Discurso durante a 172ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem à memória do Deputado Ulysses Guimarães pelo transcurso dos 15 anos do seu falecimento.

Autor
Marconi Perillo (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Marconi Ferreira Perillo Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do Deputado Ulysses Guimarães pelo transcurso dos 15 anos do seu falecimento.
Publicação
Publicação no DSF de 05/10/2007 - Página 34186
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, ULYSSES GUIMARÃES, EX-DEPUTADO, ELOGIO, REPRESENTAÇÃO, POVO, DEFESA, REDEMOCRATIZAÇÃO, PAIS, COMBATE, DITADURA, CONTRIBUIÇÃO, MELHORIA, SOCIEDADE, PRIORIDADE, JUSTIÇA SOCIAL, SOBERANIA NACIONAL, PARTICIPAÇÃO, CAMPANHA, ELEIÇÃO DIRETA, ELABORAÇÃO, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, APOIO, DIREITOS, CIDADÃO, INFLUENCIA, ELEIÇÕES, OPOSIÇÃO, CANDIDATURA, REGIME MILITAR.

            O SR. MARCONI PERILLO (PSDB - GO. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, os feitos e realizações de um homem eternizam-lhe o nome e a alma, como símbolos para as gerações de hoje e do porvir. O Dr. Ulysses Guimarães já nos deixou há exatos quinze anos, mas a sua imagem de resistência à ditadura e de artífice do Estado de Direito em que vivemos hoje está em praticamente todos os momentos da Vida Nacional.

            Sua voz devorou, como o mágico que engole fogo, as espadas, as metralhadoras do regime militar. Com o poder da palavra dava chicotadas morais em militares e civis, serventes e servis do regime autoritário. Suas pernas levaram-no às prisões, aos cárceres e aos porões da ditadura, bem como aos palanques e tribunas memoráveis da anticandidatura de 1974, das diretas de 84, da Constituinte de 86 e do impeachment de 92.

            Foi Ulysses Guimarães o cúmplice da liberdade, alcoviteiro da democracia, o sacerdote da lealdade. Nunca lhe faltou o desprendimento, ao contrário, sobrou-lhe a coragem, inclusive a de enfrentar a ambição pessoal que destrói biografias e interrompe caminhadas rumo ao podium do reconhecimento popular.

            O Dr. Ulysses é uma dessas pessoas que veio para viver a política em favor do aperfeiçoamento democrático permanente, com amor e dedicação à luta pelo poder no mais legítimo sentido da representação popular.

            Como ele mesmo costumava dizer: “Sou louco pelo poder, seduzido pelo poder e é para isso que eu vivo”.

            A sua trajetória de vida comprova essa vontade e intimidade com os meandros do poder, não do poder pelo poder, mas do poder como força do idealismo devotado ao interesse do povo.

            Ulysses Guimarães presidiu o Brasil sem ser o seu presidente. Nos momentos de crises, era aplicada sua receita de sabedoria, lealdade, transparência. Como amante da democracia proclamou: “a democracia verticaliza vocações e talentos. A ditadura engessa na horizontalidade medíocres, mentirosos e corruptos”.

            Acima de tudo, Ulysses Guimarães foi um político fiel às convicções e que acreditava na democracia como instrumento legítimo de representatividade popular, calcada no debate de idéias.

            O Dr. Ulysses Guimarães foi um contundente esgrimista no manejo da palavra e do argumento. Com firmeza e obstinação defendeu posições, mas jamais perdeu a dignidade ou o respeito pelo ponto de vista contrário.

            Esse baluarte da vida pública foi um democrata convicto que se colocou em defesa dos interesses da sociedade, dos fracos e oprimidos pelo regime ditatorial.

            Agente da luta libertária, cobrava dela apenas o preço da própria liberdade e, sempre que podia, lembrava dos companheiros mortos no campo de batalha, como em certa ocasião lembrou: “ Os nossos mortos, levantem de seus túmulos. Venham aqui e agora testemunhar que os sobreviventes da invicta “Nação Peemedebista” não são uma raça de poltrões, de vendidos, de alugados, de traidores. Venham todos. Venham os mortos de morte morrida, simbolizados em Juscelino Kubitschek, Teotônio Vilela e Tancredo Neves.

            Venham os mortos de morte matada, encarnados no Deputado Rubem Paiva, o político; Wladmir Herzog, o comunicador; Santo Dias, o operário; Margarida Alves, a camponesa.

            Não digam que isso é passado.

            Passado é o que passou. Não passou o que ficou na memória ou no bronze da história.”

            Com a morte do Dr. Ulyssses Guimarães, a Nação brasileira ficou órfã do seu guia, do mentor intelectual dos crimes cívicos, que feriu de morte uma ditadura no passado e apunhalou a corrupção.

            Como os indianos sem Gandhi, os americanos sem Lincoln, os brasileiros ficaram com a sensação de ter perdido, com a morte de Ulysses Guimarães, o pai de um dos institutos mais caros a uma Nação: o sentimento de unidade nacional. Foi ele o único a exercer a liderança da nacionalidade, sem a faixa presidencial e o poder dela decorrente. Exerceu a liderança da honra pela honra, da luta pela luta, da seriedade pela seriedade.

