Discurso durante a 163ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Protesto contra a redução de vagas na Universidade Estadual do Piauí.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ENSINO SUPERIOR.:
  • Protesto contra a redução de vagas na Universidade Estadual do Piauí.
Aparteantes
Alvaro Dias.
Publicação
Publicação no DSF de 25/09/2007 - Página 32444
Assunto
Outros > ENSINO SUPERIOR.
Indexação
  • COMENTARIO, CRESCIMENTO, BUROCRACIA, NUMERO, MINISTERIO.
  • HOMENAGEM, POLITICO, JORNALISTA, ESTADO DO PIAUI (PI), APOIO, ORADOR, EPOCA, GOVERNADOR, REGISTRO, GESTÃO, AMPLIAÇÃO, ENSINO SUPERIOR, SUPERIORIDADE, ENSINO, DESCENTRALIZAÇÃO, CAMPUS AVANÇADO, INTERIOR.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, EPOCA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), VINCULAÇÃO, AUMENTO, ESCOLARIDADE, REDUÇÃO, VIOLENCIA.
  • CRITICA, CORRUPÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), FALTA, PRIORIDADE, EDUCAÇÃO, PROTESTO, REDUÇÃO, CURSOS, VAGA, ENSINO SUPERIOR, ESTADO DO PIAUI (PI), AUMENTO, UNIVERSIDADE PARTICULAR, SUPERIORIDADE, PREÇO, CONCLAMAÇÃO, DEPUTADO ESTADUAL, COBRANÇA, GOVERNADOR, REITOR, UNIVERSIDADE ESTADUAL.
  • REITERAÇÃO, IMPORTANCIA, RESISTENCIA, SENADO.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Alvaro Dias, que preside esta sessão de segunda-feira, Srªs e Srs. Senadores da Casa, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, essencial e invisível aos olhos, ninguém nega que este Governo que está no Brasil instalou-se, agigantou-se. De repente, o Estado brasileiro, que tinha 16 Ministérios, passou a ter quase 40 Ministérios. De repente, este País contrariou todos os caminhos de fazermos dele uma grande Nação.

Isso é velho, a democracia é velha e aperfeiçoada, e um dos que melhor pensou no mundo disse que só há um grande bem, o saber, e que só há um grande mal, a ignorância. E a ignorância é audaciosa. Sócrates disse que só há um grande bem, o saber, e que só há um grande mal, a ignorância.

Bilac, patrono da mocidade: “Criança, não verás nenhum país como este”. Isso me fez amar o Brasil e a nossa geração. Senador Alvaro Dias, o que diria Bilac hoje? Campeão da corrupção, campeão da carga tributária, campeão da falta de ética.

Chegou ao cúmulo, Alvaro Dias - hoje li uma matéria no jornal -, de um político que eu diria ser um verdadeiro... Eu queria até dar a ele um disco do Roberto Carlos com a música que fala “meu irmão camarada”. Combatemos muita luta. Ele é jornalista. Naquele tempo, ele recebeu a mais estrondosa votação para Vereador da capital de Teresina, Carlos Augusto. Ele fazia parceria com Deoclécio Dantas, e eu o vi fazer oposição contra a ditadura. Que coragem!

Combati muitos combates com Carlos Augusto. Alvaro Dias, V. Exª governou um Estado. E Carlos Augusto adoeceu. Ele era meu Secretário de Comunicação e, quando Deputado, Líder de Governo. Ele sofria de insuficiência hepática. Fui deixá-lo no aeroporto. Ele estava desenganado no início do meu Governo. Naquele avião de transporte de doentes para São Paulo, ele, antes de se despedir, eu era Governador e ele um companheiro de luta, um bravo jornalista... Aliás, acho que, no jornalismo piauiense, ele com Deoclécio Dantas significavam assim o que foi Pelé e Coutinho na história do futebol brasileiro: muita luta, muita combatividade. De repente, antes de embarcar, ele pediu para ficar a sós conosco - eu, minha Adalgisa e meu filho, Francisco Júnior, que segurava o soro. Ele poderia viajar e não voltar. Em busca de um transplante de fígado; se isso é difícil hoje, imaginem em 1995.

Senador Alvaro Dias, fechou o avião e ele disse: “Mão Santa, eu conheço o Piauí todo. Dona Adalgisa, não deixe o Mão Santa fraquejar. Só ele pode recuperar este Estado. Eu conheço todo e toda gente.” Ele poderia não voltar. Eu pensei até que ele faria um pedido de segurança para familiares dele, que seria lícito. Mas foi isso.

