Discurso durante a 169ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas ao governador do Piauí, Wellington Dias, pela redução de vagas na Universidade Estadual do Piauí, em 2008.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Críticas ao governador do Piauí, Wellington Dias, pela redução de vagas na Universidade Estadual do Piauí, em 2008.
Aparteantes
Cristovam Buarque, Rosalba Ciarlini.
Publicação
Publicação no DSF de 02/10/2007 - Página 33504
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, LEITURA, LIVRO, AUTORIA, PAULO DUQUE, SENADOR, ASSUNTO, HISTORIA, ESPECIFICAÇÃO, PRONUNCIAMENTO, EX SENADOR, APOIO, CANDIDATURA, PRESIDENCIA, GETULIO VARGAS, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ADVERTENCIA, CONDUTA, GOVERNO FEDERAL, TENTATIVA, IMPOSIÇÃO, VITORIA, CANDIDATO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
  • APREENSÃO, REDUÇÃO, VAGA, UNIVERSIDADE, ESTADO DO PIAUI (PI), CRITICA, OMISSÃO, GOVERNO ESTADUAL, PREJUIZO, EDUCAÇÃO, AUSENCIA, IMPLANTAÇÃO, CRECHE.
  • DEFESA, APERFEIÇOAMENTO, BOLSA FAMILIA, NECESSIDADE, ASSISTENCIA FINANCEIRA, SIMULTANEIDADE, FORMAÇÃO, POPULAÇÃO CARENTE, INCENTIVO, INGRESSO, MERCADO DE TRABALHO, IMPORTANCIA, PREPARAÇÃO, JUVENTUDE.
  • APREENSÃO, AUMENTO, CORRUPÇÃO, BRASIL, CRITICA, GOVERNO FEDERAL, SUPERIORIDADE, GASTOS PUBLICOS, CONTRATAÇÃO, DIREÇÃO E ASSESSORAMENTO SUPERIORES (DAS), CRIAÇÃO, MINISTERIOS.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Cícero Lucena, que preside esta sessão de segunda-feira, 1º de outubro, Senadoras e Senadores na Casa, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, Senador Cristovam Buarque, tenho em mãos livro do Senador Paulo Duque - Peço a palavra, pela ordem. Na capa, foto do Palácio Monroe, antiga sede do Senado do Rio de Janeiro, e na contracapa, o nosso plenário. Quero chamar a atenção de como era o Senado, Cícero Lucena, aqui há um discurso proferido no Senado e que estou lendo há muitos dias. É um discurso feito no Senado em 1929 sobre a candidatura de Getúlio Vargas, proferido por João Neves. Para que tenham noção, ele começa na página 43 - tenho lido, estou na 81 - mas vai até a página 85. Então, são 42 páginas de discurso.

Os Senadores antigos, como falavam! Ele estava defendendo a candidatura Getúlio Vargas contra a candidatura paulista e forte que foi imposta por Washington Luiz e gerou aquela revolução. Mas era tempo. E nós estamos aqui porque é a função do Senado foi sempre essa.

Interessante é que ele advertia: eles estavam conscientes de que era uma imposição do Governo. Ele ameaçava que se não se obedecessem ao povo “iam para o pau”. E houve aquela revolução que todos conhecem. Getúlio entrou na ditadura. Ditadura não é um regime bom. Nós temos o livro Memórias do Cárcere, que reflete sobre isso. Mas o ditador era bom. Getúlio Vargas foi um dos homens mais admirados, mais trabalhadores e cultos deste País, que fez toda essa estrutura que há. E isso ninguém vai negar.

Entendo que Luiz Inácio é uma pessoa generosa, tem boas intenções, mas isso não basta. Não basta ser generoso e ter boas intenções. Sou mais, Luiz Inácio, Sócrates, que ficou na história do mundo como um sábio e disse que só existe um bem, Professor Cristovam: o saber. E só existe um grande mal: a ignorância.