            Nos momentos mais difíceis da Nação, estava Ulysses a sinalizar o caminho por onde deveria seguir o País desgovernado. Como ajudaria, nestes momentos difíceis do Parlamento e do Senado, a palavra serena e segura do nosso saudoso homenageado.

            Em seus mais de 40 anos de Parlamento foi intransigente com a preocupação diante das desigualdades econômicas e sociais, que na sua visão, poderiam colocar em risco a unidade nacional.

            Por isso, afirmava: “Quando as elites políticas pensam apenas na sobrevivência do poder oligárquico, colocam em risco a soberania nacional. A governabilidade está no social. A fome, a miséria, a ignorância, a doença inassistida são ingovernáveis. O estado de direito, consectário da igualdade, não pode conviver com o estado de miséria. Mais miserável do que os miseráveis é a sociedade que não acaba com a miséria.”

            Desde que assumiu a Presidência da União Nacional dos Estudantes, em 1940, devotou a vida a fazer política e transformou-se em um dos mais importantes líderes da oposição ao governo militar e da campanha pelas Diretas Já.

            Ulysses Silveira Guimarães nasceu em Rio Claro, em seis de outubro de 1916. Formou-se em Direito e cumpriu 11 mandatos como Deputado Federal, quatro pelo PSD, cinco pelo MDB e dois pelo PMDB.

            Em 1961 ocupou a pasta do Ministério da Indústria e Comércio no governo Parlamentarista de João Goulart. A partir de 1971, assume a Presidência do MDB e depois do PMDB, cargo que ocupou até nos deixar.

            Com o golpe militar em março de 1964, o saudoso Deputado Ulysses Guimarães transforma-se num dos principais líderes de oposição. O Dr. Ulysses foi um baluarte da luta pela liberdade de expressão e enfrentou a ditadura na tribuna e nas ruas.

            É com esse espírito que o Deputado e Presidente do MDB foi ao Plenário defender a candidatura ou a anticanditura do Congresso à Presidência da República contra o General Ernesto Geisel. Perdeu por 400 votos a 76 no Colégio Eleitoral.

            Mas, como ele mesmo observou, em trecho do discurso de lançamento de seu nome: “A inviabilidade da candidatura oposicionista testemunhará perante a Nação e perante o mundo que o sistema não é democrático, de vez que tanto quanto dure este, a atual Situação sempre será governo, perenidade impossível quando o poder consentido pelo escrutínio direto, universal e secreto, em que a alternatividade de partidos é a regra, consoante ocorre nos países civilizados.

            Não é o candidato que vai percorrer o País. É o anticandidato, para denunciar a anti-eleição, imposta pela anticonstituição que homizia o AI-5, submete o Legislativo e o Judiciário ao Executivo; possibilita prisões desamparadas pelo habeas corpus e condenações sem defesa; profana a indevassabilidade dos lares e das empresas pela escuta clandestina; torna inaudíveis as vozes discordantes, porque, ensurdece a Nação pela censura à imprensa, ao rádio, à televisão, ao teatro e ao cinema.”

            Superado o regime militar, é o saudoso Ulysses Guimarães que vai se colocar como intransigente defensor das Diretas Já, para, em 1987, presidir a Assembléia Nacional Constituinte e firmar posição na defesa dos interesses do cidadão, insculpidos nos artigos da nova Carta Magna.

            Na finalização dos trabalhos, diria nosso saudoso homenageado: “ Ela não é a Constituição das mansões nem a dos poderosos. É uma Constituição com cheiro de povo, cor de povo, gosto de povo e cara de povo”.

            Assim é que a Constituição de 1988 foi denominada Constituição Cidadã pelo saudoso Deputado Ulysses Guimarães, que deve ser visto não como um político vinculado a este ou àquele partido, mas como alguém que ajudou a tirar o País das trevas da ditadura.

            Dr. Ulysses lutou para fazer prevalecer o objetivo maior da Carta: assegurar ao povo conjunto de direitos e garantias suprimidos ao longo dos anos de arbítrio.

            Sr. Presidente, O sentido de cada nome e - diríamos - a imagem de cada homem estão intimamente ligados à sua trajetória, à contribuição que tenha oferecido ao povo e à Nação.

            O sentido de cada nome está na capacidade de o indivíduo fazer a própria história e contribuir para a sociedade, independentemente de origem humilde ou abastada.

            O sentido de cada nome está na habilidade de olhar em frente e encontrar o rumo guiado apenas pela legitimidade dos ideais de defesa do povo e da representatividade política.

            O Dr. Ulysses Guimarães representa tudo isso para a sociedade brasileira. Permanecerá entre nós, portanto, como um ícone da luta pela democracia no Brasil, da luta pelo governo do povo, pelo povo e para o povo.

Muito obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/10/2007 - Página 34186