Alvaro Dias, V. Exª já lutou muito. O erro de José Sarney foi não pegar a sua candidatura e fazê-lo Presidente quando terminou o Governo do Paraná.

Eu fiquei perplexo quando ele disse: “Dona Adalgisa, não deixe. Só tem o Mão Santa."

Governei aquele Estado e quero dizer, Alvaro Dias, a Luiz Inácio, ao Ministro da Educação, a Cristovam Buarque: fiz no meu Estado o maior desenvolvimento universitário, não foi do Piauí e do Brasil, do mundo! Acreditei que iria plantar o mais importante: a semente do saber.

Acredito em Deus, no amor, no estudo e no trabalho. São minhas crenças. Assim o fiz. Hoje quero dizer que este País vai mal como nunca dantes na sua história. Eu, Gilvam! Eu aqui. E esse homem companheiro, irmão camarada, faz ataques a mim porque disse que este era um dos melhores Senados da República.

Houve um artigo. Aquele que - e quase certo - é um médico não voltaria mais. Trancou o avião. Pensei que fosse pedir uma segurança para a família. "Não deixe, D. Adalgisa; conheço o Piauí. Só o Mão Santa tem coragem, decência e ética para salvar esse Estado".

Porque eu disse, nas minhas crenças. Estamos aqui, Alvaro Dias, nós lutamos. O que houve, houve. No dia seguinte, eu queria abrir a sessão e já tinha o Paim e já estava V. Exª. Nós acreditamos. Nós não estamos envergonhados pelo que se passou aqui, não. Nós somos o que fomos. Agora, estou envergonhado com o PT. E votei neles.

Meu amigo, hoje li atentamente - cheguei à mídia da imprensa, vermelha. Essa cor, temos que roubar para nós - a sua gravata, Senador Alvaro. Isso o PT não tem nada. PT tem é a corrupção, a desmoralização, a falta de decência, a indignidade nunca dantes existente nesta Pátria. Essa cor vermelha, vamos roubá-la para nós, que é sangue - eu que fui cirurgião -, que é vida, que é oxigênio. A do PMDB é vermelha com preto, é a cor do flamengo. PT não tem nada! Ele tem é que ter vergonha para exigir que tenha uma cor. Essa é nossa, que temos gana e coragem de lutar. É lá dos piauienses, que morreram na Batalha do Jenipapo, e não desses aloprados que estão aí. Ô Tião, atentai bem.

E nessa capa vermelha tem: “Mais diplomas, menos crimes. Investir na escolaridade ajuda a reduzir as estatísticas de violência, revelam novas pesquisas feitas no Brasil e nos Estados Unidos”. Ô Luiz Inácio! Leiam na Época. Diz aqui - vou enaltecer a jornalista Solange Azevedo -, olhem o que ela diz, só um gráfico: “Nos dez Estados com maior proporção de estudantes universitários, as taxas de crimes violentos são 40% menores que a média nacional. Em Minnesota, o Estado mais escolarizado, a taxa de crimes violentos é 37% inferior à média do país”.

Então, é isso, ô Luiz Inácio, esse PT é a desgraça deste País! Este País não tem vulcão, não tem terremoto, tsunami, mas tem a desgraça desse Partido no meu Estado.

Está aqui. Eu fiz o maior desenvolvimento universitário da história do mundo. Quando deixei o Governo, li um trabalho segundo o qual, das dez melhores universidades, somente três eram públicas. Há uma década, era o contrário: das dez melhores universidades, sete eram públicas e três privadas. Quando deixei o Governo, das dez, apenas três eram públicas e uma das três públicas era a Universidade do Piauí.

Está aqui. Construímos com o povo do Piauí 36 campi universitários, a Universidade na cidade do interior. O Piauí tem 224. 36! Os aloprados do PT do Brasil e do Piauí fecharam. Só há 20. Diminuíram os cursos. Está aqui o trabalho publicado hoje pela aloprada que dirige lá e pelo Governador do PT: reduziram, de 12 mil para pouco mais de três mil, o número de vagas para o estudante pobre do Piauí - um quarto!

Ô Alvaro Dias, Luiz Inácio, o Governo brasileiro lhe deu o Senai. Hoje, a tecnologia exige a formação universitária. Das 12 mil vagas que tínhamos, baixaram para três mil e poucas. De 36 cidades com ensino universitário, fecharam quase a metade; diminuíram os cursos. E está aí! E é o Partido. Essa é a verdade. É a ignorância audaciosa que engana.