Ainda hoje citamos Sócrates. E é isso mesmo. Está aí o Professor Cristovam, que acredita que a educação leva a esse saber. Estou muito tranqüilo. Implantamos, quando governamos o Piauí, o maior desenvolvimento universitário da história do mundo. Ô Garibaldi! Não foi do Piauí nem do Brasil, não. Foi do mundo! A ignorância audaciosa do PT: havia 12 mil vagas para o vestibular da universidade estadual, e baixou para três mil. Se você fizer... Eu fiz na minha cidade e vi. Olha! A cidade da gente, eu diria como Sêneca, que não era nem de Atenas nem de Esparta, era de uma cidade grega. Ele dizia que não é uma pequena cidade; é a minha cidade. Sei que Parnaíba não é São Paulo, não é Belo Horizonte, não é Brasília, mas é a minha cidade.

Fiquei entristecido quando um professor que foi Secretário de Educação, o melhor Vereador que existe, Professor Iweltmam, professor universitário, me disse que diminuíram quase dez mil matrículas. Eu disse: está morto. Está morto! Fomos prefeitinhos, fomos governadores e somos Senadores. Só existe uma razão. Na hora em que não tivermos essa clarividência, está morto. Dez mil! Fiquei assim perplexo, e ele me mostrou. Creche! Não existe mais creche.

Este Governo está enganando. Pioraram as coisas, Luiz Inácio! Você fica aí rodeado de aloprados enganando-o e mentindo!

E foi lá no México, Cristovam! Na entrada do Palácio do México há uma frase de que não me esqueço, do General Obregon, que disse assim: “Prefiro um adversário que me diga a verdade do que um aliado, um puxa-saco mentiroso que me engana e ilude”. E Luiz Inácio não leu. Andou nas pirâmides, tirou belas fotos com a encantadora D. Marisa, mas não tirou a foto dessa frase.

A realidade é que creche... O Vereador é o melhor, o mais culto da cidade, é um intelectual da Academia de Letras, autor de livros, professor universitário com perspectiva invejável na política. Foi Secretário de Educação durante quase dez anos. Ele viu que fiquei assim, porque isso é inconcebível na minha cidade. E deve estar ocorrendo em todas. Fiquei perplexo e, no dia seguinte, ele estava com relatório.

Luiz Inácio, os presidentes eram melhores. Existiu uma LBA. Cadê a LBA? Acabaram. Então, eu me lembro. Quando vi creche zero era um tsunami!

Você foi prefeitinho e eu também, em 1989. A Adalgisa, que é minha mulher, via um menino na rua e só falava em creche, era creche que o prefeito visitava. E não existe mais creche neste País. Podem olhar; olhem na sua cidade. Havia uma LBA e tantos meninos ali, aquela burocracia. Então, eu me saí um extraordinário prefeito, porque era melhor naquele tempo.

E ele sai comparando as matrículas municipais do primário antigo, do segundo grau, do primeiro e da universidade, que diminuíram em quase dez mil numa cidade de 150 mil habitantes. Vejam as outras! Então é crença!

Quanto a esse negócio de Bolsa Família, eu não sou contra, caridade, eu não sou contra. Está ali Cristo. O Apóstolo Paulo, ô, Drª Ciarlini, Rosalba, fé, esperança e caridade. Caridade, ninguém pode ser contra. Para o apóstolo Paulo, caridade é amor, uma forma de amor, mas temos que repensar, e nós estamos aqui, Luiz Inácio.

Cadê a oposição? Está atrás de lugar para aloprado. Vinte e cinco mil entraram sem concurso neste País, ganhando os maiores... Não vamos enganá-los. No nosso Governo do Estado, existe um tal de DAS 1, 2, 3 e 4 - Direção de Assessoria Superior. No Governo Federal, existe até DAS 6, que ganha R$10.448,00. Então, Luiz Inácio está distribuindo aí como se distribui boletim. E haja aloprado!

Agora, para terem uma noção, ô, Rosalba Ciarlini, o Bush - o Luiz Inácio é melhor do que o Bush, estou tranqüilo -, nomeou apenas 4.500 pessoas, assim, por livre arbítrio, DAS, essas nomeações...

