco-romana inventada por eles ali há mais de 200 anos. Tendo-os visto praticar aquilo, fiz uma sugestão ao Governador Simão Jatene. Como não sei se foi implementada, fica a sugestão para a Governadora Ana Júlia: que implante a Luta Marajoara como peça obrigatória, como matéria obrigatória do currículo das escolas públicas do Pará.

            Enfim, é um Estado riquíssimo, que chega ao ápice de sua capacidade criadora e de sua demonstração de fé com o Círio de Nazaré. As pessoas que pagam promessas, as pessoas que fazem seus votos de esperança, as pessoas que exibem suas faces iluminadas por uma fé inquebrantável, essas todas, a mim me encantaram muito.

            Nós temos no Amazonas uma festa muito bonita, a festa de Nossa Senhora do Carmo, em Parintins. É uma festa de muito fervor, menor em tamanho e igual em intensidade de fé, intensidade de abnegação, intensidade de sacrifício, intensidade de beleza, porque o Círio de Nazaré é uma festa de muita beleza e que termina com muita alegria, como devem ser todas as festas populares.

            Então, fiz questão, Presidente Efraim Morais, atendendo ao convite e ao chamamento do Senador Mário Couto e do Senador Flexa Ribeiro, com o parecer do Senador José Nery, de comparecer a esta sessão. Eu já viria de qualquer jeito. Viria porque esta sessão me dá oportunidade de expressar o carinho que tenho por esse Estado tão próximo do meu no mapa, embora tão distante. Dizem que nós somos vizinhos, mas levamos 1 hora e 50 minutos de jato de Manaus a Belém. É uma vizinhança que tem distâncias amazônicas a separar um Estado do outro. Mas sinto que temos muita identidade cultural, muita identidade política até, se pensarmos em política em um sentido mais amplo, com “P” mais do que mais maiúsculo; temos identidade e fraternidade econômica.

            Precisamos aprender a construir, juntos, uma realidade justa para ambos os povos, porque Amazonas e Pará são os Estados centrais da Amazônia, que podem mostrar ao País, junto com os outros Estados - Acre, Rondônia, Amapá, Tocantins, Roraima -, que o Brasil só tem uma alternativa de ter futuro brilhante: se souber dar um futuro brilhante à Região Amazônica, se souber explorar as suas possibilidades.

            Um Deputado do meu Estado, o Deputado Praciano, diz que o mundo inteiro demonstra cobiçar a Amazônia, e o Brasil até hoje não aprendeu a cobiçar a Amazônia. Se o Brasil cobiçasse a Amazônia mesmo, haveria mais policiais federais na fronteira; se o Brasil cobiçasse a Amazônia, aparelharia o Ibama para impedir as queimadas criminosas; se o Brasil cobiçasse a Amazônia, faria muito mais investimentos do que faz hoje. E eu não me refiro a um Governo; refiro-me a 200 Governos, incluindo este, e para trás.

            Então, o Brasil precisaria aprender a cobiçar a Amazônia, a querer a Amazônia. Se há uma potência que deve procurar ocupar a Amazônia, inclusive militarmente, essa potência se chama Brasil. O Brasil precisa colocar isso na cabeça de Norte a Sul. E vejo uma grande oportunidade no Círio de Nazaré, para que os brasileiros pensem na Amazônia, reflitam sobre a Amazônia e aprendam com a fé daquele povo; aprendam, Senador Mário Couto, com a fé belíssima, com a fé - eu repito - inquebrantável daquele povo. E que percebam que um povo - e aí eu quero me considerar, como amazônida, também anfitrião dessa festa - que é capaz de construir uma festa popular tão bonita, uma festa religiosa tão exuberante, esse povo tem todas as vocações, menos a da pequenez, menos a do nanismo, menos a da mesquinharia, menos a da mediocridade, e não pode ser condenado a um futuro pobre e medíocre um povo que é capaz de realizar o Círio de Nazaré, Sr. Presidente.

            Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/09/2007 - Página 30917