A CPMF, que foi defendida por um Senador governista, é roubada e desviada. Para onde? A saúde está aí. Eu sou médico. Quero discutir como a saúde piorou.

Carlos Augusto - Carlos Augusto é o jornalista, ô Alvaro Dias, meu irmão camarada -, neste Senado, nós somos a resistência.

Os governos de Chávez, de Fidel, da Bolívia, do Equador, de Nicarágua já compraram tudo e dominaram todas as classes. Aqui, eu tenho minhas dúvidas.

Com a palavra o Senador Alvaro Dias - um grande erro do Presidente José Sarney foi não ter abraçado a sua candidatura para presidente da República.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Obrigado, Senador Mão Santa. Eu quero destacar a disposição para o trabalho de V. Exª: todos os dias aqui, sem faltar, sempre disposto a defender o Piauí e sempre pedindo espaço para se comunicar daqui, da tribuna do Senado Federal. V. Exª é o mais presente de todos nós; é o que está, sem dúvida alguma, em primeiro lugar em matéria de persistência nesta luta que trava para fazer o Piauí ouvido pelo Brasil, pelo Presidente da República e pelo Governo Federal. V. Exª disse que este é o melhor Senado. Talvez eu não concorde nesse ponto com V. Exª. Não acredito que seja o melhor Senado, não.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Eu só queria dizer que nunca este Senado, na história do Brasil, trabalhou às segundas-feiras. Nós começamos aqui, denunciando as mazelas desse Governo corrupto.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Mão Santa, eu acho que temos de pedir desculpas ao povo brasileiro, porque, realmente, apesar de respeitar a opinião de V. Exª, nós não estamos atendendo as expectativas do País. Estamos muito aquém de atender as aspirações da sociedade brasileira pelo comportamento que aqui não merece a aprovação popular da parte de alguns. É preciso fazer essa autocrítica. Agora, é importante destacar que se pode condenar o Senador, que é passageiro, que é eventual, que é substituível, mas não se pode condenar a instituição Senado da República. Ela é essencial, imprescindível; é permanente, é definitiva, é insubstituível. Portanto, preservar a instituição é dever de todos os democratas. Não é inteligente quando um articulista ou alguém que ataca o Senado Federal ataca a instituição e não os Senadores. E até em relação a Senadores, para que haja inteligência na crítica, é preciso separar o joio do trigo, é preciso distinguir um dos outros, se é que isso seja possível. Eu também não estou aqui para julgar o comportamento de ninguém, a não ser quando esse julgamento é exigido como prerrogativa parlamentar, regimentalmente e legalmente; quando há uma representação que vai ao Conselho de Ética, e nós temos que julgar. Fora disso, não é nosso papel julgar. Mas o que quero mesmo, Senador Mão Santa, é que V. Exª continue desta forma, atuante e presente, porque assim valoriza a instituição, e nós precisamos preservá-la.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Incorporo a palavra, a experiência e a bravura de V. Exª.

Responderia ao meu grande jornalista do Piauí. Lembro quando vi bravos homens da Oposição no Piauí aos governos da ditadura: Deoclécio Dantas, Oscar Eulálio, Themístocles Sampaio, Bruno Santos, Elias Ximenes do Prado, aquele vibrante orador, farmacêutico, o melhor orador que tínhamos de Floriano. E vi oposicionistas.

Então, quero que a minha Assembléia do Estado do Piauí - temos orgulho de ter vivido ali com grandes homens - veja esta vergonha que o PT leva ao Piauí: de 12 mil vagas de esperança para o jovem, reduziram para pouco mais de 3 mil; de 36 a 39 campi universitários, fecharam a metade dos cursos.

Sei que há um aumento de universidades privadas. Mas, Tião, que representa ainda essa esperança de dar um banho aí nesse seu Partido, a democracia precisa disso. V. Exª sabe quanto é um curso de Medicina numa universidade privada? São R$3 mil, R$3,5 mil.

Esse sistema privado é americano, porque lá eles trabalham o jovem universitário, que consegue ganhar isso em dólares, em serviços comuns. Aqui, pergunto qual é o jovem universitário. Não tem nem emprego no Brasil para salário mínimo, como vai pagar uma universidade privada na nossa área de Medicina, R$ 3.000,00 por mês? E o pai de família que tem dois, tem três e quer encaminhar seus filhos? Então, proliferaram aí, mas a porta estreita do ensino obrigatório universitário está acabando. No Piauí reduziu-se a 25%.