É como diz o Livro de Deus: a porta larga da vagabundagem, da malandragem... Só 4 mil. E aqui são quase 25 mil. Por isso o povo brasileiro morre de trabalhar. Trabalha, trabalha, trabalha para pagar essa gente. O Sarkozy, que foi eleito - podem ver, pesquisem, está aí o Cristovam -, 350; o substituto do Tony Blair - era o Ministro da Fazenda lá - só nomeia 160. Os países têm as instituições, as organizações. A Alemanha tem algo por volta de 600. Aqui são 24 mil e tantos aloprados. E vocês vão trabalhar, vão pagar imposto. E mente, mente, mente, e pensa que aqui...

Por isso é que dizem “vamos fechar o Senado”. Só há um jeito, porque o Boris Casoy... Você se lembra, Cristovam? “Isto é uma vergonha!” Eu gostava do Boris. Aí, sumiu! Agora, tirar daqui dá confusão, porque eu vim com a força, a coragem e a bravura do povo do Piauí. Nunca fiz um título de eleitor, nunca comprei um voto.

Sei que estão transformando essa democracia numa cleptocracia. Eu sou médico e entendo. Não existe a cleptomania? É uma pessoa rica, mas gosta de furtar as coisas. É uma doença. Cleptocracia é o governo dos ladrões, que está entrando aqui. Isto não é mais uma democracia. Estão se transformando, então, os cleptocratas em plutocratas. Daqui a pouco, só tem ricão aqui, porque eles roubam tanto, como é que se vai concorrer?

Então, nós não estamos aí. Nós estamos defendendo... Por isso, dizem: “Fechem o Senado!” Porque o Senado é para isto: é para resistir. Aqui é a última resistência. Essa gente quer fazer aqui igual à Cuba, igual à Venezuela, igual ao Equador, igual à Bolívia... Mas é complicado! Nós temos outra história. Nós entendemos a nossa evolução cultural muito mais próxima da França, Carlos Magno, “Les Gaulois croyaient que les sources et les rivières, la montagne d’Alsace étaient des Dieux qui pouvaient faire de bien et de mal”. É muito mais próxima ao povo na rua gritando “liberdade, igualdade, fraternidade”, que tombaram os reis. É muito mais forte! É próxima à Inglaterra, que tem também um regime bicameral: a dos Lordes são pessoas de tradição, de alta cultura; e tem a Câmara Popular. É muito mais próxima à história da Itália, do Renascimento, à história de Cícero, no Parlamento romano.

E aqui é muito melhor! Este Senado é o melhor do mundo! Nós estamos aqui. Quem não está não está! Mas nós estamos desde as duas horas. E isso... Nunca se trabalhou na segunda-feira. E nós estamos mostrando a nossa cara. Tem problema? Tem! Mas o Senado romano já elegeu para senador um cavalo. Foi... Um César! Ô, Luiz Inácio, a gente é o destino. César foi poderoso... Calígula botou o cavalo dele e foi Senador... Aqui também tem os nossos problemas. Mas só não se tem problema no cemitério. Não é verdade, Presidente?

Então, quero dizer-lhe que este País vai mal, por uma questão muito simples. Senador Cristovam, seu nome vem de Cristo ou de Cristóvão Colombo? Está ali Cristo. No Senado, só entrava quem jurava ao Papa, que era católico apostólico romano. Falo dos primeiros. Os primeiros senadores tinham de jurar que eram católicos. Quem não fosse não entrava, era cassado antes de entrar. Houve umas brigas. Um espírita entrou, deu confusão, e tiraram isso. Somos cristãos, mas tiraram essa exigência, porque o Estado é laico. Mas Cristo está aí.

Ô Luiz Inácio, Vossa Excelência disse que não gosta de ler, de estudar. Cada um tem os seus gostos. Não tenho nada contra. Respeito. Não vou dizer a Vossa Excelência que aprenda os Dez Mandamentos. Aqui é a Casa das leis. Nosso regime é fundamental para as leis. Estamos aqui para fazer leis boas e justas. Mas há as tais leis que foram entregues a Moisés. Ao menos aprenda a sétima, Luiz Inácio: “Não furtar”. É pecado. Não é bom.