Essa é a verdade, Luiz Inácio. Estão enganando Vossa Excelência. Vossa Excelência é até sincero quando diz que não sabe, não vê, não sabe. Mas, Excelência, para isso existe Senado; só por isso já valeria, termos condições de levar a verdade, a realidade e a luz, para que o Brasil tenha riqueza e felicidade de seu povo.

Então, são essas nossas palavras. Ô Carlos Augusto, aqui estamos lutando, com lutou Rui Barbosa! Quando nasceu a República, veio um militar, o segundo, e quiseram meter o terceiro. Ofereceram a ele a chave do cofre, mas ele disse: tô fora. Para ser ministro da Fazenda. E ele disse que não trocava sua trouxa de convicções por um ministério.

Estamos aqui, como Joaquim Nabuco que, minoritário e solitário, defendia a liberdade dos escravos. Nós estamos aqui resistindo. Sob os céus, há um propósito para cada tempo. O propósito agora é que este País mantenha as liberdades democráticas, liberdades ameaçadas pelo modelo de Cuba, da Venezuela, que já está aqui, do Equador, da Bolívia e da Nicarágua. Aqui é o último foco da resistência. Eu acredito nos companheiros que vejo. Eu acredito que temos inspiração para reagir como Rui Barbosa reagiu.

Essas são as palavras. Eu ganhei essa força e essa inspiração quando vi homens, lá na minha Assembléia do Piauí, na Oposição, mas com firmeza e com decência... Que os meus Deputados do Piauí chamem esse Governador do PT, esse Presidente do PT, a reitora do PT, e enterrem essas ações que estão acabando com o ensino universitário do Piauí e da Uespi. A bandeira do Piauí só tem uma estrela e essa estrela é a Uespi.

Ô Alvaro Dias, o maior palácio, quando eu fui eleito, eu cedi para a Uespi, para ser a reitoria. Não governei no Palácio mais luxuoso, mais adequado, porque achei que a coroa da sabedoria e a semente do saber deveria ser plantada no Piauí. E agora eles estão com motosserra, fechando as faculdades e as universidades do povo e dos pobres, e proliferando a dos ricos. E quero dizer, Tião, que sou testemunha que muitos velhinhos estão inconformados, pois enganaram-nos com o negócio de empréstimo consignado. E os velhinhos não têm mais dinheiro para comprar os remédios. Um padrinho meu do Rotary se suicidou, porque tinha vergonha. E o Governo do Luiz Inácio enganava, dizendo que o empréstimo era bom

Ô Luiz Inácio, Abraham Lincoln repetia a frase “não baseie sua prosperidade com dinheiro emprestado”.

Ô Alvaro Dias, como os velhinhos foram enganados e sacrificados! Apareceram mais financeiras do que motéis para fazer amor, porque a corrupção atrai mais essa gente. É um escândalo! Eu cheguei na minha cidade, em Parnaíba, e não reconheci. Em tudo quanto é boteco há uma financeira. E é velhinho se suicidando, porque os velhos são honrados e honestos. Eles não têm aumento, e pedem empréstimos. Mas ganham R$300 e as financeiras cobram R$100 e tantos. Como aquele velho, que tem moral e dignidade, vai pagar o empréstimo?

Este foi o pior Governo da História do Brasil.

E vem eleição aí. Ô Tião, salve esse Partido, porque nós nos encantamos e a desgraça chegou ao Piauí. Estão enterrando a sua maior riqueza, que é a Universidade Estadual do Piauí, porta da igualdade que o saber garante.

Carlos Augusto, meu grande jornalista, companheiro, irmão camarada, vou lhe mandar um disco do Roberto Carlos, mas convoque, V. Exª que é ex-Deputado, essa Assembléia para impedir a maior desgraça que está acontecendo no Piauí. Sei que tem muita gente morrendo em função da seca, da falta de água. Mas tem mais gente morrendo nas ruas.

E já não se faz mais nem velório no Piauí. Sabe o que é velório, Alvaro? Quando morria alguém, este ficava na sua casa com a sua família, os solidários, para ser enterrado no outro dia.

Alvaro Dias, morreu uma pessoa amiga num outro dia. Eu, então, disse que ia ao velório à noite, depois que tomasse banho, depois da novela. Mas me disseram que não haveria velório. Agora, quando alguém morre às 5 horas, é enterrado às 6 horas, porque houve um velório em que os ladrões entraram, roubaram os sapatos e outras coisas. Ninguém faz mais nem velório! Enterra-se logo, ligeiro, com medo dos assaltos.

Sei que há muita desgraça no Brasil e no Piauí, mas a pior é enterrar a possibilidade de o estudante pobre ter uma universidade gratuita.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/09/2007 - Página 32444