Está aqui a realidade do País. Travei um debate qualificado com o Senador Mercadante. O Bolsa-Família é bom? É bom. É um ato de caridade, de caridade. Mas é para mudarmos, para aprimorarmos. Está ali, temos de dar ao necessitado, ao pobre. É justo. Agora, temos de aprimorar. Não era errado o negro ser humilhado, ser escravo? Chegou um Senador e disse: 60 anos não pode ser mais. Chegou outro: menino que nasce não pode ter mais. Foi aprimorando, e veio a mulher, e jogaram flores aqui, e aprovamos a Lei Áurea. A mesma coisa essa Bolsa-Família. Vossa Excelência foi o Tiradentes dela. Graças a Deus, não o enforcaram. Mas Vossa Excelência fez nascer a Bolsa-Escola, deturparam ali, mas está na hora de a gente aprimorar.

Eu, por exemplo, eu sei que o Luiz Inácio tem mais votos do que ele, deu essa Bolsa-Família, ele é o Presidente; mas eu fui prefeitinho, ele não foi; eu fui governador de Estado, ele não foi; eu sou médico cirurgião, ele não foi. Então, sei fazer, entender certas coisas.

Essa Bolsa-Escola que está aí não é a sua. A sua tinha um projeto. Está na hora de a gente repensar, ô Luiz Inácio. Eu, por exemplo, entendo que deva dar, deva até aumentar. Mas entregue isso aos prefeitos! Quer fazer outra roda? Prefeito tem um organograma, é a célula do País. Então, entregue ao prefeito, que o prefeito está próximo. Ele vai pegar aquela gente dividida e vai orientar para o trabalho, ô Cícero, para o trabalho. Então, se ele tem qualificação para ser jardineiro, bota na praça; se ele é forte, robusto, bota para vigiar um colégio, uma rua, para diminuir a violência. Então, o prefeito, com seu serviço social, não é Rosalba? V. Exª é a campeã das prefeitas, tricampeã. A Marta é a jogadora, não ganhou a copa, e a senhora já ganhou três prefeituras e o Senado, mas não é atleta.

Então, o prefeito sabe de tudo, ele está próximo. E hoje é o Dia do Prefeito. Então, ele pode dar até mais um dinheirinho, de aumento, o Governador. E orientar aquela pessoa para um trabalho, porque ganhar sem trabalhar... Ô Luiz Inácio, eu fico mais com Tiago, o apóstolo, que disse: quem não trabalha não merece ganhar para comer! Entre Luiz Inácio, meu Presidente, que eu respeito, eu sou mais o Tiago, o apóstolo. Quem não trabalha não merece ganhar para comer. Ele que disse. Eu tenho que ter uma escolha, fazer uma opção, entendeu, Presidente Cícero?

E Rui Barbosa disse: “a primazia é do trabalho e do trabalhador”. Por isso que ele está ali, de pé, debaixo de Cristo. “A primazia é do trabalho e do trabalhador.” O trabalho veio antes. Ele é que faz a riqueza.

O Padre Antonio Vieira passou do Maranhão para o Piauí e foi para o Ceará. Ele dizia: “Palavra sem exemplo é um tiro sem bala”. O exemplo arrasta. Que exemplo dá um pai à família ganhando alguma coisa sem trabalhar para os filhos? Você pode ver que, em todos os municípios, diminuíram as matrículas. Todos diminuíram! Olha, o político que mais me impressionou foi Carlos Werneck Lacerda. Dizem ter sido o melhor orador que houve aqui. Ele está aqui, seu discurso, num livro que li, do Paulo Duque, que botou até um pronunciamento meu. Mas o que mais me impressionou, Cristovam, foi pelos anos em que estudei no Rio, em 64, nos anos sessenta, Lacerda. Quando eu passava, eu via “Há vaga”, “Há vaga”. “Há vaga”, Luiz Inácio. “Há vaga.” Que diabo é isso? Há vaga? O sujeito passava de ônibus: “Há vaga”. E Carlos Lacerda ia a toda escola. Senador Garibaldi, “Há vaga” quer dizer: você podia chegar com seu filho que havia vaga. Ele que ia se virar com a falta, mas tinha que haver vaga.

Aqui, a Universidade Estadual do Piauí... Ó Luiz Inácio... E foi o Getúlio que se suicidou. Já devia muita gente ter-se suicidado. Diminuiu vaga no vestibular, de doze mil e tanto para três mil. Sei que proliferaram umas privadas, mas um curso de uma universidade privada de medicina custa R$3 mil. Podem verificar, aqui do lado existe uma: R$3 mil!

Ô Cícero, esse é um modelo americano, porque lá eles ganham muito: quem vai trabalhar de garçom ganha US$2 mil e pode pagar US$500. Qualquer garçom ganha lá qualquer coisa: está num hotel, ganha. Aqui, se não existe nem salário mínimo, como é que ele vai pagar R$3 mil? O pai não tem só um filho: tem três, quatro... Então, está aí frustrado, e nós... Estudei em universidade federal, boa, mas está tudo sucateado.

Então, essa é a realidade. Mas qual é a causa? A primeira é a corrupção. O que me prende ao PMDB não é a presença, o comportamento desses que estão aí; é o passado, é Ulysses, encantado, no fundo do mar, que ainda vejo dizer: “Ouça a voz rouca das ruas”. E mais bonito: “O cupim que corrói a democracia é a corrupção”. “Eu nunca vi...” Se Olavo Bilac disse: “Crianças, não verás nenhum país como este”, ele diria hoje: “Eu nunca vi tanta corrupção como agora”.

         Nunca se viu na história do mundo. Está na cara. Ô Luiz Inácio - não vou dizer V. Exª -, salta aos olhos. Você vê nas cidades, esse povo, esses aloprados não tinham nada. São os melhores carros, os melhores apartamentos. Em um Estado como o Piauí isso é identificado, está na cara! Eu tenho 40 anos de medicina. É ridículo hoje - meu avô foi o homem mais rico do Estado, tinha dois navios, tinha indústria no Rio - comparar o que eu tenho com esse pessoal aloprado que está aí. Salta aos olhos! Isso se chama diagnóstico nosológico em medicina. Você vê: o cara não trabalhava, não tinha nada e hoje tem os melhores carros. Os aloprados têm os melhores carros, os melhores apartamentos, os melhores luxos. E aí? São 25 mil aloprados, são 40 ministérios que não são necessários. E aí falta no essencial. A segurança, veja como está; a educação, está aí o Cristovam; da saúde eu falo: nunca esteve tão ruim! É isso.

E a corrupção está aqui, Gilvam Borges. Ô Gilvam, raciocina. Luiz Inácio está aqui. São dois economistas: Daniel Kaufmann e Aart Kraay. Com todo o respeito ao Mercadante, mas olha aí os homens! Está aqui o trabalho: “O combate à corrupção é um instrumento eficaz para fazer a economia crescer”.

É a corrupção, é o superfaturamento. O Tribunal de Contas da União mandou: de 231 obras, 77 foram superfaturadas. E o Tribunal de Contas é do Governo.

            Está aí o relatório. De três, uma é roubalheira ou é fantasma. E outra corrupção é sonegação de impostos. Os do lado não pagam. Então, é isso. Está aqui. E fizeram um campeonato do mundo. Não é meu não, é das entrevistas.

O SR. PRESIDENTE (Cícero Lucena. PSDB - PB) - Senador Mão Santa, peço o seu espírito democrático, pois há os outros Senadores inscritos.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Vamos dar o aparte ao Senador Cristovam.

O SR. PRESIDENTE (Cícero Lucena. PSDB - PB) - Que V. Exª conceda o aparte e depois vamos encerrar.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Mas está aqui. O Brasil, em safadeza, em corrupção, em sem-vergonhice, em malandragem, era 62. Quer dizer, pioramos. A corrupção aumentou. Então, fizeram uma classificação de decência governamental. Nós passamos de 62 para 72. Quer dizer, ficamos mais indecentes, mais corruptos e mais imorais. Está aqui, porque quero que V. Exª transmita. Transcreva o trabalho dos economistas. Então, piorou.

            Com a palavra o Senador Cristovam Buarque, em aparte; depois, a Senadora Rosalba, três vezes prefeita.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Mão Santa, não quero abusar do tempo, porque o Presidente Cícero também está inscrito, bem como a Senadora Rosalba. Mas eu tinha pedido, no começo, um aparte, para falar do livro do nosso colega Paulo Duque, porque o que tem de bom nesses discursos que ele escolheu para publicar o livro de grandes oradores nossos, no Brasil, é que todos os discursos escolhidos têm uma causa por trás. O que dá força a um discurso é uma causa, que é o que tem faltado muito entre nós. Agora, ao longo do seu discurso, decidi que iria fazer um aparte por outra coisa. É esse assunto do fracasso do Bolsa-Família como instrumento de inclusão na escola. O Presidente e seus assessores foram avisados - porque eu fazia parte do Governo, era Ministro - de que aquela mudança de Bolsa-Escola para Bolsa-Família levaria a isso. Por três razões. Primeiro, ao tirar a palavra escola e colocar família, houve um abalo na consciência da população pobre, que antes olhava a bolsa pensando: recebo essa bolsa porque meu filho estuda. Agora, ela diz: eu recebo essa bolsa porque sou pobre. Foi um efeito devastador na tomada de consciência da importância da educação. Segundo, ao tirar um programa que era educacional do MEC e colocá-lo no Ministério da Assistência Social, mesmo que o nome seja desenvolvimento social. O Ministério da Assistência Social é para dar comida, não escola. O próprio Ministro Patrus já disse: “Se eu vir alguém com fome, não vou perguntar se o filho vai à escola, vou pagar a bolsa”. Está errado ele. Se tem uma pessoa com fome, temos de mandá-la ao lugar onde receba comida, mas não dar a bolsa de estudos, porque a finalidade é outra. Terceiro, ao misturar os programas criados no governo anterior, um educacional, para as escolas, com o vale gás e a bolsa alimentação. É claro que ia acontecer isso. Mas o mais grave de tudo é que a qualidade da escola não melhorou nesse período, e ninguém segura menino na escola só com bolsa, se a escola for ruim. Finalmente, estou de acordo com o senhor, ao citar Tiago, porque o importante é o trabalho. Mas, no mundo de hoje, não há trabalho sem educação. O trabalho, o emprego para uma pessoa que não tem um mínimo grau de educação será de baixíssimo salário. Não tem outro jeito. Por isso, o Bolsa-Escola, como era, acompanhado de investimentos na escola, para melhorar a qualidade, era o verdadeiro caminho para criar emprego, dar salário e tirar essas pessoas de onde estão, dar a emancipação. Não vamos ter emancipação com Bolsa-Família nem com Bolsa-Escola, se não houver uma boa escola. Agora, o senhor tem razão: é preciso haver um programa de assistência que atenda as pessoas carentes. Mas isso é para assistir, sabendo que não vai emancipar; vai manter a pessoa viva, porque essa é uma obrigação nossa, como a saúde e a alimentação. Mas, para emancipar, a Lei Áurea, como o senhor falou, essa só vem por meio de uma educação de qualidade igual para os pobres e para os ricos.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Foi boa a observação. Já concedo a palavra à Senadora Rosalba. Aqui eu troquei um raciocínio. Aquela frase - quem não trabalha não merece ganhar para comer - é do Apóstolo Paulo. O Tiago diz que “fé sem obra já nasce morta”. Esse Governo não possui essa obra educacional, não é?

Mas eu queria dizer que aí se irradiou essa corrupção pelo Brasil todo. Olha que há aqui uma denúncia de um Vereador da minha cidade, do jornalista Francisco Magalhães. Ele publica “Vem cá ver. Já ganhou licitação”. E cita, no jornal, uma licitação que ia cair depois, só para dizer, e prova; e o Vereador denuncia.

Quer dizer, este Brasil está esse mar de corrupção. Isso é que envergonha. Se Luiz Inácio sabe ou não sabe, eu lamento. Mas o nosso dever, a nossa obrigação não é ser contra o Luiz Inácio - pelo contrário, nós queremos a governabilidade -, é ser contra a corrupção. É aquilo que Ulysses pregou: é o cupim que corrói a democracia.

         Rosalba- esta Senadora foi três vezes Prefeita e tem muito a ensinar ao Presidente Luiz Inácio.

A Srª Rosalba Ciarlini (DEM - RN) - Senador Mão Santa, eu gostaria de relembrar o nosso Luiz Gonzaga, que dizia que a esmola ou humilha ou vicia o cidadão. Não estou aqui para ser contra o Programa Bolsa-Família. Muito pelo contrário. Acho que é importante que exista um programa de renda mínima, mas na forma como ele foi implantado. Como Bolsa-Escola, eu tive a experiência de ver que ela realmente ajudava a reduzir a evasão escolar.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

A Srª Rosalba Ciarlini (DEM - RN) - Havia uma motivação de que aquele recurso seria para ajudar a não faltar à família o mínimo para sua criança, a fim de que ela permanecesse na escola. Parece que essa motivação desapareceu. Hoje, existe a comprovação, por meio de pesquisas, de que a evasão escolar cresceu bastante. Isso é um assunto que devemos analisar, porque aqui estamos para ajudar este Brasil e para contribuir com as nossas idéias e experiências, quando o Governo não estiver acertando, para que ele possa acertar. Então, eu abordava exatamente a questão do Bolsa-Família, do Bolsa Escola e de suas diferenças. Concordando com o Senador Cristovam Buarque, sabemos que o que mantém uma criança na escola não é apenas a renda do Bolsa-Escola ou do Bolsa-Família, mas também a escola de qualidade, que promova um incentivo maior para que a criança se sinta bem como se estivesse na sua segunda casa. Sabemos e entendemos que é preciso ouvir mais os Municípios. O Senador Cícero Lucena, que preside esta sessão, foi Prefeito e sabe que nós Prefeitos, muitas vezes, gostaríamos de fazer algo mais, de acordo com as características das nossas cidades, das nossas regiões, neste País de tanta diversidade, mas não dispomos dos recursos necessários. Sou a favor de que as ações partam do Município e de que o Governo Federal entenda que destinar mais recursos para os Municípios significa desenvolver e promover com mais equilíbrio e com sustentabilidade este País. Era o que eu queria acrescentar às brilhantes considerações que V. Exª tão bem tem feito permanentemente nesta Casa.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Incorporo ao meu pronunciamento a manifestação da Senadora, brilhante Prefeita, três vezes campeã.

Para terminar, espero que o Brasil e o Luiz Inácio aprendam com este livro em que o nosso Paulo Duque busca um discurso do Pedro Simon se despedindo de Ulysses Guimarães. Viu, Luiz Inácio? Nós estamos conscientes. Disse Pedro Simon, citando Ulysses:

A governabilidade está no social. A fome, a miséria, a ignorância, a doença inassistida são ingovernáveis”.

Em várias de suas prédicas, dentro e fora do Parlamento, ensinou: “Só é cidadão quem ganha justo e suficiente salário, lê e escreve (...).

            Atentai bem, Cristovam, para o que disse Pedro Simon, repetindo Ulysses:

Só é cidadão quem ganha justo e suficiente salário [tem que ter um trabalho], lê e escreve, mora, tem hospital e remédio, lazer quando descansa. O inimigo mortal do homem é a miséria, não há pior discriminação do que a miséria. (...) Mais miserável do que os miseráveis é a sociedade que não acaba com a miséria.

Quando governei, tive minhas ações sociais. Construí os restaurantes Sopa na Mão em todas as cidades do Piauí. Para quem estava com fome, como diz o Cristovam Buarque. Mas as escolas eram escolas para educar e para enriquecer e encaminhar com saber o trabalho. Entendo que são o estudo e o trabalho que fazem a grandeza de programas como o Luz Santa...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Cícero Lucena. PSDB - PB) - Mais um minuto para V. Exª encerrar, Senador.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Remédios para os pobres tinha que haver, e anistiei todas as águas de pobres, porque está na Bíblia: dai de beber e comer aos que têm fome.

Então, essas são as nossas palavras. E acho que está em tempo de Luiz Inácio nos convocar para aprimorarmos esse programa social (Bolsa-Escola), que foi uma inspiração e inteligência de Cristovam Buarque. Está deturpado, mas queremos, com o auxílio dos prefeitos e dos governadores, encaminhar os jovens ao estudo e ao trabalho. Essa, sim, será a salvação do povo do Brasil.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/10/2007 - Página 33504